Política e politicagem

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 26 Oct 2004, 17:56

um testículo fascista pra discutir:

É proibido comparar

Olavo de Carvalho
O Globo, 23 de outubro de 2004



Desta vez a farsa durou pouco. Mas terá o leitor reparado na pressa obscena
com que a quase totalidade da grande mídia nacional, de posse de umas fotos
bem duvidosas, saiu alardeando mais uma de suas rotineiras vitórias morais
sobre uma direita militar já praticamente extinta? Terá notado que o enredo
do espetáculo corresponde ponto por ponto a um script repetível,
periodicamente reencenado ante todos os holofotes, para a glória dos
mártires esquerdistas e a desonra dos homens de farda?

Há sempre um ex-cabo, ex-soldado, ex-agente que aparece do nada, com
revelações estapafúrdias e contraditórias, vendidas ao público como verdades
auto-evidentes e aterradoras. Passadas umas semanas, nada se prova, é claro,
mas a reputação das Forças Armadas sai um pouco mais suja.

Nos dois casos imediatamente anteriores, um morto despertava para frear um
carro, escapando ao constrangimento de morrer duas vezes, e um agente
especial, em fuga das investigações de tortura, não dispondo de cinco
minutos para obedecer à ordem de queimar documentos comprometedores, passava
horas cavando um buraco para escondê-los...

O grotesco da invencionice não tem limites. Mas quem ousará duvidar da
autoridade moral dos campeões de tantas belas campanhas pela ética, pela
paz, pelo desarmamento? Contra a inteligência do público, o jornalismo blefa
-- e ganha. O bom senso popular, retraído, cede lugar à credulidade servil
que se rende ante a voz unânime dos bem-pensantes.

Desta vez a farsa durou pouco. Mas quando serão tiradas a limpo as
anteriores? Resposta: quando a verdade dos fatos se tornar mais importante
que a celebração ritual da santidade esquerdista.

O vexame desta semana apressará a mudança? Não creio.

“Dar voz aos dois lados” é o mandamento mais banal da profissão, mas ele não
pode ser cumprido quando o objetivo é enaltecer um deles e humilhar o outro.
Esse objetivo tornou-se cláusula pétrea do jornalismo nacional. Rompê-la é
atrair o ódio de uma classe cuja solidariedade interna se identifica
consubstancialmente à unidade histórica do ethos esquerdista.

Nos combates da era militar, o placar das mortes foi bem equitativo. Os
esquerdistas mataram duzentos e perderam trezentos. Se, respeitando as
proporções, a memória jornalística publicasse duas fotos dos primeiros para
cada três dos segundos, duas declarações dos familiares daqueles para cada
três dos descendentes destes, a imagem pública dos acontecimentos seria bem
diversa do que é. Mas, se os trezentos são pranteados a cada momento como
heróis e mártires, os duzentos não merecem senão o silêncio cheio de
desprezo que se consagra a um detalhe irrisório. É injusto, inumano e
surpremamente cínico.

Se para cada três imagens de esquerdistas mortos saísse nos jornais ao menos
uma do tenente Mendes Júnior, assassinado a coronhadas, amarrado, pelo
valente Carlos Lamarca, ou de Márcio Toledo, militante “justiçado” sob
acusação de deslealdade à causa, ninguém acreditaria na lenda de que a luta
foi de bravos e leais idealistas contra torturadores covardes e cruéis.

Pior. Se as vítimas da repressão fossem comparadas às do terrorismo, logo se
tornaria visível uma diferença: as primeiras foram, todas, gente envolvida
no conflito. Entre as segundas houve um número considerável de civis
inocentes, configurando a prática fria e persistente de um crime hediondo
nem um pouco mais perdoável que o de tortura.

Aí já não seria possível à nossa mídia -- ou governo -- continuar condenando
da boca para fora os atos de terrorismo em Nova York ou Madri ao mesmo tempo
que os louva quando voltados contra brasileiros.

Se as ligações políticas dos terroristas fossem descritas com veracidade,
todo mundo saberia que eles combatiam uma ditadura culpada de trezentas
mortes, mas o faziam como cúmplices de outra ditadura, culpada de mais de
cem mil.

Por isso as comparações têm de ser evitadas. A função do jornalismo neste
país é bem clara, e, com as honrosas exceções de sempre, ele a cumpre com
notável diligência. Não se trata de retratar a realidade do mundo, mas de
transformá-la. E é preciso começar pela transformação do passado.


*um mal não justifica o outro: do mesmo modo que só lutou quem quis, e a maioria que lutou contra a ditadura queria uma outra ditadura no lugar, de esquerda, mas ditadura, o básico do básico é que UM CIDADÃO NÃO PODE TEMER SEU ESTADO, E ELE TEM O DIREITO DE PROFESSAR A BESTEIRA QUE FOR.
"I used to be on an endless run.
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Postby Aldo » 27 Oct 2004, 15:40

O regime abriu e não os esquerdistas não ganharam...teriam esmorecido, ou simplesmente crescido e ido para as cadeiras que eram daqueles que ferrenhamente combatiam?
AF
Exercendo o meu direito de professar a besteira que for.
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Postby mends » 27 Oct 2004, 16:00

Já dizia o filósofo:

