esse é nosso rubinho.
´Para me derrubar, tem que bater forte´, diz Rubinho
O piloto brasileiro falou ao Portal Estadão sobre o fraco desempenho na Honda em 2006 e os planos para a próxima temporada na Fórmula 1
Livio Oricchio
SÃO PAULO - Antes de a temporada 2006 da Fórmula 1 começar, ainda em fevereiro, o piloto brasileiro Rubens Barrichello havia deixado claro o entusiasmo com o carro de sua nova equipe, a Honda.
“Acho que em algumas corridas nós vamos ser os mais rápidos enquanto em outras a Renault deverá ter alguma vantagem.” Afirmou mais: “Nós iremos disputar as vitórias e quem ganha corridas pode chegar ao título.”
A disputa com o companheiro na Honda, o inglês Jenson Button, nem entrava em questão. Depois de aprender bastante na Jordan, Stewart e nas seis temporadas ao lado de Michael Schumacher na Ferrari, seu nível de desenvolvimento como piloto era tal que Button não seria ameaça.
Veio o último GP do calendário, no Brasil, e, ao contrário da sua previsão, a performance da Honda ao longo da temporada foi até certo ponto decepcionante. A Ferrari, que Rubinho não citou como favorita, quase foi campeã, e o piloto brasileiro ainda perdeu feio a concorrência para Button, contra a maioria das projeções. “Eu perdi para mim mesmo’’, disse Rubinho ao Portal Estadão.
Sua imagem, que já era desgastada no País, sofreu outro duro golpe. Para complicar, Felipe Massa, seu substituto na Ferrari, venceu em Interlagos já na estréia em casa com o carro da equipe italiana.
Portal Estadão: Você frustrou de novo milhões de pessoas, Rubinho?
Rubinho: Olha, eu, na realidade, saí do limbo depois das três primeiras provas. Era o caso de sentar e chorar a situação que estava vivendo, não tenho outra definição. Sair daquele grau de dificuldade e chegar a pilotar o nosso carro como hoje é uma enorme evolução. Ele funciona de forma diferente de tudo o que eu aprendi na Fórmula 1. O controle de tração, por exemplo, minha cabeça manda fazer de uma maneira, pela educação que tive, mas ele trabalha de outra. Os freios também.
Portal Estadão: E os técnicos da Honda não modificaram o carro?
Rubinho: O pessoal da Honda demorou para entender o que eu lhes repassava, daquilo que aprendi num time vencedor. Sofri muito, mais nas corridas que nas classificações. Tinha de dosar o uso desses sistemas, não estava acostumado, por isso em corrida meus problemas foram maiores. Para o Jenson Button as coisas são mais naturais, está na Honda há anos, o carro foi desenvolvido para ele, enquanto para mim tudo era novidade. Eu perdi para mim mesmo.
Portal Estadão: Não lhe preocupa a imagem que você passa?
Rubinho: As pessoas podem até dizer ... "o Rubinho deveria parar de correr, o Massa ganhou o GP do Brasil". Tenho opinião contrária. Não corro para atender essas pessoas. Não me atinge, por exemplo, procurar ser rápido com um carro desequilibrado e, de repente, rodar na pista. Minha relação com os brasileiros, a maioria, é melhor do que alguns pensam. Por essa gente tenho amor, me dá mais prazer ainda continuar fazendo o que me dá imensa felicidade, que é guiar carro de corrida. E vou fazer enquanto Deus me der essa velocidade que muitos vêem, dentro e fora da Fórmula 1.
Portal Estadão: O parâmetro que o público tem para julgar sua velocidade é a disputa com outro piloto que usa o mesmo carro, o Button, e ele fez 65 pontos e você apenas 30.
Rubinho: As dificuldades que tive com o carro explicam boa parte dessa diferença. Antes de o Mundial começar, nos testes, éramos de fato muito velozes com pneus novos. Não imaginava que perderíamos tanta performance depois de os pneus se desgastarem. Trabalhamos muito para melhorar esse problema. O Nick Fry (diretor geral da equipe) me procurou no fim do campeonato, agora, para dizer que os pontos que somei não são a vitrine do que fiz por nosso time. Acredito mesmo que o resultado das minhas orientações deverá aparecer no carro do ano que vem. Eu não consegui ser, este ano, o piloto que sou, agressivo, de partir para cima.
Portal Estadão: Você fala em agressividade, como explicar que o Button largou em 14º no GP do Brasil e chegou em terceiro. Você era o quinto no grid da pista que você nasceu e terminou em sétimo.
Rubinho: Em primeiro lugar, o Button fez uma ótima corrida e mereceu o pódio. Nada a questionar. No meu caso, eu fiquei a maior parte do tempo atrás do Giancarlo Fisichella. Por que não o ultrapassei? É simples explicar: minha velocidade final antes da freada do S do Senna era 12 km/h menor que a dele. O Button tinha duas voltas a mais de autonomia que eu, pôde aproveitar-se melhor da estratégia, não ficou engatado atrás de alguém, como eu.
Portal Estadão: O Felipe Massa venceu o GP do Brasil na primeira vez que pilotou o carro da Ferrari. Você teve seis chances e não conseguiu.
Rubinho: Como são as coisas. Eu tinha outro ano de contrato com a Ferrari e abri mão dele para correr na Honda. O Massa pegou um carro competitivo e venceu. Aproveitou muito bem a oportunidade. Não tenho de ficar aqui arrumando desculpas porque não existem. Parabéns para ele. Fez bem para todos nós, levantou a moral do Brasil.
Portal Estadão: O que você espera de 2007?
Rubinho: Pela grande evolução da equipe, com o novo carro mais apropriado ao meu estilo, que eles já conhecem bem, assim como eu mesmo mais adaptado ao time, podemos acreditar num bom campeonato. Mas é o seguinte, também, vai ser o que tem de ser. Eu vou lá e dar a cara para bater. E para me derrubar tem de bater forte. O Massa está promovendo o evento de kart e eu vou estar lá. O pessoal fica dizendo para não ir, não dar a cara para bater...que não ir o quê. Correr é o que eu gosto, vão sortear o kart, essa igualdade é o que eu gosto. Não me importo se, pelos mais variados motivos, eu não vencer. Estarei fazendo o que gosto.