Como ganhar $$ do Brasil...

Ciência, Saúde, Economia, Política

Como ganhar $$ do Brasil...

Postby tgarcia » 08 Mar 2006, 14:24

Índia oferece álcool brasileiro para o Brasil
Indianos compraram muito do País em 2005

Agnaldo Brito

A crise do álcool pode levar o País a uma situação inusitada: a de importar álcool hidratado nos próximos meses. Várias comercializadoras com operações no Brasil fazem as contas para saber se vale a pena ou não aceitar a grande oferta de álcool dos países asiáticos ao Brasil, principalmente da China e da Índia. A queda do dólar, a decisão do governo de reduzir o Imposto de Importação e a forte elevação dos preços internos podem ter tornado economicamente viável a operação, algo que poucos acreditavam há algumas semanas.

A situação é inédita, mas mais surpreendente é a oferta da Índia. Segundo uma fonte, grande negociador do produto no mercado mundial, a Índia oferece ao Brasil neste momento álcool brasileiro, comprado em 2005. "A Índia comprou muito no ano passado. O preço agora é muito maior do que quando eles compraram. Por isso, querem exportar para nós" :merda: :merda: :merda: , disse a fonte.
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Postby mends » 08 Mar 2006, 14:38

só pra ser do contra...

não acho que isso é ineficiência: devemos lembrar que se trata de commodity, com preço mundial e volatilidade acentuada. vira e mexe escuto que "usineiro é isso, é aquilo"...caraca, é um mercado! E um mercado é um mercado, seja ele de derivativos, de yenes ou de chuchu: compra no barato, vende no caro. por que não estocamos? porque não é nosso papel! preço atrativo pro usineiro, ele deve vender! só estocaríamos se o governo interviesse, e ele traria muito mais prejuízo que vantagem: estoques reguladores amenizam as volatilidades, mas destróem valor econômico em um cenário de alta liquidez, como temos.

A falta de álcool e o preço alto não é restrição de oferta, mas alta de demanda! E há um descolamento temporal entre o sinal da demanda e a oferta firme. O problema é que culturalmente pensamos: o álcool deve sempre ser mais barato que a gasolina, o que não é verdade, e e que, por sermos grandes produtores, aqui não pode faltar, devemos vender primeiro aqui, e o preço deve ser diferenciado. E não há nada que garanta isso!

Então, essa é uma notícia curiosa, mas é business as usual. Como não se espera que jornalista entenda dessas coisas, fica esse sabor de "se Portugal fosse aqui..."

O preço agora é muito maior do que quando eles compraram


Não somos nós nem eles que fazem o preço. É Chicago. Como foge ao nosso controle, não pode ser considerado fonte de ineficiência.

Por isso, querem exportar para nós"


Óbvio. É o custo de oportunidade. O preço é maior que o ano passado e que o custo de ficar sem, ou dá pra passar com pouco? Tafuia neles...
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Postby tgarcia » 08 Mar 2006, 17:12

Concordo quanto ao Preço e estocagem.

Se eu fosse usineiro, tb colocaria faria isso (é natural o preço encostar no maximo patamar antes do carinho do carro flex trocar o alcool pela gasolina).

Mas ainda assim acho que houve uma estimativa de demanda falha, principalmente em função do boom dos carros flex (falando apenas da demanda do combustível ao consumidor final). Não entendo muito deste meio, mas acho que o pçlano de safra 2005/2006 não contemplou esta demanda e por isso o incentivo ao agricultor foram outras culturas.
Aqui está minha crítica. Acho que o erro foi exatamente sub-estimar esta demanda e montar um plano de safra sem contemplar o consumo de alcool - oq acabou aparecendo agora na entre-safra (historicamente o preço CBOT não sofre esta variação, muito menos aqui no MI).

