Eleições 2006 - Guia for Dummies

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 08 Oct 2006, 23:19

Azevedo

Mantega e o Cafofo do Osama

Há duas coisas de que Guido Mantega nada entende: economia e política. Por isso eu defendo que ele deixe o Ministério da Fazenda — assim, pára de prejudicar o país — e entre de cabeça na campanha de Lula: assim, começa a prejudicar o Apedeuta. Neste domingo, ele concede uma entrevista à Folha. O pretexto é falar sobre uma de suas ignorâncias básicas: economia. Mas, claro, não resiste, e mete os pés pelas mãos na outra: política. Leia estas duas perguntas e suas respectivas respostas e depois retomo:

(...)
“FOLHA - Mas a PF é acusada pela oposição de esconder informações...
MANTEGA - Isso é jogo político. Todo mundo sabe que uma investigação não se faz do dia para a noite, a menos que se queira cometer irregularidades e injustiças. O "timing" da polícia e do Judiciário não é o mesmo da política. É um equívoco dizer que a polícia não atuou. Assim como pegou os sanguessugas, pegou o tal do Abel [o empresário Abel Ferreira], o pessoal do partido que faz as acusações. Tem ex-ministro envolvido, que é poupado.
FOLHA - Mas o ex-ministro Humberto Costa, do PT, também aparece entre os envolvidos...
MANTEGA - Não começou com o Humberto Costa, começou com o senhor Serra [José Serra] e isso está lá. Só que, na televisão, passa o quê? Passa o dinheiro, e não esse DVD que está todo mundo sabendo. Por que passa uma coisa e não a outra?
(...)"

Um: quem é o sr. Mantega para chamar o governador eleito de São Paulo de “senhor Serra”? Carregador de malas do petismo, há uma linguagem decorosa obrigatória entre os que exercem cargos públicos. A um ministro de Estado, não cabe esse vocabulário licencioso. Mas que digo eu? Mantega? Nunca um guarda-malas chegou tão longe. A diferença entre ele e Freud Godoy é só de locução. A de Freud é melhor.
Quanto à tese que ele abraça, ela, para mim, vale por uma confissão. O objetivo sempre foi incriminar Serra, o que poderia render, sim, a eleição de Mercadante em São Paulo. Mas está na cara que a operação estava centralizada em Brasília. Mantega não disfarça. Ele se refere ao conteúdo de um DVD. Que DVD? O que é que o PT havia combinado que nós ainda não estamos sabendo? A PF está subordinada a Márcio Thomaz Bastos; Por que ele não faz o que deve? Divulga todo o material e diz de onde saiu o dinheiro sujo. Sem dúvida, o braço paulista da Al Qaeda tupiniquim participou ativamente da tramóia. Mas fica explícito que a ordem partiu do Cafofo do Osama-chefe.
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Postby mends » 09 Oct 2006, 08:46

riam. ou chorem...II

ELEIÇÕES 2006 / ENTREVISTA
Brasil pode virar Venezuela, diz Ciro
Ex-ministro diz que teme pelo que pode ocorrer caso Lula perca eleição devido a acusações de corrupção

Para ele, se a eleição for restrita a acusações mútuas, o processo eleitoral ficará pouco crível e o vencedor assumirá sem credibilidade

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputado federal proporcionalmente mais votado do país, o ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula Ciro Gomes (PSB-CE), 48, considera que uma radicalização no processo eleitoral com acusações no campo moral pode acabar numa "venezuelização" do Brasil, em referência à instabilidade política do país comandado por Hugo Chávez. Se o debate eleitoral se restringir a um candidato acusar o outro de corrupto, avalia, "o processo político-eleitoral passa a ser pouco crível". "O que ganha acaba sendo eleito sem legitimidade. O país mergulha numa situação venezuelana".

FOLHA - Como será decidido o segundo turno?
CIRO GOMES- Haverá o assunto do dossiê. Tudo bem. Tem de ser tratado no contexto certo. Mas há uma tentativa, resumida num slogan completamente contraditório do Alckmin, que é "a ética vai vencer a corrupção". Que conversa é essa?

FOLHA - Qual é o problema com esse slogan ou idéia?
CIRO - O que pega é catapora. Se alguém de terceiro ou quarto escalão faz algo errado ou inescrupuloso isso desqualifica do ponto de vista moral a respeitabilidade de outro cidadão? Se for assim, o Alckmin também seria responsável pelo caso Fonte-Cindam, pela "privataria" na área de telecomunicações e pelas cerca de 60 suspeitas sem esclarecimentos pela não-instalação de CPIs sobre o governo de São Paulo. Aonde vamos chegar?

FOLHA - Aonde?
CIRO - Eu não tenho problema em reconhecer a respeitabilidade do dr. Alckmin. Agora, se a ética é manipulada por conveniência, ele se abraça com o casal Garotinho e com Ivo Cassol. E o presidente Lula não é ético porque um maluco qualquer fez uma atitude inescrupulosa numa campanha local? Tudo posto, o Alckmin é uma pessoa respeitável. Mas, pela mesma boa-fé, eles têm de reconhecer a respeitabilidade do Lula. Isso é o que importa para a nossa democracia. A metade do país acredita em um e a outra metade acredita no outro. O que ganha acaba sendo eleito sem legitimidade. O país mergulha numa situação venezuelana. Isso não tem cabimento. Porque ética para o Alckmin é uma conveniência, não é um comportamento.

FOLHA - Como assim?
CIRO - Se fosse mesmo o anjo, ele não daria conta de sustentar esse discurso -pelos escândalos dos quais ele infelizmente é o portador por ser o representante da coalizão PSDB-PFL. Se um ficar acusando o outro, metade do país acredita em um, e metade, no outro. E trazemos a Venezuela aqui para dentro.

FOLHA - Que movimentos estão sendo feitos para evitar isso?
CIRO - Há dois movimentos. Um de diplomacia e outro de infantaria. Estou conversando com as pessoas e ponderando. Conversei com o governador Aécio Neves. Há um esforço. Não estamos querendo fazer acordo. Eu compreendo que o dever do Aécio Neves é lutar pelo candidato dele. E ele compreende que o meu dever é lutar pelo meu lado.

