República das Bananas...

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 09 Jun 2007, 21:27

Como os Emirados Sáderes ajudam o Brasil
Esse povo que você não vê paga as pesquisas que você também não vê. O sofrido trabalhador, preocupação permanente da esquerda universitária brasileira, nunca mais foi o mesmo depois que Emir Sader, por exemplo, orientou, na USP, em 1997, o estudo “Resistência dos mapuches no sul do Chile”, do então mestrando Roberto Eduardo Morales Urra. E o que dizer da tese de doutorado, também orientada por Sader, intitulada “O movimento cocalero na Bolívia”, de Vivien Urquidi? Esse professor é insaciável. Em 1999, sob a sua batuta, Heloisa Vilela nos apresentava as “Alternativas de esquerda ao neoliberalismo”.

O valente professor orientou até doutorados de ficção, como o de Leovegildo Pereira Leal, candidamente chamado “Cuba: revolução, Estado e direito”. Direito? Em Cuba? Sader tem oito orientações em andamento: três mestrados, quatro doutorados e um pós-doutorado. Já demonstrei aqui que ele lida mal com a lógica, com a língua portuguesa e com a teoria. Mas já é o Virgílio de pós-doutores.

Não é preciso ir muito longe para perceber que as oito pesquisas têm uma marca: quando não hostilizam o horrível capitalismo, cantam as glórias do lulismo. Sempre com o seu dinheiro, leitor.


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Postby mends » 13 Jun 2007, 10:44

Fios desencapados. E de volta ao dossiê dos aloprados
Leiam atentamente o que disse Lula ontem sobre a ação da Polícia Federal. Volto em seguida.

Eu, no fundo, estou vivendo um momento de reflexão do que está acontecendo no Brasil neste momento. Primeiro porque nós temos um processo de escuta telefônica, que faz parte de um processo que deveria ser sigiloso e todo o dia você tem uma informação que não sabe se é verdadeira ou truncada.
Cabe ao delegado investigar e cabe a ele, então, mandar para o Ministério Público que vai dizer se vai indiciar ou não e fazer o processo. Não cabe ao delegado passar para a imprensa. O que eu tenho percebido, e por isso que disse que é um momento de reflexão profundo, é o seguinte: dependendo se houver briga política, as pessoas vão pingando pra um jornal uma coisa, pra outro jornal outra coisa e as pessoas, sem ter o direito de se defender, vão sendo execradas, condenadas aos olhos da opinião pública, sem poder provar se são inocentes.
Continuo achando que o Vavá tá muito mais pra ingênuo do que pra lobista. Eu quero saber se há algum atendimento, alguma coisa do Vavá em algum órgão do governo. A Polícia Federal pede a quebra do sigilo telefônico de uma pessoa e a Polícia Federal se prepara para encontrar um cardume de pintado. O Vavá nessa história parece mais um lambari que foi pego. Qual é a vantagem? É um lambari especial porque é irmão do presidente da República.
Todos os meus irmãos sabem perfeitamente bem do comportamento que eu tenho com relação a eles. Ou seja, não existe favor nem a irmãos, nem amigos e nem adversários. Eu tenho dito para eles, que se alguém se aproximar de vocês e pedir alguma coisa, na verdade, se for o empresário, esse cara só pode ser um picareta, porque se ele quiser um negócio, ele liga diretamente a para o ministro. Ele não precisa ficar procurando um irmão, um primo. Se for procurar, esse empresário não é sério.
Eu não me faço mais de vítima, não. Há um processo em curso. Essas coisas têm interesse, obviamente que pelo fato de o Vavá ser meu irmão, ele desperta mais atenção. Só pelo fato de ele ser meu irmão, ele teria que ter mais responsabilidade e ele deveria saber das implicâncias que tem.

É... Quando um clichê começa a ser útil, é sinal de que as coisas vão mal. Lá vem o meu: “Nada como um dia atrás do outro”. E pensar que este escriba, quando a PF metia algema em cervejeiro e dona de butique, sob os holofotes, criticava o que chamava de “espetacularização” e uso político do que deveria ser corriqueiro: a aplicação da lei — se é que se estava aplicando a lei. Lembro que tachei certas atitudes de “comendo os ricos” ou “Operação Os Ricos Também Choram”. Era mais um capítulo desse bolchevismo de mentirinha, mas autoritarismo de verdade, do governo Lula. Acusaram-me, então, de estar defendendo sonegadores. Não! Eu defendia, como defendo, que todos os culpados paguem por seus crimes, mas sob a estrita observância do estado de Direito.

Lula parece estar desconfortável. Assim que Vavá, seu irmão, e Dario Morelli, seu compadre, caíram na rede, adverti que a Presidência da República estava sob uma espécie de chantagem. Leiam direito a fala do presidente. É uma admissão, em termos mitigados, dessa possibilidade. Nos jornais de hoje, Tarso Genro afirma que seria normal o ministro da Justiça avisar o presidente da República de uma mega-operação da PF. Eu também acho. O diabo é que não avisou porque nem ele mesmo sabia. Se a operação vazou para o tal Dario, é claro que é coisa grave. Tarso e Lula avisados previamente não seria vazamento, mas obrigação funcional. Infelizmente para eles, não foi assim que se deu.

Como insisto aqui desde a Operação Navalha, a PF está balcanizada, e hoje há vários fios desencapados nesse imbróglio. É grande o risco de um curto-circuito. O grupo que não queria o filopetista Zulmar Pimentel, ex-chefe-executivo, como diretor-geral, no lugar de Paulo Lacerda, deu um jeito de alvejá-lo — o que não quer dizer, entendam bem, que não haja motivos. Mas não se pode ignorar que há um problema quando a lei é cumprida em razão de rixas corporativas. E agora Zulmar, um homem que sabe demais, está bravo. Acha que seus amigos petistas não o protegeram.