Tive um pouco mais de contato com isso qdo acompanhava a soja e o óleo degomado, que impacta diretamente no meu custo de margarina. Hoje estou olhando de fora....

mas acho que a área plantada de cana deve aumentar (em função dos grandes, não do pq agricultor). Está sobrando soja/trigo no mercado em função do "resfriado" das aves, o preço está despencando e quem puder trocar o próximo plantio, com certeza o fará.

mas isso é papo para outra discussão...
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Postby mends » 08 Mar 2006, 17:59

quem puder trocar o próximo plantio, com certeza o fará.


pra mim, aqui é que mora o busílis, como dizia o Nelson Rodrigues. O problema é como essa troca pode ser feita. Obviamente tem custo, mesmo assumindo que cana dá com a mesma produtividade em terra que levou anos sendo preparada pra soja - o que não acredito, pois cana cresce em terras mais ácidas, e a soja é uma cultura muito sensível à acidez - por isso se planta três, quatro anos de arroz na terra pra se plantar soja. Supondo que a soja volta a bombar, vc vai perder quatro anos preparando a terra de novo? É complicado.

A estimativa de demanda nunca vai ser lá essas coisas, por um motivo bem brasileiro: há uma parcela da demanda que é “secreta” de álcool anidro, formada pelos caras que colocam álcool no seu (deles) carro tendo carro à gasolina. Isso é (era) muito comum nas áreas mais pobres do país: o carro é velho (portanto, à gasolina), e o problema não é “maximizar” a mistura do flex, mas um problema de fluxo de caixa do cara: ele tem 20 conto, e 20 conto coloca mais litros de álcool que de gasolina no carro do cara. Esse erro é significativo, e de estimativa chutada.

E talvez plantar nem seja o problema. Se pensarmos em distribuição, transporte e mesmo armazenamento, temos restrições temporais de investimento bastante significativas também. Quero dizer que, na hipótese da previsão estar errada, ela estaria ainda mais errada. E, mesmo que a previsão fosse na mosca, a capacidade física não iria crescer no curto/médio prazo (nesse caso, de uma safra pra outra). Microeconomia básica: dos insumos de produção, apenas trabalho é variável no curto prazo. Capital é dado. E plantio é intensivo em mão-de-obra, mas refino não.

Por essas e outras vc tem COSAN bombando na bolsa (uhuuuuuuuuuu!!!!!!! :cool: :tiraacamisa: B) )...
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Postby Danilo » 15 Dec 2006, 08:57

Respondendo o título do tópico: vire político!

Outras opções são começar uma banda de ritmo da moda, e fundar alguma igreja.

No blog do :az: tem uma entrevista com o Raul Jungmann interessante. Ele, deputado Raul Jungmann (MD-PE), vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, se opõe ao reajuste decidido pelas Mesas da Câmara e do Senado. Um trecho:

O sr. diz que a decisão é inconstitucional. Vai mesmo recorrer contra ela?
A Constituição é cristalina a esse respeito. É prerrogativa do Congresso Nacional a fixação do subsídio de deputados e senadores. Logo, a mesa decidir isso, como foi feito, é uma usurpação do Parlamento. E a instância que decide pelo Congresso é, no caso, o plenário da Camara e o do Senado. E ninguém mais. Aliás, no caso do recente aumento dos servidores do Legislativo, decidido pelas Mesas, deu-se o mesmo. E a decisão caiu na Justiça porque era inconstitucional. Na segunda feira, eu, o Fernando Gabeira (PV-RJ), a Heloísa Helena (PSOL-AL), o Chico Alencar (PSOL-RJ) e muitos outros mais, espero, entraremos na Justiça Federal com uma ação popular ou, no Supremo, conforme orientação da nossa assessoria jurídica.