FOLHA - Mas se não é um acordo, o que se busca então?
CIRO - Estamos defendendo um projeto nacional contra uma ameaça. Na minha opinião, o país corre o risco Alckmin. A redução dos gastos correntes fará explodir a questão social. Se não atualizar os valores do Bolsa Família, essa conquista do povo miserável do país vai custar a ele muito politicamente. Se estivermos na eminência de uma reforma neoliberal na Previdência, teremos outra onda de greves.

FOLHA - Mas o sr. não disse ainda que tipo de resultados podem ter as conversas entre as duas campanhas.
CIRO - O objetivo é que os dois candidatos se respeitem. Porque se ficar num jogo de desqualificação vil, uma premissa básica do sistema de democracia representativa ficará ferida.

FOLHA - Mas o que acontece?
CIRO - Quem se eleger chega negado na sua credibilidade. O processo político-eleitoral passa a ser pouco crível para essas tensões sociais. Aí nós vamos conhecer o fenômeno que é visualizável na Venezuela e em quase toda a América do Sul.

FOLHA - Os grupos de pressão no país reagiriam de maneira violenta?
CIRO - Eu não sou futurólogo. Eu temo.
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Postby mends » 10 Oct 2006, 22:54

Assim não, Janio de Freitas!

Uma tese anda no mercado das idéias, de que a coluna de Janio de Freitas, na Folha desta terça é parte. Da outra parte, já andei tratando aqui: anda na boca dos marqueteiros. Espero que não contamine o comando da campanha do tucano Geraldo Alckmin. Vamos lá. Explico-me. O texto pode ficar um pouco longo. Lamento. Mas há coisas que não se resolvem em notas de leitura rápida.

Primeira parte
A primeira parte da tese, vocalizada, como disse, por Janio, consiste em acusar Alckmin de excesso de agressividade no debate. No dizer de Janio, ele “apresentou-se como um misto de Carlos Lacerda e Fernando Collor. O pior de ambos: a agressividade compulsiva de Lacerda e a arrogância de Collor.” Fiquei curioso em saber o que o articulista considera, então, “o melhor de ambos”, especialmente de Collor. Confesso que, no caso deste senhor, nada vejo de “melhor”. Sua única contribuição ao Brasil foi ter derrotado Lula em 1989 e, mais tarde, nos ajudado a testar as instituições democráticas. Mas vá lá...

Se Lula fosse um “dotô”, aposto que Janio não estaria apontado a “agressividade” de Alckmin. A acusação só existe porque parte da elite intelectual brasileira, de que Janio faz parte (e eu também, não nego), tende a ver Lula como um inimputável — desse mal não padeço). Escrevi isso no Primeira Leitura umas 800 vezes. Trata-se ainda do velho complexo do bom nhonhô, a exemplo daqueles mocinhos brancos abolicionistas de Benedito Ruy Barbosa em Sinhá Moça. É claro que eu não vejo a novela, já que estou sempre aqui. Acompanho por alguns comentários do Elio Gaspari. Engraçado, Janio: quando Mário Covas botava Paulo Maluf para correr, ninguém registrava a sua “agressividade compulsiva”. Ao contrário: todos aplaudíamos. Mas com Lula... Poxa! Ele veio da “crasse operária”. Merece ser tratado com a cordialidade que aqueles do “andar de cima” (by Gaspari) devem aos do “andar de baixo” (idem). Ainda que sua política monetária seja celebrada lá nas alturas, não é mesmo?

Sobre a principal pergunta que Alckmin fez a Lula, escreve Janio: “Caso as investigações não a respondam antes, continuará explorada a pergunta mais repetida por Alckmin na discussão: ‘De onde veio o dinheiro?’ (do negócio com o dossiê). Não é uma indagação-acusação honesta. Até agora não consta nenhuma sugestão objetiva, nem sugestão, de que Lula tenha algo a ver com o negócio do dossiê ou, ao menos, conhecimento dele -como Roberto Jefferson lhe deu, em parte, do mensalão.” Huuummm, aqui o bicho pega.

Janio acha que não. E, como ele acha, isso altera a honestidade da pergunta alheia. É um jeito estranho, um tanto egótico, de ver o mundo. Eu já acho que os indícios de que Lula sabia ou pode saber, desde que queira, abundam. Empresto-os ao colunista. Quem sabe, assim, ele confira à indagação do tucano o “Certificado Janio de Freitas de Honestidade”. Vamos ver. Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas e Ricardo Berzoini — deixemos, por ora, Freud Godoy de lado, a despeito da estranha peça de defesa de seu advogado — são homens da absoluta confiança de Lula. Verdade ou mentira, Janio? Terá tido o presidente Lula a curiosidade de lhes perguntar, como observou Diogo Mainardi a Tarso Genro, de onde veio o dinheiro? O fato de serem três pessoas que privam da intimidade do presidente não serve nem de “sugestão”? Você acha mesmo, Janio, que Lula está, até agora, em relação a isso tudo como você ou eu — ou seja, não tem nada com isso? Tal indagação confere a Alckmin a “agressividade” de um Lacerda e a “arrogância” de um Collor?

Ademais, basta que se conheça, e Janio conhece, a ferina retórica de Lacerda para saber que ela não estava presente no discurso de Alckmin. Ah, Janio: Lula não resistiria em pé a um discurso de dois minutos do mais famoso dos udenistas e maior orador do Brasil moderno. Claro, devemos ter avaliações distintas sobre o político fluminense. Fez muita bobagem na vida, mas foi uma das mais brilhantes figuras da política brasileira de todos os tempos. Seu mal estava na vocação compulsivamente golpista e num egocentrismo oceânico, mas a) suas teses sobre o país estavam corretas; b) era um administrador de mão cheia, como a antiga Guanabara nunca mais viu. Gostava de bater à porta dos quartéis, o que lhe custou um pedaço do futuro político. Satanizá-lo, no entanto, corresponde a endossar o baguncismo de Getúlio Vargas ou de João Goulart. Lacerda não pregava no deserto, mas num ambiente conflagrado em que ele não era o único irresponsável.

Quando aponta uma suposta e inexistente similaridade entre Alckmin e Lacerda, Janio está dando asas à fantasia de que, vá lá, Alckmin está para o udenista como Lula — que ele também critica — estaria para Getúlio e Jango. O petismo gosta desses paralelismos. Quanto à arrogância à moda Collor, trata-se de uma avaliação absolutamente alheia ao que aconteceu no debate. Arrogante foi Lula: desafio Janio a apontar uma única vez em que o tucano, à diferença de Lula, recorreu à ironia. O petista chegou a se oferecer para ajudar Alckmin a dar uma resposta; indagou-lhe se havia feito “psicodrama”; disse um desdenhoso “você não é assim”; Tarso Genro associou o oposicionista a um “pitbull”, afirmando que o considerava um membro do “Opus Dei”. Como se vê, Janio, tudo muito humilde, não é mesmo?