Não é só isso, não. Uma dúvida ou suspeita, sei lá eu, corrói o meu espírito. Até hoje não se sabe — quer dizer: a gente não sabe — a origem daquele R$ 1,7 milhão dos aloprados do dossiê fajuto, não é mesmo? Gente da cozinha presidencial, assim ao estilo de Dario, apareceu com a boca da botija, se vocês se lembram bem. O mais perto a que se chegou foi que o dinheiro ilegal vinha do jogo, este mesmo jogo — e suas variantes — que entrou na mira da Operação Xeque-Mate.

Lula não sabe, mas é o nosso Gabriel García Márquez. Nenhum outro brasileiro, quero crer, nos ofereceria tal experiência de realismo fantástico logo no sexto mês do segundo mandato — depois daquele primeiro, tão cheio de eventos... Depois de tudo o que já sabemos que ele não sabia, aparece um irmão meio esquisito envolvido com atividades de lobby; um outro com vasta experiência política usando um codinome; um compadre, ligado à máfia do jogo (de onde se suspeita que saiu a grana do dossiê), lotado na Prefeitura cujo titular é o caixa da campanha presidencial... E toda essa gente é pega numa operação que é desdobramento de uma guerra de facções na PF, cujo, digamos assim, apetite investigativo, fora de qualquer controle técnico, foi estimulado pelo próprio governo quando isso era politicamente útil.

O Brasil de Lula, na área institucional, é Macondo. E o que não é Macondo não é o Brasil de Lula.

E que fique aí para registro de vocês: o governo está querendo disciplinar as ações da Polícia Federal. Uma das propostas é tentar pôr alguma ordem nas escutas telefônicas. O diabo é que não há ordem possível em escuta clandestina. O que impede hoje ministros de STF, por exemplo, até de pedir uma mussarela com orégano ao telefone, com medo de ser algemado por uma falsa metáfora, não é a escuta com ordem judicial...


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Postby mends » 17 Jun 2007, 10:28

Uma tese ruim de Elio Gaspari
Escreve Elio Gaspari em sua coluna de hoje: “Genival Inácio da Silva, o Vavá, está sendo covardemente linchado porque é irmão do presidente da República. Ele é acusado de tráfico de influência sem que até hoje tenha aparecido um só nome de servidor público junto ao qual tenha traficado qualquer pleito que envolvesse dinheiro do erário. Um fazendeiro paulista metido numa querela de terras queria reverter uma decisão unânime do Superior Tribunal de Justiça. Vavá recomendou-lhe um advogado. Isso não é tráfico de coisa alguma. Um empreiteiro queria obras e encontrou-se com ele num restaurante. Ninguém responde se Vavá conseguiu favorecer esse ou qualquer outro empreiteiro.”

Gaspari está errado e exerce o mesmo raciocínio zoológico-pisciforme daquele que ele chama “Nosso Guia” (ou “noço guia”, segundo os leitores deste blog): Vavá seria apenas um lambari. De quebra, na coluna, volta a insistir que Freud Godoy, aquele que pediu demissão dois dias depois de estourar o escândalo do dossiê, era inocente como as flores. Seu argumento definitivo para sustentar sua tese sobre Freud (e, por tabela, sobre Vavá): ele nem sequer foi indiciado. O meu argumento definitivo: a se levar em conta a eficiência da PF naquela investigação, chegar-se-á à conclusão de que nunca houve dossiê...

No que respeita à traficância com a coisa pública, há tantas provas contra Vavá como há contra os demais implicados na Operação Xeque-Mate: elas ainda estão sendo colhidas. Que ele mantinha conversas estranhas com gente que fraudava a lei, isso Gaspari não pode negar, não é mesmo? O fato de ser irmão do presidente da República faz de Vavá, nessas circunstâncias, alguém que tem de ser investigado? Sim. Especialmente investigado. Outro irmão, Frei Chico (que não é frei e se chama José Ferreira da Silva), usa um codinome para falar com o lambari. Pede que ele vá a Brasília encontrar-se com Lula. Há uma “bronca” contra ele.

Isso tudo deve ser ignorado? Se alguém é linchado, alguém está linchando. Quem? A imprensa? Não. Ao contrário: a dita “simplicidade” de Vavá fez dele uma espécie de Fredo Corleone, o irmão bobo de Michael. Não há linchamento. Diria até que as relações familiares entre Lula e o inequívoco Dario Morelli são quase ignoradas na suposição, como sempre, de que o presidente nunca sabe o que se passa à sua volta.

Em defesa de seu ponto de vista, Gaspari chega a evocar o fato de que, “desde que Tomé de Souza chegou a Salvador, nenhuma família de governante teve tão poucas relações com o Estado como a dos Silva.” E emenda: “Mais: nenhuma veio de origem tão modesta e continuou a viver em padrões tão modestos. (Noves fora o Lulinha da Gamecorp.)”. Gaspari estaria certo no fato, não necessariamente na moral da história (isso, em si, não quer dizer nada), se a família de Lula fosse mesmo os “da Silva”. Mas sua família são a CUT e o PT. E, desde que a primeira caravela acercou-se das praias nativas, jamais grupo tão numeroso, da mesma família, foi com tanta sede ao pote e tomou conta do estado com tanta determinação.

