by mends » 21 Sep 2006, 12:04
Azevedo
Agora sou eu que pergunto: "A quem interessava?"
Certos desvios acabam prosperando no jornalismo porque não se presta atenção a algumas coisas óbvias. Ontem, fiz uma espécie de roteiro explicativo aqui. Uma das mais esclarecedoras reportagens a respeito do assunto foi publicada pelo Globo ainda no dia 19, terça-feira. E tinha como fundamento o depoimento à PF de Gedimar Passos, o petista que é advogado e policial aposentad. Gedimar foi preso em companhia de Valdebran com o dinheiro que pagaria a armação contra Serra e Alckmin. Vale retomar aspectos da reportagem de Alan Gripp e Anselmo Carvalho Pinto.
Incriminando o PT – Segundo Gedimar, o pacote negociado com os Vedoin incluía supostas informações que também comprometiam o PT. Esse dado desapareceu dos jornais. Ele é importante porque justifica que petistas se mobilizassem para obter a malandragem. A um só tempo, estariam se preservando e atacando os adversários. Se estava havendo chantagem, os chantageados, provavelmente, eram os petistas.
Quem fabricou? – Logo, parece ser papo furado a suposição de que a picaretagem, chamada de dossiê, foi organizada por Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil. Por que um petista “venderia” um dossiê também contra o PT ao próprio PT? A participação deste senhor pode ter sido qualquer outra, menos essa. É uma cortina de fumaça para encobrir o fato de que os petistas tinham interesse no papelório. “A família Vedoin se dispôs a vender informações graves que comprometiam não só políticos de outros partidos, como políticos do PT”, disse Gedimar à PF.
E o que seria o dossiê contra Serra? – Segundo Gedimar, naquela língua estranha dos depoimentos, “ocorre que a documentação mostrada aos jornalistas e aquela que foi protocolizada na Justiça se resumia em fatos já conhecidos da sociedade em geral, que se tornaram de pouca importância ao PT e ao órgão de imprensa [leia-se: a revista IstoÉ]; que, como os Vedoin estavam interessados em receber o restante do dinheiro, se apressaram e, ainda na cidade de Cuiabá, entregaram um CD-ROM que afirmavam que continha toda a documentação prometida; que os jornalistas, ao chegarem em sua base, verificaram que o CD nada continha” Na seqüência, ele diz que os Vedoin ficaram de entregar novos documentos e que ele os analisaria para liberar ou não outra parcela do dinheiro.
Hamilton Lacerda – Agora já sabemos que o órgão de imprensa é a IstoÉ e que foi Hamilton Lacerda, assessor de Mercadante, quem negociou com a revista. Isso significa que ele estava, claro, por dentro do caso, incluindo as ameaças que Vedoin fazia aos petistas. A quais petistas? Bom, o fato é que um assessor de Mercadante estava no rolo. Os outros são homens de Lula.
Se dossiê havia... – Se havia mesmo um dossiê, parece que não era exatamente contra o candidato tucano. Afinal, o homem encarregado de analisar o material não viu nada além do que todo mundo já sabia: fotos do ex-ministro da Saúde em cerimônia de entrega de ambulâncias.
PT de São Paulo – Não é por acaso que petistas de outros Estados estão furiosos com “o PT de São Paulo”. Ocorre que o “PT de São Paulo” é o de Lula, que foi definitivo na vitória de Mercadante sobre Marta Suplicy na convenção. O mesmo Mercadante cujo assessor é peça fundamental do imbróglio. Pode até ser que os Vedoin tenham mesmo um dossiê... Resta saber contra quem. Assim, devolvo agora a pergunta que os petistas fizeram muito nestes dias: a quem interessava tudo isso?