Na fala mais agressiva, Alckmin tachou a fala do presidente de “mentirosa”. Referia-se à acusação, feita por Lula, de que ele, Alckmin, privatizaria a Petrobras, o Banco do Brasil e os Correios. O petista admitiu a fala, sustentou-a. O PT continua a fazer proselitismo sobre o tema. Ou seja: são todos mentirosos.

Segunda parte
A segunda parte da tese diz respeito aos prejuízos a que Alckmin estaria sujeito com o tom mais duro, adotado no debate da Band. A explicação consiste no seguinte: a grande massa de eleitores de Lula, os mais pobres, reagirá à postura do tucano, rejeitando a suposta agressão àquele que elegeram como líder. Petistas estão plantando na mídia que pesquisas qualitativas estariam a indicar que vencer o debate não corresponde a atrair eleitores. Bem, isso é o que vamos ver.

A questão está menos na escolha do que na existência ou não de alternativas. A largada do segundo turno apontou, segundo as pesquisas, uma vantagem de Lula entre 8 e 10 pontos. O segundo turno só está aí porque parte da sociedade reagiu à tramóia petista do dossiê. A uma larga fatia do eleitorado, como se viu, o imbróglio pareceu irrelevante. E a única alternativa dos tucanos é, sim, ao lado de fazer propostas para o país, evidenciar a gravidade do que aconteceu. Não! Tanto o mensalão como o dossiê não são malandragens feitas por “meninos aloprados”. São ações de bandidos que não respeitam a democracia.

Vai aqui o parágrafo mais delicado deste texto. Ainda que as pesquisas qualitativas e mesmo as de opinião venham a indicar a rejeição ao que se chama “novo estilo” de Alckmin, espero que o comando de campanha não abra mão de fazer do candidato um veículo de denúncia do que está em curso no país. Trata-se, a despeito de qualquer outra coisa, de um instrumento de educação política. Mesmo que Lula vença a disputa, tal vitória há de se dar sob a sombra da ilegitimidade dos meios com que governou. E cabe a Lula, Janio, indagar firmemente seus amigos: “Qual é a origem do dinheiro, companheiros?”. A menos que ele saiba. E prefira que não saibamos. Não a tempo.

Janio também reclama que o debate transformou-se numa discussão, em que as alternativas e planos de governo não ficaram claras. E o caso de se perguntar: e quando ficaram? Aqui e no mundo democrático, reitero, debates são uma confrontação de temas gerais, de personalidades, de estilos. A menos que houvesse uma mesa, com juízes neutros, para apertar uma campainha: “Opa, o senhor mentiu; a sua conta está errada”. Mas aí não seria debate, e sim julgamento.

A verdade, a tristíssima verdade — triste para o jornalismo e para o país — é que Alckmin cometeu o grande pecado de vencer o debate. Mesmo alguns que não suportam nem olhar para a cara de Lula esperavam que ele perdesse. Afinal, são críticos do presidente não por tudo o que ele fez, mas por aquilo que ele não fez.

O Lula que se dizia socialista deixou saudades.

Por Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 16 Oct 2006, 18:41

Azevedo

Ideli tem razão: o PT tem seis dedos, não quatro



Ai, ai. Há um adesivo circulando por aí com quatro dedos dentro de um círculo cortados por um faixa na diagonal, indicando “proibido”. Trata-se de uma metonímia: a parte simbolizando o todo. “Chega de Lula” é a mensagem. O PT decidiu fazer escarcéu. A senadora Ideli Salvati (PT-SC) fez um discurso irado no Senado. Acusa a campanha de Alckmin de ser responsável pelo dito-cujo. Diz que o PT vai recorrer ao TSE. É o PT no seu melhor estilo: exercendo o poder da vítima.

Imaginem só. Tenho dois buracos na cabeça em razão da extração de dois tumores. À diferença de Lula, não perdi partes do crânio por falta de atenção, mas por um evento ditado, sei lá, pela natureza. Quer dizer que um chargista não pode desenhá-los? Por conta deles, ando com a cabeça raspada. Paulo Caruso me discriminou outro dia no Roda Viva. Pedi que ele me desenhasse com a basta cabeleira de Augusto Nunes e Paulo Moreira Leite, que estavam na bancada, e ele não me obedeceu. Vou denunciá-lo à Associação dos Carecas com Buracos Adicionais no Crânio (ACABAC), uma ONG que acabo de criar. Vou pedir instruções sobre como viabilizá-la a Jorge LOrenzetti e Lurian, a filha de Lula. Eles entendem do assunto.

Ideli tem razão numa coisa: não é a falta de dedo que torna Lula inapto para a Presidência da República. Se fosse maneta ou perneta, sua moralidade não seria diferente. Sugiro a Alckmin que proíba os desenhos onde ele aparece com um nariz descomunal. Trata-se de uma óbvia discriminação contra os narigudos.

Essa gente não consegue conviver é com a liberdade de expressão, isto sim. Esse adesivo é antigo. Circula bem antes de Alckmin ser definido como candidato. O PSDB não teria humor para fazer a brincadeira — e talvez a considerasse politicamente incorreta. Mas Ideli tem razão: é uma injustiça histórica representar Lula com apenas quatro dedos: o correto seria representá-lo com, no mínimo, seis...

PS: Sim, os leitores já me mandaram a imagem, conforme eu havia pedido. Até o TSE mandar tirar — se é que vai assumir, de novo, o papel de censor —, publico a imagem quando quiser. Espero que Ideli Salvatti não decida promover distúrbios, como se os quatro dedos aviltassem a memória do Profeta.
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Postby mends » 19 Oct 2006, 16:42

o cara tá ficando parecido com o Jânio. Espero que seja só cunversa de campanha. Aerolula é imoral, mas é peanuts perto do rombo da previdência. e, como já disse em outro post, déficit nominal zero, pontual, ano a ano, é coisa de quem só sabe fazer conta. quando o superávit é mais fácil, ele deve ser feito naturalmente. quando vc ganha mais, vc poupa um pouco mais pra gastar nas vacas magras.

