Humor de mau humorAlvos de eterna comparação e, ao mesmo tempo, negando denominadores em comum, Pânico, CQC e Casseta & Planeta têm encontro marcado mesmo é nas esquinas dos tribunais. Além de azucrinar celebridades, perseguir políticos e fazer graça com vergonhas nacionais, a turma de humor afiado tem em comum a antipatia do pessoal do jurídico de suas respectivas emissoras: são os reis dos processos na TV. Entre o trio, quem mais fortalece os braços dos advogados (com pilhas de processos) é o Pânico na TV!
A encrenca mais recente foi com a Globo: um processo por invasão de propriedade e captação de imagens não autorizadas. No quadro O Invasor, o Pânico mostrou os bastidores do paredão de Tessália, do Big Brother Brasil 10, infiltrando-se na torcida da moça. "O estranho é como as coisas acontecem. Quando sobrevoamos a Fazenda da Record avisando os participantes com uma faixa que o Michael Jackson havia morrido, a Justiça foi acionada mais rápido do que nunca", diz Emílio Surita. "Fizemos no sábado e, no domingo, às 8 horas da manhã, tinha um oficial de justiça na RedeTV! com uma liminar impedindo a exibição da brincadeira no Pânico. A Record achou um juiz no sábado de madrugada?"
A turma do Casseta & Planeta também não facilita a vida dos advogados da Globo. Já deram mais trabalho, é fato, mas ainda são brasa acesa no humor. Entre os que processaram os humoristas estão o ex-presidente Fernando Collor, Jorgina de Freitas, acusada de fraudar o INSS, e o empresário do Papa Tudo, Arthur Falk. Em 1997, o Casseta foi alvo de mais de 130 ações movidas por policiais militares de Diadema, região metropolitana de São Paulo. As ações não deram em nada. Os cassetas também foram vetados na Parada Gay em São Paulo e processados por uma entidade gaúcha, por causa de piadas questionando a masculinidade dos sulistas.
O CQC também coleciona processos ao longo dos quase três anos de vida. A maioria parte de políticos que acreditam terem suas imagens maculadas pelas brincadeiras. Marcelo Tas, o líder dos "homens de preto", deveria ter se acostumado a ser levado à Justiça, já que desde a década de 80, quando fazia o repórter inconveniente Ernesto Varela, azucrina personalidades. Porém, define como censura a horda de processos que se acumulam contra os humoristas. "A pressão psicológica e financeira causada pelas ameaças de processo joga os artistas, jornalistas e empresas de comunicação contra a parede. A palavra para definir essa pressão é uma só: censura!".
Paradoxalmente, Tas diz que tinha muito mais liberdade durante a ditadura e a transição para democracia do que agora, época em que humoristas são processados "simplesmente por expressar opinião ou fazer crítica". "Há uma escalada galopante do politicamente correto que tenta aplainar e uniformizar toda forma de pensamento inusitado", critica. "Há um retrocesso grave e preocupante quanto à liberdade de expressão no País."
(texto completo em http://www.estadao.com.br/noticias/supl ... 2193,0.htm)