Se você não é comunista com 14 anos, não tem coração; se continua sendo comunista com 30, não tem cérebro. :lol:

não acho que tenham "crescido" e ocupado as cadeiras de quem combatiam. Acho que, em alguns momentos, a nomenklatura do PT é mais daninha e mais antidemocrática que os militares. E sempre foram: quem se diz trotskista quer revolução armada e poder aos sovietes, não quer democracia. Quem se diz stalinista quer perseguição aos inimigos e manipulação da história, além de culto à personalidade. Os caras não mudaram. O que acontece é que, por vários motivos, esquerdista no Brasil é percerbido como libertário, quando é o contrário, pois, como duas retas paralelas, tanto ultra direitistas quanto ultra esquerdistas são fascistas, se encontram "no infinito".
É só lembrar daquele típico projeto de esquerda de limitar a renda: totalitário, ditatorial e burro, porque, economicamente, gera muito mais mal que bem.
Esquerdista não é herói. Ser de esquerda não é ser "contra a pobreza", "pela democracia". Ser de esquerda é acreditar que uns poucos conseguem guiar a vida de muitos, e que os "explorados" devem reverter o quadro e a "exploração" secular. Agora, vai estudar um pouquinho de história pra saber que o mundo nunca foi tão rico, nem a vida nunca foi tão boa, pra imensa maioria da população global - e onde não é é porque o capitalismo não chegou, ou fugiu de lá, como na África. É fácil falar "fora imperialismo ianque" e esquecer que multinacional traz $$, sistema de gestão e tecnologia. É fácil depredar o Mc e esquecer que a maioria dos donos é brasileira, e que é das poucas empresas que contrata preto e pobre sem experiência nem muito estudo. É fácil falar que o imperialismo britânico era um mal e esquecer que nunca a India cresceu tanto quanto naquele tempo, e que a Inglaterra tinha prejuízo mantendo a "jóia da coroa". É fácil engolir propaganda.
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Postby mends » 29 Oct 2004, 14:51

quem disse que a Gringolândia é melhor que aqui? Dá uma olhada na zona:

Combinação esdrúxula torna Edwards presidente
Durante batalha judicial, vice de Kerry pode ser eleito pelo Senado

Stephen J. Marmon*
Especial para o NYTimes

Estamos nos dia 20 de janeiro de 2005. Os EUA, estarrecidos, vêem o senador John Edwards tomar posse como vice-presidente e presidente interino dos EUA. Impossível? Não, tampouco seria um governo Bush-Edwards.

Para isso, seriam necessários apenas alguns contratempos nos Estados onde a disputa presidencial é muito apertada. Se o presidente Bush vencesse em Wisconsin e Minnesota, dois Estados em que perdeu em 2000, o senador John Kerry conseguiria um empate no Colégio Eleitoral --de 269 votos a 269-- se conquistasse os votos do Colorado, Missouri, Nevada e New Hampshire e os Estados de Al Gore.

No entanto, a iniciativa do Estado de Colorado de dividir seus votos eleitorais pelos votos populares, em vez de dar todos ao vencedor, pode mudar isso. Se a medida for aprovada e a votação no Estado for dividida como em 2000, Bush levará quatro votos e contabilizará 273 contra 265.

Se ações legais como recontagens e objeções às cédulas provisórias não derrubarem o resultado, a Suprema Corte poderá novamente ser chamada a decidir as eleições. Imagine que a iniciativa de Colorado seja aprovada apenas para futuras eleições presidenciais, e não as de 2004. Voltaríamos ao empate no Colégio Eleitoral e a decisão seria enviada ao Congresso; a Câmara escolheria o presidente, e o Senado, o vice.

No Senado, são necessários pelo menos 51 votos para a eleição do vice-presidente. Segundo as pesquisas atuais, os Democratas podem conquistar o controle do Senado, se assumirem as cadeiras do Alasca, Colorado, Illinois, Kentucky e Oklahoma, mesmo perdendo as da Flórida, Geórgia e Carolina do Sul. Edwards seria eleito vice-presidente.

A eleição do presidente na Câmara, porém, é por Estado e requer um mínimo de 26 delegações. Se os membros da Câmara votassem nos candidatos escolhidos por seus respectivos Estados, Bush teria 28 votos, liderando o governo Bush-Edwards.

Entretanto, as delegações de Minnesota e Wisconsin na Câmara são divididas e devem continuar assim. Os deputados desses dois Estados podem decidir votar como suas jurisdições, em vez de adotarem o resultado geral do Estado.

Desta forma, não lançariam um voto, porque estariam empatados. Se outra delegação do Congresso estiver dividida, apesar de seu Estado ter votado em Bush, o presidente ficaria com apenas 25 Estados. O mesmo aconteceria se uma delegação votar em Kerry, diferentemente do resultado Estadual.

A Constituição prevê que o vice-presidente assumirá o cargo de presidente se este morrer, renunciar ou for destituído. Mas a 20ª Emenda afirma: "Se um presidente não for escolhido antes do prazo estipulado para o início de seu mandato, ou se o presidente eleito não se qualificar, então o vice-presidente eleito deverá agir como presidente, até que um presidente se qualifique."

A Câmara pode ficar empatada durante dois anos e talvez quatro, dependendo dos resultados das eleições de 2006 para o Congresso. O presidente interino John Edwards ocuparia o Escritório Oval até que a Câmara chegasse a uma decisão.

*Stephen J. Marmon é banqueiro de investimentos e foi repórter do The Times na Câmara entre 1971 e 1973.