Alckmin diz que Aerolula simboliza gastança e defende déficit nominal zero

EPAMINONDAS NETO
FELIPE NEVES
da Folha Online

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, afirmou hoje que seu adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não vai cortar gastos públicos e terá que que aumentar impostos num eventual segundo mandato. Ele usou como exemplo a compra do avião usado para viagens presidenciais, o Aerolula", que simboliza a "gastança" no governo.

"Nós precisamos criar uma cultura de eficiência do gasto público. O problema do Aerolula é que passa para o resto do governo que não tem problema com gastança", afirmou ele, durante sabatina promovida pela Folha de S.Paulo.

Alckmin disse que a diferença entre ele e Lula é a preocupação com o problema dos gastos públicos. "Ele [Lula] não acredita que existe uma questão fiscal. Ele já avisou que não vai cortar gastos. Ele vai aumentar impostos", disse ele.

Ele participa da sabatina da Folha com os presidenciáveis, no Teatro Folha. Ontem, a Folha sabatinou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada --atendendo a uma prerrogativa da Presidência da República.

Alckmin está sendo sabatinado por Clóvis Rossi e Mônica Bergamo, colunistas da Folha, Fernando de Barros e Silva, editor de Brasil, e Renata Lo Prete (editora do "Painel").

Durante a sabatina, prevista para acabar às 13h, Alckmin vai responder às perguntas dos sabatinadores e, depois, às questões da platéia. A TV UOL vai transmitir o encontro ao vivo.

Nakano

O tucano tentou minimizar uma recente polêmica com o economista Yoshiaki Nakano, apontado como um dos mentores da área econômica em seu futuro governo. Nakano foi alvo de críticas da oposição ao sugerir que o governo deveria elevar a contenção de gastos para reduzir o déficit das contas públicas.

"Eu estou plenamente de acordo com o professor Nakano. Nós vamos alcançar o déficit nominal zero. Se a gente vai fazer isso em 4 ou 6 anos, é uma questão de gestão", disse ele.

O candidato criticou o ritmo de reajustes do salário mínimo e sugeriu que os aumentos foram feitos de forma eleitoreira. "No primeiro ano, eles deram 1% de aumento real, no segundo mais 1% e agora, no ano da eleição, deram 16%. No ano que vem vão dar 1% de novo. Quer dizer que ficam sem dar aumento e só dão no ano da eleição?"

Questionado diretamente sobre o déficit previdenciário, Alckmin disse que era contra a desvinculação dos benefícios da previdência do salário mínimo porque o pensionista e o aposentado "vão acabar ganhando meio salário".
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Postby mends » 20 Oct 2006, 08:30

reinaldo azevedo fala sobre o debate

As bobagens vitoriosas de Lula

Alguns leitores ficaram um tanto descontentes ou inconformados com a análise que fiz do debate (ver abaixo), apontando a vitória de Lula. Ele falou bobagens gigantescas? Ora, como sempre. A começar da Taxa Selic. Disse que ela é de 6,85% . Se o tucano Geraldo Alckmin estivesse, como se diz, na ponta dos cascos, com a faca na boca, teria aproveitado para mangar de Lula e observar que é de 13,75%: ou seja, o dobro. Lula se confundiu com aquele papelório todo e acabou disparando o número da TJLP do trimestre outubro/dezembro: justamente os 6,85%. Mais de uma vez, disse frases sem sentido, anacolutos que se perdiam num raciocínio que, transcrito, evidenciaria um caos de fragmentos nem sempre claros. Num dos seus gracejos, chegou a dizer que ia “rememorizar a cabeça”. Vai saber que diabo é isso...

Ao contestar o baixo crescimento do Brasil, veio com a história de que o país precisa ser “comparado consigo mesmo”, e não com os outros emergentes, o que é uma tese formidavelmente tola. Quando não tinha saída para os óbvios problemas de seu governo, como os da Saúde, por exemplo, saía-se com a sua máxima: “nunca antes neste país etc e tal”. Mas estava muito à vontade, a despeito de puxar sempre uma ficha para ler números. Alguém sugeriu a Alckmin que fizesse uma pergunta boba, em tom de pegadinha: Lula saberia em que posição o Brasil aparecia numa lista da revista inglesa The Economist? A saída do petista foi bronca, mas funcionou como uma embaixadinha para a galera: “Alckmin é daqueles que, deu no New York Times, ele acredita...”

Aí vocês podem me indagar: “Mas isso é vencer?” Meus caros, depende de para que se fazem debates, não é? Certamente não é para testar a capacidade mnemônica dos candidatos. Quantos vocês acham que perceberam a besteira de Lula no caso da Selic? Quantos ao menos sabem que diabo é isso e para que serve? Alckmin atacou com o gasto explosivo do Brasil com juros. Lula ignorou o debate das taxas reais e preferiu falar das nominais, que já foram, claro, muito mais altas. Em suma, sobra numerália para todos os gostos. Alckmin falou dos 40 mil petistas contratados pelo governo. Ocorre que os cargos que podem abrigar companheiros são a metade disso — é já é um escândalo. O petista também não contra-argumentou. Era quase um diálogo de surdos.

E justamente por isso o resultado acabou sendo mais satisfatório para Lula, já que suas fragilidades não foram expostas. E é ele quem está bem à frente nas pesquisas. O comando da campanha de Alckmin e ele próprio, conforme deixa claro na sabatina da Folha, não acredita que sejam 20 pontos. A nove dias da eleição, mesmo que seja a metade, um debate, nas condições em que se deu o do SBT, não terá o condão de mudar nada.

Lula fez uma pergunta que ele sabe que tangencia a delinqüência política e intelectual: aonde foi parar o dinheiro da venda das estatais? Era a hora de Alckmin contra-atacar — aí, sim, com números, muitos —, trazendo à luz as virtudes da privatização, acusando a demagogia do PT e, por que não?, as mentiras espalhadas pelo próprio Lula. A resposta veio, mas fraca. Se Lula falou tanta bobagem, por que não se queimou? Porque elas não foram exploradas por seu adversário, excessivamente cordato nesta quinta. Alckmin foi mais duro em marcar a sua diferença em relação a Lula no que diz respeito ao corte de gastos e à política fiscal. Mas tais assuntos, convenha-se, são quase etéreos para a larga maioria.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
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Postby telles » 23 Oct 2006, 16:39

TSE proíbe distribuição de adesivos com "mão do presidente"
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da Folha Online

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proibiu a distribuição de adesivos que façam referência à deficiência física do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição. O ministro Marcelo Ribeiro, relator do processo, também proibiu qualquer outro tipo de propaganda eleitoral que cite a falta do dedo mínimo da mão esquerda de Lula, o qual foi perdido em um torno mecânico na época em trabalhava como metalúrgico.

