PRIVATIZAÇÕES

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

PRIVATIZAÇÕES

Postby mends » 17 Oct 2006, 20:12

Aproveitando a hora pós acabar as obrigações e pré ir embora por causa do rodízio, resolvi fuçar nos NÚMEROS das privatizações. Aí a gente pára de falar "eu acho" pra falar "eu creio..." :lol:

Dei uma fuçada na Telebrás. Minha análise vai na forma de Q&A.

1-Os "estrangeiros" ganharam muito dinheiro com a Telebrás?

Ganharam. Mas não com a privatização, entendida como a venda do controle acionário. Ganharam antes. Com a abertura da conta capital em 1991, eles vieram pra Bovespa em peso. E analisando as cigar butts da nossa bolsa (os grandes negócios, os 50 cent dollars, as coisas baratas), viram que a Telebrás tradava (leia treidava, só pra colocar um jargãozinho e ficar respeitável) a 58 dólares por telefone instalado. Detalhe um: NÃO SE USAVA ESSE MÚLTIPLO AQUI. USAVA-SE O P/E (PREÇO DA AÇÃO/LUCRO) COMO INDICADOR, E SÓ.

No exterior, uma holding do porte da telebrás, com o mesmo risco, tradaria a 1,500 dólares por terminal. Se vc vê essa pechincha e tem grana, faz o quê? SE ENTOPE DE COMPRAR.

Além disso, os preços (tarifas) estavam desalinhados internacionalmente. Uma assinatura média mundial era de 25 dolares em 91. NO INÍCIO DE 1995, AQUI AINDA ERA DE 30 CENTAVOS DE REAL!!! Um realinhamento tarifário teria que vir, principalmente depois do real e a mudança de forma de financiamento do déficit.

2-As tarifas aumentaram?

A assinatura aumentou. Passou de 30 centavos pra 20 reais, mas depois só teve REPOSIÇÃO DE INFLAÇÃO. ATÉ AGORA, 2006, NÃO HÁ AUMENTO REAL NA TAXA DE ASSINATURA NO PAÍS.

Só com isso a receita "firme" anual da telebrás passou de 36 milhões de reais pra 2.4 BILHÕES de dólares. A EMPRESA MUDOU DE PATAMAR. QUEM COMPROU EM 1991 (quando Telebrás chegou a ser 50% de todos os negócios feitos na Bolsa), ENCHEU A BURRA DE DINHEIRO.

E a privatização foi em 1998. Mas o realinhamento tarifário era pré-condição de um processo de venda.

3-O preço foi justo?

O EBITDA (earnings before interests, taxes, depreciation and amortization) em 1997 era de 8 bn de dólares, e foram arrecadados 20 com a venda. Uma saída a 2.5xEBITDA, um múltiplo justo (AT&T tradava a 4xEBITDA na NYSE, à época). Preço correto, com um descontinho aceitável.

isto posto, cito dois filósofos:

Qui custodit ipsos custode? (quem nos protegerá de nossos protetores?)
SÊNECA

E agora, quem irá nos defender?
Dona Florinda em qualquer outro papel, no Chapolim.
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Postby mends » 19 Oct 2006, 11:15

Giambiagi propõe solução possível para Previdência

SONIA RACY sonia.racy@grupoestado.com.br

Na China, as cidades crescem como cogumelos, na Índia investe-se loucamente em computação, na Europa Oriental brotam estradas em profusão para facilitar a integração com o resto da Europa e no Chile o governo pretende que todos os jovens tenham, daqui a alguns anos, bom domínio do inglês para concorrer no mundo globalizado. Enquanto isso, o Brasil quer acelerar o seu crescimento aumentando o valor real das aposentadorias. 'É patético, não é assim que se desenvolve um país', ressalta o economista Fabio Giambiagi, em seu novo livro Reforma da Previdência - O Encontro Marcado, que vem de encontro a um debate intenso, sobre um problema que terá que ser enfrentado pelo próximo presidente da República.



Giambiagi defende preservar o poder aquisitivo das aposentadorias. 'Mas aumentar o valor real das remunerações de quem não contribuiu para tal, permitir aposentadorias aos 50 e poucos anos e distribuir benefícios assistenciais com valor real cada vez maior a um número crescente de pessoas fora do mercado de trabalho, mantendo o investimento público à míngua e deixando de apostar na educação, é uma receita segura para que o País fique para trás no universo das nações', escreve ele, coberto de razão.



Mas o que fazer? Aí vem a parte mais interessante do livro. Para mudar essa situação, estancando pelo menos parte da sangria nos recursos do governo federal, Giambiagi apresenta propostas, que poderiam ser assim resumidas: garantia do poder aquisitivo dos benefícios, mas sem aumentos reais; adoção de uma idade mínima para aposentadoria; redução do diferencial entre homens e mulheres; aumento do período contributivo exigido para quem se aposenta por idade; e fim do regime especial para professores e benefícios rurais.



São propostas tecnicamente defensáveis, mas que certamente provocariam um levante em praticamente todos os setores da sociedade. 'Obviamente, seria preciso respeitar o necessário equilíbrio entre as recomendações técnicas e a sensibilidade política, sem a qual nenhuma reforma poderá ser aprovada. Mas, ao contrário do que se possa pensar à primeira vista, essas mudanças, imprescindíveis, não são assim tão impossíveis', afirma, otimista.