<span style='color:blue'><span style='font-size:14pt;line-height:100%'>**Proponho propormos :rolleyes: que uma vigésima primeira emenda seja adotada: "no Caso de ninguém entender nada, Danilo Fernandes Ferreira deve assumir a Presidência dos Estados Unidos da América"</span></span>
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Postby mends » 03 Nov 2004, 09:55

ELIO GASPARI

O PT está vivo, na periferia de São Paulo
Os comissários José Dirceu e José Genoino presidiram a primeira coça eleitoral tomada pelo PT. Perderam a maior prefeitura do país (São Paulo), o mais antigo reduto petista (Porto Alegre) e a maior vitória da militância das bandeiras vermelhas (Fortaleza). Perder vitória é coisa de craque. Dirceu e Genoino conseguiram. A nação petista precisa entender o resultado da periferia de São Paulo, onde chegou a vencer os tucanos por três votos contra um. Ou Lula e seu governo acordam ou serão moídos em 2006.
A derrota do PT nada teve a ver com estratégias eleitorais ou bases de apoio. O PT apanhou porque ficou ruim de serviço. Seu problema está na cúpula, não na base, com um presidente da República que circula de Ômega australiano à espera do Airbus europeu. Lula vive em estado de felicidade enquanto seus comissários foram capazes de acreditar que poderiam presentear o PC do B com o ducado de Fortaleza. Fizeram isso no Rio, em 1997. Destruíram o partido e produziram Anthony Garotinho, que na sua versão mais tímida chamou-se Benedita da Silva.
A caminho do seu terceiro ano de governo, Lula acredita que vai redesenhar o mapa geopolítico do mundo e que sua chegada à Presidência é um marco da história da humanidade. Acredita também que se reuniu com uma dúzia de empresários no Alvorada para um jantarzinho e convenceu-os a cacifarem a reforma do palácio. Coisa de R$ 16 milhões. Esse é o engano dos petistas que passaram a fumar charutos cubanos (Lula fuma cigarrilhas holandesas). A mesa dos empresários do Alvorada é constante, como o valor de Pi. Quem muda é o presidente. Durante a ditadura militar, uma das pessoas jurídicas sentadas à mesa do companheiro cacifou a construção do pavilhão de tiro de um quartel paulista.
Ao deslumbramento proletário somou-se uma administração de parolagem. Enquanto a diretoria do Banco Central e a ekipekonômica da Fazenda atuam em harmonia com a herança tucana e os bons ofícios da banca, a área social do governo de Lula é uma ruína. Teve três ministros da fome (José Graziano, Benedita da Silva e Patrus Ananias). Revelaram-se fracassos de estilos diversos. Dois foram os ministros da Educação e poucas lembranças permitem. O ministro da Saúde dá compostura à inutilidade. Essa equipe fracassada abriga-se no Planalto sob o guarda-chuva da marquetagem. Os ministros acreditam que são ótimos. Tudo seria um problema de marketing.
O que falta ao PT Federal é a centelha do olhar dos militantes que em eleições passadas iam felizes para rua, sacudindo bandeiras. Vê-los, uns poucos, circulando pelas ruas de São Paulo, chegava a ser comovente. São os petistas que vivem longe das "boquinhas". Gente indignada e, por isso, no início da campanha paulista, foram substituídos por assalariados. Partido rico é assim. Mal sabem os comissários que no fim da novela os partidos ricos acabam sem malas e sem votos.
Não há em Brasília hierarcas curiosos para discutir as minúcias técnicas do bilhete único de transporte. Passaram-se quase dois anos de governo e o Ministério das Cidades não conseguiu botar de pé um programa de legalização dos lotes urbanos dos brasileiros que vivem nas grandes cidades. Foi a centelha da velha militância quem fez o bilhete único, os uniformes escolares e as mochilas da garotada pobre de São Paulo. Eram pessoas que pretendiam mudar o Brasil, não suas vidas. É dessa gente a monumental vitória petista na periferia da maior cidade do país. Uma vitória que marcará a história de São Paulo por muitos e muitos anos.
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Postby mends » 04 Nov 2004, 16:00

Fraudes eleitorais são comuns na história dos EUA
DA REDAÇÃO

"MUITOS DAQUELES CARAS no governo devem tudo a mim. Eu os fiz. Sim, eu os fiz da mesma maneira que um alfaiate pega panos e faz um terno... Pego meus rapazes para conseguir os votos. E eles contam e recontam os votos até a conta ficar certa e ele se eleger." Essa frase, dita pelo personagem de Edward G. Robinson no filme "Paixões em Fúria" ("Key Largo", 1948), dá um pouco da idéia da tradição americana de fraudes eleitorais.