Um congresso que dá a si mesmo esse reajuste terá moral para falar em cortes de despesas no futuro?
Difícil. Imagine o córner moral do aumento do salário mínimo que se aproxima. Ou o do reajuste do funcionalismo... Aí é que está! O corporativismo é uma modalidade de cegueira que só olha para si e não para o outro, para a sociedade além-muros. E isso numa instituição cuja raison d'être é representar o outro, a sociedade... O Congresso criou uma armadilha fatal pra si mesmo com a autoconcessão desse reajuste abusivo. Além de ser um exemplo a mais de falta de solidariedade, entende? O sujeito está aí, sofrendo, desempregado, devendo... O Parlamento, que diz representá-lo, dá-se um aumento de 91%?! Em nome de quê? De quem? Que setor, categoria ou grupo, Brasil afora, de trabalhadores da iniciativa privada, servidores ou autônomos teve um ganho salarial assim? Isso aumenta a fratura, o fosso, numa sociedade carente de solidariedade, respeito. O cara pensa: "Olha aí no que deu eleger essa gente; olha só o que fizeram do nosso voto, da nossa confiança". Reforça o sentimento de que o Legislativo é um Poder de costas para o povo. E nem sequer se tocou na obscura cesta de formas indiretas de remuneração - seja para reduzi-las, seja para torná-las mais transparentes. Ou ambas. Nessas condições, como impor ou pedir sacrifícios a alguém sem se desmoralizar?

Toda vez que o Congresso se fragiliza, Lula se fortalece. O sr. não acha que ele assiste de camarote a esse reajuste, embora finja descontentamento?
Ah, mas claro! A todo Messias populista interessa o entorpecimento das instituições, sua fragilização ou captura. Agora, o que dizer das oposições? Qual o seu papel nesse jogo? Aliás, Reinaldo, passada a eleição, qual é o rumo da oposição, seu plano de vôo? Nem sequer um balanço da sua derrota ela fez! Lula e os seus ocupam toda a cena, com desenvoltura total. Como é que PSDB, PFL e o meu PPS entraram nesse jogo? A quem aproveita?

Jungmann diz que vai abrir mão da diferença do que o reajuste exceder a reposição equivalente a inflação.
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Postby mends » 15 Dec 2006, 09:36

Jungmann diz que vai abrir mão da diferença do que o reajuste exceder a reposição equivalente a inflação.


isso é demagogia. quero que ele abra mão de todas as verbas de representação e ajudas de custo que recebe
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McDonald´s em mudança

Postby Danilo » 14 May 2007, 10:29

A operação latino-americana do McDonald's rede foi colocada à venda em 2006.

Pois a Arcos Dorados S.A., a nova empresa formada para administrar as operações do McDonald's em 18 países da América Latina, deve investir US$ 300 milhões na região nos próximos três anos na abertura de novos restaurantes e na remodelação dos antigos. A Arcos nasce como uma das cem maiores empresas da América Latina e a maior no setor de restaurantes. No ano passado, a operação na região faturou US$ 2,3 bilhões. Para este ano, a receita esperada é de US$ 2,5 bilhões.

O argentino Sergio Alonso, presidente do McDonald's Brasil, passará a comandar toda a operação na América Latina, logo abaixo de Wood Staton (presidente-executivo e do conselho do Arcos Dorado). Ainda não foi definido o nome de seu sucessor no país.

O McDonald's fez a licença de desenvolvimento para a Arcos Dorados há três semanas, quando recebeu US$ 700 milhões de um grupo de investidores liderados por Staton. Entre eles, está a Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

(mais em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinh ... 7044.shtml)
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Postby mends » 14 May 2007, 13:04

está a Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.


O cra é simplesmente um gênio :cool:
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Postby Rafael » 14 May 2007, 23:52

O cara (leia-se Gávea Investimentos) está entrando em todas...

Tem participação numa de de Shopping Centers
Está numa fábrica de containers...
Num grupo de usinas de álcool...
Entre outros...
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Como NÃO ganhar dinheiro...

Postby Danilo » 05 Jun 2007, 00:41

Esse negócio de fazer as coisas direito, pagando imposto, dá um trabaaaalho...

Segundo dispõe a Lei, trabalhador autônomo é a pessoa física que exerce por conta própria atividade econômica de natureza urbana. Não possui então horário, nem recebe salário, mas sim uma remuneração prevista em contrato. Pra fazer nos conformes, é necessário um Contrato de prestação de serviço. Contrato este que, pra ter validade judicial precisa estar acompanhado de certo recolhimento dos impostos feito ou por emissão de Nota Fiscal ou por Recibo de Pagamento Autônomo (ou RPA).

