RUMO À DITADURA

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 22 May 2007, 19:11

Podcast do Diogo: censura lulista se inspirou em Chávez
Vejam como são as coisas. Nada como fazer a lição de casa, não é? Enquanto algumas nulidades babam sua admiração sobre a censura classificatória lulista, Diogo Mainardi foi busca a fonte de inspiração dos censores brasileiros: é a Venezuela, de Hugo Chávez. O ditador decidiu fechar a RCTV em seu país com base numa lei idêntica àquela que os lulistas querem usar para “monitorar” a TV Brasileira. Segue um trecho do Podcast.

Falta uma semana. No dia 28 de maio, a emissora venezuelana RCTV será retirada do ar. Hugo Chávez mandou cassar sua concessão. Sabe como isso aconteceu? Sabe qual foi o expediente legal usado pelo general Alcazar venezuelano? Eu explico. De acordo com os chavistas, a RCTV violou 652 vezes a Lei Resorte. A Lei Resorte é aquela que estabelece a classificação por faixas etárias dos programas de TV. Sim: exatamente igual à classificação indicativa lulista. Você não é obrigado a acreditar em mim. Você pode achar que meu antilulismo está ofuscando minha mente. Então deixe de ser vagabundo e procure na internet o texto integral da Lei Resorte. Depois, compare-a ao Manual da Nova Classificação Indicativa preparado pelo ministério da Justiça lulista. Um é cópia do outro. Quem copiou quem? O lulismo copiou o chavismo. Os termos usados pelos dois são os mesmos: “a TV deve promover a justiça social, contribuir para a formação da cidadania, da paz, dos direitos humanos, da cultura, da democracia, da igualdade entre os sexos, da amizade entre os povos, da tolerância entre os grupos étnicos...”

A classificação chavista regulamenta o uso da linguagem, do sexo e da violência na TV, fixando os horários em que os programas poderão ser exibidos, segundo os “princípios constitucionais para a proteção das crianças e dos adolescentes”. A classificação lulista se fundamenta nas arbitrariedades do Estatuto da Criança e do Adolescente. A RCTV é acusada pelo chavismo de ter veiculado publicidade pornográfica em horário impróprio para as crianças. O lulismo acaba de abrir uma brecha legal para recorrer ao mesmo instrumento de censura.
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Postby mends » 23 May 2007, 18:45

Blog grevista chamada de "burguês" dirito de ir e vir. E não é uma piada
Continuarei a discordar da leitura de Laura Capriglione, que vê uma quase, segundo entendi, saudável despolitização do atual ME (Movimento Estudantil). Olhem que pérola está no Blog da Greve do IFCH (Instituto de Filosofia, Ciências e Letras) da Unicamp (segue como está lá): “Ao reivindicar o direito burguês de ir e vir, de escolha individual e ao definir os métodos dos estudantes e funcionários como ‘ditaduras da minoria’, fascismo, totalitarismo, autoritarismo, julgando-os como ações dos ‘filhos classe média campineira’, muitos de nossos mestres mostram o profundo desconhecimento da situação pela qual passam esses atores.” E segue nessa toada.

É isso aí. Finalmente está dito com todas as letras: ir e vir são direitos burgueses. Como bem sabiam Stálin, Hitler, Mao Tse-Tung, Pol Pot e os petistas.


Por Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 27 May 2007, 19:06

Ele quer uma fogueira para os adversários
Publiquei há dias o comentário de um aluno de Artes Cênicas, da ECA (USP), inconformado com a greve. Um veterano do curso, Eric Rieser, resolveu contestá-lo. Segue em vermelho o que ele escreve, sem reparos. Volto em seguida:

Sou veterano no curso de Artes Cênicas deste pusilânime sujeito, que não tem coragem de assumir sua posição e só fala isso em off ao seu grande ídolo Reinaldão. Gostaria apenas de saber se o aluno em questão participou das reuniões ou se omitiu e nem sabe o que está acontecendo. Diante das inúmeras e proveitosíssimas discussões feitas entre nós, tenho certeza de que um alienado desse porte não pode ter comparecido e ouvido o que tínhamos a dizer. É louvável, entretanto, que ele seja a única exceção a um departamento que votou unanimemente por adesão completa à ocupação e à greve.
Pessoas assim estão queimadas no teatro, como aconteceu com Samantha Monteiro, quando apoiou a candidatura do Maluf. Ainda bem que temos muitos atores, diretores e teóricos propagando os idéias esquerdistas, entre os quais eu me incluo. Ainda bem que a centelha de Brecht cada vez está mais perto de virar uma fogueira. Faço a minha parte, com meu teatro social, que, dialético, prova por vias que deveriam ser óbvias o quanto a direita é burra. Um direitista é um egoísta no mais alto grau, e o egoísmo é e sempre foi o pior defeito do ser humano.
Ainda bem que existe a Caros Amigos, porque se dependesse da VEJA...

Voltei
Viram só? Ele quer uma “fogueira” (sic). Ele quer “queimar” (sic) quem não reza segundo a sua cartilha. As “discussões proveitosíssimas” são aquelas “feitas entre nós”. Está dito: é preciso primeiro ser um deles; só depois se adquire o direito de ser alguma coisa. E ele estranha que eu tenha omitido o nome do rapaz que estava inconformado com os comuno-fascistas (ele se identificou, sim; eu decidi não publicar). Por que omiti? Para preservar um aluno do primeiro ano da “fogueira” de um “veterano”. O seu problema, Eric, parece-me, é falta do remédio adequado. E de um bom analista. Não estranho que seu ídolo seja Brecht, um dos grandes canalhas que a esquerda produziu. Teatro Social? Uma pá de catar cocô de cachorro em praça pública é muito mais útil e socialmente mais relevante. Desde quando “teatro social” muda o mundo? Só muda a vida dos atores — quando, claro, devidamente financiado por alguma empresa estatal.
Como é mesmo que eu chamo essa gente? Comuno-fascistas.


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Postby mends » 28 May 2007, 11:25

Caracas, Brasília
Quem me acompanha desde Primeira Leitura sabe que sempre chamei Hugo Chávez de ditador, com a variante “O Maluco de Caracas”. O que se lê no post abaixo não tem disfarce nem leitura alternativa possível: trata-se da consolidação da ditadura. Mais: o país caminha para o regime de partido único. O coronel vai criar o “socialismo venezuelano”? Isso importa pouco: ele impõe a agenda possível da esquerda. Se o possível for o populismo autoritário, que seja.

Se vocês forem fazer uma pesquisa, algumas cabeças coroadas da mídia brasileira — geralmente coroadas por um belíssimo par de orelhas — escreveram artigos e mais artigos em que negavam que o coronel fosse um ditador. E o argumento da canalha era o seguinte: “Pô, ele faz tudo por meio de eleições”. O meu contra-argumento, à época, era tristemente óbvio: “A democracia é porosa às tentações antidemocráticas; o que Chávez faz é recorrer aos instrumentos da democracia para solapá-la: essa é a forma que tomou a luta da esquerda nos países democráticos”. Bingo. Está aí. Leitores mandaram comentários me informando que os Emirados Sáderes estão aplaudindo a decisão. Não tenho a menor dúvida. Fosse só ele. Parte do jornalismo está em festa e sonha o mesmo para o Brasil: quem sabe um dia o lulo-petismo exproprie a Rede Globo! Eles próprios sabem que essa hipótese é remota. Os meios do Apedeuta e de seus asseclas iluministas são outros — o que não quer dizer que não sejam perversos.

Isso precisa ser entendido com calma e, infelizmente, nem sempre o é. Nem mesmo pelo Departamento de Estado dos EUA, que não é especialmente informado sobre o Brasil e seu presidente. Chávez armou o carnaval que armou na Venezuela porque a institucionalidade do país permitia, já que ele chegou à esteira de uma desconstituição da classe política. Mais ainda: ex-golpista, o sistema decidiu anistiá-lo, benefício que ele, evidentemente, não daria e não deu a seus opositores. A justificativa política para expropriar a RCTV é que ela apoiou a tentativa de derrubá-lo — vejam quem fala: Chávez, um golpista. Mas volto à questão institucional.

Lula chegou ao poder e encontrou instituições bem mais sólidas. Enquanto a democracia ia se degenerando e derretendo no continente, ela só foi se fortalecendo nos oito anos de mandato de FHC. De modo que o PT não pôde promover o assalto ao poder que muitos de seus seguidores imaginavam. Isso criou tensões dentro do partido. Alguns de seus intelectuais, como Chico de Oliveira, por exemplo, decidiram pular fora, romper com a legenda. Queriam um Chávez e só encontraram um Lula. Ocorre que Chávez pode ser Chávez na Venezuela, e Lula só pode ser Lula no Brasil — o que não quer dizer grande coisa ou coisa boa. Lula não é Chávez porque não pode, não porque não queira. Fique-se num exemplo comezinho e óbvio: a nossa economia é muito mais complexa e não está fundada na monocultura. O país tem mercado de capitais, o que é incipiente na Venezuela. Como se pôde ver por aqui, ou Lula demonstrava ser um bom aluno do, digamos, “conservadorismo econômico”, ou quebrava a cara.

Mas é, por isso, um democrata invejável? Conversa pra boi dormir. Em quatro anos e meio de poder, o partido já tentou, por exemplo, cercear a liberdade de imprensa algumas vezes. As duas tentações da hora são a TV Pública, aquela, de Franklin Martins, e a portaria 264, que reinstitui a censura prévia no país e chama para si a tarefa de monitorar até o jornalismo, o que ficaria a cargo daquele rapaz a quem quero pagar um Chicabon — como é mesmo o nome dele? Ah, eu sei. Os orelhudos diziam ser tecnicamente incorreto chamar Chávez de ditador há quatro anos. E dizem agora que é forçar a barra ver uma tentação autoritária embutida na “TV Pública” ou na tal portaria

A verdade é que, nos dois casos, nota-se a intenção de disciplinar a mídia, que estaria muito solta, fazendo o que lhe dá na telha, exercendo a liberdade de opinião e de crítica, o que é absolutamente inaceitável a essa gente toda. E por quê? Porque eles são os herdeiros de um tipo de pensamento que supõe ter alcançado um degrau superior da razão, de onde vislumbram o futuro e a civilização. Se você não partilha dessa mesma vertigem, não se trata de diferença — nem mesmo de um equívoco, mas de uma sabotagem; você perde o direito de existir como voz autônoma.

Lula não é melhor do que Chávez. O Brasil é que é muito melhor do que a Venezuela. Por enquanto. Mas o PT promete fazer um grande esforço para mudar isso.


Por Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 30 May 2007, 17:47

Virei tema de aula da UnB. Os censores do "direito achado na rua" estão bravos



Virei tema de aula na UnB, quem diria? Falaram mal, é claro. Um aluno da universidade me mandou um texto escrito por um certo Henrique Smidt Simon. Quem? Também nunca tinha ouvido falar. Vamos ao que me envia o estudante: “Sou aluno da UnB e admito que já conhecia seu blog, mas não o lia frequentemente. Acontece que, desde que você fez um comentário sobre a questão da censura e mencionou o 'Direito Achado na Rua', seu blog ficou em alta por aqui. Principalmente por termos aula com apoiadores engajados do movimento. Sei que você deve ter pouco tempo, mas olha o que foi produzido para uma aula de sociologia jurídica: (é muita besteira, sei que tem mais com o que gastar seu tempo de leitura, mas, caso queira se divertir, dê uma lida”.