A mais famosa das chamadas "máquinas políticas" foi a Tammany Hall, que controlou o Executivo e o Legislativo de Nova York do fim do século 18 até a metade do século passado. Com William Marcy Tweed (1823-78), ou simplesmente "Boss Tweed", como seu mais importante chefe, essa máquina mantinha o domínio da cidade, numa organização hierárquica que ia da prefeitura até o nível de bairros e ruas, por meio de corrupção e concessão de favores, contratos, cargos e empregos em troca de votos.
O último grande representante dessa linhagem de chefes foi Richard J. Daley, prefeito de Chicago entre 1955 e 1976, quando morreu. Historiadores o apontam como um dos maiores responsáveis por John Kennedy ter tornado-se presidente, vencendo Richard Nixon na mais apertada das eleições americanas modernas (apenas 113 mil votos de diferença), em 1960. Kennedy teria ganhado em Illinois, com a ajuda de Daley, e no Texas por meio de fraudes.
Os republicanos chiaram, mas, segundo se diz, o roubo de votos aconteceu por meios que não apareciam em recontagens (por exemplo, colocando-se cédulas a mais nas urnas).
O conservador jornal "Chicago Tribune" chegou a afirmar em suas páginas: "Uma vez que uma eleição foi roubada em Cook County [um dos locais onde houve denúncias], ela permanece roubada".
O respeitado jornalista Seymour Hersh, que em 1998 lançou o livro "The Dark Side of Camelot", uma exposição do "lado negro" de John Kennedy, afirma que um ex-promotor do Departamento da Justiça que ouviu fitas com gravações de escutas telefônicas feitas pelo FBI chegou à conclusão de que Nixon foi roubado em Illinois. Segundo Hersh, essa também era a convicção de J. Edgar Hoover, o poderoso chefe do FBI por quase cinco décadas.
Nixon, que renunciou à Presidência em 1974 por causa do escândalo de Watergate (um caso iniciado com a instalação, por parte dos republicanos, de escuta ilegal na sede do Partido Democrata), em sua autobiografia disse que não contestou a derrota para não criar uma crise institucional.
Um dos maiores ícones da política americana, Kennedy acabou tendo as partes menos nobres de sua biografia apagadas pelas imagens mais impactantes de sua juventude e de seu trágico assassinato. Na sua primeira eleição para um cargo público, o seu poderoso pai tentou afastar os demais candidatos por todos os meios.
Depois que a oferta de dinheiro para que desistissem da candidatura não deu certo, a família Kennedy encontrou uma pessoa que tinha o mesmo nome de um dos candidatos e a inscreveu na eleição (dividindo, assim, os votos entre os dois). O outro rival de peso teve sua campanha inviabilizada depois que os Kennedys fizeram um acordo com o dono do "Boston American" para que o jornal não fizesse nenhuma menção ao candidato nem vendesse a ele espaço para anúncios.
Lyndon Johnson, que herdou a Presidência após o assassinato de Kennedy em 1963, começou a sua carreira no Senado por vias tortas. O biógrafo do político, Robert Caro, cujo trabalho foi premiado com um Pulitzer, apresenta em seu livro até uma foto dos apoiadores de Johnson ao lado de uma urna que foi "extraviada" e permitiu a vitória do futuro senador na prévia que indicou o candidato do Partido Democrata à eleição.
Nos EUA não há as inúmeras exigências que existem no Brasil para a comprovação de identidade -os americanos sequer são obrigados a ter um documento como o RG. Eles partem do saudável princípio de que na maioria dos casos a palavra da pessoa basta. Porém isso facilita bastante na hora das fraudes. São inúmeros os casos de repórteres que, para mostrar a deficiência do sistema eleitoral, registraram animais para votar. A mesma facilidade encontram estrangeiros que residem no país: sabe-se que ao menos oito dos 19 seqüestradores do 11/9 haviam se registrado como eleitores americanos.(VP)
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Postby mends » 08 Nov 2004, 08:48

O melhor momento de Lula
A nomeação do vice-presidente José Alencar para o Ministério da Defesa, no lugar do embaixador José Viegas, foi o melhor momento do governo Lula. Primeiro porque retirou Viegas. Segundo, porque arquivou a brincadeira de entregar a coordenação das Forças Armadas a ex-guerrilheiros ou militantes de partidos comunistas. Terceiro, porque nomeou uma pessoa de sua confiança. Mede-se Alencar pela pertinácia com que enfrenta a facção banqueira do petismo federal.
Lula contribuiu para esvaziar uma briga de dragões de biombo. Todas as crises militares brasileiras da segunda metade do século 20, além de telefônicas, esvaziaram-se diante da presença de chefes. Assim aconteceu em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel demitiu o ministro do Exército, general Silvio Frota. Quase sempre a falta de chefe engordou a crise. Assim aconteceu em 1964 e em 1968. Chefe, no caso, quer dizer presidente da República.
O ministro José Viegas produziu uma excepcional carta de demissão de dois parágrafos, os dois primeiros. Nos oito seguintes procurou mudar o resultado do jogo no replay. Quando se tratou de encarar problemas reais (a memória da guerrilha do Araguaia e da morte de Vladimir Herzog), ponderou as razões de Estado e ficou entre a fantasia e o silêncio. Faz parte.
Poderia ter deixado o ministério antes de dizer que os papéis da guerrilha do Araguaia foram queimados, junto com os seus autos de destruição. Fantástica piada de brasileiro: queimar um arquivo e, junto com ele, o registro da incineração. Prima da piada do português que guardou o segredo dentro do cofre.
A carta de Viegas foi tardia. Por tardia, inócua. Por inócua, teve aquela audácia que o jornalista Murray Kempton via nos editorialistas, comparando-os aos combatentes que depois da batalha descem ao campo para matar os feridos.
Lula termina a primeira metade do seu mandato com duas realizações no Ministério da Defesa: arrumou uma crise militar sem pé nem cabeça e comprou um Airbus europeu por US$ 56 milhões. Pior: malbaratou uma política de equilíbrio costurada com autoridade e sorriso de aeromoça por FFHH.
A escolha de Alencar embute um embaraço constitucional. Lula colocou uma pessoa que não pode demitir (o vice-presidente da República) numa posição demissível "ad nutum" (ministro da Defesa). Essa foi a principal razão pela qual FFHH não nomeou seu vice, Marco Maciel, para esse cargo. A manobra é meio girafa, mas isso não chega a ser relevante.
Havendo chefia, não há problema em quartel.
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Postby mends » 10 Nov 2004, 08:08