O autônomo necessita ser cadastrado na Prefeitura Municipal para solicitar a confecção de Notas Fiscais que servirão como base para a apuração de uma sopa de letrinhas de tributos devidos (ISS, IR, ITPU!?, TLIF, TFA, e INSS). Parece que ir pela RPA sai mais caro. Em breve mais detalhes sobre o assunto.
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Postby telles » 05 Jun 2007, 09:14

Eu tinha cadastro na prefeitura, nem é tão dificil fazer... hoje dá até para iniciar o processo pela internet.
Pra fechar foi moleza tb... dá entrada online, imprime e protocola em qualquer subprefeitura. Fui na do Jabaquara, e estava vazia!
Telles

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Postby Danilo » 05 Jun 2007, 10:38

IR, CSLL, PIS, COFINS, INSS, TFA, CADAM, RPA, NF, NF-e, fatos contábeis, lançamentos contábeis e apuração de resultados, lei, decreto, regulamentação... ó vida, ó leis, ó burocracia...
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Postby Danilo » 21 Jun 2007, 18:45

Aaah... taí porque é necessário, como autônomo, ter um CCM (Cadastro de Contribuintes Mobiliários):

Os tributos municipais dividem-se em tributos imobiliários e tributos mobiliários.

Tributos imobiliários são aqueles cuja incidência está relacionada com a propriedade de imóveis, tais como o IPTU e o ITBI. Tributos mobiliários são, por exclusão, os tributos que não têm sua origem relacionada a imóveis. Basicamente os tributos mobiliários são o ISS e as taxas pelo exercício do poder de polícia (taxas de fiscalização).
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Postby Danilo » 19 Jul 2007, 13:03

Governo maldito! Agora que me informei e usei um pouco de Excel senti na pele o roubo que é o INSS. Contando os juros, o governo nunca vai me devolver o que eu vou pagá-lo ao longo de 35 anos de contribuição.
:mad:

Antes achava que se vivesse muito tempo receberia tudo de volta. Que nada! A curva do que o governo "deve" chega numa assíntota. Ou seja, matematicamente falando, o melhor é morrer hoje!
:blink:
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Re: Como ganhar $$ do Brasil...

Postby Danilo » 29 Sep 2010, 14:42

Não acho que a última frase seja necessariamente uma verdade por si, mas o resto é bom...

Quanto mais Estado, mais corrupção

Pode procurar em qualquer lugar do Brasil de hoje, em qualquer setor da economia, e você vai encontrar empresários, executivos e administradores empenhados em alcançar ganhos de produtividade. É a resposta correta ao ambiente de estabilidade macroeconômica. Se o planejamento não será destruído pela inflação, se os lucros não serão devorados por uma moeda sem valor, então vale a pena - na verdade se torna obrigatório - buscar eficiência dentro do próprio negócio. Agora, imaginem a sensação dessa gente de bem, do lado moderno do País, ao verificar que uma boa conexão em Brasília vale mais do que a criatividade e o esforço físico das pessoas envolvidas nas empresas.

O "capitalismo de compadres" tem esse efeito destruidor sobre o espírito empreendedor, sem o qual nenhum país vai para a frente.

De que adianta ter uma boa ideia e preparar um bom projeto se, para levá-lo adiante, precisa-se de uma decisão ou de um favor de alguém do governo? A conexão para viabilizar o projeto acaba se tornando mais importante do que o próprio projeto.

Vamos logo fazer as ressalvas de praxe: é claro que o mercado não funciona sem o Estado, as leis, os controles e as garantias institucionais; é claro que é indispensável a atuação dos governos em educação, saúde, segurança, transporte; é claro que é razoável a presença do Estado estimulando, de algum modo, setores novos da economia ou setores mais complicados.