Pois é, leitores. “O Direito Achado na Rua” é aquela corrente a que pertence o tal José Eduardo Elias Romão, diretor do Departamento de Justiça e candidato a chefe dos censores. Um dos princípios dessa gente é lutar contra o que ela chama de “legalismo”, usando o direito para evitar a espoliação do homem pelo homem. Eles são contra isso: gostam do contrário...

O tal Simon resolveu falar mal de mim, num texto crivado de analfabetismo político e clichês, no que teve, segundo o aluno, o endosso do professor, que também é da turma. Disse o mestre (não sei o nome e nem quero saber): “(...) O texto do Henrique vai ao cerne da questão, mostrando a inversão falaciosa da argumentação do articulista de VEJA e de sua disposição vicária muito bem sintetizada no título do artigo que faço circular”. “Disposição vicária” é coisa de academicismo vagabundo. Em tempo, antes de escrever textos sobre o meu blog, o tal Simon cometeu outros, um deles intitulado “Rock’n roll, Direito e Modernidade”. Estou morrendo de curiosidade de não ler. Vejam, se houver paciência, o que perpetrou o sujeito: segue na íntegra, sem reparos e em vermelho. Respondo em azul. A bola está agora com o ministro Tarso Genro. Em que medida ele está comprometido com a vertente bolivariana do petismo?

Acrescento isso depois de concluída a minha resposta. Acreditam que a resposta do fulaninho foi parar no site da UnB? Lá se informa que o tal Simon (vejam a foto) é mestre e doutorando em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). É integrante dos grupos de pesquisa “Pensamento Social” e “Sociedade, Tempo e Direito”. Em breve, suponho, estará dando aula na universidade. Não cederei à tentação de comentar a sua foto... Eu seria acusado de “argumentum ad hominem”, o que seria uma impossibilidade...

Como transformar proteção em censura prévia, liberalismo em conservadorismo e democracia em proteção do status quo.

Em seu blog, o publicitário Reinaldo Azevedo (sim, publicitário e não jornalista) tem, reiteradamente, combatido a regulamentação da classificação indicativa feita pelo Ministério da Justiça, acusando-a de censura prévia. Em um de seus textos (o do dia 22/05), faz uma comparação entre a postura ideológica do MJ e a da invasão da reitoria da USP realizada por um grupo de estudantes. No meio dessas relações de idéias mal colocadas, ataca o movimento intelectual intitulado “o direito achado na rua”, da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília, desvirtuando um resumo explicativo e simplificado retirado da internet. Faz tudo isso para promover a propagando de interesses de grupos de comunicação que querem escapar ao respeito ao direito (legal e constitucional, diga-se de passagem).


Ele acha que me ofende me chamando de publicitário, o que, certamente, é uma ofensa aos publicitários, já que o intento é me desqualificar. Até parece que a profissão faz a qualidade do moralista. Como se não houvesse, por exemplo, advogados canalhas, em sentido intelectual, moral ou ideológico. Simon sabe que há. Ele não diz por que não gosta das minhas idéias. Limita-se, em seu rock de garagem, a dizer que são “mal-colocadas”. Mas eu gostei mesmo foi de descobrir que promovo “a propaganda de interesses de grupos de comunicação (...)”. A última vez que um petista graduado se referiu a mim, chamou-me de membro da “black propaganda da CIA”. As duas coisas são verdadeiras...

Algumas explicações óbvias e sucintas são necessárias. O direito moderno é voltado para a proteção dos grupos menos poderosos contra os mais poderosos, seja se exercido no âmbito da produção do conhecimento, da informação, das relações sociais, políticas ou econômicas. Mas as criticas contra o MJ omitem esse ponto.

Adorei o “seja se exercido etc” porque ficamos esperando o segundo termo da exemplificação, e ele não vem. É coisa de analfabeto universitário. “O direito moderno é...” Uma pinóia! Esse é o direito exercido em Cuba, na Venezuela, talvez na Coréia do Norte. Nas democracias, o direito é exercido segundo o que está consagrado nas leis democraticamente votadas. Que idade tem esse cara? Ele ainda quer fazer justiça com as próprias mãos? Cuidado com as espinhas. Olhe que ainda lhe nascem pêlos nas patas... Quer dizer que, segundo “o direito achado na rua”, um empregado, porque menos poderoso, sempre estará certo, na luta contra o seu patrão, mesmo que esteja errado? Sim, quer dizer isso mesmo. Esse é o “direito” deles e, tudo indica, é isso o que se instalou no Departamento de Justiça. Como eles se consideram os donos das causas dos oprimidos — e os chamo de cafetões da miséria, proxenetas dos pobres, gigolôs das minorias —, eles se querem mais avançados. No que diz respeito ao Ministério da Justiça, o direito do mundo da lua é só é só uma manifestação do Moderno Príncipe. Boas serão sempre as causas que forem favoráveis ao petismo. Outro exemplo? Delúbio Soares e amigos só cometeram crimes do ponto de vista do legalismo. Para “o direito achado na rua”, suponho, só estavam praticando um jeito novo de justiça.

Quem estabelece o dever de adequação dos conteúdos dos programas de televisão a determinados horários é o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de forma que a regulação nada mais é do que estrito cumprimento do princípio da legalidade estrita por parte da Administração Pública, algo que já vem com atraso, pois o ECA é de 1990. Isso também não é sequer referido nas críticas dirigidas à regulamentação proposta pelo MJ.

Mistificação. O ECA é um lixo jurídico — e eu posso falar assim porque não sou do Ministério da Justiça —, mas não regulamenta censura prévia. Por que este senhor não expõe os critérios de pontuação definidos pelo Dejus, um verdadeiro monumento ao neofascismo politicamente correto? O tal Romão (aquele a quem quero pagar um Chicabon) ainda não teve tempo nem de ler o que interessa para se apressar a ser censor da cultura brasileira — e, o que é pior, do jornalismo também. Brasília é realmente um ninho de pessoas interessadas em proteger as criancinhas...

As redes de televisão não vêm cumprindo o ECA espontaneamente, pois não interessa economicamente respeitar a criança, já que a programação é voltada para o estímulo ao consumo de massa e as crianças formam uma massa imensa de consumidores que não são capazes de ter discernimento em suas escolhas. E é por isso mesmo que a legislação às protege: porque são hipossuficientes, ou seja, uma daquelas partes mais fracas que as democracias de verdade visam a proteger. Nada disso é explicado pelas críticas feitas por Reinaldo Azevedo e outros “democratas” – opa, isso lembra um partido político e a acusação, feita pelo nosso publicitário, de partidarismo por parte do movimento de estudantes da USP e da regulamentação sobre classificação indicativa feita pelo MJ.

Huuummm, malandrinho! Essa ironia com o nome “democratas” talvez não tenha sido percebida por seus leitores. Talvez você devesse ser menos inglês ao fazer uma piada... O mais interessante nesses pterodáctilos é que eles não escondem o que querem: transformar todos os brasileiros em crianças, em “hipossuficientes”, para usar o termo do especialista em direito e rock.

Alô, ministro Tarso Genro, o amiguinho de Romão está revelando que o Ministério da Justiça não está dedicado a fazer Justiça, mas a “proteger as partes mais fracas”. Cheguei a pensar que isso pudesse estar a cargo do Ministério do Desenvolvimento Social, por exemplo. Mas quê...

A portaria do MJ não afronta a liberdade de expressão, pois não impede que qualquer conteúdo seja veiculado pelas emissoras de televisão, mas apenas estabelece horários para que determinado tipos de programa seja veiculados. Assim, a portaria cumpre dois dos seus objetivos: garante a liberdade de expressão e protege a infância.

A argumentação é indigente. Quem “garante a liberdade de expressão” é a Constituição, sujeitinho, não a portaria 264. O cretino dá aula? De todo modo, pelo visto, foi adotado por um que dá. Vejam como os alunos menos experientes são (des)informados. Pelo visto, o direito achado na rua não foge à vocação: lixo mental. A infância pode passar muito bem sem o quase infante Romão, a quem quero pagar um Chicabon. Por que não seguir as democracias que optaram pela auto-regulamentação?

Além disso, o MJ só estabelece o horário que o programa deve passar. Se a emissora descumpre, o que o MJ pode fazer é notificar o Ministério Público. Este, por sua vez, pode chamar a emissora para assinar um termo de ajustamento de conduta; ingressar com ação civil pública, para que o Judiciário decida ou pode mesmo discordar do MJ. O Judiciário, por sua vez, pode julgar procedente ou improcedente a ação proposta pelo MP. Assim, a rigor quem tem a última palavra sobre a classificação proposta é o Judiciário, e não o MJ. Essa é outra informação que não está presente nas criticas feitas ao MJ.

O texto é perturbado, confuso, mas é como me chegou. Sim, isso está claríssimo nas críticas. Diogo Mainardi já tratou do assunto. O energúmeno acha que essa “judicialização” da liberdade de expressão é uma coisa positiva. Trata-se de um legítimo herdeiro dos Processos de Moscou. Tanto melhor se também o promotor for da turma do “direito achado na rua”, certo?



Por que essas informações não são levadas em consideração pelos críticos?

Quem disse que não? A crítica principal de Diogo e minha está justamente aí: caberá a um grupo de iluminados, com base num manual esdrúxulo, fazer a classificação e, de fato, acionar a Justiça, via Ministério Público, quando achar que algo fugiu das suas determinações. Até parece que a estrovenga, quando relatada por Simon, fica melhor.

É porque as reclamações são oriundas dos setores conservadores da sociedade que detêm poder político e controlam os principais meios televisivos, ligados aos partidos políticos tradicionais: PSDB, PMDB e PFL (“Democratas”).

Este aí sou eu. Acho que o preclaro esqueceu de relacionar o PT entre “os partidos tradicionais”. A pessoa mais parecida com partido político que conheço e que tem controle de um canal de TV é Fábio Luiz da Silva, o Lulinha. Ao omitir o PT, o roqueiro expõe a seriedade de sua crítica.

Sem a regulamentação que eles tanto criticam, podem fazer, por meios subliminares, propaganda político-ideológica que os mantém no poder e formam a mentalidade política e de consumo das crianças de maneira acrítica, impondo-lhes um futuro de submissão intelectual, ideológica e econômica, mantendo-os sempre como hipossuficientes.

É marxismo suburbano, ainda que produzido em Brasília. Era isto: Simon me descobriu. Eu integrava o grupo que molestava ideologicamente as criancinhas, buscando a perpetuação do poder. E estou infelicíssimo porque, agora, Romão decidiu liderar a rebelião do Jardim da Infância. Atenção, ministro Tarso Genro: olhe a qualidade das pessoas que estão se apresentando para controlar os meios de comunicação. Devo considerá-lo, também, membro dessa esquerda mambembe? Do "direito achado na rua"?

Tudo isso em nome da liberdade de expressão, que esses agentes sequer são capazes de definir. Ou seja, eles percebem muito bem que proteger os pólos mais fracos não significa “controle ideológico prévio” por parte do Estado, mas diminuição de seus poderes políticos, econômicos e sociais.

Como se vê, o alvo é mesmo a liberdade de expressão.

