MÔNICA BERGAMO
As manhas e manias das grandes estrelas internacionais que visitam o Brasil
Mordomia de roqueiro
E a festa continua! Depois de Pearl Jam, Rolling Stones, U2 e Carnaval, chegou a hora de afinar as guitarras para a chegada da banda Oasis, que se apresenta em São Paulo no dia 15. Como todas as grandes bandas internacionais, o Oasis já chega com uma lista de pedidos esquisitos. E, seguramente, deixará depois da partida uma série de histórias que entram para o folclore das grandes turnês que passam por aqui. Eles ainda nem chegaram e a listinha de exigências já inclui nozes orgânicas, damascos, salmão e até ovo orgânico. Pediram oito garrafas e meia de vinho tinto.
Eles querem ainda cerveja Guiness, Red Bull, um litro de suco vegetal orgânico, dez maços de cigarro light, leite de soja, mel orgânico e sacos de café. Observação do contrato: "No strange flavor, please" [sem sabor estranho, por favor].
Nada que se compare, por enquanto, às invencionices de George Michael, que visitou o Brasil em 1991. "Ele é judeu, acredita? Em cima da hora, me pediu 28 pratos com carne kosher, preparada na presença de um rabino. E onde eu ia achar?", recorda o produtor Amin Khader, que trabalhou nas três edições do Rock in Rio. "Tive que ligar para uma sinagoga, que me arranjou o rabino. Depois soube que, dos 28 pratos, a equipe só consumiu dois. Ai, que raiva!"
A cantora Alanis Morissette negocia novo show no Brasil. Em 2003, quando passou por aqui, ela pediu à produção um professor de ioga que deveria acompanhá-la onde estivesse.
Até aí, moleza. No ano passado, o empresário William Crunfli trouxe o White Stripes ao Brasil. O vocalista Jack White cismou de casar com a modelo Karen Welsen logo depois de um show em Manaus. "O Jack disse que tinha lido muito sobre a Amazônia na escola e queria passar mais tempo lá." Pior: queria que a união fosse celebrada por um pajé. Quinze produtores que acompanharam o White Stripes em Manaus saíram à caça pela cidade. "E ainda tive que pagar cachê de R$ 3 mil para o índio", diz Crunfli. Jack White queria ainda um barco para realizar a cerimônia no encontro dos rios Negro e Solimões. "Foram cinco pessoas até o encontro dos rios: o pajé, os noivos e o casal de padrinhos [a ex-mulher de Jack, Meg, foi madrinha do casamento]." Passaram uma manhã no rio. A produção do casamento acabou custando R$ 9 mil.
Outro apuro de Crunfli foi providenciar um secador de cabelo, daqueles grandões, de salão, para James Brown nos anos 80. "Tivemos de levar o "trambolho" para o quarto do hotel."
Os Stones desembarcaram no Brasil com 100 toneladas de equipamentos. Dois Boeings 747 trouxeram a carga, e um 757 veio com 55 passageiros, entre membros do staff e convidados. Outras cem pessoas chegaram em vôos comerciais -entre eles, operários ingleses. Intérpretes foram contratados para que eles se relacionassem com os técnicos brasileiros.
Na lista de pedidos dos Stones, mesas de sinuca e uma área de exercícios exclusiva para o vocalista Mick Jagger, montada com dezenas de equipamentos de ginástica. Os Stones ocuparam 60 apartamentos e sete suítes no Copacabana Palace, com direito a menu com 16 opções de travesseiros -de plumas, de lavanda, ortopédicos e outros. Mick teve duas suítes para seu uso exclusivo.
No cardápio dos roqueiros , seis garrafas de Absolut, duas garrafas de Jack Daniel's, 48 garrafas de vinho branco e tinto, cinco litros de leite de soja e três galões de água destilada.
O empresário Alexandre Accioly, que trouxe o U2 a São Paulo, achou que eles são "pessoas simples." A banda ocupou 40 apartamentos no hotel Hyatt. Bono e o baixista Adam Clayton ficaram nas suítes presidenciais. O guitarrista The Edge e o baterista Larry Mullen ficaram nas diplomatas.
O único pedido um pouco mais difícil do U2: um exemplar do jornal irlandês "Irish Times". A produção adquiriu a publicação de uma empresa especializada na distribuição de jornais estrangeiros à rede hoteleira.
Ainda assim, Accioly diz que engordou 11 quilos durante a negociação. "O lucro foi pequeno, mas tenho certeza de que saí ganhando com o show", diz. Accioly não revela números. Mas o produtor artístico Manoel Poladian, que tentou contratar a banda também, entrega: "O contrato do U2 é leonino. Pedem 85% do que é arrecadado no show, 50% do patrocínio e garantia de mais de US$ 6 milhões", afirma.
Poladian já trouxe ao Brasil Sting, David Bowie, Miles Davis, Chemical Brothers, Deep Purple, Massive Atack, entre outros. Segundo ele, algumas exigências são jogadas de marketing para emplacar os artistas na mídia."Aquelas histórias de que o cantor pediu 200 toalhas são inventadas", afirma.
Um dos folclores que se estabeleceram foi o de que o rapper Snoop Dog solicitou que 12 garotas visitassem seu hotel. "Quem pediu mesmo foi o Freddie Mercury", diz Crunfli.
Espécie de anti-Bono, Mercury deixou lembranças indeléveis no Brasil. "No Rock in Rio, a Elba Ramalho, o Erasmo Carlos e o Ney Matogrosso chamaram ele de "veado" porque ele não queria ninguém por perto no backstage. Ele entrou no quarto com ódio e quebrou tudo. Era mamão papaia no teto, garrafa de Johnny Walker quebrada, saquê pegando fogo!", lembra Amin Khader.
O produtor também foi "babá" da cantora Whitney Houston. "Ela quis 24 ovos cozidos. Pensei que era para algum ebó [macumba], né? Mas era pra comer. Um horror". Os músicos do Guns'n Roses "queriam uma tal água vulcânica. Avisei que no Brasil não tinha vulcão, mas acabei conseguindo importar". E o cantor Prince, "em pleno domingo, exigiu 200 toalhas. Saí nos motéis do Rio comprando."
Entre os astros que vêm por aí, Jamiroquai já mandou sua "listinha". Como Prince, quer cem toalhas - 80 para o camarim e 20 para o palco. Não especificam o material, mas alertam: "high quality", of course.