Mas é claro também que o Estado no Brasil vai muito além desses pontos. Isso se manifesta em vários níveis. Os dois primeiros separam a atuação do Estado como regulador e fiscalizador da ação direta na economia. No primeiro nível estão, por exemplo, as agências reguladoras. No segundo estão as estatais, os bancos e as empresas públicas, além do próprio governo quando atua como construtor de estradas, portos, hidrelétricas, etc.

Certamente, em todos esses níveis de intervenção estatal pode haver eficiência e espírito público. Imaginem, por exemplo - para ir ao limite -, que os diretores das agências e das estatais fossem contratados no mercado por competentes e reconhecidas consultorias privadas de gestão de recursos humanos.

Absurdo? De jeito nenhum. Isso é até bastante comum pelo mundo afora. O atual presidente do banco central de Israel, Stanley Fischer, um economista americano, foi contratado assim, numa espécie de concorrência global. Aliás, basta abrir as páginas de classificados da revista The Economist: toda semana aparecem editais oferecendo vagas de diretores e presidentes de companhias públicas em diversos países, sem restrição de nacionalidade para os candidatos.

O Brasil, e especialmente no governo Lula, está no lado exatamente oposto. As nomeações são politizadas, cargos repartidos na base de apoio. Isso escancara as portas do "compadrio" e da pura e simples corrupção.

Reparem, um diretor de estatal ou de agência, contratado pela competência, terá compromissos com os resultados fixados por ocasião da admissão. Por exemplo: a diretoria dos Correios terá como objetivo dobrar o faturamento em tantos anos e reduzir o prazo de entrega da correspondência em tantas horas. Cumpriu, recebe o prêmio; não cumpriu, está fora.

Um diretor nomeado pelo partido tem compromisso com o partido e com os companheiros em geral. Note-se que o presidente Lula consagrou como correta a tese de que é preciso colocar os companheiros e aliados, por critérios políticos, nos postos de governo, nas agências reguladoras e nas companhias públicas.

O compromisso com o partido ou com o presidente pode ser cumprido de maneira legal, mas mesmo assim causando danos. O governo pode impor programas e obras, sem roubalheira, mas que só se justificam política e eleitoralmente. Por exemplo, a Petrobrás, tempos atrás, apresentou ao presidente Lula um plano de investimentos mais modesto. O presidente mandou ampliar para os gigantescos programas atuais. É grande o risco de a empresa estar se metendo em projetos caros demais, de baixa rentabilidade.

Lula também está forçando os bancos públicos a aumentarem seus empréstimos, desde para grandes empresas escolhidas pelo governo até para famílias comprarem a casa própria. Os empréstimos podem ser ruins e o dinheiro pode não voltar.

Por que dizemos "pode"? Porque isso só se saberá mais à frente. Mas o precedente é este: estatais e bancos (incluindo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal) quebraram exatamente com esse tipo de política econômica. Já vimos esse filme. E notem. Os dirigentes, nomeados politicamente, nem pensam em contestar as ordens vindas do governo.

Neste caso, temos erros de política. Mas esse sistema inevitavelmente acrescenta a corrupção. Para dizer francamente, quanto mais Estado na economia, mais corrupção. Exemplo? Os países socialistas, de economia inteiramente estatal, bateram todos os recordes de corrupção e ineficiência.

O governo FHC havia saneado estatais e bancos e introduzido regras técnicas e de mercado para seu funcionamento. O governo Lula repolitizou tudo. Com as consequências que já vemos por aí. Se conseguiram estragar os Correios - com ineficiência e corrupção -, por que não conseguiriam estragar a Petrobrás ou a Caixa Econômica Federal?

É isso aí: nessas atividades econômicas, quanto menos Estado, melhor. Deixem nas mãos dos empreendedores privados. São mais eficientes do que os amigos do rei. E não roubam.

(texto de Carlos Alberto Sardenberg em O Estado de S.Paulo - http://www.estadao.com.br/estadaodehoje ... 2373,0.php)
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