Assim é que PSDB, PMDB e PFL/Democratas transformam, a partir do controle dos principais meios econômicos, políticos e de mídia, democracia em manutenção do status quo, liberalismo em conservadorismo e proteção da infância em censura prévia. Em outras palavras, mentem deliberadamente. Reinaldo Azevedo e seus amigos agem como publicitários: fazem pesquisas superficiais sobre os assuntos que tratam, usam informações parciais, incompletas e ainda as distorcem, bem como transformam conceitos como “democracia” e “liberdade de expressão” em expressões vazias que só servem para conquistar a simpatia do público alvo (futuros consumidores de seus produtos – informação interessada e corrompida para a manutenção de seu poder), retirando-as do âmbito de seus verdadeiros significados.
E o delinqüente intelectual se oferece para ser o policial dessa gente horrível. O chavismo já chegou à universidade brasileira. E, tudo indica, chegou também ao Ministério da Justiça.

Mas, já que estamos falando em constituição e democracia, podemos levar em consideração os princípios da presunção de inocência e da boa-fé presumida. Se os sectários de Reinaldo Azevedo e Diego Mainardi não conheciam as informações aqui apresentadas, então não são jornalistas ou publicitários: são simplesmente desinformados que com certeza mudarão de opinião".


Que informação? Simon não fez senão piorar o que já era muito ruim. Mas prestou um serviço. Agora já sabemos que a tal classificação pretendida não passa de um tribunal petista, destinado a combater os “inimigos”, que consideram meros porta-vozes dos que fazem oposição ao PT. O PMDB, aliado de Lula, é citado apenas para conferir certa aparência de isenção ao texto.
Vejam só: um amontoado de bobagens ginasianas é escrito por um especialista e usado como exemplo de análise virtuosa por um professor numa das mais importantes universidades do país. Já haviam me advertido que certas áreas da UnB haviam se convertido no braço avançado do chavismo no Brasil. Não sabia que a coisa era tão escancarada.



Sugiro a Romão que tente me bater com as suas próprias mãos. Seus esbirros são incompetentes e meio analfabetos. Depois Tio Rei te paga um Chicabon.


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Postby mends » 31 May 2007, 15:54

Os discípulos de um homem chamado NAIR" ou "Estamos na sarjeta"
Caros, o texto é longo, sei disso. Mas é das coisas mais sérias de que já tratei neste blog

Tenho aqui em mãos uma preciosidade. Trata-se do que poderia ser definido como a carta de princípios de uma estrovenga chamada “O Direito Achado na Rua”. Foi publicado pela Editora UnB e elaborado pelo Núcleo de Estudos para a Paz e Direitos Humanos. Paz? Si vis pacem, para bellum, já ensinava adágio latino. Se queres a paz, prepara a guerra. E foi o que os valentes fizeram. Se bem se lembram, comentei o artigo de um sujeitinho, ligado a essa corrente (ver abaixo), que decidiu me atacar num texto energúmeno, reproduzido no site oficial da Universidade de Brasília. Sei lá quem é ele, e não me interessa. O que me importa é que ele é uma espécie de apparatchik de José Eduardo Elias Romão, diretor do Departamento de Justiça, aspirante a censor, que também partilha dos princípios do tal “Direito Achado na Rua”.

Mas que diabo é isso? Trata-se de uma formulação teórica, que aspira a uma corrente do direito, inspirada num troço chamado NAIR, pomposamente traduzido por “Nova Escola Jurídica Brasileira”, de que o grande mestre foi Roberto Lyra Filho (1926-1986). De tal maneira se encantou com a sua obra, que ficou conhecido no meio como “o homem da NAIR”, até que virasse simplesmente “o Nair”.

“O Direito Achado na Rua”, conforme é definido por seus adeptos, busca combater o que consideram o “legalismo”. Entenda-se por isso o conjunto das leis que aí estão, que estes bravos, a exemplo do ministro Eros Grau, avaliam ser vincado pelas desigualdades de classe. Daí que se ocupem, na prática, de combater esse formalismo, digamos, classista em benefício de um “verdadeiro direito”, que seria aquele formulado pelas lutas sociais. Já contei isso aqui. Mas as crias da NAIR acharam que eu estava sendo simplista. De certo modo, é verdade. O conjunto da obra é bem pior do que eu imaginava.

A cartilha que tenho aqui dá o caminho das pedras. Lyra, por alcunha “o Nair”, não brincava em serviço. Informam-me, por exemplo, que era versado na obra de Gramsci, o pai do totalitarismo perfeito. Gramsci, como sabem, é o teórico comunista italiano que deu o caminho das pedras: forneceu o instrumental teórico para que a esquerda açambarcasse as instituições da “sociedade burguesa” e as usassem a serviço de sua causa.

“O Nair” era um verdadeiro guru, um mestre. Num texto de sua autoria, que está no manual, ele ensina como devem agir seus gafanhotos. Reproduzo um trecho para que continuemos. Vejam como ele se dirige ao jovem estudante de direito:

“Vocês devem, inclusive, aproveitar as lições de seus mestres conservadores. Se o ceguinho remói as suas fontes, se o catred’áulico (SIC) irrita com a arrogância do cortesão, se o nefelibata dá sono com os seus discursos, onde há pérolas de erudição sem um fio que as reúna em colar de verdadeira cultura — todos eles, sem querer, trazem milho para o nosso moinho.
A questão é não comer o milho (não somos galinhas agachadas diante dos falos de terreiro pedagógico) e, sim, ‘moer’ o milho, isto é, constituir com ele o nosso ‘fubá dialético, acrescido com outras matérias que os ceguinhos catred’áulicos e nefelibatas ou não conhecem ou deturpam, e, em todo caso, não usam porque eles são do Planalto, e nós somos da planície, democrática, popular, conscientizada e libertadora”

O diabo é que, olhem que ironia, a turma “da panície”, finalmente, chegou ao “Planalto”, e o tal Romão, a quem quero pagar um Chicabon, fez-se diretor do Departamento de Justiça, aquele a quem caberá, a permanecer a estúpida portaria 264, reinstalar a censura prévia no país. Observem que “o Nair” fala a agentes subversivos, que devem aproveitar o “milho dos conservadores” para produzir o “fubá dialético”. Atentem também para a elegância revolucionária da linguagem e para o estímulo ao que não passa de delinqüência intelectual contestadora. “O Nair”, vê-se, gostava mesmo de jovens topetudos, ousados, malcriados quem sabe... Não estranho que tanto garotão que mal saiu dos cueiros, que mal sabe articular a inculta e bela, se atreva a dar lições de direito, de moral, de ética e, por que não?, de censura. Devem achar que chegou a hora de a gente passar pelo teste do fubá dialético.

Doutor Nair falava também umas coisas um tanto estranhas — e, às vezes, fica parecendo que o público-alvo de sua revolução eram só os rapazolas. Num outro momento de seu artigo, depois de desancar o direito, digamos, tradicional, ele escreve: “Não à toa, o ‘direito’ que se adapta a esse esquema, dito apolítico (isto é, político de direita) só pode ser um “direito” examinado segundo a teoria ‘jurídica’ de um positivismo (capado) ou de um jusnaturalismo (brocha)”. Eu, hein, Rosa... “A direita”, como vêem, apanhava demais, coitadinha. E urgia não ser capado (ah, tudo menos isso!) nem brocha (uma decepção, certo?). Era um homem maduro falando aos jovens, era o Sócrates do “direito achado na rua”. Os partidários dessa corrente, nem capada nem brocha, hoje se dizem muito preocupados com as criancinhas.

E onde ele queria chegar? Ele responde: “Dialeticamente, direi que política é tornar ‘possível’ o ‘impossível’, isto é, o objetivo final de toda ação, mediante a ‘evolução revolucionária’, constituída por sucessivas aproximações, que pressionam e dilatam as barreiras da reação e do conservantismo, com vista à transformação do mundo e não à adaptação ao mundo da dominação instituída”. Trata-se de um pastiche gramsciano, com intenção muito clara. A receita acima, que já usei para convencer algumas moças a ceder aos meus encantos (“Que isso... Temos de romper barreiras etc e tal”), aplicada ao direito, resulta num esforço sistemático e continuado de subversão da ordem.

Sim, este blog tem muitos correspondentes na Universidade de Brasília. Eles me informam que esse negócio se espalhou por lá feito PRAGA — sem deixar de ser uma CHAGA —, especialmente no curso de Direito, que teria se tornando um samba de uma nota só. Ora, compreende-se por quê: Seu Nair julgava que seu pensamento — e a doutrina que ensinava a seus rapazes — não era uma entre várias leituras; não era uma entre várias interpretações; não era uma entre várias possibilidades. Não! Ele tinha grandes ambições revolucionárias: como todo revolucionário, via-se como a própria encarnação da evolução. Ele defendia “a verdadeira cultura” — os outros tinham apenas pérolas esparsas de erudição. Aqueles que não se alinhavam com seu pensamento eram “catedr’áulicos, nefelibatas”. O livro tem 156 páginas e é um verdadeiro show de horrores. Mas, acreditem, nele está a explicação de boa parte dos descalabros que vivenciamos.

Formalização
O que a turma do Seu Nair — na verdade, toda a tal escola jurídica — faz é tentar dar uma expressão legal (!?) à subversão da ordem e à transgressão da lei. Muito “dileticamente”, como diria o mestre... Já falei dessa gente aqui e lhes pedi que pensassem, por exemplo, na invasão da Reitoria da USP. Ilegal? E daí? O manual que tenho aqui me diz que ela pode ser legítima. E, se é assim, a legalidade que se dane. Direitos individuais estão sendo desrespeitados? Calma lá: “individuais” de quem? É perfeitamente possível concluir que existe um direito coletivo à greve, que àquele se sobrepõe. Assim como os interesses dos invasores do MST fundam uma nova demanda de direito que se sobrepõe ao da propriedade. Quem, na imprensa, passou a mão na cabeça dos comuno-fascistinhas da reitoria está endossando isso: a formalização da barbárie

Olhem lá para a Venezuela. O tirano mantém dezenas de estudantes na cadeia, fechou um canal de televisão, ameaça um outro e mandou prender o oposicionista que liderou os protestos. Chávez fez tudo isso com o direito que foi encontrando na rua, aniquilando a ordem legal “tradicional”, “catedr’áulica”, “conservadora”, de “direita” e impondo a “evolução revolucionária”. Na aparência, agiu segundo o mais estrito formalismo. Porque essa gente também sabe enganar, não é? Vai moendo o milho para produzir o seu “fubá dialético”. Não é outra coisa que o PT tem feito desde que chegou ao poder: submeter as instituições a uma pressão que “dilata as barreiras da reação”.

Vocês saberão mais a respeito disso tudo. Volto ao ponto. Temos no Departamento de Justiça um sectário dessa corrente: José Eduardo Elias Romão. Tanto se orgulha disso que faz constar a filiação intelectual e ideológica de sua curtíssima biografia. E é ele quem se apresenta para pôr ordem na televisão brasileira. Com qual direito? Com o que ele julga ter achado na rua?

Não achamos a democracia na sarjeta.