No que é mais um juízo do que um fato, escreve Gaspari: “O outro, Dario Morelli, compadre de Lula, julgava-se protegido pelas suas amizades e disse que a polícia pensaria ‘duas vezes em fazer qualquer coisa’. Foi preso.” A observação ignora o fato central em todo esse imbróglio. Vavá foi pego, em primeiro lugar, porque deu motivos. Mas também porque é irmão de Lula, sim. A Polícia Federal está balcanizada e age fora do controle republicano (para dizer palavra da predileção de Tarso Genro) do Ministério da Justiça. Isso não depõe a favor dela, mas também não depõe a favor do governo. Ora, é preciso que se procure fazer um pouco a genealogia da PF que aí está. Foi o governo Lula quem decidiu usá-la como um instrumento para fazer política. Tanto ativismo parecia bom quando a corporação era usada para fazer proselitismo. Agora, como se vê, há reclamações.

Quem fez essa miséria com a Polícia Federal? Quem agiu de forma deliberada para instrumentalizá-la, tentando fazer com que fosse uma polícia do governo e não do estado? Isto mesmo: foi o irmão de Vavá e de Frei Chico (também José Ferreira da Silva e “Roberto’). Foi Lula. Melhor ter uma PF subordinada ao PT ou dividida? Se as opções que restaram são essas, viva a divisão! Melhor seria ter um governo que não fosse tão esculhambado. Vavá não está sendo linchado pela imprensa. Está, isto sim, sendo usado como um recado e uma advertência. Mas que se note: ele só é crível neste papel porque deixou um rastro.

Como saiu, a tese de Gaspari parece piscar um olho para aquela velha conspiração da direita — lembram-se? — que teria tentado derrubar Lula quando o caso do dossiê veio à luz. Gaspari disse muito bem: Lula tem 15 irmãos, mas só Vavá se enrolou. E isso é fato, não conspiração.


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Postby mends » 29 Jun 2007, 17:47

Rio: a turma da bata branca — e do nariz branco também — está assanhada
Um esquerdista autêntico, do balacobaco mesmo, que não teria medo de pegar num trabuco se a hora chegasse, não tem por que endossar a operação policial no Complexo do Alemão. Com mais ou menos requinte teórico, diria tratar-se de uma ação de reforço do estado burguês, que recorre às armas e ao massacre dos miseráveis para dar uma resposta truculenta à crise do capitalismo. O sistema é assim mesmo, entende ele: cria os marginais para depois massacrá-los. Mas esquerdistas do balacobaco praticamente não existem mais. Hoje em dia, são todos funcionários públicos ou empregadinhos de ONG. O que a polícia faz é invadir o seu mercado. A pobreza brasileira foi privatizada por essas entidades, que recebem dinheiro público e doação de empresas — aquelas que se dizem “socialmente responsáveis — para fazer o que chamam “seu trabalho”.

Já disse: não descarto que a polícia possa ter cometido excessos ou vir ainda a cometê-los. Que seja punida sempre que isso acontecer. Mas há, obviamente, uma onda fantasiosa, criada por essa rede de convivência com o narcotráfico, que pretende demonizar a Polícia. Ainda que apareçam os corpos esfaqueados, é ridículo supor que policiais, com medo de morrer por causa de uma bala vinda sabe-se lá de onde, resolvessem atacar as pessoas a facadas — e, por que não?, de preferência os inocentes. Se aconteceu, trata-se de uma cena armada pelos próprios traficantes.

Mas já me desviei um pouco. A esquerda é, hoje em dia, essa coisa frívola. Não pensa mais em termos de luta de classes — o que não quer dizer que seja, por isso, menos nefasta. Não é. A miséria é sua clientela. Vejam lá. As ONGs sobem o morro, mas não para fazer proselitismo, para “libertar” os oprimidos. Isso dá trabalho e não rende dinheiro. Fazem convênios com associações culturais ou de moradores as mais suspeitas para ensinar aos meninos dança, funk, malabares sei lá o quê. As pessoas são estimuladas a desenvolver a cultura da miséria.

A regra é o conformismo. Um tanto grosseiramente, diria que um liberal estimularia o pobre a deixar de ser pobre. Como? Oferecendo-lhe as bases estruturais mínimas para isso: uma escola decente, por exemplo. A esquerda tradicional procuraria organizar a favela, no limite utópico, para o dia do levante; enquanto ele não chega, para desmoralizar o poder burguês. Essa nova esquerda do miolo mole é um tanto diferente: ela luta para que os “valores!” gerados na pobreza sejam uma alternativa à cultura dominante. Vejam o caso dos bailes funk. Cada barraco do Rio sabe que eles são o meio mais eficaz de aliciamento dos jovens para o narcotráfico, que os promove. Tim Lopes morreu investigando o caso. Não obstante, os “intelectuais” dessa “cultura” estão na TV, exercitando a sua glossolalia. Outro dia, um Schopenhauer do pedaço disse na Universidade de Brasília — vi na TV Câmara — que a sua turma de "artistas" não condena o traficante, mas o tráfico. Entendi.

Esses caras estão acusando a polícia de violência excessiva sem que tenha havido, é óbvio, tempo para qualquer apuração. E isso é o mais irritante. Reparem: qualquer pessoa minimamente responsável esperaria um pouco mais para dizer se a Polícia fugiu ou não ao que seria o desejável. E a avaliação dessa gente, que tem na miséria o seu mercado, a sua clientela, ganha os jornais, vai parar nas manchetes.

Além do miolo mole, essa esquerda moderninha tem uma outra característica evidente: a preguiça. Imaginem como deve ser confortável:
- quando o estado, que detém o monopólio do uso legítimo da força, atuar, diga que houve exageros. Sempre há quem exagere, e a chance de acerto é de 100%;
- sem jamais avaliar cada caso em particular, alinhe-se com aquele que lhe parecer o oprimido da hora. Nunca falta um oprimido à mão;
- diga, como é mesmo?, que a violência da Polícia esconde anos de incúria do estado. No mundo inteiro, o estado está um pouco atrás das urgências. Sem chance de erro.
- afirme que um estado que não provê seus cidadãos de saúde, educação e moradia está moralmente impedido de reprimir a violência. Isso demonstra que você quer fazer alguma coisa: mas pretende ir à causa real da violência;
- diga que a polícia não vai resolver os problemas sociais, que são estruturais. Se alguém responder que a função da polícia NÃO é resolver problema social nenhum, ignore a objeção; finja-se de surdo;
- use a sua coluna no jornal para se solidarizar com os mortos. Um morto é um aiado mais cômodo do que um vivo. Ele não erra mais.