O pedido para que fosse proibida a propaganda partiu da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). No entanto, como ela não tem legitimidade para representar no TSE, o pedido foi analisado pelo Ministério Público Eleitoral, que passou a ser o autor da ação.

No pedido original feito pela líder do PT no Senado, também foi solicitado que o TSE determinasse a abertura de um inquérito pela Polícia Federal, a fim de que seja identificado o autor da propaganda, o qual foi atendido pelo ministro.

O adesivo distribuído, principalmente em cidades do sul do país, mostra uma mão com apenas quatro dedos inserida em um símbolo de trânsito que indica proibição --com uma faixa diagonal vermelha sobre a mão sem o dedo mínimo.

De acordo com a decisão do ministro, o material "atenta contra a dignidade da pessoa humana, promovendo discriminação em razão de deficiência física" e pode configurar em crime contra a honra.


Olha aí a censura! :mad: :mad: :mad:
Telles

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Postby Danilo » 25 Oct 2006, 15:37

Pressão do governo? Audiência? Política interna? Pesquisas de opinião? Nem Boris Casoy sabe por qual desses motivos foi demitido da Record. Sabe-se apenas que a relação entre ele e os dirigentes da emissora manteve-se tensa durante o segundo semestre de 2005. De qualquer jeito, o texto dele, que saiu na Folha em março:

É uma vergonha!

Jamais o Brasil assistiu a tamanho descalabro de um governo. Quem se der ao trabalho de esmiuçar a história do país certamente constatará que nada semelhante havia ocorrido até a gestão do atual ocupante do Palácio do Planalto. Há, desde o tempo do Brasil colônia, um sem número de episódios graves de corrupção e de incompetência. Mas o nível alcançado pelo governo Lula é insuperável.

Não se trata de um ou de alguns focos de corrupção. Vai muito além. Exibe notável desprezo pelas liberdades e pela democracia. Manipula a máquina administrativa a seu bel-prazer, de modo a colocar o Estado a favor de sua inesgotável sanha de poder. Um exemplo mais recente é a ação grotesca contra um simples caseiro, transformado em investigado por dizer a verdade depois de ser submetido a uma ação de provocar náuseas em qualquer stalinista.

Não se investiga o ministro Palocci, acusado de freqüentar um "bunker" destinado a operar negócios escusos em Brasília e de ter mentido a respeito ao Congresso. Tenta-se, a qualquer preço, desqualificar a testemunha para encobrir o óbvio. E o desespero da empreitada conduziu a uma canhestra operação que agora o governo pretende encobrir, inclusive intimidando o caseiro.

Do presidente da República, sob a escusa pueril de dever muito a Palocci (talvez pela conquista do troféu dos juros mais altos do mundo e pelo crescimento ridículo do PIB), só se ouve a defesa pífia dos que não conseguem dissimular a culpa. A única providência das autoridades federais foi um simulacro de investigação, com a cumplicidade da Caixa Econômica Federal.

Todos os limites foram ultrapassados; não há como o Congresso postergar um processo de impeachment contra Lula. Ou melhor, a favor do Brasil.

O argumento para não afastar Lula, de que sua gestão vive os últimos meses, é um auto-engano! A proximidade das eleições faz com que o governo use e abuse ainda mais do poder. Desde o início, este governo é envolvido na compra de consciências, na lubrificação da alma de órgãos de comunicação por meio de gigantescas verbas publicitárias e de perseguir os que lhe negam aplauso.

Outro argumento usado para não afastar Luiz Inácio Lula da Silva é a sua biografia, a saga do trabalhador, do sindicalista que chegou a presidente. Ora, aquele metalúrgico já não existe há muito tempo. Sua legenda enferrujou. Foi tragado por sua verdadeira figura, submetido a uma metamorfose às avessas.

As razões legais para o processo de impeachment gritam no artigo 85 da Constituição, que versa sobre os crimes de responsabilidade do presidente. Basta ler os seguintes motivos constantes da Carta Magna para que o Congresso promova o processo de impeachment de Lula: atentar contra o livre exercício do Poder Legislativo, contra o livre exercício dos direitos individuais ou contra a probidade da administração. Seguem alguns exemplos ilustrativos.

No "mensalão", fato que Lula tentou transformar em um pecadilho cultural da política brasileira, reside um grave atentado contra o livre funcionamento do Congresso Nacional. A compra de consciências não só interferiu na vida do Poder Legislativo como também demonstrou a disposição petista de romper a barreira entre a democracia e o autoritarismo, utilizando a máxima de que os fins justificam os meios.

Jamais as instituições bancárias estatais foram tão agredidas. O Banco do Brasil teve seu dinheiro colocado a serviço de interesse escusos; a Caixa Econômica Federal também, demonstrando que o sigilo bancário de seus depositantes foi posto à mercê da pilantragem política.

No escândalo dos Correios, mais que corrupção, foi posto a nu, além do assalto aos cofres públicos, um cuidadosamente urdido esquema de satrapias destinado a alimentar as necessidades pecuniárias de participantes da mesma viagem. Como costuma acontecer nesses casos, o escândalo veio à tona na divisão do botim.

Causa perplexidade, também, a maneira cínica com que o governo tenta se defender, usando todos os truques jurídicos para criar uma carapaça que evite investigações de suspeitas gravíssimas em torno do presidente do Sebrae, o generoso Paulo Okamotto, pródigo em cobrir gastos do amigo Lula -sem que ele saiba. Aliás, ele nunca sabe de nada...

Lula passará à história, além de tudo, como alguém que procurou amordaçar a imprensa com a tentativa da criação de um orwelliano "conselho" nacional de jornalismo e com uma legislação para o audiovisual, que tentou calar o Ministério Público pela Lei da Mordaça e que protagonizou uma pueril tentativa de expulsar do país um correspondente estrangeiro que lhe havia agredido a honra.