Por Reinaldo Azevedo |
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Postby junior » 04 Jun 2007, 12:37

Seg, 04 Jun, 08h19

O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, ministro Marco Aurélio Garcia, saiu ontem em defesa do presidente venezuelano Hugo Chávez. Garcia afirmou que, ao tirar do ar a emissora RCTV, no último minuto do dia 28, "Chávez não fez nada de ilegal nem violou os princípios da liberdade de expressão". "Não julgamos que tenha sido violada nenhuma regra democrática. Andei não poucas vezes pela Venezuela. Em raros países eu vi a imprensa falar com tanta liberdade quanto na Venezuela", disse.
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Postby telles » 04 Jun 2007, 14:37

Simplesmente um inútil... :merda:
Telles

Conheça aqui a Vergonha Nacional
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Postby mends » 04 Jun 2007, 18:22

Um certo Laurindo Leaal Filho, que pretende ser nosso mestre em assuntos de TV
Na coluna desta semana de VEJA, Diogo Mainardi aborda a formação do conselho da tal TV Pública. E lembra que, entre os “conselheiros” de Franklin Martins, está um certo Laurindo Lado Leal Filho. Escreve Diogo: “Ele apresenta um programa na TV Câmara, o Ver TV. Apesar do nome, desconfio que seja um dos programas de TV menos vistos de todos os tempos. Laurindo Lalo Leal acredita no seguinte: ‘Deve-se lutar contra o índice de audiência em nome da democracia. A TV regida pela audiência contribui para exercer sobre o consumidor as pressões do mercado, que não têm nada da expressão democrática de uma opinião coletiva esclarecida’.” Taí um homem que cumpre o que promete: ele é contra o índice de audiência, e ninguém vê o que ele faz”. Com dinheiro público, é claro.

Em dezembro de 2005, ainda no site Primeira Leitura, escrevi largamente sobre este senhor. Ele foi protagonista de uma trapaça intelectual e política perpetrada contra o jornalista Willian Bonner, o Jornal Nacional e a Rede Globo. Acompanhem o caso para que vocês saibam em que mãos estamos. Segue aquele texto, intitulado “William Bonner, Homer Simpson e um certo Laurindo”. O texto tem quase dois anos. Poderia ter sido escrito há cinco minutos. Até a Venezuela está aí.

*
Eu nunca tinha ouvido falar de um certo Laurindo Lalo Leal Filho. Descobri que ele existe porque um amigo me recomendou que lesse um texto assinado pelo jornalista William Bonner (este mais conhecido, suponho, do que o presidente Lula), publicado no site Observatório da Imprensa. O editor-chefe do Jornal Nacional escreveu uma pequena crônica bem-humorada como resposta a uma covardia de que foi vítima, assinada justamente por aquele senhor, que se apresenta como “sociólogo, jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP”, a famosa ECA. O texto do aliterado fora publicado, originalmente, na revista Carta Capital. E, por isso, eu ignorava o ataque. Sou assinante de Tendências e Debates, a revista do PT, mas não sou leitor da Carta. O Observatório reproduz o artigo em que ele critica Bonner.

Antes que continue, a síntese do que se passou: a Rede Globo convidou alguns professores para conhecer o funcionamento do Jornal Nacional, no que cometeu um erro (falo disso mais adiante). Os “especialistas” eram, assim, como um Big Brother da academia assistindo à farra da imprensa burguesa. Laurindo relata uma reunião de pauta de Bonner com sua equipe. O editor-chefe do JN tem uma metáfora para designar o homem comum, aquele que não é especialista nos assuntos que ditam o cardápio de política e economia: “Homer Simpson”. E, segundo relata Laurindo, ao derrubar uma reportagem, Bonner comenta às vezes: “Essa o Homer não vai entender”. Com isso, depreende-se, descartaria matérias mais complexas.

Para Laurindo, Homer é a síntese do pateta ignorante, que fica escarrapachado no sofá, a comer rosquinhas e a beber cerveja. Bonner tem outra leitura da personagem, com a qual compartilho, diga-se. Não conheço quem tenha pelo simpático pai de família a repulsa demonstrada pelo “sociólogo-professor-jornalista”. Ao contrário: há até uma relação de carinho com aquele homem meio simplório. Laurindo não cai nessa. É muito sabichão. Está imbuído da tarefa de levar luz à estupidez. Ele tem a pior impressão do marido de Marge, que não escapa de sua fúria iluminista. Olha para ele com um misto de nojo e desdém. Homer encarnaria a tolice, o nivelamento por baixo, o cretinismo. E Bonner, segundo se depreende do texto tão malvado quanto mal escrito de Laurindo, faria, então, o Jornal Nacional para essa gente vulgar. O editor-chefe de um dos noticiários mais vistos do mundo seria, assim, um cavaleiro do obscurantismo.

O “professor-sociólogo-jornalista” escreve mal pra chuchu. Fazendo uma pesquisa na internet, descobri que o texto publicado em Carta Capital não é exceção, é regra. Ele não sabe nem pontuar frases, e tudo piora muito quando elas se encadeiam em períodos longos. É tão cru, que cheguei a supor que se tratasse de um professorzinho boboca, quase imberbe, tentando se afirmar com ataques à Rede Globo. Mas o bodum ideológico me advertia de que poderia ser um daqueles casos patéticos em que um velho fala e se comporta com a irresponsabilidade de um jovem. Se, neste, certa graça compensa a ignorância e a inexperiência, naquele, a maturidade torna ainda mais ridícula a leviandade. Deu a segunda. E uma leviandade dolosa porque duplamente covarde.

O ataque a Bonner é covarde, em primeiro lugar, porque o tal Laurindo, em momento nenhum, evidencia que a sua crítica é tão-somente ideológica, jamais técnica. Ele omite dos leitores que está submetendo as escolhas do editor-chefe do Jornal Nacional ao corredor polonês de uma agenda ditada pela esquerda. Não! Ele finge um olhar clínico, especializado e isento, como se sua análise fosse o resultado de umas tantas evidências colhidas da árvore da vida. E, em segundo lugar, observe-se: não segue a ética mínima da prática jornalística. O objeto de sua fúria não é ouvido. Ao contrário, Laurindo estava preparando uma armadilha para Bonner. Poderão dizer que faço com ele o que ele fez com o outro. E também sem avisar. Não estou reportando seu ambiente de trabalho. Ele só me interessa como sintoma de uma doença do pensamento. Leiam o seu texto, em que relata a troca de olhares, superiormente “constrangida”, com seus pares de academia.

Constrangida por quê? Até parece que o ambiente universitário respira uma ética superior e mais sábia. O texto de Laurindo prova que não. Os estudantes que saem da universidade provam que não. A pobreza conceitual, prática e teórica dos currículos dos cursos de jornalismo (ou rádio e televisão) prova que não. Fico cá pensando na sua excitação mesquinha, escrava, rancorosa, vingativa, ressentida: “Ah, peguei o homem do Jornal Nacional!”. Nessas horas, evoco sempre a criada Juliana do romance O Primo Basílio, de Eça de Queiroz. Ela é, para mim, o emblema do horror: é má, é burra, é feia, é pusilânime, é dissimulada. Mas se acha apenas uma injustiçada pelo destino e pela soberba alheia.

Laurindo, me informa a internet (pesquisem), é também um militante de ONG. Está empenhado na defesa de uma certa rede pública de TV e se coloca como um gerente de conteúdo dos meios de comunicação. Não sei quem lhe conferiu esse papel de juiz da atuação alheia, mas é assim que ele se sente. Fala em nome da “qualidade” da programação, embora a sua vocação seja mesmo para censor. Se preciso, para provar as suas teses, não hesita em fraudar os fatos. Dou um exemplo.

Escreve o aliterado Laurindo Lalo Leal ao relatar uma passagem da rotina no JN: “A primeira reportagem oferecida pela ‘praça’ de Nova York trata da venda de óleo para calefação a baixo custo feita por uma empresa de petróleo da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. O resumo da ‘oferta’ jornalística informa que a empresa venezuelana, ‘que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos, separou 45 milhões de litros de combustível’ para serem ‘vendidos em parcerias com ONGs locais a preços 40% mais baixos do que os praticados no mercado americano’. Uma notícia de impacto social e político. O editor-chefe do Jornal Nacional apenas pergunta se os jornalistas têm a posição do governo dos Estados Unidos antes de, rapidamente, dizer que considera a notícia imprópria para o jornal. E segue em frente.”

Escolhas, ideologias
Com discordâncias que não são pequenas — mas, reitero, discordâncias ditadas por minhas escolhas ideológicas, políticas, intelectuais, éticas, por meus preconceitos também! —, acho Bonner um ótimo jornalista, e seu trabalho no JN me parece muito competente. Já discordei dele e escrevi a respeito. Crítica clara, sem pegadinha. Meus critérios estão sempre à mostra. Não sou Laurindo, mas sou leal. Acho o jornalismo brasileiro excessivamente condescendente com as esquerdas, especialmente em tempos de PT no poder. Mais do que esquerdismo, ele está contaminado pelo petismo, que é a fase senil do comunismo. Nem o Jornal Nacional escapa da minha crítica.

Pode parecer ridícula a minha afirmação de que a Rede Globo, ainda o Satã da esquerda bocó, está cercada de esquerdismo por todos os lados. Mas está. E não seria difícil prová-lo. Não raro, nem se trata de promoção industriada de valores, mas de uma maré influente. Há, por exemplo, “pobres” demais no JN de Bonner. O que quero dizer com isso? Exemplares do “povo”, volta e meia, aparecem em reportagens especiais, com a exaltação de seu saber natural e telúrico. Acho isso um porre. Por qualquer incrível razão que não sei identificar, pobre, quando aparece na televisão, canta, dança ou faz artesanato.

São escolhas que eu não faria. Se eu editasse o JN, provavelmente cortaria essas matérias, derrubaria a audiência do jornal e levaria um pé no traseiro. Justificado. Isso quer dizer que se deva fazer o programa sempre de olho no Ibope? Não! Quer dizer que ele é um dado importante da equação. Dali vem o pão que garante a festa. É, sim, preciso pensar no Homer Simpson, não naquele idiota de Laurindo, mas naquele cuja definição William Bonner adotou para si mesmo: “trabalhador, pai de família protetor, meio Lineu, meio Homer”.

“O”, aquele meu leitor implacável que não aceita ser identificado, escreveu-me: “Nessa polêmica entre William Bonner e os professores da USP, inclino-me a desapoiar os dois lados: os professores da USP, para quem o Jornal Nacional deve ser (tal qual, provavelmente, as aulas que ministram...) um ‘instrumento de transformação social’; Bonner, responsável por esse Frankenstein que todos os dias seleciona as notícias que mais profundamente tocam a alma religiosa e conservadora de 100 milhões de brasileiros para travesti-las com roupagem ‘politicamente correta’. Bonner já pagou seu tributo aos professores da USP (e à intelligentsia nativa): deu ao JN um sotaque de esquerda. É pouco, para eles. De posse da estética, agora querem a ética. Bonner nunca fará o que pedem, pois, ao contrário dos professores da USP, conhece o público do JN, sabe que ele não é de esquerda. Ao encerrar a polêmica, porém, produziu uma verdadeira pérola de ironia. Dirigindo-se a professores de jornalismo que, por definição, devem conhecer a diferença entre uma metonímia e um projeto político, ‘desculpou-se’: ‘Eu, como trabalhador, pai de família protetor, meio Lineu, meio Homer, reconheço humildemente meu fracasso no desafio de ser claro e objetivo para todos os meus interlocutores’. Como diria Millôr Fernandes, ‘grande alegria de um homem inteligente é se fazer de idiota diante de um idiota que se faz de inteligente’.”