ELIO GASPARI

Educação? Não é com Tarso Genro
O ministro Tarso Genro portou-se como um magistrado diante do relatório da Unesco que classificou o sistema educacional brasileiro em 72º lugar numa lista de 127 países: "O resultado não é nem da história do atual nem do último governo, mas a história de sucessivos governos que não tinham sentido republicano, estratégia, e não consideravam a educação um bem público essencial. (...) Queremos que o governo atual seja um marco que fará essa virada".
Tomara, mas, se depender do doutor Genro, é improvável que isso aconteça. Pelo seguinte:
No domingo o ministro da Educação deu três entrevistas. Falou à Folha, ao "Globo" e ao "Estado de S.Paulo". Discutiu seu livro "Esquerda em Processo", um volume de 126 páginas, com 11 textos, cinco dos quais escritos depois de sua chegada ao governo federal, em 2003. Tarso Genro dispôs de um espaço equivalente a sete vezes o deste artigo. Tratou do "rebaixamento do horizonte utópico", mas não pronunciou uma só vez, no singular ou no plural, as palavras "universidade", "escola", "educação", "professor" ou "aluno". Quando um entrevistador lhe perguntou se aplica no Ministério da Educação suas idéias políticas (disponíveis no livro), respondeu:
"Eu não ponho em prática no ministério as minhas idéias pessoais. Aqui no MEC eu estou comprometido com um programa de governo, que é plural, filosoficamente laico e profundamente democrático. Acho que não cabe ao ministro aplicar suas idéias".
Tudo bem. Um país onde o ministro se orgulha de não aplicar suas idéias (sejam elas quais forem) no cargo que ocupa, tem muita sorte quando se classifica no início da segunda metade do mundo. O doutor Genro vai mais longe. No livro, refere-se à fusão nuclear e ao "manto fáustico-produtivista". "Escola", "professor" ou "aluno", no singular ou no plural, nem pensar. Como o livro é dele, paciência.
Tarso Genro é um raro pensador político capaz de dissertar sobre "gestão da esquerda" e "utopia realista da esquerda" sem que as palavras "educação" e "universidade" passem pelo seu teclado. Por essas e outras, os brasileiros sustentaram (e sustentam) o bacharelismo verboso de "governos que não tinham sentido republicano, estratégia, e não consideravam a educação um bem público essencial".
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Postby mends » 16 Nov 2004, 08:32

ELIO GASPARI

Pé no acelerador
Uma corrente do PT que procura evitar rótulos está disposta a levar a Lula o pleito de uma reforma radical do ministério. Seja para qual lado for.
Os critérios seriam dois. Num, saem os incompetentes. Noutro, entram pessoas que, por algum motivo, são consideradas competentes.
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Postby Aldo » 17 Nov 2004, 10:32

O homi vai ficar sem ministros? Que sacanagem???
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Postby Danilo » 17 Nov 2004, 12:25

Nãão, tem a segunda opção. Será que nós, do conselho saidera, somos competentes o suficiente? 8)
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Postby mends » 22 Nov 2004, 08:28

ELIO GASPARI

Urucubaca
Os companheiros do PT-Federal precisam se benzer:
O governo tem um gerente (José Dirceu) que chega atrasado a enterro (de Yasser Arafat).
O partido tem um tesoureiro (Delúbio Soares) que deposita no Banco Santos uma parte de sua caixa, que tanto trabalho dá para arrecadar. Ou que não dá trabalho para arrecadar.

O choque de Betto
Frei Betto vai-se embora do governo depois de ter passado por curiosas experiências.
Acompanhou Lula numa viagem ao exterior. Recebeu US$ 1.400 para custear sua ilustre estadia. Gastou US$ 89 e passou seis meses tentando devolver o troco. Desistiu e fez um cheque em nome do Fome Zero.
Certo dia pediu um automóvel à garagem do Planalto. Disseram-lhe que não havia carros, só Kombis. Quando ele entrou no veículo, o motorista perguntou: "Mas o senhor anda de Kombi?".
Desde o final do ano passado, Betto estava convencido de que, numa crise, seu amigo Lula tomaria um curso político diverso do seu. Via isso como um fato da vida, sem maiores emoções.
Betto continua sua caminhada, sempre procurando dobrar à esquerda.

Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e vê nexo em tudo o que o governo faz. Ele está encantado com a decisão dos çábios da Funcef (fundo de pensão dos empregados da Caixa Econômica) e da Centrus (do Banco Central). Eles investiram coisa de R$ 100 milhões de seus acionistas em papéis do Banco Santos. O idiota não sabe se eles chegaram a essa idéia usando seus próprios neurônios ou se alguém aconselhou-os a fazer o investimento.
Eremildo confia nos fundecas porque sabe que, todas as vezes que eles colocam o dinheiro dos trabalhadores nas cumbucas que o Planalto recomenda, o BNDES dá um jeito e reestrutura as dívidas das empresas quebradas. Foi isso que aconteceu com a FerroNorte, onde o banco da Viúva passou uma pomada de R$ 654 milhões nas feridas de um negócio ruinoso feito pela Funcef e pela Previ.
O idiota quer se transformar numa aplicação recomendada pelo Planalto. Pelas suas contas, a Viúva tomou um espeto de mais de R$ 500 milhões no Banco Santos.