Neste momento grave, o Congresso Nacional não pode abdicar de suas responsabilidades, sob o perigo de passar à história como cúmplice do comprometimento irreversível do futuro do país. As determinantes legais invocadas para o processo de impeachment encontram, todas elas, respaldo nos fatos.

Mas, infelizmente, na Constituição brasileira falta uma razão que bem melhor poderia resumir o que estamos assistindo: Lula seria o primeiro presidente a sofrer impeachment não apenas pela prática de crimes de responsabilidade mas também pelo ímpar conjunto de sua obra.

---
Boris Casoy, 65, é jornalista. Foi editor-responsável da Folha de 1974 a 76, e de 1977 a 84. Na televisão, foi âncora do TJ Brasil (SBT) e do Jornal da Record (Rede Record).
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Postby Danilo » 25 Oct 2006, 15:58

Aliás, onde foi parar o Boris Casoy? Ele escreve ou apresenta alguma coisa hoje em dia?
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Lula reeleito

Postby Danilo » 29 Oct 2006, 19:45

Totalização realizada no TSE até às 19h42min do dia 29/10 (94,15% já apurado):

Lula com 60,72% dos votos válidos
Alckmin com 39,28%
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Postby mends » 29 Oct 2006, 19:46

É Lulla de novo, coma a Bolsa do Povo (e o nosso fiofó).
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Postby mends » 01 Nov 2006, 09:17

A indignação
DENIS LERRER ROSENFIELD

Os que defendem os "erros" cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento

UM PAÍS que perde a capacidade de indignar-se arrisca a sua própria existência política. A moral não é um utensílio qualquer que possa ser utilizado segundo as conveniências partidárias. Ela é uma finalidade em si mesma que, instrumentalizada, perde seu próprio significado. A política se mostra como uma forma superior de sociabilidade humana se tiver um comprometimento com princípios morais e com a verdade, sem os quais as relações humanas abandonam sua própria dimensão cívica, a que se realiza pelo exercício dos mais diferentes tipos de direito.
O país cresceu nas últimas décadas pelo desenvolvimento e pelo aperfeiçoamento da cena pública. A liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral propiciou uma nova configuração da opinião pública, atenta ao comportamento de seus dirigentes. Líderes partidários e governantes tiveram de responder por suas ações e de se responsabilizar pelo que faziam. Políticos que baseavam suas ações em máximas do tipo "é dando que se recebe" ou "rouba, mas faz" perderam progressivamente credibilidade e foram sendo abandonados pelos eleitores.
Parecia que o país tinha ingressado em um distinto e superior patamar político. Um presidente da República chegou a ser afastado do seu cargo por corrupção e por infrações à moralidade pública em manifestações que tomavam conta das ruas deste país.
Nos escândalos que dominaram a cena do governo Lula, as ruas permaneceram vazias. As vozes, dificilmente audíveis, começaram a se calar, como se a perplexidade tivesse tomado o lugar da indignação. É como se as seguintes perguntas martelassem as cabeças: "O que fez com que o partido da ética a infringisse tão duramente?"; "Era tudo uma mera encenação de um partido oposicionista?".
A única resposta a essas perguntas veio sob a forma do "errar é humano" para justificar a corrupção e a falta de ética na política. É como se uma "nova teoria" estivesse nascendo das cinzas da moralidade, a de que "erros" justificam todo tipo de ação.
Ora, uma "teoria dos erros", cuja finalidade consistia apenas em acobertar a verdade, só podia se traduzir por uma valorização da "mentira" como forma de governo. O seu rebento é o "direito de mentir". Triste fim dos que se diziam defensores da moralidade, embora tenham com isso aferido "belos" resultados eleitorais.
Acontece que a beleza e a eticidade desapareceram em proveito de uma grande enganação pública. Criticar, porém, é preciso. Uma cena pública que perde seus parâmetros começa a se desestruturar. Entra-se no lugar do vale-tudo em que a verdade e a moralidade são as primeiras vítimas.
O mundo do vale-tudo é o mundo dos heróis sem caráter, que aproveitam as mínimas circunstâncias em proveito próprio. O tesouro público se torna privado ou privado-partidário, como se a República, a coisa pública, a coisa de todos nós e os recursos dos contribuintes pudessem ser dilapidados à vontade. Sempre explicações e justificativas serão apresentadas, algumas adornadas de belas expressões, como se um novo mundo estivesse sendo construído, um novo mundo possível, só que este surge sob a forma da usurpação e da perversão.
O exemplo que está agora sendo vendido ao país é o de que o crime compensa, toda regra e toda norma podendo ser transgredidas.
Tudo depende da "teoria do erro", chave mestra que procura colocar aquele que o cometeu na posição de vítima, de agente involuntário, injustamente acusado pelos malfeitores da imprensa, uma imprensa que não saberia investigar corretamente, porque não segue os ditames do partido no poder. De reveladora de fatos, ela se torna ré de um mau exercício da liberdade. De pequenos passos se constitui uma mentalidade e um uso autoritário do poder.
Quem defende a imoralidade, quem a justifica, a trai. Defende, na verdade, a asfixia da cena pública, a asfixia lenta e gradual das liberdades democráticas. O comprometimento do pensamento é com a faculdade de julgar, de emitir juízos sobre fatos e comportamentos que atentam contra princípios morais, contra a verdade e contra tudo aquilo que baliza as instituições republicanas.
Os que defendem os "erros" cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento, que não pode se tornar refém da servidão política -aqui, uma espécie de servidão voluntária. Se a "causa" toma o lugar da verdade e da liberdade, muito pouco se pode esperar da reflexão, da crítica. Lula ganhou, a ética e a verdade perderam.


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DENIS LERRER ROSENFIELD, 55, doutor pela Universidade de Paris 1, é professor titular de filosofia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e editor da revista "Filosofia Política". É autor de "Política e Liberdade em Hegel" (Ática, 1995), entre outros livros.
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Postby mends » 06 Nov 2006, 17:46

como fununcia o sistema eleitoral brasileiro? Azevedo explica

Sistemas
O Brasil tem hoje convivendo o sistema proporcional para eleições no Legislativo (exceção feita ao Senado) e o sistema majoritário (para cargos do Executivo e senadores). No caso do primeiro, divide-se o total de votos válidos pelo número de cadeiras, chega-se ao quociente eleitoral – cada vaga em disputa corresponde a quantos votos? – e se faz a distribuição entre os partidos. Por exemplo: o partido A terá direito a 40. Os eleitos serão os 40 mais votados da legenda.