Espero que o governador do Rio, Sérgio Cabral, e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, não se intimidem. E prossigam com o enfrentamento. E ocupem as favelas, desalojando o tráfico e levando para lá o estado de direito. Por mais que a ação seja demorada, custosa. A seguir nessa linha, Cabral interrompe quase três décadas de convivência da “intelligentsia” avermelhada do Rio com os intelectuais do pó e do fumo.

Ah, sim: como é necessário ter uma teoria conspiratória, a do momento é que a ação só existe por causa dos Jogos Pan-Americanos. Bem, ainda que fosse assim, não deixa de ser uma boa oportunidade para combater os terroristas do tráfico. Mas a suposição é ridícula. Uma operação como essa é notícia no mundo inteiro, o que nem é bom para o Rio. Se Cabral quisesse demonstrar que tudo vai bem, faria o que sempre se fez nas três últimas décadas: um pacto com a bandidagem. E a paz reinaria. Com as bênçãos da turma da bata branca e do nariz branco.


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Postby mends » 03 Jul 2007, 20:02

E quem é o rei da Descolândia? Caetano Velloso, com Gil, Chico Buarque, Nando Reis etc etc etc

A fonte primária de recursos da Descolândia
A vida é assim.
Outra coisa de que a Descolândia gosta é dinheiro público. Muito dinheiro público.
O sujeito é cineasta e quer fazer um filme? As estatais ajudam.
A sujeita é pesquisadora é quer fazer uma “pesquisa”? Algum órgão de fomento ajuda.
A Descolândia adora usar o nosso dinheiro para nos oferecer produtos que, em tese, são bons para nós — ainda que não gostemos.
Pra eles, tudo bem. Não dependem de público, resultado, mercado. Só precisam do financiamento e de um crítico, de preferência um roteirista incompetente de pornochanchada, para dizer que o trabalho é bom.
O dinheiro sai do cofre público; o elogio vem dos amigos. Só resta a celebração.


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Postby mends » 08 Jul 2007, 10:47

o Brasil inventou a ONGG: Organização Não-Governamental Governamental. É uma vergonha. Uma piada. A razão de ser de uma ONG é tentar despertar a consciência da sociedade para um determinado problema e convida-la a agir - em nome da cidadania ou de um princípio qualquer. Na raiz, tem até um quê de interessante: trata-se de uma espécie de revolta pacífica contra o poder e contra o estado.

Sabem quem criou as primeiras ONGs na história da humanidade? Os cristãos, ainda antes de Constantino, quando estavam sob severa perseguição, como demonstra Rodney Stark no livro The Rise of Christianity: a Sociologist Reconsiders History. A sua rede de assistência aos miseráveis, aos desvalidos, explica por que as epidemias, por exemplo, matavam menos os cristãos.

Entre nós, aconteceu um fenômeno perverso. Em vez de as ONGs darem de ombros para o estado pesado, lento, perdulário, gastão, ineficiente, elas estabeleceram com ele uma sociedade: arrancam dinheiro público e o usam com a mesma ineficiência do ente que, por contraste, justifica a sua existência.. E, como não poderia deixar de ser, os larápios também se aproveitaram.

Ongueiro se tornou uma profissão. Pior. Misturou-se com proselitismo político. Aqui e no mundo, essas organizações se tornaram extensões da militância de esquerda – no Brasil, com raras exceções, são tentáculos do PT. Voltaremos, certamente, a este assunto. Mas uma coisa é certa: a vida de muita gente melhorou com a pletora de ONGs que anda por aí: a dos ongueiros. Sei de um famoso da área, homem que gosta de se casar muitas vezes. Ao fim de cada matrimônio, a ex-esposa da vez “herda” uma ONG. Melhor pra ele, que não precisa pagar pensão.

O Brasil é assim: safado e banal.


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Postby junior » 11 Jul 2007, 11:15

11/07/2007 - 08h35
Nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, afirma Bird
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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington

O nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, segundo relatório anual de governança produzido pelo Banco Mundial (Bird) e divulgado ontem. De acordo com o levantamento, o país está em nível inferior ao que se encontrava quando a entidade começou a fazer esse estudo, em 1996.

As melhoras observadas entre 1998 e 2000 (segundo mandato de FHC) e 2002 e 2003 (eleição e primeiro ano de mandato de Lula) foram anuladas pelos resultados dos últimos três anos. O estudo é feito pelo Instituto do Banco Mundial e classifica 212 países e territórios de acordo com o desempenho em seis itens.

Para tanto, leva em conta dados fornecidos por 33 fontes internacionais. No caso brasileiro, foram 18 as entidades ouvidas para a classificação do país.

Das seis categorias --controle de corrupção; capacidade de ser ouvido e prestação de contas; eficiência administrativa; qualidade regulatória; estado de direito; e estabilidade política e ausência de violência--, o Brasil só melhorou na última, em comparação com o período anterior.

O controle de corrupção é definido pelo Bird como "a medida da extensão com que o poder público é exercido para ganhos privados, incluindo tanto pequenas quanto grandes formas de corrupção, assim como o "seqüestro" do Estado por elites e interesses privados".