Como sempre, “O” não perdoa, desnuda. Posso não concordar inteiramente com o teor do seu e-mail, mas se trata de uma pérola da síntese. Concordo com ele que o JN ganhou uma inflexão à esquerda nos últimos anos e que abriga aspectos do pensamento politicamente correto. Se é uma imposição de quem fala, todos os dias, a muitos milhões de brasileiros, isso, para mim, não está claro. Acho que não. E, é fato, a esquerda acha pouco. Vejam lá: Laurindo considera uma notícia de “impacto social e político” que “uma empresa venezuelana” (sic) venda óleo de calefação a preços mais baratos em Massachusetts. Não toma nem o cuidado de informar o leitor que se trata da PDVSA, a estatal de petróleo venezuelana. Em lugar de Bonner, talvez eu tivesse levado a matéria ao ar, mas não ao gosto do “professor-sociólogo-jornalista”. Dispensaria à notícia o tratamento de uma das pantomimas de Chávez, que eu chamaria de protoditador vagabundo, que mata os venezuelanos de fome, desemprego e falta de futuro, mas usa o combustível farto em seu país para fazer proselitismo nos EUA.

Se eu fosse Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo e profissional de primeiro time, a esta altura, estaria satisfeito, gozando a sensação do dever cumprido. Laurindo, um esquerdista com, desconfio, simpatias por Hugo Chávez (como quase toda a esquerda brasileira), considera que o Jornal Nacional emburrece a nação. Eu, que não sou de esquerda (esta diz que sou de direita, um xingamento para eles, não para mim), ao contrário, acho que a emissora escorrega, e não apenas no JN, na metafísica influente do esquerdismo. Entre os supostos extremos, o principal noticiário televisivo do país pode continuar a fazer o seu trabalho, com a competência técnica habitual — o que é sempre um fator a mais de irritação para a patrulha comuno-stalinista.

Diferenças
Não, eu não me quero o positivo ou o negativo de Laurindo. Eu não uso o truque vagabundo de me dizer um observador ou um especialista isento e neutro. Não sou nem uma coisa nem outra. Não troco “olhares constrangidos” com as donas Marocas da reputação alheia. Os meus critérios estão claros: no “meu JN”, invasor de terra seria tratado como alguém que esbulha a legalidade e merece é cana; no “meu JN”, a miséria jamais seria pretexto para a violência (porque não acredito nisso e acho a tese mentirosa); no “meu JN”, rap, funk e outras escatologias (nos dois sentidos) seriam considerados o que são: fundo musical do crime organizado, e não “manifestação da cultura popular”; no “meu JN”, a cobertura de uma invasão da propriedade alheia iria até o fim: o sujeito foi preso, conforme pede a lei, ou o Estado foi lá passar a mão na sua cabeça? Vai ver é por isso, entre outras tantas diferenças — e o talento não é a menor delas —, que é Kamel o diretor-executivo de jornalismo da Globo, e não eu; que é Bonner o editor-chefe do JN, e não eu. A diferença de talento, bem entendido, seria dispensável dizer (mas não quero ruído), conta a favor deles e contra mim.

E a diferença vai mais longe. A minha crítica, inclusive ao professor Laurindo — e também ao JN —, é, como se vê, escancaradamente ideológica, mas não no sentido perturbado do termo, que lhe empresta o marxismo cretino. Segundo este, “ideologia” se resume às “mentiras” que a burguesia conta para enganar o povo. Como seria um mal de mão única, eles, os comunas, julgam que não produzem nada além de verdades ontológicas. As minhas “verdades” são nada além de escolhas: econômicas, políticas, morais, éticas. Se o pensamento estivesse minimamente organizado no Brasil, eu estaria entre aqueles que, na Europa ou nos EUA, são considerados “conservadores”? Acho que sim. Da “direita democrática” talvez. Embora, por exemplo, o meu apreço (a falta dele) à política econômica de Antonio Palocci me afaste de alguns outros que se querem meus parceiros em determinados valores. Kamel e Bonner, se lerem este texto, saberão que, à diferença de Laurindo, eu não julgo portar “a verdade”. Isso é tão-somente uma leitura do mundo: parcial, precária, imperfeita, como a de qualquer um. E há ainda outra coisa importante: não dou aula a ninguém. Não transformo num ministério as minhas parcialidades.

Compreendo, mesmo quando não concordo com as escolhas, que um noticiário como o Jornal Nacional ou uma revista como a VEJA tenham de fazer certas escolhas que atendem também às exigências do telespectador ou do leitor médios. Isso não significa que não possam contribuir de forma definitiva para o aprimoramento da democracia ou das liberdades públicas. Ao contrário. Ambos têm tido um comportamento na crise que me parece absolutamente correto. Mesmo quando não exaltam as virtudes generosas de Hugo Chávez com os EUA...

Climão
Falei aqui de um climão que toma conta do jornalismo, que tange as cordas do esquerdismo chinfrim. Na GloboNews, há pouco, a garota de 13 anos que participou do incêndio deliberado do ônibus da linha 350 — que matou cinco pessoas e feriu gravemente outras 14 — concedeu uma entrevista. Foi tratada como uma vítima das circunstâncias, uma besta-fera hobbesiana (ou pré-hobbesiana) a quem faltaram educação, escola, atenção do Estado. Logo, ela faz o quê? Frita as pessoas num ônibus, ora essa, como desdobramento natural da sua história triste.

A moral subjacente é a de que os culpados somos todos nós. Supõe-se que uma pessoa de 14 anos, por causa da miséria, é completamente desprovida do senso do certo e do errado. Ou, infere-se, ela não faria o que fez. É um misto de precariedade sociológica, precariedade teológica e resquícios de sub-Rousseau: “Perdoai-os, Pai, eles não sabem o que fazem porque são muito carentes; vieram puros ao mundo e foram corrompidos pela sociedade”. Pouco se falou das vítimas da assassina de 14 anos. Estamos é sendo convidados a nos comover com os protagonistas do terror.

Muda-se o canal. No SBT Brasil, fala um dos promotores que denunciaram cinco diretores da Daslu, a loja de roupas dos ricos e famosos do Brasil. Ele não teve dúvida. À moda de um Robespierre dos Trópicos (ou um Saint-Just, a julgar pelos cabelos cuidadosamente longos), decretou: “Acabou a fase de punir apenas os pobres; agora, os nobres, os patrícios, também vão para a cadeia”. Que coisa! Ele poderia ter explicado por que foi oferecida a denúncia. Preferiu fazer um discurso, que foi ao ar, em que a Justiça se transforma em mero instrumento de sua particular versão da luta de classes — que está mais para um arranca-rabo. Deve ter falado outras coisas, mas aquele era o pedaço mais saboroso. Prestemos atenção ao “agora” de sua fala. O que ele quer dizer? A qual tempo, exatamente, ele se refere? Parece ser um tempo que não é histórico, mas político. Neste mesmo jornal, já vi uma invasão do MST a uma propriedade privada ser meticulosamente acompanhada, desde o planejamento à execução. Os miseráveis que servem de massa de manobra a um movimento político expunham a sua falta de dentes e de sorte. O crime estava social e moralmente justificado.

O julgamento dos assassinos da freira Doroty Stang, também nas TVs de hoje, mobiliza o mundo. É justo. Luiz Pereira da Silva, o policial capturado, torturado e assassinado num assentamento do MST, em Pernambuco, já virou o húmus onde viceja a mistificação. Não era um homem-causa. Não é um mártir do reino da justiça das esquerdas, aquele construído sobre uma impressionante montanha de cadáveres, de que Hugo Chávez, o do óleo barato, é a versão pateticamente atualizada.

Laurindo certamente acha que isso ainda é muito pouco. Ele pertence a ONGs e grupos empenhados em conferir “função social” ao jornalismo de rádio e TV e em monitorar o conteúdo da programação, já que a radiodifusão, no país, é uma concessão pública. Como ele se quer o representante desse “público”, embora uma representação auto-outorgada, não hesita em fazer a sua crítica como se habitasse o promontório da independência. Uma vez que o jornalismo foi cedendo à patrulha esquerdista — em parte porque a maioria dos jornalistas é petista, mão-de-obra que Laurindo, suponho, ajude a reproduzir e a repor com suas aulas —, os policiais de consciência querem mais. Já seqüestraram o debate. AgorA, ficam cobrando sucessivos resgates.

E olhem que já lhes são dadas coisas aos montes. Enquanto escrevo, a TV noticia que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, voltou a defender, nesta quinta, o fim de Israel. Há dois dias, caiu um avião em Teerã. Morreram ao menos 115 pessoas. O noticiário do mundo inteiro, também o brasileiro, na TV ou nos jornais, observa que o embargo americano impede o Irã de repor peças de suas aeronaves. Está explicado. Quando ocorre um acidente aéreo em Teerã, a responsabilidade, claro, é de Washington. Quando dois aviões derrubam as Torres Gêmeas em Nova York, a culpa também é de Washington. Sabem como é: o unilateralismo bushiano maltrata humanistas da qualidade de Ahmadinejad... O antiamericanismo é a doença fúngica do esquerdismo.

Chega!
Já fui longe. Acho que o JN e William Bonner foram vítimas de uma trapaça intelectual, ideológica, jornalística e política. Se a minha solidariedade valesse de alguma coisa, aqui estaria. As pessoas têm o direito de falar e escrever, como faço, o que lhes der na telha — respondendo, é claro, pelo que falam e escrevem. Mas atacar pelas costas é vedado ao bom guerreiro. Foi o que Laurindo fez. De certo modo, a Rede Globo paga o preço — um preço ridículo, é verdade (eu sou um dos únicos que dão bola para a academia no Brasil) — do flerte com os adversários.

Cada um faça o que quiser de sua empresa. Não sei que diabos os acadêmicos foram fazer na Globo ou o que tinham a ensinar aos jornalistas. Nos debates de que tenho participado ou nas palestras que tenho conferido em universidades, percebo que a maioria dos estudantes considera os meios de comunicação “inimigos do povo” e uma fábrica de falsidades a serviço do capital. Quem lhes ensina isso são seus professores, dublês de mestres e militantes políticos. Chamam “técnica” o que não passa de juízo de valor e ideologia rombuda. A maioria dos que ensinam é incapaz de fazer um lead inteligível. Como se vê, até a gramática e a sintaxe lhes são claramente hostis. Ademais, boa parte jamais botou os pés numa redação.

Não sou do tipo avesso à teoria, não. Muito ao contrário. Gosto dela. Naqueles encontros a que aludi, costumo fazer referência a alguns clássicos do pensamento político, social, econômico, nomes muito citados em discursos na sala de aula. A maioria amarela e não vai além do clichê e dos livros (agora Google) de citações. Quem se opõe contenta-se em me chamar de “reacionário”. Posso ser. Mas li o que boa parte diz ter lido. Trata-se de gente que evita o debate com a sua ignorância olimpicamente superior. Quero, sim, o concurso dos acadêmicos. Que nos ajudem a fazer jornais melhores, revistas melhores, sites melhores, jornalismo de TV melhor. Mas é preciso ter honestidade intelectual.

Arremato aplaudindo, também eu, a sutileza da resposta de Bonner. É isso, meu caro: você superestimou parte da platéia que estava ali para vigiá-lo. Supôs que ela tivesse, ao menos, o nível de entendimento de Homer Simpson. E, de fato, tratava-se de um Dino da Silva Sauro. Bonner, está provado, faz muito bem em não superestimar a inteligência alheia.


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Postby mends » 08 Jun 2007, 11:41

Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar concessão de TV
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da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a não-renovação da concessão da RCTV pelo presidente venezuelano Hugo Chávez foi um ato tão democrático quanto seria a possível manutenção da concessão da emissora.