No sistema majoritário, elege-se quem tem mais voto. É assim com os senadores, sem quaisquer restrições. Presidente da República e governadores precisam obter em primeiro turno 50% dos votos válidos mais um, ou os dois primeiros colocados disputam o segundo turno. A regra também vale para prefeitos de cidades com mais de 200 mil eleitores.

No caso da Câmara, a principal mudança jamais será feita. Há um limite para a representação dos Estados: 70 deputados federais. Se cada indivíduo, no Brasil, valesse, de fato, um voto, para que um paulista estivesse tão representado como um acreano, em vez de 70, a bancada de São Paulo deveria ter pelo menos 100 deputados. Mas isso não acontecerá. A alegação é que o Estado ficaria forte demais e se romperia o equilíbrio federativo. A argumentação é absurda. A Câmara representa os cidadãos. O tal equilíbrio é garantido pelo Senado, onde cada unidade da federação conta igualmente com três senadores. Um senador do Amapá se elege com um número de votos que não o faria vereador em Campinas...


O que é possível
Bem, então já sabemos o que, embora necessário e justo, não será feito. Vamos ao que é possível. Segundo o sistema proporcional vigente, os partidos são informados a quantas vagas têm direito, e os eleitos são os mais votados. Se Fulano de tal, do Partido A, obtém 800 mil votos para deputado federal, pode estar garantindo, sozinho, para seu partido, três cadeiras, ainda que o segundo e o terceiro colocados de sua legenda tenham se saído muito mal: por hipótese, 5 mil e 10 mil votos. Por outro lado, no Partido B, Zezinho conseguiu 150 mil; Huguinho, 60 mil, e Luizinho, 40 mil. Esse total de 250 mil, no entanto, vai assegurar apenas uma cadeira. Zezinho consegue a vaga. Mas Huguinho e Luizinho dançam, embora com mais votos do que o segundo e o terceiro colocados do Partido A.

Injusto? Aparentemente, sim. Mas não há nada de absurdo. O que conta aí, reparem, é o voto no partido. Assim, é falaciosa essa história de que o sistema proporcional está excessivamente centrado na figura do deputado e prestigia pouco a legenda. É justamente o contrário. Não fosse assim, bastaria pegar a lista dos 70 candidatos a deputado federal mais votados de São Paulo e dar posse. Então para que mudar?

Maior proximidade
Eu entendo que o sentido da mudança é aproximar o Parlamento da população, dando-lhe mais funcionalidade. Por isso, acredito que se deva implementar no Brasil o chamado voto distrital misto. Mas atenção: sou contrário ao sistema de listas. Uma coisa não implica a outra. Explico-me.

No modelo atual, a base territorial de um deputado federal é o Estado todo. O sujeito pode fazer campanha em São Paulo, Dois Córregos, Campinas e Ribeirão Preto. Embora os candidatos costumem ter a sua área de influência, as cidades e regiões onde são fortes, a disputa é livre. Isso encarece bastante as campanhas. Quem conta com mais recursos põe para circular seu nome em mais regiões.

O que é o voto distrital? Separa-se o Estado em regiões, em distritos eleitorais, e os partidos escolhem um nome para representá-lo naquela região. Exemplifico: Santo Amaro, em São Paulo, passaria a ser um distrito eleitoral. PSDB, PT, PFL, PMDB etc teriam o seu nome para disputar a vaga de deputado federal. O mais votado naquele distrito está eleito.

O que isso tem de positivo e de negativo? De muito positivo, há o barateamento da campanha e, sem dúvida, a maior proximidade do candidato com o eleitor. Reparem que a disputa de personaliza. É como se fosse uma eleição majoritária. E o que há de negativo? O deputado eleito pelo voto distrital corre o risco de ser um vereador federal. Sua retórica, seu proselitismo, suas promessas de campanha acabam se amesquinhando. No fundo, o discurso corre o risco de não se distinguir do de um vereador ou do de um deputado estadual.

Pior: perdem-se os chamados “deputados de opinião”. Peguemos dois casos hoje muito conhecidos. Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE) têm-se notabilizado por abraçar, digamos, algumas causas. Um tem votos em todo o Estado do Rio; outro, em todo Pernambuco. Nenhum dos dois tem uma vocação distrital.

Distrital misto
Por isso, acredito que a melhor saída é o chamado voto distrital misto. Um parte da Câmara – e das Assembléias – pode ser composta pela representação dos distritos, mas outra seria definida pelo voto proporcional, como é hoje. Assim, os chamados deputados ligados a causas universalistas – saúde, educação, tributos – podem também compor a Câmara. A distritalização absoluta das votações empobreceria ainda mais o Congresso. Estou convicto disso.

Mas atenção: sem essa história de voto em lista!!! Que os eleitos continuem a ser os mais votados. Costuma-se atrelar ao sistema distrital misto uma facilidade, a saber: o eleitor é chamado a votar na representação distrital e depois se pede a ele um outro voto: de legenda. Cada partido entrega à Justiça eleitoral uma lista de nomes. Faz-se a distribuição proporcional de cadeiras segundo os partidos mais votados, e os eleitos são os primeiros da lista.

A intenção pode até ser boa. Digamos que Kant vivesse entre nós. É provável que Clodovil fosse eleito pelo sistema distrital ou proporcional, mas Kant não. Assim, a gente incluiria o filósofo na lista, e ele se tornaria deputado pelo voto na legenda. De novo, é uma resposta fácil e errada para um problema difícil. Colheremos justamente o efeito contrário: as burocracias partidárias, sem rosto, obterão um mandato – e a respectiva imunidade parlamentar. Garanto que uma parcela mínima dos brasileiros conheciam, antes do escândalo do mensalão, gente como Silvio Pereira e Delúbio Soares. No sistema de listas, seriam deputados. Duvido que um Marco Aurélio Garcia, esse que não gosta da imprensa, se elegesse pelo sistema proporcional. Mas quem duvida que pudesse integrar a lista de notáveis do PT, chegando ao Parlamento sem voto? O voto distrital misto não precisa, necessariamente, acatar o sistema de listas.