"Nos últimos anos, o Brasil parece ter experimentado alguma deterioração em várias dimensões de governança", escreveu à Folha, por e-mail, Daniel Kaufmann, um dos autores do relatório. Durante entrevista coletiva, ele havia estimado o custo da corrupção mundial em US$ 1 trilhão por ano. "O ônus da prática recai de maneira desproporcional sobre o bilhão de pessoas que vivem em extrema pobreza."

O relatório causou uma grita entre países mal-avaliados, muito por conta do escândalo que envolveu a instituição responsável pelo estudo. No mês passado, o então presidente do Bird, Paul Wolfowitz, pediu demissão por ter protegido durante sua gestão uma namorada funcionária do banco.

"Não estamos querendo ganhar um concurso de popularidade", afirmou Kaufmann ontem, sobre a reação negativa.

Leia mais
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
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Postby tgarcia » 11 Jul 2007, 15:39

junior wrote:Nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, afirma Bird


Como você é ingênuo Jr da Poli Jr ;( ;( ;( ..... a verdade é q a corrupção agora só aparece pq o Governo Federal é MUUUITO eficiente na fiscalização e resolveu pegar pesado....... afinal, nunca na iztória dezte paiz..... :P
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Postby mends » 11 Jul 2007, 16:44

é isso: quanto mais se apura, mais crime. quanto mais queijo, menos queijo!
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Postby mends » 14 Jul 2007, 12:03

Fundações — Pronto! Governo já propõe a primeira bobagem. Eu bem que tentei...
Por Leandra Peres e Angela Pinho, na Folha deste sábado. Volto depois:

As fundações públicas de direito privado que o governo quer criar para flexibilizar as relações trabalhistas em nove áreas do setor público não precisarão incluir seus gastos no sistema eletrônico de controle das despesas públicas, o Siafi.

Atualmente, todos os órgãos da administração pública, exceto parte das estatais, precisam detalhar o destino das verbas do Orçamento da União.

É possível fazer um levantamento via internet, dos programas em que a Embrapa ou a Universidade de Brasília, por exemplo, aplicam verbas.

No caso das fundações, apenas o conselho de administração dessas entidades acompanhará diretamente como o dinheiro público será gasto.

"As fundações não estarão livres da fiscalização. Como entidades públicas, serão supervisionadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e também pelo Ministério Público", afirmou ontem o ministro Paulo Bernardo (Planejamento).

O projeto de lei encaminhado ao Congresso cria as fundações para gerir determinados setores do Estado, como hospitais e TV pública.

Pela proposta, poderão contratar sob as regras do setor privado -sem estabilidade, por exemplo- e terão mais liberdade nas licitações.

Voltei
Olhem aí. Não me acusem de má vontade. Eu bem que tentei. Elogiei ontem a iniciativa. Mas a coisa já começa pelo avesso. A virtude das fundações seria dar mais eficiência e transparência aos gastos. O governo já começa querendo transformá-las em caixa preta. O que falta no Brasil? Que a sociedade controle mais o estado — por aqui, acontece justamente o contrário. E o que poderia ser uma boa idéia já vem com o vício de origem.

Ainda que as fundações funcionem como núcleos com mais autonomia, o que as impede de divulgar suas contas no Siafi? Nada! Todos sabem que as avaliações dos tribunais de contas — inclusive as do TCU — são sempre feitas depois de consumado o desastre. O Siafi pode não evitar todas as falcatruas, mas aumenta a transparência.

Viram só? Como todo mundo, também fico tentado a apoiar uma coisa ou outra feita pelo governo. Mas o governo não deixa.


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Postby mends » 17 Jul 2007, 08:45

É esta a imprensa golpista?
A vaia a Lula não foi manchete da Folha de sábado.
Lula se dizendo triste com a vaia é manchete da Folha desta terça.

A vaia a Lula não mereceu nem um miserável título na primeira página do Estadão de sábado.
Lula se dizendo triste com a vaia tem uma chamada na primeira página do Estadão desta terça.

Na sexta-feira, o Jornal Nacional deu uma reportagem sobre o dia de Lula no Pan que durou 1 minuto e 35 segundos, tempo assim distribuído:
De 0 a 1min05s – Só elogios
De 1min05 a 1min20 – referência à vaia (sim, não se informou que foram seis)
De 1min21 a 1min35 – fala-se apenas de Carlos Arhtur Nuzman abrindo os jogos.
É isto mesmo: no JN, a vaia a Lula ganhou 15 segundos.

No Jornal Nacional de ontem, fez-se referência ao fato. Foi levada ao ar a fala do presidente no rádio. Não há o link com som e imagem, mas o texto é este que segue, em vermelho:

O presidente Lula comentou hoje, no programa semanal de rádio, as vaias que recebeu na cerimônia de abertura do Pan.
“A única coisa que eu particularmente fico triste é que eu fui preparado para uma festa. É como se eu fosse convidado para um aniversário de um amigo, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a minha presença.
“Eu tenho certeza de que não é esse o pensamento do Rio de Janeiro. Depois que terminou o evento, várias pessoas vieram me dizer que tinha sido organizado, que as pessoas tinham recebido convite. A mim não interessa o que aconteceu.
“O importante é que foi uma abertura extraordinária dos Jogos Pan-Americanos. Isso não muda um milímetro o meu comportamento com o Rio de Janeiro”, disse o presidente.

Se o que vai acima for lido no limite do compreensível, vai demorar, no mínimo, 30 segundos. Aposto que demorou 40. Vale dizer, o JN dedicou à defesa de Lula quase três vezes o tempo dedicado ao fato em si.

O mais equânime dos veículos foi O Globo. No sábado, deu no alto da primeira página (e não era a manchete, é bom destacar): “Emoção, Carnaval e vaias na festa do Pan”. Na edição desta terça, na manchete: “Vaias a Lula abrem guerra entre governo e oposição”. Impossível ser mais neutro.

