by mends » 15 Jun 2007, 09:48
Invasão da reitoria: sair por bem ou por bem. E as trapalhadas de Tia Suely
Quando esta inacreditável invasão da reitoria da USP tiver chegado ao fim, por bem ou por bem — isto é, sem ou com tropa de choque, já que a Polícia Militar integra o conjunto de instrumentos da democracia, e há uma ordem judicial determinando que o prédio seja desinvadido —, então terá chegado o momento de se apurarem as responsabilidades. Os primeiros que têm de responder por seus atos, como estudantes e como cidadãos que contrariaram uma ordem da Justiça, são os invasores, é claro, junto com o Sintup, o sindicato de funcionários da USP. É um ente com personalidade jurídica. De maneira acintosa, desafia a determinação de um juiz.
A outra responsabilização já é coisa um tanto mais fluida e, se não pode ter um dimensão funcional em razão da tal autonomia universitária, que pelo menos se deixe claro à opinião pública: os reitores das três universidades estaduais estão na origem dessa crise absurda. Entre eles, destaca-se uma figura verdadeiramente patética: a reitora da USP, Suely Vilela. A maior universidade do país nunca esteve entregue a mãos tão inábeis. Algumas considerações antes. Depois volto aos reitores.
Vocês sabem o que penso desde o início. Essa brincadeira estúpida deveria ter tido um fim logo no segundo ou no terceiro dia. Se a reitora tivesse dado parte à Polícia, a PM teria de ter entrado lá. É obrigação legal. Nem a autonomia poderia impedir a ação. Ela não o fez. Demorou 12 dias para recorrer à Justiça, quando o movimento, digamos assim, até chegou a despertar certa simpatia da opinião pública. Chegou a ser adotado por alguns setores da mídia, que viram ali uma versão de democracia ateniense à beira do rio Pinheiros. Determinada a reintegração, a Polícia Militar e o governo do Estado ficaram à espera de que alguma franja de bom senso restasse aos invasores. Percebeu-se, também, que estes ansiavam pelo confronto com a tropa de choque, o que seria o seu verdadeiro galardão. Optou-se por deixar que o movimento lá esmorecesse, esfarelando-se, como vem acontecendo, até por conta da pressão dos 99,8% dos alunos que querem aula.
Ocorre que, nos tempos da Internet, uma invasão de faz com 30 ou 40 vagabundos e uma rede de computadores. Não precisa mais do que isso. Então tá. Acho que também essa fase está chegando ao esgotamento. Agora, ou esses delinqüentes saem por bem — sem tropa de choque — ou saem por bem: com tropa de choque. Se vão seguir o conselho da ministra Marta Suplicy e enfrentar as borrachadas na base do “relaxa e goza”, problema deles. Essa história já cansou, já passou da conta, dos limites. A eventual atuação da Polícia tende sempre a gerar alguma reação de repúdio, especialmente dos chamados setores formadores de opinião, alguns sempre simpáticos à ilegalidade. Mas passa. O estado de direito não pode continuar a ser afrontado. E ponto final.
Encontro e passeata
Os remelentos e as mafaldinhas das três universidades marcaram um encontro para este fim de semana na USP. Devem marchar pelas ruas de São Paulo, rumo à Secretaria de Estado da Educação Superior, nos Campos Elísios. Devem passar pela rua da Consolação e Largo do Arouche. Quantos serão? Bastam 100 ou 200 para premiar o paulistano com o segundo dia consecutivo de um trânsito infernal: nesta quinta, foi a curta greve do Metrô; hoje, os invasores da USP
O que eles querem? Ah, vejam como faz sentido: eles acham que Serra, que é o governador de São Paulo, tentou meter a mão nas universidades — o que é falso —, mas, sem que sejam nem mesmo representantes das universidades, eles querem meter a mão no governo de São Paulo. Exigem a extinção da secretaria. Por quê? Ora, porque sim; porque cismaram que ela é um símbolo da agressão à autonomia.
De volta aos reitores
Suely Vilela jamais deveria ter deixado seu posto na reitoria, nem que fosse para acampar por lá. O que iria acontecer? Mas deixou o prédio entregue aos bandoleiros. Pior: aceitou receber a pauta de reivindicações e, extremo da estupidez, resolveu ceder em muitos pontos, sobretudo naqueles consideradas de cunho social. Ora, querem alguns jornalistas que esses novos atenienses não são assim tão politizados — embora o comando do movimento tenha sempre estado com PCO, PSTU e PSOL —, mas burros eles não são. Se a mulher cedeu antes mesmo de recorrer à Justiça, restava evidente que, ali, bastava apertar para levar. Ela deu as negociações por encerradas algumas vezes. E sempre voltava a conversar.
Sabem o que é pior? Fez isso de novo. E da forma mais ridícula. Ontem à noite, os invasores enviaram à Magnífica, por e-mail, as suas “condições” para deixar o prédio. Segundo o Estadão desta sexta, “entre os pedidos dos estudantes, estão o apoio da reitoria a um congresso que discuta o Estatuto da USP, a não punição dos invasores, uma audiência pública sobre o projeto de inclusão de carentes e a manutenção de promessas de mais assistência estudantil.” Informa o jornal que ela havia “condicionado a continuidade da negociação a este documento”.
Que continuidade?
Que negociação?
Que documento?
Qualquer concessão que Suley Vilela faça aos invasores tem origem numa ilegalidade. Faz 43 dias, vocês sabem disso, que eu a considero uma aliada objetiva dos baderneiros, por ação ou omissão. A autonomia garante à reitora ceder no que bem entender. Autonomia, nas universidades paulistas, virou autocracia. Vai veré a culpa no cartório. O levante contra os decretos nasceu dos reitores. E por um motivo nada edificante. Não queriam prestar contas diárias ao Siafem, o que até a Justiça faz. Transformaram um contingenciamento de verba de 1,5% (que anunciaram ser de 15%), vigente apenas enquanto não se votou o Orçamento do Estado, numa política de arrocho, que nunca existiu. O contingenciamento acabou, o dinheiro está todo com eles, mas acordaram a besta. E, agora não sabem o que fazer com ela.
Viagens
Não sei, não, mas estou com a impressão que reitores viajam mais do que Lula — aliás, não se esqueçam: no segundo ou terceiro dia da greve, sugeri que se fizesse o levantamento da USPTUR, uma investigação extensiva a todo ao corpo docente e, vejo agora, às três universidades. Quando a crise nasceu, Suely Vilela estava em viagem ao exterior — não duvido de que a serviço da USP. Nesta semana, enquanto faculdades da Unesp eram invadidas, seu reitor, Marcos Macari, estava em Portugal, num encontro qualquer que discutia os rumos da língua portuguesa. Nobilíssima viagem. Informa o Currículo Lattes que Macari “possui graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade de São Paulo (1972) , mestrado em Ciências (Fisiologia Geral) pela Universidade de São Paulo (1975) , doutorado em Ciências (Fisiologia Humana) pela Universidade de São Paulo (1979) , pos-doutorado pela University of Cambridge (1981) e pos-doutorado pela University of Cambridge (1988)”.
Não duvido de que possa ter um amor incontido pela inculta e bela... Mas agora? Com a sua universidade exposta aos vândalos? Na Unicamp, não foi diferente: as ações violentas dos bandoleiros foram se sucedendo diante de uma reitoria inerte. Suely, é verdade, é um caso exemplar de omissão. Mas seus colegas não se saíram com distinção na crise. Assim não dá: est modus in rebus, magistri!
Por Reinaldo Azevedo
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")