Oposições
Espero que as oposições não sucumbam à tentação de instituir o financiamento público – malvisto pela população – e o sistema de lista. As duas escolhas enfraqueceriam o Congresso e fortaleceriam os sistemas paralelos de pressão, os tais movimento sociais, ONGs etc. Aumentaria enormemente o rancor da população contra o Parlamento. E ele se tornaria algo ainda mais distante do eleitor. E urge que se faça o contrário. E tem mais: é claro que os partidos que aparelham movimentos sociais só teriam a ganhar com o voto em lista.
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Postby mends » 10 Nov 2006, 12:27

A cada enxadada, uma minhoca: Justiça apura uso de cartão corporativo em campanha de Lula

Por Rogério Pagnan na Folha desta sexta: Um cartão de crédito corporativo da Presidência da República foi utilizado na compra de 280 "kits de lanches", em Jacareí (SP), no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez comício na cidade, em setembro passado. Essa compra, no valor de R$ 2.212, está sendo investigada pela Justiça Eleitoral de São Paulo após representação feita pelo advogado Sidnei de Oliveira Andrade, consultor jurídico da Câmara Municipal de Jacareí. Ele afirma que parte dos lanches foi distribuída para militantes petistas. "Para o pessoal que veio nas caravanas para o comício, cerca de dez ônibus", disse. A Presidência confirma a aquisição dos lanches, mas nega irregularidades. Segundo a assessoria de imprensa da Casa Civil, responsável pelos cartões corporativos, os lanches foram distribuídos para o pessoal de segurança e do apoio presidencial, de acordo com a legislação. Anteontem, a juíza eleitoral de Jacareí Antonia Brasilina de Paula Farah encaminhou o processo para o TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que vai repassá-lo à Procuradoria Regional Eleitoral para apuração, já que pode envolver a campanha da reeleição de Lula. Além da representação do advogado, a Justiça de Jacareí anexou no processo as notas fiscais e o comprovante do cartão de crédito. As notas fiscais apontam que, no dia 22 de setembro, nove pessoas da segurança e da equipe do presidente se alimentaram na Churrascaria Gaúcha Romani, em Jacareí. O almoço, no valor de R$ 90, foi pago com o cartão corporativo em poder de Mauro Augusto da Silva. No dia seguinte, quando o presidente participaria de um comício na cidade, o mesmo funcionário do almoxarifado da Casa Civil voltou ao restaurante e utilizou novamente o cartão para comprar 280 lanches, ao preço unitário de R$ 7,90.
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Postby mends » 14 Nov 2006, 11:00

Lula critica elite, imprensa e banqueiros e elogia Chávez
Presidente diz que ele e o venezuelano são vítimas de "preconceito" e "incompreensões"

Mesmo após afirmar que não daria palpite na política da Venezuela, petista tratou colega como reeleito em comício para 20 mil pessoas

PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA

Em um comício para cerca de 20 mil pessoas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em Ciudad Guayana, na Venezuela, que ele, assim como seu colega Hugo Chávez -que teria sido "agredido" por um certo "tipo de meio de comunicação"- é vítima de "preconceito" e "incompreensões".
Mesmo após dizer que não daria "palpite" na política venezuelana, o brasileiro fez campanha para Chávez, tratou o venezuelano como reeleito, se comparou mais de uma vez ao amigo e afirmou haver um grupo de governantes alinhados eleitos na América Latina -que, na sua opinião, ganhou mais um aliado, o sandinista Daniel Ortega, que voltará ao poder na Nicarágua após 16 anos.
"Vim aqui em 2003. "Hace" três anos, esta ponte estava apenas começando. Depois fui a Caracas e vi a televisão. E voltei ao Brasil dizendo a mim mesmo que jamais tinha visto um comportamento de um tipo de meio de comunicação agredindo um presidente da República como tu foste agredido. Eu jamais imaginei que isso pudesse acontecer no Brasil. E aconteceu o mesmo", discursou Lula em português, enquanto um brasileiro fazia a tradução simultânea para o espanhol. "A coisa que mais consolidou a minha consciência de que nós estávamos certos é que o povo reagiu no momento certo", disse o presidente.
No discurso, Lula voltou a atacar as elites, criticar os banqueiros e dizer que governa para o povo mais pobre. "Sei que tem eleições dia 3 [de dezembro]. Não sou venezuelano, não posso dar palpite na política da Venezuela. Não vou falar por uma questão muito simples. Aqui neste país acontece exatamente o mesmo que acontece no Brasil", disse, aos gritos de "Lula, Lula, Lula".
"Eu conheço o tipo de críticas que fazem a você, é a mesma crítica que faziam a mim. Os banqueiros ganharam muito dinheiro no Brasil e sem dúvida ganham muito aqui também. Alguns empresários ganham muito dinheiro aqui, como ganharam muito dinheiro lá. Mas, se tiverem de fazer uma opção entre você e um outro lá que seja mais próximo deles, não tenha dúvida de que o preconceito fará com que eles estejam do lado de lá", disse Lula.

Inauguração
Antes do discurso, Lula desfilou em carro aberto com Chávez sobre a ponte de 3,2 quilômetros sobre o rio Orinoco. A obra foi construída pela empreiteira Odebrecht.
"Desde julho eu estava para vir aqui para a inauguração da ponte, por conta da legislação brasileira [que proíbe esse tipo de ato durante a campanha eleitoral]", disse Lula. Questionado se na Venezuela podia fazer o que não pôde no Brasil, afirmou que "deve permitir, senão não estaríamos aqui".
Apesar do comício eleitoral que se seguiria, Chávez afirmou que aquilo não era campanha, mas "integração, estratégia".
"Aqui, como no Brasil, muitas vezes somos vítimas de incompreensões, de pessoas que governaram os nossos países durante séculos e séculos e que não aceitam alguém que pense diferente, que queira cuidar do povo. Eles se habituaram a governar o país para 30% da população", disse o petista.

Gabrielli
Eduardo Campos (PSB), governador eleito de Pernambuco que acompanhou o presidente na viagem à Venezuela, disse ontem que Lula sinalizou que vai manter o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli.
Isso ocorreu quando ele conversou com Lula, no final de outubro, sobre um projeto em Pernambuco entre a estatal brasileira e a venezuelana. Lula o teria orientado a discutir a questão com Gabrielli, o que Campos considerou um sinal de que ele ficará no cargo.
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