Golpista?
Acima, vai um pequeno flagrante da mídia que o governo federal considera “golpista” e “anti-Lula”, acusaçãop endossada com a pressurosa ajuda de alguns anões morais sustentados com o leite de pata das estatais e de órgãos oficiais; que batem a carteira do estado brasileiro para financiar seus mirabolantes projetos de salvação nacional; que vendem a preço de ouro o adesismo, o puxa-saquismo, o descaramento, a sem-vergonhice, a vigarice.

Resta mais do que evidente que a chamada grande imprensa o que fez foi proteger Lula de si mesmo. A vaia, com efeito, foi de tal sorte surpreendente, que ninguém sabia o que fazer com ela. Um ou outro chegaram até a decretar que ela não tem a menor importância. Se fosse aplauso, suponho, não faria diferença.

Mas, sabemos, Lula e o Planalto ainda não estão contentes. Se veículos que eles chamam comerciais são, assim, tão comedidos e, não obstante, desagradam, imaginem o que não tende a ser a TV do ministro Franklin Martins. E observem que o que vai acima é o comportamento da imprensa "suspeita". Imaginem o que não fizeram as TVs, sites, portais e blogs dos amigos.

Meu bisavô tinha uma frase, dita em italiano, que não vou reproduzir porque está mais para o siciliano do que para florentino, que pode ser adaptada mais ou menos assim a um português de gosto também duvidoso: “Quanto mais você se abaixa, mais o traseiro aparece”. É evidente: quanto mais a grande imprensa ceder às pressões oficiais e tentar demonstrar que “nada tem contra Lula” — e não tem mesmo —, mais lhe será exigido, porque o padrão de comparação será o que oferecem os acólitos, as concubinas, os incestuosos, os anões, os pidões, os venais, os paguem-que-a-gente-publica.

A Al Qaeda eltrônica do petismo funcionou como nunca. O Globo informa nesta terça que Marcos Lula da Silva, 36 anos, filho mais velho do presidente, diz em seu blog que a vaia foi planejada na Prefeitura do Rio; que há mais de um mês se comentava o assunto — pô, e o pai dele não fez nada? —; que, atenção!, eram 70 as pessoas encarregadas de puxar o protesto, distribuídas em pontos estratégicos do estádio. Setenta? Num lugar onde cabem 90 mil? O que é isso, companheiro? Só de convidados do governo federal, havia lá 20 vezes mais gente. Vocês já foram a um estádio de futebol? Já tentaram, sei lá, puxar algum coro por conta própria? O rapaz é identificado como “psicólogo, estudante de direito e empresário”. Também ele, é? Nunca antes nestepaiz um operário teve tantos filhos “empresários”... O que ele fabrica ou vende? Delírios?

Não é irrelevante
Ontem, comentando a ação de Lula para tirar do ar a propaganda da Peugeot, afirmei que as reiteradas investidas do petismo contra a liberdade de expressão, ainda que mal-sucedidas, não são irrelevantes. Recua-se sempre um pouco. O mesmo vale para a pressão descarada que partido e governo exercem sobre a imprensa: algum constrangimento há.

Quem conhece jornalismo por dentro sabe do que falo; quem não conhece fica então sabendo. Sempre há aquele ou aquela para dizer: “Pô, gente, não podemos ignorar que há um debate: a vaia foi manipulada ou não? Temos de responder isso.” Debate? A acusação de manipulação, quando muito, deveria merecer a referência jocosa que merecem as teorias conspiratórias. Afinal de contas, não dá para sair apurando toda pauta que o PT põe na praça para circular. E sabemos que essa gente não tem limites. Se preciso, inventa que a Globo deu pouco destaque ao acidente da Gol só para privilegiar a foto do dossiê fajuto e prejudicar Lula. Como se uma coisa minimizasse ou contaminasse a importância da outra. É a versão "Tapa na Pantera" do jornalismo.

Lula deveria estar doidinho para quebrar o protocolo. Estádio, milhares de pessoas, a festa... Tenho certeza: já tinha feito download de Schopenhauer e Dercy Gonçalves e se preparava para atuar. Foi pra lá na expectativa da embaixadinha. Se tocassem Brasileirinho, era capaz de sair dando piruetas. Mas sua poesia se desarrumou toda. Seus únicos adversários, naquela noite, foram as pessoas presentes ao Maracanã. A imprensa, como a gente vê, o protegeu. Certamente não tanto quanto a sua vaidade cobrava.


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Postby mends » 27 Jul 2007, 12:09