Em entrevista exclusiva à Folha (só para assinantes), Lula ressaltou que não dá para "ideologizar" o tema, pois o mesmo Estado que dá uma concessão é o mesmo que não dá.

"O Chávez teria praticado uma violência se tivesse, após o fracasso do golpe [contra o venezuelano em 2002], feito a intervenção na televisão", disse durante a entrevista, concedida ao colunista da Folha Clóvis Rossi, na embaixada brasileira em Berlim.

Lula está na capital da Alemanha para a reunião da cúpula de chefes de Estado e governo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia (G8). No encontro de hoje, o presidente brasileiro deverá propor a convocação de uma nova conferência ambiental no Rio.

Na entrevista, Lula só falou sobre política externa, principalmente sobre a relação entre Venezuela e Brasil. O presidente disse que nos quatro anos de mandato já viu muitas brigas entre países latino-americanos, e ressaltou que é preciso tomar cuidado com discursos porque, às vezes, "a radicalização verbal atrapalha muita coisa".

"Você dá uma declaração num lugar e, dependendo do interesse local, a imprensa dá uma manchete e cria-se uma animosidade nacional numa coisa que não precisaria. A nota que o Senado brasileiro fez em relação à televisão do Chávez é uma nota branda. É um apelo, não tem nenhuma agressão. Agora como é que chegou a ele, eu não sei", afirmou Lula, sobre o posicionamento do Senado brasileiro em relação ao fechamento da RCTV.

Após tomar conhecimento de parlamentares brasileiros, Chávez disse que o Senado agia "como um papagaio" do Congresso americano e que era mais fácil o Brasil voltar a ser colônia portuguesa do que o seu governo devolver a concessão ao canal oposicionista RCTV.

PT

O PT, partido do presidente Lula, também apoiou a decisão de Chávez de não renovar a concessão da RCTV. O posicionamento do partido foi por meio de nota da Secretaria de Relações Internacionais do partido.

Na nota, o PT informa que a não renovação da concessão da RCTV "seguiu todos os trâmites previstos pela legislação venezuelana".

"É público e notório que a RCTV envolveu-se abertamente com o golpe fracassado contra o governo Chávez, atitude que em qualquer país do mundo justificaria o questionamento da concessão pública a uma rede de televisão", diz nota da Secretaria de Relações Internacionais do partido.
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Postby mends » 09 Jun 2007, 10:14

Educação
Ensino que é bom...

Mãe ganha na Justiça o direito de protestar
contra o colégio da filha. Na cartilha sobra
ideologia e falta conteúdo


Camila Antunes



Roberto Setton

Mirian com a filha, Luísa: indignada com os erros factuais e com a doutrinação esquerdista

"O aparecimento da propriedade privada deu origem à desigualdade social em comunidades neolíticas e na Grécia antiga. Esse é um mal que os capitalistas hoje procuram acobertar." Esse samba do sociólogo louco parece guardar distante parentesco com a teoria de Karl Marx, mas o rigoroso filósofo alemão ficaria chocado com a letra. Criticar o capitalismo é saudável, como qualquer crítica. Mas fazer proselitismo esquerdista usando fatos errados é de lascar. As análises em questão circulam pelos vários capítulos de uma apostila de história e geografia usada em classes de ensino médio de 200 escolas particulares do país. O dono do material é o grupo COC, de Ribeirão Preto, que vende as apostilas às escolas. Ao se interessar pelo material didático usado na escola da filha, a dona-de-casa Mírian Macedo, 53 anos, levou um susto. Ela correu ao Colégio Pentágono, de São Paulo, um dos que aplicam as apostilas, decidida a cancelar a matrícula da filha. Luísa, de 15 anos, estudava lá havia nove. Mírian condensou as passagens que soavam a ela como "panfletagem grosseira" em um texto no qual denuncia o que chama de "Porno-marxismo". Em março, o artigo da dona-de-casa passou a circular na internet. O caso acabou na Justiça. Por meio de uma liminar, o COC exigiu a retirada do nome da instituição do documento. Há duas semanas, a Justiça reavaliou a questão e deu a Mírian o direito de divulgar a versão original. O COC, por sua vez, avisou que fará uma revisão de suas apostilas, usadas por 220.000 estudantes. Reconhece Chaim Zaher, o dono do grupo: "Erramos mesmo".

Ao chamar atenção para o viés ideológico nas apostilas de sua filha, Mírian (que se define como "marxista desiludida") expõe um problema bem maior. Apostilas e livros didáticos adotados pelas escolas brasileiras estão contaminados pela doutrinação política esquerdizante. Resume o sociólogo Simon Schwartzman: "As crianças não aprendem mais o nome dos rios ou as datas relevantes da história da humanidade. Elas estão tendo contato com uma ciência social superficial, marcada pela crítica marxista vulgar". É esse o ponto. As editoras deveriam ser mais criteriosas na erradicação desses dogmas e das simplificações que, como diz Schwartzman, vulgarizam o ensino. Karl Marx foi um pensador profundo e complexo que tirou a filosofia das nuvens e a colocou no mundo real. Nisso é equiparado ao grego Aristóteles, cuja obra deu vida material aos ensinamentos essencialmente teóricos de Platão. Reduzir Marx ao esquerdismo de botequim que se nota em alguns livros e apostilas é uma ofensa ao filósofo alemão e um desserviço à educação dos jovens brasileiros.

Muitos dos livros e apostilas que servem de base para as aulas apresentam problemas ainda mais básicos, como erros factuais e de português – e redações primárias. O texto "Como se conjuga um empresário", panfleto anticapitalista sem graça nem gosto reproduzido nesta página, foi o que mais chamou a atenção de Mírian. Mas a mãe se indignou com muitas coisas mais. O colégio onde estuda a filha reagiu com coragem e correção. Não renovou o contrato com o COC e mandou tirar de sua própria apostila o texto em questão. Assinado por um desconhecido escritor cearense que atende pelo nome de Mino, a peça já havia cativado outros deseducadores. Em 2005, serviu de tema para a redação no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais. Inspirados na obra, os candidatos deviam produzir um texto crítico sobre o comportamento do empresário. Com um detalhe: o narrador da história seria uma "secretária anticapitalista", indignada com as peripécias do patrão. "Os jovens estão expostos a uma salada de slogans que não esclarecem nada sobre o mundo em que vivemos – isso só emburrece", diz o filósofo Roberto Romano. Como mostra a reação de Mírian Macedo, as escolas ensinam, mas cabe aos pais educar – no sentido mais amplo possível.

ERROS E DOGMAS ESQUERDISTAS

Trechos das apostilas da 1ª série do ensino
médio do COC e do Colégio Pentágono

"A escravidão no Brasil é justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado como animal, pois era 'desprovido de alma' (...). Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?"
(Capítulo "Nós e a história", pág. 97 da apostila do COC)
Comentário: a Igreja já era, então, contrária à escravidão. O papa Paulo III escreveu, em 1537: "Ninguém deve ser reduzido à escravidão"

"A dissolução das comunidades neolíticas, como também da propriedade coletiva, deu lugar à propriedade privada e à formação das classes sociais, isto é, a propriedade privada deu origem às desigualdades sociais (...)."
(Capítulo "A pré-história", pág. 103 da apostila do COC)
Comentário: o conceito de "classes sociais" não se aplica a uma sociedade organizada em clãs. As desigualdades subsistem desde que a humanidade vivia da caça, da pesca e da coleta

"O surgimento da propriedade privada dos meios de produção (...) provocou, na Grécia, a formação da sociedade de classes organizada sob a cidade-estado."
(Capítulo "O período arcaico", pág. 128 da apostila do COC)
Comentário: as classes na Grécia antiga eram determinadas pela ascendência dos cidadãos – e não por sua riqueza

"Como se conjuga um empresário: vendeu, ganhou, lucrou, lesou, explorou, burlou... convocou, elogiou, bolinou, estimulou, beijou, convidou... despiu-se... deitou-se, mexeu, gemeu, fungou, babou, antecipou, frustrou..."
(Pág. 14 da apostila de redação do Pentágono)
Comentário: tolice ideológica que, além de ser sem graça, predispõe os alunos contra o sistema de geração e distribuição de riqueza que é a base da democracia, a economia de mercado
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Postby mends » 18 Jun 2007, 09:57

Fala o chefe dos "backstreet boys" da censura
Romão [José Eduardo Elias Romão], a quem quero pagar um Chicabom, concede uma entrevista à Folha desta segunda. Os Menudos da Censura começam a mostrar a cara. O moço tem 33 anos — ainda não poderia ser senador ou presidente da República —, mas pretende ter o direito de dizer em que horário nós e nossos filhos podemos ver isso ou aquilo na TV. A pouca idade em si não é o problema. Num velho, a censura é falta de reflexão; num jovem, falta de experiência. Em qualquer dos casos, é lixo intelectual. Romão é o chefinho do Dejus (Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça).

Quando comecei a ler a entrevista, achei que o repórter Pedro Dias Leite iria perguntar ao rapaz alguma coisa sobre a corrente de que ele é hoje o prosélito mais poderoso: o “Direito Achado na Rua”. Infelizmente, não foi o caso. O Direito Achado na Rua acredita que a Justiça é palco da luta da classes e que é o ambiente adequado para combater aquele modelo econômico terrível em que o homem explora o homem. Eles pretendem inverter isso. E não me acusem de simplificar porque tenho a bíblia dos valentes aqui na minha biblioteca. Já publiquei trechos. Publicarei mais. O que vai acima não é exato porque sou bem-humorado. Eles não são. Os backstreet boys caipiras se levam a sério.

Na entrevista, o rapaz nega que esteja tentando implementar a censura etc e tal. A resposta de Romão para a primeira pergunta já é notavelmente estúpida, além de baseada numa inconstitucionalidade. Vejam só:

FOLHA - Críticos vêem a instituição da classificação indicativa como uma volta da censura. Como o sr. responde?
JOSÉ EDUARDO ELIAS ROMÃO - A classificação surge para afastar a censura.

Trata-se, obviamente, de um juízo perturbado, indigno de quem é formado em direito, com mestrado e doutorado em curso. É no que dá achar direito na rua, em vez de na Constituição. A “classificação surge para afastar a censura" uma pinóia!!! Não existe censura prévia no Brasil. Fica até parecendo que o Menudo está nos fazendo um favor. Aí ele continua:

A classificação não impõe censura, é somente indicativa. Um órgão que só tem o poder de indicar, mas não tem autoridade para punir ou policiar, não pode exercer censura. A Divisão de Censura, anterior à Constituição de 88, tinha o poder de cercear, proibir, multar, restringir o acesso, cancelar a veiculação de notícias. E poder algum tem o Dejus. Em casos de inadequação, o Ministério da Justiça classifica ou reclassifica o produto, encaminha ao Ministério Público, que vai analisar sua procedência, e pode encaminhar ao Judiciário. As emissoras que descumprirem uma classificação do Ministério da Justiça não sofrerão qualquer punição. Nunca houve tanta liberdade.

