by mends » 03 Sep 2004, 16:46
Como 51 gorilas fazem uma festa
"The Economist"
Se você quiser viver de escrever, primeiro escreva um livro de negócios que seja um sucesso de vendas. Em poucos outros gêneros literários os ganhos colaterais são tão substanciais. Se você for um orador suficientemente bom para conseguir manter desperta uma platéia de sonolentos gerentes de médio escalão, sua fortuna estará feita. Você será capaz, diz Mark French, da Leading Authorities, uma agência organizadora de palestras, de atingir uma renda anual da ordem de sete dígitos, apenas com sua oratória.
Com tão grande possibilidade de sucesso, é espantoso que a maioria dos livros de negócios continue sendo tão ruim. Muitos parecem ser pouco mais do que apresentações de PowerPoint expandidas, com destaques e quadros salientando exemplos fora de contexto ou considerações desconexas. Alguns trazem longos parágrafos, como os do relatório de uma firma de consultoria (aliás, é comum que essas firmas incentivem seus astros e estrelas a escrever livros centrados numa única idéia, com exemplos e mais exemplos de casos da clientela). Poucos livros de negócios são escritos por um único autor; muitos demandam uma equipe inteira de apoio. E um número excessivo deles contém diagramas desprovidos de qualquer significado.
A fórmula parece ser: use sentenças curtas, idéias simples e tipografia agressiva; ofereça casos e mais casos, relevantes ou não; e inclua um animal no título - gorilas, peixes e vacas roxas estão na moda, neste ano. Ou imite Stephen Covey (autor do enormemente bem-sucedido "Seven Habits of Highly Effective People") e inclua um número. Nesse território, porém, já se verifica um processo nitidamente inflacionário: neste semestre ocorrerá a publicação de "The 18 Immutable Laws of Corporate Reputation", de Ronald Alsop. E Michael Feiner escreveu um livro apresentando "The 50 Basic Laws That Will Make People Want to Perform Better for You".
O problema fundamental é que o êxito de um livro de negócios necessita de uma idéia brilhante - e idéias brilhantes, pela própria natureza do mundo dos negócios, surgem com pouca freqüência. O crescimento explosivo das empresas de internet produziu algumas idéias seminais para "The Innovator´s Dilemma", de Clayton Christensen, e "Evolve!", de Rosabeth Moss Kanter (acompanhado por um CD com a própria guru vendendo seu peixe). A partir de então, novos livros tenderam a concentrar-se em três áreas: governança corporativa, liderança e como ganhar dinheiro com pedaços de uma empresa esquecidos durante o boom.
A primeira categoria produziu o trabalho mais meticuloso, com livros como "The Recurrent Crisis in Corporate Governance", de Paul MacAvoy, um acadêmico, e Ira Millstein, um advogado. Como seria de esperar, muitos livros faturaram em cima de lições sobre os casos Enron, WorldCom e outros colapsos empresariais, tentando explicar o que deu errado.
Alguns dos livros sobre liderança são escritos por (ou sob os nomes de) figuras como Rudy Giuliani ou Jack Welch, para descrever os segredos de seu sucesso. Outros explicam as misteriosas qualidades demonstradas por líderes bem-sucedidos. "Geeks & Geezers", de Warren Bennis, por exemplo, compara diferentes experiências formativas na trajetória para o topo. Como todos sabem, a mais penetrante literatura sobre liderança foi escrita 400 anos atrás por William Shakespeare; e alguns dos mais interessantes livros da atualidade discutem as técnicas de heróis históricos, como Alexandre, o Grande. Com esses, você aprenderá um pouco de história, mesmo que não o transformem num Jack Welch.
O próprio número de livros de negócios significa que diamantes raramente brilham numa pilha de entulho. Computando tudo - de administração imobiliária a finanças pessoais - chega a talvez 3 mil o número de títulos na área de negócios publicados anualmente nos EUA - de longe, o maior mercado. Estima-se que um total de 8 a 10 milhões de livros que poderiam, grosso modo, ser definidos como "de negócios", são vendidos anualmente nos EUA. São quase todos escritos por americanos - Charles Handy, o autor irlandês de "The Age of Unreason", é um dos poucos não-americanos que conseguiram penetrar nesse mercado.
Considerados os pedidos recebidos pela Amazon, dos 50 livros de negócios mais comprados, foram vendidos cerca de 4 milhões de exemplares nos primeiros sete meses deste ano. Muitos, porém, vendem menos que mil exemplares em seu primeiro ano. Depois, a queda na vendagem é quase sempre acentuada. "A vida de prateleira de máxima relevância é medida em meses", diz Adrian Zackheim, que fez seu nome publicando "Good to Great", de Jim Collins, um dos raros livros de negócios que permaneceu anos entre os mais vendidos.
É difícil acreditar que muitos executivos conduzam seus negócios diferentemente em conseqüência de leituras desse tipo. Ocasionalmente, porém, um verdadeiramente grande livro de negócios consegue articular e dar projeção a uma idéia que ajuda os executivos a explicar o que é que eles estão tentando fazer. A obra em questão cria expressões - como "competência central" ou "inteligência emocional" - pertinentes ao momento. Mas algumas linhas de "Henrique IV, Parte II" poderiam muito bem cumprir a mesma função - e proporicionar, também, mais prazer. (Tradução de Sergio Blum)
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")