Um problema para a classe média
| 26.07.2007
Em troca de todos os impostos que pagam, os brasileiros recebem o deboche de ministros e uma quase hostilidade do governo -- que mal disfarça a alegria ao constatar que "só 8% da população viaja de avião"
Por J.R. Guzzo
EXAME
Algumas semanas atrás, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, fez, por sua livre e espontânea vontade, a seguinte sugestão aos passageiros atormentados pela calamidade nos aeroportos: "Relaxem e gozem". Marta não foi demitida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem ouviu qualquer reprovação pública do chefe. Na mesma ocasião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o colapso do sistema aéreo era resultado do trabalho que o governo vem fazendo em prol do desenvolvimento do país. "É a prosperidade, né?", opinou o ministro. Como no caso de Marta Suplicy, não se ouviu um único pio dentro do governo para condenar a frase de Mantega. Nada mais natural, pois essa é, exatamente, a atitude real do governo diante dos dez meses de desastre contínuo que aflige os aeroportos brasileiros. A última prova disso, a mais brutal de todas, está na imagem do pensador-chefe do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, festejando com gestos obscenos a notícia de que o avião da TAM que caiu na semana passada ao aterrissar no aeroporto de Congonhas tinha problemas mecânicos. Danem-se os 200 mortos: a única coisa que interessa ao governo é a "vitória sobre a mídia".
Não foi vitória nenhuma, é claro, pois uma falha técnica não muda em absolutamente nada o fato de que o transporte aéreo brasileiro vive hoje o pior momento de toda a sua história; a mídia, ao registrar isso, não está num bate-boca com o governo, e sim expondo realidades indiscutíveis. Mas e daí? Para Garcia e o governo a hora é de comemoração. A verdade é que o acidente de Congonhas veio mostrar de forma particularmente cruel o preço que os brasileiros estão pagando pela postura de um governo que abandonou ao caos a infra-estrutura do país. Fez isso, desde o início, ao entregar a pessoas desprovidas de qualquer capacidade técnica cargos públicos que obviamente exigem competência específica -- como é o caso, entre dezenas de outros, da Infraero. Desde o começo, também, deixou claro que a criação e a manutenção de equipamentos vitais para o funcionamento do país não poderiam contar com recursos do governo nem ser transferidos para a iniciativa privada. O governo sustenta mais de 22 000 pessoas em cargos de confiança, criou um número recorde de ministérios e aumenta sem parar a despesa pública, mas nada disso gerou horas a mais de trabalho efetivo na administração, nem qualquer obra que realmente preste.
A tragédia de Congonhas, somada ao acidente que abriu a crise do sistema aéreo, em setembro de 2006 -- um avião da Gol se chocou no ar com um jato executivo no meio da Amazônia, deixando 154 mortos --, compõe o retrato mais perverso dessa crônica de descaso. O total de vítimas fatais já passa de 350 e, entre um horror e outro, centenas de milhares de passageiros vêm sendo expostos a atrasos colossais nos vôos e sofrimento nos aeroportos. Houve situações de motim e greve entre os controladores aéreos. O presidente da República, diversas vezes, prometeu soluções "definitivas"; chegou mesmo a exigir dos responsáveis, "em 24 horas", medidas para resolver a crise. Foi solenemente ignorado. Em dez meses de descalabro, o governo conseguiu o prodígio de não demitir um único funcionário ligado ao problema. Há dez meses, também, Lula buscava uma "saída honrosa" para o afastamento do ministro da Defesa, a autoridade máxima na área; até a tragédia de Congonhas não tinha achado. O governo, que não teve o menor problema para aumentar em quase 5 000 o número de empregos públicos entregues a amigos, não consegue encontrar dinheiro para contratar os 800 controladores de vôo que estão faltando nas torres. Os aviões voam com freios "pinados". Os equipamentos de rádio têm "áreas de silêncio". Os radares têm "zonas cegas".
Durante toda a crise os brasileiros continuaram a pagar a terceira taxa de embarque mais cara do mundo; só em 2005, deixaram 950 milhões de reais nos cofres da Infraero. Em troca disso, e de todos os demais impostos que pagam, têm tido direito à situação resumida acima, ao deboche dos ministros e, por fim, à quase aberta hostilidade do governo -- percebida nas repetidas declarações de que a crise aérea só afeta a "classe média". Ou, então, na discreta alegria com que autoridades variadas anunciam que "só 8% da população", segundo os institutos de pesquisa, considera-se atingida pelo problema.
Garcia tem mesmo o que comemorar.
Curso de mestrado
O presidente Lula revelou dias atrás que um de seus projetos para o futuro é ganhar dinheiro no circuito de conferências, para as quais espera, inclusive, a presença de gente que hoje fala mal dele. "Vão me convidar para fazer palestras e vão me pagar", previu o presidente. Talvez dê certo. Se não chegar ao fim de seu segundo mandato com a imagem aos pedaços, e se contar com uma estrutura profissional competente para apoiá-lo na atividade de conferencista, Lula tem tudo para tornar-se um astro no mercado mundial de palestras. Pode, na verdade, ficar um homem rico com isso. Talvez não chegue a ganhar, como o ex-presidente Bill Clinton, 200 000 dólares por aparição, mas mixaria com certeza não vai ser. Caso receba um quarto do cachê de Clinton, ou 50 000 dólares, Lula vai faturar em 1 hora de conversa quase o que ganha em um ano inteiro como presidente da República, considerando-se seu salário de 8 885 reais por mês, o equivalente hoje a 4 700 dólares. Com uma palestra por mês, em menos de dois anos ele terá colocado um belo milhão de dólares no bolso -- o que o levará para acima dos 99,85% restantes da população mundial em termos de patrimônio líquido. Nada mal.
Ainda falta muito tempo para chegar lá, é claro; Lula tem três anos e meio de governo pela frente, e nessa caminhada podem acontecer mais coisas do que supõe a nossa vã filosofia de hoje. O que está acima das incertezas do futuro é a variedade de lições que desde já ele teria a oferecer. O presidente poderia ensinar, por exemplo, que a melhor coisa que um político de "esquerda" pode fazer para a sua própria estabilidade quando chega ao governo é não balançar o coreto das realidades econômicas. Ao longo da campanha está livre para dizer, do palanque, que prefere "pagar salário a trabalhador do que pagar juro a banqueiro" ou que o combate à inflação é um "estelionato". Não importa. O que vale mesmo, quando começa o jogo de verdade, é seguir o manual de regras da "direita", colocar um bom Henrique Meirelles no Banco Central e deixar os economistas de seu partido falando sozinhos.
O tema de maior sucesso nas palestras do presidente, porém, seria a sua habilidade inédita para eliminar a oposição -- sem precisar, para isso, mexer numa única lei ou fazer qualquer trapaça antidemocrática no estilo das que o companheiro Hugo Chávez pratica na Venezuela. A platéia receberia, aí, um verdadeiro curso de mestrado. Lula conseguiu desmanchar a oposição porque teve a capacidade, em primeiro lugar, de assumir ele próprio a imagem de oposicionista número 1 do país. Fazer oposição fora do governo qualquer um faz; continuar na oposição depois de receber a faixa de presidente é coisa que só Lula, até hoje, conseguiu. Seja qual for o problema que apareça em seu governo, a culpa não é dele nunca: é das elites, da mídia, do preconceito, de traidores não identificados, "dos" que não aceitam seu trabalho em favor dos pobres, e por aí afora. Até agora tem funcionado: basta fazer discurso com cara de bravo que a maioria da população, como garantem os institutos de pesquisa, acredita que é ele, Lula, quem mais está lutando para consertar o Brasil. Em segundo lugar, o presidente deixou de ter oposição porque trocou de lado, de programa e de compromissos. Anos atrás Lula disse que o Congresso brasileiro tinha "300 picaretas". Estava certo -- errou só na conta, pois o número verdadeiro acabou se revelando bem maior. Mas desde que chegou à Presidência não fez nada para estabelecer diferenças de conduta entre o seu governo e o bando de escroques que havia denunciado. Em vez disso, casou de papel passado com todos eles assim que tomou posse, dentro do princípio segundo o qual o jeito mais esperto de garantir uma maioria é juntar-se à maioria que existe. Em terceiro lugar, enfim, Lula convenceu o principal partido que havia sobrado na oposição, o PSDB, a deixá-lo em paz -- com os índices de popularidade do presidente nas alturas, nada pior para o futuro político dos adversários do que brigar com ele.
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Postby Danilo » 27 Jul 2007, 23:21