É essa aparente suavidade dos backstreet boy do direito que acho insuportável. A partir da ação proposta pelo Ministério Público, caso aceita pela Justiça, a emissora pode, sim, ser punida. Quem disse que não? Mais: ele nega na entrevista que o jornalismo não possa estar sob a vigilância dos Menudos. Não é verdade. Diogo Mainardi já demonstrou que a portaria é ampla o bastante para alcançar os programas jornalísticos. E o que significa a frase "nunca houve tanta liberdade"? Houve, sim. Em parte do governo Sarney, no governo Collor, no governo FHC... O que nunca antes houve nestepaiz, Romão Chicabom, é outra coisa: tentativa de usar a democracia para instituir a censura. Isso é inédito.

Prestem atenção nesta pergunta e nesta resposta:

FOLHA - E censura prévia? O ministério pode de fato analisar antes o que é veiculado na TV?
ROMÃO - A idéia de censura prévia está sempre associada à possibilidade de a autoridade ter o corte, impedir que seja exibido. O ministério, nessa portaria, transformou a análise prévia numa decisão das emissoras. É uma exceção. Se a emissora solicita dispensa da análise prévia e não justifica a razão pela qual classificou como livre um conteúdo com cenas inadequadas, como sexo explícito ou grave violência, cabe ao ministério reclamar que a emissora apresente o conteúdo para ser examinado.

OU SEJA: É CENSURA PRÉVIA. DISFARÇADA, MAS É.

Mais uma:

FOLHA - Sua equipe também é jovem e mal-remunerada. A média da faixa etária não passa de 30 anos e o salário é baixo.
ROMÃO - Não tem como dourar a pílula, é mal-remunerada, R$ 1.200 é insuficiente. O ponto para nós aqui é que, até agora, existem acúmulos nesse processo que transcendem a minha experiência e a capacidade de minha equipe. Mas há uma vantagem nessas pessoas que têm uma média de idade com certeza muito abaixo da dos censores, que eram pessoas muito mais velhas. Esse grupo se abre e se obriga a se vincular a um processo, do qual participam necessariamente outras tantas experiências. A maior vantagem é saber que há tantos limites que só um método democrático pode nos levar a superá-los. Não há qualquer pretensão de travestir-se em superego das famílias brasileiras. Se ainda tenho dificuldades, como todo pai, para educar, fazer opção dos meus próprios filhos, quem diria fazer opção para os filhos de todas as pessoas de nosso país. É por vivenciar as dificuldades dos pais, que de modo algum poderia colocar dificuldades.

Rá, rá, rá. Quem se sujeita a receber R$ 1.200 para decidir o que os outros podem ou não ver na TV ou é incompetente ou tem alma de censor, topando fazer o trabalho por qualquer dinheiro — vale dizer: é uma vocação. O resto da resposta é enrolação pura. Separei a resposta frase por frase e descobri que ela não quer dizer nada. “Esse grupo se abre e se obriga a se vincular a um processo, do qual participam necessariamente outras tantas experiências.” Huuummm... Do que ele está falando? A descrição serve para muita coisa: pode definir tanto um culto ecumênico como uma suruba.

E isso nos remete a uma outra questão. A entrevista não toca no manual que pretende guiar os Menudos de Romão. É aquele que atribui pontos para os conteúdos analisados. Violência pode? Não pode. Quer dizer: depende. Ela atende a alguns princípios considerados meritórios pelo grupo ou não? E sexo? A mesma coisa. Tudo vai depender de os mal-remunerados de Romão acharem que as cenas ajudam ou não na construção de uma sociedade mais justa. Mas o que é uma sociedade mais justa? É aquela que os Menudos acharem que é.

PS: Ah, sim. Se vocês lerem a entrevista, o rapaz fala até sobre sexo com e sem penetração. Eu, hein... Achei que a cota de literatura fescenina do poder se limitava a Lula (guia do Ponto G), Tarso Genro (como poeta), Eros Grau (como cronista de vulvas flatulentas) e Marta Suplicy, que padece de incontinência verbal. Se esse governo piorar um pouco, melhora.


Por Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 04 Jul 2007, 11:58

O bolivarianismo de Lula: como o PT pretende fazer da Rede Globo a sua RCTV
Considero o texto que vai a seguir um dos mais importantes já publicados neste blog. Nunca fiz isto, mas faço agora: reproduzam-no por aí, passem adiante, façam com que se multiplique. Ele identifica um método de ação do governo Lula, do chavismo à moda da casa. Denuncio aqui os instrumentos a que pretende recorrer o governo para implementar entre nós o bolivarianismo light. Porque o PT sabe que não pode fazer da Rede Globo a sua RCTV, resolveu estrangular a emissora financeiramente. No mundo ideal do petismo, devemos ficar todos subordinados à TV de Franklin Martins, que não precisa do mercado para existir, ou à TV Record — que, se ficar sem anunciantes, jamais ficará sem a Igreja Universal do Reino de Deus, dona do partido do vice-presidente e de Mangabeira Unger, aquele secretário que fala uma língua mais incompreensível do que a do Espírito Santo quando baixa em Edir Macedo — deve baixar, eu suponho. Também vou me penitenciar. Dizem que sou arrogante, que nunca assumo um erro. A segunda parte, ao menos, é mentirosa. Errei, sim. Errei na única vez em que apoiei, ainda que parcialmente, uma proposta do governo Lula. Fui enganado pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Uma recomendação: eis um nome do governo Lula que deve ser visto com muito mais cuidado.

Ufa! A introdução já ficou longa demais. Como sabem, o governo quer limitar o horário da propaganda de cerveja na televisão. E também enrosca com o seu conteúdo — Temporão, por exemplo, invoca com a tal “Zeca-Feira”. Mais: diz que a publicidade glamouriza o consumo do produto... No programa Roda Viva eu lhe disse que era favorável à limitação de horário para a propaganda, mas contrário a que o governo se metesse no conteúdo publicitário. Ora, isso seria nada menos do que censura. E o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária é um órgão que funciona, sim, senhores! Só falta agora a gente ter um Romão Chicabom também na Saúde...

É claro que a limitação da publicidade acarretaria uma diminuição de receita para as emissoras de TV. "Fazer o quê?", pensei. "Aconteceu isso quando se proibiu a propaganda de cigarros; que procurem novos nichos, novos produtos, novas fontes de receita". Eu, o liberal tolo diante de um petista... Nova pretensão anunciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deixa evidente que a limitação da propaganda de cerveja tem mais a ver com a saúde do governo Lula do que com a saúde dos brasileiros. Eu passei a considerá-la parte de uma estratégia para asfixiar as emissoras que dependem do mercado para viver: que não têm estatais ou igrejas de onde tirar a bufunfa. Fui um idiota. Não apóio mais. Penitencio-me.

A Anvisa, órgão subordinado ao Ministério da Saúde, agora quer limitar ao horário das 21h às 6h a propaganda de alimentos considerados poucos saudáveis, "com taxas elevadas de açúcar, gorduras trans e saturada e sódio" e de "bebidas com baixo teor nutricional" (refrigerantes, refrescos, chás). Mesmo no horário permitido, a propaganda não poderia conter personagens infantis e desenhos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), isso representaria um corte de 40% na publicidade do setor, estimada em R$ 2 bilhões em 2005. Dos R$ 802 milhões que deixariam de ser investidos, aos menos R$ 240 milhões iriam para a TV — a maior fatia, suponho, para a Rede Globo.

Virei caixa dos Irmãos Marinho agora? Não! Virei guardião da minha liberdade. É evidente que se tenta usar a via da saúde para atingir o nirvana da doença totalitária. É evidente que estão sendo criadas dificuldades para as emissoras — e, a rigor, nos termos dados, para todas as empresas que vivem de anúncios — para vender facilidades. O ministro Temporão, que ainda não conseguiu fazer funcionar os hospitais (sei que a tarefa é difícil; daí que ele deva se ocupar do principal), candidata-se a ser o grande chefe da censura no Brasil. Na aparência, ele quer nos impor a ditadura da saúde; na essência, torna-se esbirro de um projeto para enfraquecer as empresas privadas de comunicação que se financiam no mercado — no caso, não o mercado do divino ou o mercado sem-mercado das estatais.

Imagine você, leitor, que aquele biscoito recheado (em SP, a gente chama “bolacha”) que sempre nos leva a dúvidas as mais intrigantes (Como as duas de uma vez? Separo para comer primeiro o recheio? Como o recheio junto com um dos lados?) seria elevado à categoria de um perigoso veneno para as nossas crianças — mais um querendo defender as crianças! —, que serão, então, protegidas por Temporão desse perigoso elemento patogênico. Mais: mesmo no horário permitido, a propaganda teria de ser uma coisa séria, né? De bom gosto. Sem apelo infantil. O Ministério da Saúde é uma piada: quando faz propaganda de camisinha, sempre recorre a situações que simulam sexo irresponsável. Mas não quer saber de desenho animado em propaganda de guaraná. A criatividade dos publicitários, coitados, teria de se voltar para comida de cachorro. Imagine o seu filho, ensandecido, querendo comer a sua porção diária de Frolic, estimulado pela imaginação de publicitários desalmados.

Assim como o governo pretendia impor a censura prévia na presunção de que os pais são irresponsáveis, agora quer limitar a propaganda de biscoito e refrigerante porque as nossas crianças estariam se tornando obesas e consumistas.

Estupidez
A proposta não resiste a 30 segundos de lógica. É evidente que biscoito não faz mal. Biscoito não é ecstasy. Em quantidades moderadas, de fato, não havendo incompatibilidade do organismo com os ingredientes, até onde sei, faz bem. Se o moleque ou a menina comerem um pacote por dia, acho que tenderão a engordar. Acredito que há um limite saudável até para o consumo de chuchu... Ora, carro também mata. Aliás, acidentes de automóveis são uma das principais causas de morte no Brasil. A culpa, quase sempre, é da imprudência do motorista ou das péssimas condições das estradas. Nos dois casos, é preciso usar/consumir adequadamente a mercadoria. A Petrobras é uma grande anunciante — e certamente estará no apoio à TV de Franklin Martins. Os produtos que ela vende poluem o ar e aquecem o planeta (sou de outra religião, mas dizem que sim...). A publicidade, então, deverá estar sujeita a severas limitações?

Uma pergunta: água entra ou não na categoria das “bebidas com baixo teor nutricional”? O ridículo desses caras é tamanho a ponto de propor limites à propaganda de água? Ela alimenta mais ou menos do que um copo de coca-cola ou de mate? E de lingüiça, pode? A gordura animal em excesso também faz mal à saúde. Quem garante que o sujeito não vai consumir o produto todos os dias, até que as suas artérias se entupam? Não ande de moto. Há o risco de cair. Numa bicicleta, você pode ser atropelado. E desodorizador de ambiente do moleque que quer fazer “cocô na ca-sa do Pe-dri-nho”? Pode ou não? Não fere a camada de ozônio?

Nazistas
Observem: se isso tudo fosse a sério, fosse mesmo com o propósito de cuidar da saúde dos brasileiros, já seria um troço detestável. Sabiam que os nazistas foram os primeiros, como direi?, ecologistas do mundo? É verdade: não a ecologia como uma preocupação vaga com a natureza, mas como uma política pública mesmo. Hitler gostava mais de paisagem do que de gente, como sabemos. Eles também tinham uma preocupação obsessiva com a saúde, com os corpos olímpicos. O tirano odiava que se fumasse perto dele, privilégio concedido a poucos. Mas o mal em curso não é esse, não.