A PPP do Pajé com o Plutocrata
Para o registro das negociações que deverão resultar nas PPPs, as Parcerias Público-Privadas, ou Papemos a Poupança da Patuléia:
Há duas semanas, ilustres personagens de Brasília receberam um convite verbal para uma reunião na tarde de quarta-feira, 10 de novembro, no gabinete da Secretaria Executiva do Ministério do Planejamento. A reunião destinava-se a discutir o projeto que cria as PPPs. Dela participariam representantes do Senado e do Ministério do Planejamento, mais o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
A presença de Skaf numa reunião de representantes do Legislativo com hierarcas do Executivo era uma coisa meio girafa. Sabendo-se que o atual presidente da Fiesp move-se como um centauro, com corpo de empresário e cabeça de comissário (ou o oposto), vá lá.
Os incautos chegaram ao ministério e foram recebidos pelo doutor Demian Fiocca, estratego das PPPs, acompanhado de um funcionário da Presidência da República. Com ele estava Skaf. Joaquim Levy, cadê? Não estava. Em compensação, havia quatro rostos inesperados: representantes das empreiteiras Camargo Correa, OAS, Andrade Gutierrez e Alusa.
Coisa jamais vista. Parlamentares e técnicos do Poder Legislativo convocados para uma reunião de serviço, no interesse da República, na presença canhota de representantes de empreiteiras. Mais: para discutir mudanças na redação de um projeto da iniciativa do governo, do intere$$e das empreiteiras e do desembolso da choldra. Não se sabe se a impertinência da cena incomodou Skaf, mas o fato é que em cinco minutos ele foi embora.
Seria útil aos costumes nacionais se o Ministério do Planejamento produzisse uma minuta dos temas discutidos nessa reunião, com a opinião de cada doutor. Como a reunião durou duas horas, deve ter rolado muito assunto.
É antiga e variada a crônica de peraltices das empreiteiras. Já se meteram com deputados que roubavam o Orçamento da Viúva. Acertaram-se em maracutaias hidrelétricas do general Pinochet, e de tiranos d'África. Abasteceram a caixa de pecúlio de arrecadadores presidenciais, como o falecido Paulo Cesar Farias, o homem das PPPs (Pingue a Prebenda Patrimonial) do collorato. Com todos esses antecedentes, nunca tiveram a audácia de participar de uma reunião, na sede de um ministério, com representantes do Executivo e da burocracia legislativa para emendar a redação de um projeto remetido ao Congresso com o patrocínio e a chancela do presidente da República.
As empreiteiras podem defender seus interesses no Palácio da Alvorada, na Granja do Torto, no BNDES ou no Ministério do Planejamento. Também podem batalhar no Congresso Nacional. O que não podem é misturar as duas jurisdições, a menos que a reunião seja realizada para a Casa de Mãe Joana.

Lula hospedou-se no mundo da fantasia
Lula hospedou-se no mundo da fantasia. Pouco se importa se os fatos desmentem a veracidade do personagem que representa. Falando a uma patuléia endinheirada do Rio, ele disse o seguinte:
"Eu, quando vejo um intelectual da universidade, um professor se aposentar com 50 anos de idade, eu fico pensando: está certo que um jogador de bola, aos 30, está ficando velho, está certo que um bispo, aos 75, tem que se aposentar. (...) Mas, meu Deus do céu, o ser humano atinge o ápice da sua capacidade intelectual aos 50 anos, é quando ele está, eu diria, maduro, pronto, aí se aposenta. Não é possível".
O dirigente sindical Luiz Inácio da Silva aposentou-se aos 51 anos e hoje fatura uma pensão de R$ 3.396 brutos mensais. Soma-os aos vencimentos de cerca de R$ 7.000 líquidos, com casa, comida, manicure e roupa lavada. Nessa verba não estão incluídos seus ternos (21) da grife Ricardo Almeida, que custam, por baixo, R$ 2.500 à escumalha. Lula é um dos 17.700 afortunados que recebem mais de dez salários mínimos do regime geral de Previdência. Ele reivindicou a aposentadoria especial declarando-se perseguido pelo governo do general João Figueiredo, que o prendeu por 31 dias. Em dinheiro de hoje, já recebeu pelo menos R$ 326 mil. Isso dá R$ 10.500 por dia de cana.
Usando sua linguagem, Lula deve se dar conta de que neste país ninguém tem o direito de dar lição de moral aos outros enquanto usufrui dos benefícios de uma elite que desgraça o país. O país melhoraria se ele continuasse batendo duro nas aposentadorias alheias, tendo devolvido a sua.

O dono do urso
Faltam vagas no cemitério dos "donos do Lula". Nos anos 60, acreditava-se no ABC que ele comia pela mão de Frei Chico, seu irmão. Lula diria: "Minha ligação com Frei Chico é uma ligação biológica. (...) Não tinha nenhuma afinidade política".
Nos 70, o dono era outro. Chamava-se Paulo Vidal e presidia o Sindicato dos Metalúrgicos. Lula derrubou-o. Hoje, registra que há a suspeita de que Vidal tenha sido um "dedo-duro".
Nos 80, Lula tinha novos donos. Eram os sindicalistas, professores e jornalistas que ajudaram-no a fundar o PT. Restam poucos à sua volta, muitos deles transformados em áulicos.
Nos 90, os "donos" eram seus principais assessores durante as Caravanas da Cidadania e os seminários do PT. Povoaram a primeira plumagem do presidente.
Luiz Inácio mudou novamente de turma. Tem gente achando que é o novo "dono do Lula".

Tunga sindical
Um leitor do Recife expõe a tunga que sofre do Sindicato dos Empregados nos Correios. O Sintect informou-o que cobrará uma contribuição assistencial dos trabalhadores (sindicalizados ou não), no valor de 2% de um salário mensal. Serão quatro mordidas, todas descontadas na folha.
Mui democraticamente, o sindicato esclarece que o trabalhador pode ser desobrigado. Basta que escreva ao sindicato quatro cartas (uma para cada parcela da cobrança). As cartas devem ser registradas, com aviso de recebimento.
Os diretores do Sintect não podem argumentar que desconhecem o alcance da própria malvadeza.
Se um trabalhador ganha R$ 1.000 mensais, a tunga da contribuição é de R$ 20, dividida em quatro mordidas de R$ 5.
Se a vítima decide não pagar os R$ 20, será obrigada a mandar quatro cartas registradas, com AR. Cada uma pagará a tarifa de R$ 5,35.
Para não ser mordido em R$ 20 pelos sinditecas, o trabalhador tem que passar pela humilhação de gastar R$ 21,40.

Há alguns anos o Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de São Paulo exigia que o trabalhador, para se livrar da tunga, levasse pessoalmente ao sindicato uma carta manuscrita. Funcionava só no horário comercial, fechando para almoço. Os maganos foram obrigados a aceitar uma carta entregue por oficial de cartório.