"só 8% da população"

O que dá uns 15 milhões de pessoas. Coisa pouca, né?
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Postby Danilo » 01 Aug 2007, 14:50

Tem chance de vir mais apagão por aí...

O governo negou, enquanto pôde, a possibilidade, anunciada por empresas privadas do setor e por especialistas não governamentais, de o Brasil vir a enfrentar um novo apagão energético nos próximos dois ou três anos, tão ou mais grave do que o ocorrido sob FHC.

Para o Instituto Acende Brasil o risco de racionamento em 2011 é hoje de 32%, elevadíssimo. Se a economia crescer mais do que vem crescendo e se houver alguma escassez de chuva, esse risco aumenta e os prováveis gargalos energéticos podem surgir antes.

Esta tarde ele comanda uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para fazer um balanço atual da situação, analisar a trajetória da oferta de eletricidade para os próximos anos e traçar uma estratégia para aumentar mais rapidamente esta oferta.

(texto completo em http://blog.estadao.com.br/blog/josemarcio)
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Postby mends » 27 Aug 2007, 10:08

Redação do ENEM deste ano:

O tema de redação deste ano traz como inspiração uma letra do grupo Engenheiros do Hawaii, outra dos Titãs e o fragmento de um texto da ONU. No caso dos Engenheiros, há versos inspirados como “todos iguais, todos iguais mas uns mais iguais que os outros”. Os Titãs emendam: “Todos os homens são iguais/ são uns iguais aos outros, são uns iguais aos outros”. E a ONU arremata: “Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza”.

Aí propõe o examinador:
Todos reconhecem a riqueza da diversidade no planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons encantam as pessoas no mundo todo; nem todas, entretanto, conseguem conviver com as diferenças individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já não parece tão encantador. Considerando a figura e os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte tema “O desafio de se viver com a diferença”

Pergunta 1: Alguém vai poder argumentar de verdade, ou só defender a diversidade?

Pergunta de Matemática (ou de Petismo?):

Considere que um cortador de cana ganha 2,50 por tonelada de cana cortada, e consiga cortar 8 toneladas por dia. Considere-se que cada tonelada de cana-de-açúcar permita a produção de 100 litros de álcool combustível, vendido nos postos de abastecimento a R$ 1,20 o litro. Para que um corta-cana pudesse, com o que ganha nessa atividade, comprar o álcool produzido a partir das oito toneladas de cana resultantes de um dia de trabalho, ele teria de trabalhar durante:

A - 3 dias.
B - 18 dias.
C - 30 dias.
D - 48 dias.
E - 60 dias.

Aqui coloco uma opinião do Azevedo: "O estudante tem de concluir que o cortador é uma pobre vítima desse capitalismo podre. Afinal, precisaria trabalhar 48 dias para comprar o combustível que o seu trabalho “produzira” em um!!! Como a gente sabe, cana nasce como mato, certo? Não é preciso preparar a terra, adubar, plantar, financiar o plantio, a colheita, a produção, o transporte até a usina, cuidar da parte industrial, ter laboratório de pesquisa, transportar depois o produto final, nada disso. É chegar, passar o facão naquele "mato" e ver escorrer o álcool. Trata-se apenas de uma estupidez. Ah, claro, vocês sabem: a diferença entre os R$ 20 (R$ 2,50 X 8) que o cortador ganha por dia e os R$ 960 que rendem em álcool as oito toneladas que ele cortou (R$ 1,20 X 100 X 8 = R$ 960) deve ser o que o marxismo chulé brasileiro chama "mais-valia"..."

Mais uma questã, da prova de História - do petismo, já que o texto é do Paul Singer:

“Após a Independência, integramo-nos como exportadores de produtos primários à divisão internacional do trabalho, estruturada ao redor da Grã-Bretanha. O Brasil especializou-se na produção, com braço escravo importado da África, de plantas tropicais para a Europa e a América do Norte. Isso atrasou o desenvolvimento de nossa economia por pelo menos uns oitenta anos.”

E assim caminha Banânia. Eu já li esse livro: o nome dele é 1984.
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