A preocupação excessiva do governo nessa área, entendo, é também patológica, mas a patologia é outra. Por meio da censura prévia — de que foi obrigado a recuar — e da limitação à publicidade de vários produtos, pretende é atingir gravemente o caixa das empresas de comunicação, que fazem do que conseguem no mercado a fonte de sua independência editorial. Ora, é claro que, sem a publicidade da cerveja, dos alimentos e do que mais vier por aí, elas ficam, especialmente as TVs, mais dependentes da verba estatal e do governo.

O raciocínio é simples: vocês acham que a porcentagem da grana de estatais no faturamento global é maior numa Band ou numa Globo? Numa Carta Capital ou numa VEJA? No Hora do Povo ou no Estadão (a propósito, veja post abaixo)? Os petistas não se conformam que o capitalismo possa financiar a liberdade e a independência editoriais. Quer tornar essas grandes empresas estado-dependentes. Quanto mais se reduz o mercado anunciante — diminuindo, pois, a diversidade de fontes de financiamento —, mais se estreita a liberdade.

Golpe
Trata-se, evidentemente, de um golpe, mais um, contra a imprensa livre. E por que digo que o alvo é a Globo? Porque, afinal, ela concentra boa parte do mercado publicitário de TV — é assim porque é melhor e mais competente, não porque roube as suas “co-irmãs” — e porque, no fim das contas, o que importa mesmo a Lula é aparecer bem no Jornal Nacional. E ele deve considerar que isso é tão mais fácil de acontecer quanto mais ele disponha de instrumentos para tornar difícil a vida da principal emissora do país. Acho que vai quebrar a cara.

E Temporão, tenha sido ou não chamado à questão com esse propósito, tornou-se o braço operativo dessa pressão. Curioso esse ministro tão cheio de querer impor restrições do estado à vida e às opções das pessoas. É aquele mesmo que já deixou claro ser favorável à descriminação do aborto até a 14ª semana porque, parece, até esse limite, o feto não sente dor, já que as terminações nervosas ainda nem começaram a se formar. É um ministro, digamos, laxista em matéria de vida humana, mas muito severo com biscoitos. O que faço? Recomendo a ele que tenha com as crianças que estão no ventre o mesmo cuidado que pretende ter com as que querem comer Doritos?

Eis aí o caminho do nosso bolivarianismo. A terra está amassada pelo discurso hipócrita da saúde. Farei agora uma antítese um tanto dramática, cafona até, mas verdadeira: essa gente finge cuidar do nosso corpo porque quer a nossa alma.
*
PS: Reitero: divulguem este texto, espalhem-no na Internet, montem grupos de discussão no Orkut, passem a mensagem adiante, mobilizem-se.


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Postby telles » 04 Jul 2007, 12:09

Criei um tópico fixo desse post.

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Postby mends » 12 Jul 2007, 11:06

O discurso de um petista, a VEJA, a Globo, o adjetivo, o beijo na boca e o biscoito recheado
Ontem, a democracia venceu uma batalha muito importante. O governo foi obrigado a recuar de sua intenção de instituir a censura prévia no Brasil, que alcançaria até o jornalismo. No dia 5 deste mês, o deputado petista Fernando Ferro (PE) fez um pequeno discurso muito interessante na Câmara (clique aqui). Destaco, abaixo, um trecho (em vermelho). Volto em seguida:

(...)
Fica claro que os pretensos formadores de opinião, aqueles que alardeavam que iriam conduzir o débâcle do Presidente Lula, não conseguiram seu intento de desmoralizá-lo publicamente, assim como não conseguiram desmoralizar o PT. Tentaram destruir o Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores e não conseguiram graças à democracia e ao povo brasileiro, que compreenderam que essa imprensa estava dirigida, manipulando informação, com objetivos ideológicos de certa elite do País que não suporta, não tolera, a figura de S.Exa. como Presidente do Brasil.

Este paralelo me faz lembrar da recente campanha que se desencadeia contra o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Estamos ouvindo, sistematicamente, ataques a S.Exa. Ora, que o Presidente Chávez comete seus exageros verbais, não tenho dúvidas. Mas S.Exa. foi eleito democraticamente pelo povo da Venezuela.(...)
É uma imprensa golpista [ele fala da imprensa venezuelana], autoritária, ditatorial, que não se contenta com as vitórias eleitorais do Presidente Chávez e tenta passar a idéia de que S.Exa. é um tirano, um ditador que cassou a concessão da RCTV. O Presidente Chávez esperou 5 anos. Quando encerrou a concessão da televisão, S.Exa. não a concedeu novamente. Portanto, obedeceu, de forma legal, a Constituição de seu país. E agora está essa chiadeira.

Então eu quero dizer aos ouvintes que ouvem esses comentários que não se preocupem, pois a Venezuela é um país e o Brasil é outro. O Presidente Lula não tem esse tipo de procedimento com a TV Globo. Mas não podemos esquecer que, em 1989, a famosa TV Globo manipulou um debate contra o Presidente Lula. Ou esqueceram disso? Ou passaram uma esponja na memória? Aquilo foi golpe, pois tomaram determinada atitude com a pretensa posição neutra, porém, se posicionaram politicamente contra ele.
(...)
Essa mídia precisa aprender a ser democrática, a ouvir os dois lados, a conceder o direito de defesa, a reconhecer a democracia e a respeitar o voto do eleitorado. Nós teremos um longo caminho a percorrer para construir a democracia neste Brasil enquanto tivermos essa mídia golpista e reacionária.Revistas de direita, como a Veja, que sistematicamente, em seus artigos, tenta criminalizar os movimentos sociais, como o MST, tenta criminalizar o Partido dos Trabalhadores e tentou desmoralizar o Presidente na eleição passada, precisam aprender que estamos construindo uma democracia neste País. E uma democracia requer direito de opinião e o direito à informação, requer, em resumo, uma imprensa justa, correta e acima de tudo verdadeira, que assuma o que faz e o que diz.
(...)
O povo brasileiro foi muito sábio, Sr. Presidente, e compreendeu claramente a intenção desses pretensos formadores de opinião, que imaginavam estar fazendo a cabeça do povo brasileiro, querendo fazê-los seguir suas orientações. O povo brasileiro deu um "não" a essa imprensa reacionária, direitista e que, no limite, é golpista quando ataca a democracia e o processo eleitoral do nosso País. Muito obrigado.

Voltei
E aí? Alguma dúvida sobre quais eram as reais intenções da tal portaria? Explica-se a tentativa do PT de criar, em passado nem tão distante, o Conselho Federal de Jornalismo? Elucida-se por que tanto empenho na tal da TV Pública de Franklin Martins? Se vocês lerem o discurso inteiro, verão que sobram farpas também para os jornais O Globo, Estadão e Folha, embora o rancor seja menor do que os dirigidos contra VEJA e Rede Globo.

Observem como Ferro se trai e acaba revelando o que lhe vai na alma. Depois de cantar as virtudes democráticas de Hugo Chávez e suas realizações, ele nega que Lula queira fazer com a Globo o que o ditador venezuelano fez com a RCTV. Ué! Mas quem disse que essa poderia ser a pretensão de Lula? Ora, Fernando Ferro. O deputado acabou levando para a Câmara o que é matéria de debate entre petistas.

Investe, também, na manipulação da história, prática corrente em seu partido. Dá a entender que Lula perdeu a eleição de 1989 por conta da suposta manipulação da edição do debate com Fernando Collor em reportagem no Jornal Nacional. Trata-se de uma mentira estúpida: Lula perdeu porque o adversário tinha mais votos — muito mais! Aquele debate não teria como mudar esse fato. Mais: foi esmagado no confronto. Se bem me lembro, Collor o acusou até de ter comprado um aparelho de som que ele próprio (Collor), não poderia ter (o que certamente era falso, claro). Lula ficou mudo. Até hoje ninguém entendeu que diabo de aparelho de som era aquele...

Aí vem a crítica à VEJA, que seria, segundo Ferro, “de direita”. A classificação certamente cai bem à revista quando se olha a origem do ataque: um sujeito que tem a coragem de tomar a palavra na Câmara para defender um tiranete bufão e irresponsável, que conduz o seu povo, célere, a um desastre sem precedentes. Mera questão de tempo, como todos veremos. Não sei exatamente a que tentativas de “criminalizar” o PT ele se refere, mas me lembro de alguns heróis petistas que não apareceram muito bem em páginas da VEJA: Delúbio Soares, Silvinho Land Rover, José Dirceu, Waldormiro Diniz, Jorge Lorenzetti, Expedito Veloso, Freud Godoy, para citar alguns. Seguisse o Brasil os passos da imprensa bolivariana, talvez essas notáveis reputações continuassem a ocupar posições de mando no país ou no partido.

O deputado sabe muito bem o que e por que ataca. No prazo de um mês, VEJA trouxe à tona os casos Renan Caheiros e Joaquim Roriz, por exemplo. De fato, com uma imprensa assim, não se pode ser Fernando Ferro à vontade, não é mesmo? Com uma imprensa livre, que cumpre a sua função, alguns não conseguem exercer plenamente a sua vocação.

Não é irrelevante que um quadro petista eleja como alvos de sua crítica furibunda e tacanha a revista mais lida e a emissora mais vista do país — nos dois casos, o segundo lugar segue muuuito atrás. Boa parte do PT ainda não aprendeu que a democracia supõe a convivência com a diferença. Nada disso. As pretensões hegemônicas do partido são também homogeneizantes. Esse repto em favor da pluralidade esconde uma intenção que é o exato oposto da fala. Ora, como defender a pluralidade quem faz defesa tão inflamada de um ditador? Sem poder, com efeito, fazer o que Hugo Chávez fez, Lula tentará “concorrer” com a TV Globo. No jornalismo impresso, o oficialismo se dá com o financiamento aos amigos.

O que mais chama a atenção, olhem que interessante, é que tanto a VEJA como a Globo não podem ser acusadas, nem pelos petistas, de fazer oposição, por exemplo, à política econômica. Ocorre que, a muitos setores do petismo, isso não tem a menor importância. Aquela que é a principal virtude do governo Lula (se não for a solitária) — a manutenção da estabilidade da economia — não é vista como um bem do partido. Eles ainda sonham com a grande virada. Ademais, é óbvio, revista e emissora não “fazem” oposição ou situação. Fazem jornalismo. É que os governos tendem a chamar de “bom jornalismo” as notícias que lhe são favoráveis e de “mau jornalismo” as que lhe são críticas.

Isso é do jogo. É assim no mundo inteiro. O que é bem brasileiro (além de venezuelano, boliviano, equatoriano...) é esse esforço de demonizar a independência jornalística, chamando-a de golpista. Ferro pode parecer, e é, um tanto tosco, primitivo, rombudo nas suas formulações. Mas não duvidem: ele traduziu o espírito do seu partido.

Enquanto essa gente estiver no poder, a liberdade de imprensa e de expressão será um alvo permanente. A derrota de ontem de José Eduardo Romão (diretor do Departamento de Justiça) e de seus censores foi uma vitória importante da democracia. Mas fiquemos atentos. Essa gente não desiste fácil. E quer tratar a liberdade a ferro e fogo. Nada de baixar a guarda.

Agora, a próxima luta do governo é usar o discurso da saúde para tentar limitar a propaganda de certos produtos na TV aberta. À esteira da censura politicamente correta, vem a censura “nutricionalmente correta”. Em qualquer dos casos, o que eles querem é o fim da independência dos meios de comunicação, pouco importa se proíbem um adjetivo, beijo na boca ou biscoito de chocolate recheado.


Por Reinaldo Azevedo
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
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