Se o governo falar sério, tira as algemas dos seus arquivos
Com a sua capacidade de complicar o que é simples e de fugir do que é complicado, o comissariado fabricou um falso problema: o da abertura dos arquivos da ditadura. A questão é falsa porque todos os arquivos são abertos e todos os arquivos são fechados. O grau de sigilo dos documentos públicos está demarcado por lei. Num atentado à história nacional, FFHH dobrou o tempo de segredo dos papéis confidenciais para 20 anos, prorrogáveis por mais 20. Um documento das privatizações de 1999 poderia ser liberado em 2019, ficou para 2039.
Um documento carimbado como "Secreto" hoje só poderá ser liberado em 2034, quem sabe em 2064. Se ele tem cem páginas, o segredo vale para todas, mesmo que o assunto secreto ocupe dois parágrafos.
Nesse pé, o governo será sempre acusado de usar o sigilo oficial para proteger torturadores, ladrões e privatas. A oposição ficará na posição de pedir a abertura dos arquivos, mesmo que não tenha interesse ou paciência para examiná-los.
A patuléia sustenta um Arquivo Nacional. É lá que devem ser guardados os documentos públicos. Não é necessário congelar documentos. Basta que a autoridade pública assuma a responsabilidade do que libera e do que divulga.
Um exemplo: em maio de 1971, o chefe da Central Intelligence Agency, Richard Helms, foi a uma comissão do Senado americano e depôs durante três horas sobre a ditadura brasileira. Meses depois, o Senado publicou os trabalhos da comissão, e era a seguinte a íntegra do depoimento de Helms: "Censurado".
Foi classificado como "Top Secret". Pelo critério de FFHH, o depoimento de Helms só poderia ser conhecido em 2021.
Desde 1987, o Senado liberou cerca de 60 de suas 96 páginas. A CIA sabia que a bomba destinada a explodir o marechal Costa e Silva no Recife, em 1966, tinha saído da AP.
O ministro da Segurança Institucional de Lula, general Jorge Armando Félix, diz que as informações de documentos secretos podem ser usadas para constranger cidadãos. Radicalizando-se a formulação angélica do general, os arquivos podem ser usados para chantagear autoridades da República.
Bingo. Arquivo fechado produz chantagistas. Aquilo que o general enunciou como receio é um produto maligno da política que defende. Ele já viu elefante voar. Faz pouco tempo, soube que uma patrulha de investigação privada de crimes públicos estava mexendo no arquivo da Abin sem credencial, licença formalizada ou registro oficial de seus pedidos. Tirou-a do ar.
Foi com um arquivo blindado que o chefe do FBI, J. Edgar Hoover, intimidou os presidentes John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon. O sujeito adorava detalhes da vida pessoal de artistas e políticos. Logo ele, que passava as férias com um amigo bem apessoado. Chamava-se Clyde Tolson. Quando Robert Kennedy soube que Tolson passara por uma cirurgia, perguntou: "De que se trata, histerectomia?".
"I used to be on an endless run.
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Postby mends » 24 Nov 2004, 07:48

ELIO GASPARI

De Figueiredo@edu para Lula@org
Companheiro Lula,
Outro dia reunimos a turma que carregou a cruz que hoje está nas tuas costas. Falamos do teu governo e as coisas continuam mais ou menos no mesmo pé. O Getúlio diz que você se deixa escorchar pela banca e dá aos trabalhadores a impressão de que devemos retribuir a boa vontade dessa gente. A verdade é que ele nunca foi com tua cara. O mesmo não se pode dizer do Juscelino, encantado com a história do Lula. Ele descreve a tua vida como se fosse uma realização do governo dele.
Estou te escrevendo em nome do Grupo dos Cinco, o G5: JK, Jango, Castello Branco, Ernesto Geisel e eu. Eles pediram que eu fosse o porta-voz porque chegaram à conclusão de que somos parecidos.
É verdade que no meu governo você passou 31 dias preso, mas não foi coisa pessoal. Os teus ternos estão sempre apertados, os meus também. Você não se incomoda de ser fotografado com as pernas de fora. Eu também não. Você prefere morar na Granja do Torto e sempre que pode procura quebrar a teatralidade de uma conversa soltando um palavrão teatral. Eu também.
O G5 quer mandar cinco sinais para você:
1) Você acha que o Palocci está certo? Então não mexa nele. Não pisque. O Jango avisa: "Minha fritura começou em 1963, quando tirei o Carvalho Pinto do Ministério da Fazenda". Eu mesmo fiz besteira quando deixei o Mário Henrique Simonsen ir embora, em 1979. O Castello ouve essas queixas e ri, porque ele bancou o Roberto Campos e o Otávio Bulhões a despeito de tudo. O problema de confiar no Palocci é teu. Nós não endossamos o que faz esse moço. Estamos apenas recomendando firmeza porque daqui de onde estamos nossa visão é clara: você não tem mais retaguarda.
2) Não loteie seu governo. Todos nós, em algum momento, achamos que devíamos entregar um ministério a um finório para atender exigências da bancada. Tudo falso. Em geral o espertalhão custa caro e a bancada, ao ser atendida, quer mais. O Castello sempre repete: "O inimigo comum é o Erário". Uma das nossas maiores diversões é azucrinar o Ulysses Guimarães, lembrando que esse tal de PMDB foi fundado por ele.
3) Não faça substituições com o banco de reservas. Se você deixa, a turminha do palácio tem excelentes nomes para tudo. Tudo nulidade. Se o sujeito é o segundo, isso significa que não devia ser o primeiro. Meio envergonhado, até o Jango concorda. Fizemos uma pesquisa ouvindo do Deodoro ao Jânio: nunca, em nenhum governo, um poderoso palaciano indicou, para qualquer cargo na sua área de influência, alguma pessoa que pudesse vir a ocupar o seu lugar.
4) Lula, nenhum dos teus ministros da área social é capaz de entregar um embrulho ao meio-dia na esquina da Rio Branco com a Ouvidor. Você não tem mais tempo para fazer um terço do que eles prometem. Veja bem: eles prometem, mas quem não cumpre é você. Separe dois projetos por ministério e coordene o trabalho pessoalmente. (Ressalva: o Castello e o Geisel discordam dessa parte da proposta. Para não alimentar antipatias, não conto por que).
5) Finalmente, a principal sugestão do G5: separe cirurgicamente a coordenação política da Casa Civil. Nomeie um operador e despache sozinho com ele. Você produziu um cruzamento de girafa com hipopótamo. Esse monstro está arruinando o teu governo.
Despeço-me com uma nota pessoal. Se no meio da noite alguém te disser que estourou uma bomba e que tem gente da tua estima envolvida, mande apurar, vá fundo, não vacile. Foi nessa que eu dancei.

Abraço do
João Figueiredo
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Postby mends » 01 Dec 2004, 08:39

ELIO GASPARI

A volta do comissariado tucano
Lula nomeou quatro novos ministros, e o comissário José Dirceu está no salão, apresentado-os à imprensa. Depois que o ministro do Planejamento disse que pretendia estimular a arrecadação, um repórter perguntou como ele fará isso, cumprindo a promessa de campanha de baixar os tributos.
Dirceu cortou:
"Como combinamos que não iam existir perguntas, eu queria passar a palavra para o futuro..."
"Não combinamos, não", reagiu um repórter.
O comissário consertou:
"Desculpa. Não foi combinado, é verdade. Você tem toda a razão. Foi apenas estabelecido. O verbo correto é esse. Eu aceito a corrigenda imediatamente. Como foi estabelecido que não haveria perguntas..."
Dito isto, seguiu-se um monólogo. Fez-se a corrigenda do verbo, mantendo-se a mímica do espetáculo.
Tudo o que está escrito aí em cima é verdade, mas o ministro José Dirceu não tem nada a ver com essa história. Nem ele nem aquilo que se chama de "arrogância petista".
A cena ocorreu com o tucanaço Clóvis Carvalho, comissário da equipe de transição do prefeito eleito de São Paulo, José Serra. Na cena, ele apresentava à imprensa os quatro primeiros secretários da ressurreição. Felizmente a repórter Catia Seabra preservou suas palavras.
Se o ministro Dirceu disser que um monólogo não está combinado, mas "estabelecido", o mundo cairá sobre sua cabeça: é um stalinista intratável.
No caso, não faltaria quem lembrasse que o problema do contribuinte não é a corrigenda dos verbos, mas o destino das taxas de Marta Suplicy.
Os petistas podem festejar. Vem aí o Sétimo Regimento de Cavalaria. Vai socorrer o governo trazendo de volta a prepotência tucana. Passaram-se dois anos e a patuléia, essa bondosa desmemoriada, esquecera-se da espécie. Clóvis Carvalho, por exemplo, hiberna desde 1999, quando o ministro da Fazenda, Pedro Malan, tirou-o do Ministério do Desenvolvimento. Antes, ocupara por quase cinco anos a chefia do Gabinete Civil da Presidência. Se metade do que dizia dele o grão-tucano Sérgio Motta era verdade, Serra comprou um bom pedaço de trilha no Raso da Catarina. Carvalho é aquele poderoso burocrata que no Carnaval de 1999 tocou-se com oito familiares para uma semana de sol em Noronha. Viajou pela ViúvaTours num Brasília VIP do 6º Esquadrão de Transporte Aéreo com direito a hotel e taifa da Força Aérea.
O doutor justificou-se dizendo que voou pela FAB por motivos de segurança, em função do cargo que ocupava. A explicação seria razoável para seus 120 vôos em 15 meses de governo, mas falta-lhe fubá para explicar os oito parentes. Era a quarta vez que os ventos do poder levavam Carvalho a Noronha. Terminou tudo bem porque o doutor praticou uma corrigenda e pagou R$ 25 mil à Viúva. (A bem da justiça, deve-se registrar que FFHH acabou com a mordomia dos passeios em vôos da FAB.)
A equipe tucana que assumirá a Prefeitura de São Paulo deve entender que seu novo barco chama-se Carpathia. O outro, grande, cheio de luzes, com Leonardo Di Caprio a bordo, foi posto a pique pelo iceberg de 52 milhões de votos de Lula. Não adianta pedir champanhe ao capitão. Ele tem sopa, chá e conhaque, mas em 2005, como em 1912, será pouco para o tamanho da demanda.
Por via das dúvidas, algum tucano pode responder ao repórter que perguntou como o novo prefeito pretende aumentar a arrecadação, caso pretenda acabar (logo ou mais tarde) com a taxas de Marta Suplicy. Não precisa ser uma reposta convincente. Apenas educada, porque, ao contrário do que supõe o comissário Carvalho, nunca esteve estabelecido que essa pergunta não deve ser respondida.
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Postby mends » 02 Dec 2004, 08:50

GIBA UM

Maluf 2006
Todos os processos contra Paulo Maluf demorarão muitos anos até chegar à sentença final: seus advogados, em todas as frentes, estimam que a batalha judicial poderá, no mínimo ultrapassar seis anos. Mais à frente, ele será beneficiado pela legislação que alivia brasileiros com mais de 75 anos. De um jeito ou de outro, ele já pensa numa cadeira* na Câmara Federal em 2006.

*imunidade parlamentar. O cara é PhoDa. :lol:
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