Giambiagi lembra que ninguém gostou de economizar energia em 2001, mas, em função das circunstâncias, todos entenderam que o racionamento era necessário e aderiram. Estaria pois nas mãos do governo convencer a sociedade da necessidade de mudar. 'Se pretendemos não ler mais manchetes como a do ano passado em que, na América Latina, o Brasil só teve um desempenho melhor que o do Haiti, se pretendermos dar aos nossos filhos um futuro melhor, precisamos repensar o sistema previdenciário e assistencial. Esse é o grande drama nacional.'
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Postby Danilo » 19 Oct 2006, 14:15

resolvi fuçar nos NÚMEROS das privatizações. Aí a gente pára de falar "eu acho" pra falar "eu creio..."


E o preço da Vale do Rio Doce? Pedi pa você me mandar umas explicações sobre avaliação de preço, mas era complicado demais (ainda mais com termos in inglixi... earningüi biforitdá, equiti côst, rate probrem...) prum simples vestibulando.

:nerd:
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Postby mends » 19 Oct 2006, 16:28

se avaliações de empresas fosse simples, não haveria gente como Aswath Damodaran ganhando rios de dinheiro ensinando e prestando consultoria. fora todas as consultorias do mercado, que cobram pilhas de dólares pra te dizer quanto vale uma empresa.

é como eu disse: é função do fluxo de caixa futuro descontado à taxa de risco apropriada. qualquer pergunta adicional sobre qualquer palavra da frase acima dá pra cobrar :lol: porquê depende de n coisas. como projetar os fluxos? quais os riscos apropriados? qual a taxa correta de desconto? como separar efeitos operacionais e financeiros? como ajustar as diversas provisões e idiosincracias de cada mercado onde a vale atua? como ponderar os diferentes cenários de ocorrência dos diversos fluxos de caixa?

pra cada pergunta, um mês de trabalho e muitos dólares.

por isso é que existe banco de investimento! esse é o trabalho deles!!

quer uma resposta rápida, que te dê 60% de "acerto"? Procure na internet uma siderúrgica que atue nos mesmos mercados que a vale. se for americana, vá ao site da NYSE e busque os números dela pro ano da privatização da vale. pegue o preço médio da ação no ano anterior e "separe" (estilo receita de bolo). procure o número de ações da empresa no ano e multiplique. Isso te dá o VALOR DE MERCADO DESSA EMPRESA PARA O ACIONISTA (MARKET VALUE). Vá ao balanço dessa empresa no ano anterior à privatização e procure a linha NET DEBT (DÍVIDA LÍQUIDA). Some ao Valor de Mercado, e você tem o EV-ENTERPRISE VALUE - da empresa. Volte ao balanço e procure pelo EBITDA da empresa. Divida o EV pelo EBITDA, e isso vai te dar o múltiplo EV/EBITDA. Digamos que seja 10. Desconte 40% dele => 6

depois, pegue o preço de venda da vale e divida pelo EBITDA da Vale no ano anterior. Tem que dar próximo de 6, talvez começando de quatro.
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Postby mends » 21 Oct 2006, 11:13

não deixe de ler o Reinaldo, abaixo. Lula também privatiza, só que pra si...

O Estalo de Lulinha: de monitor de zoológico a milionário, o filho de Lula, os amigos, o lobby e as relações com o encrencado APS

Lulão (ao fundo) e Lulinha em montagem publicada pela Veja (fotos de Lula Marques/Folha Imagem e Luciana Prezia/AE)

Quando o debate é crescimento econômico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a estranha tese de que se deve evitar a comparação do Brasil com outros países. Diz ele que ela tem de ser dar com o nosso próprio desempenho. Talvez pense o mesmo sobre escândalos. Pois bem... Mesmo comparando o padrão de seu governo com o histórico da moralidade pátria, estamos diante de uma realidade de assustar. Alexandre Oltramari conta em detalhes a formidável ascensão de Fábio Luiz da Silva, filho do presidente Lula, na Veja desta semana.

Em entrevista à Folha, o Apedeuta afirmou que Lulinha é o seu “Ronaldinho”, atribuindo a seu garoto — nem tanto assim: já tem 31 anos — dons fenomenais. Quem leu a história da Veja e se decepcionou porque “não seria uma bomba atômica” está sob o que eu chamaria “Efeito Esculhambação”: estamos começando a perder a noção do certo e do errado, a ficar sem parâmetros. Que Lulinha era monitor de Jardim zoológico até o fim de 2003 e hoje é um milionário, disso nós já sabíamos, é fato. As oposições sempre evitaram tocar no assunto porque seria “questão pessoal”. Coisa nenhuma!

Até os 28 anos, esse rapaz ganhava R$ 600. Padre Vieira, conta a lenda, era um tanto idiota. Teria tido uma dor de cabeça, um desmaio, e acordado gênio. O episódio ficou conhecido como “O Estalo de Vieira”. Pois bem, já se pode falar de um “Estalo de Lulinha”. O cara era monitor de zebra, paca e girafa até outro dia. O pai chega à Presidência, e ele se torna um fenômeno, um Ronaldinho dos negócios. A reportagem de Veja não é repeteco de nada, não. E vai muito além do que era conhecido.

O que não é novo
Já se sabia, em síntese, que, em novembro de 2003, Lulinha havia se tornado sócio de Fernando e Kalil Bittar, filhos de Jacó Bittar, amigo de Lula, numa empresa que acabou resultando na Gamecorp. Também era sabido que a Telemar — uma concessão pública, com quase metade do capital dividido entre o BNDES e fundos de pensão — injetara nada menos de R$ 15 milhões no empreendimento, tornando-se sócia dos rapazes. Também não é novidade que esses empreendedores “alugam” hoje seis horas diárias da grade do Canal 21 (mesmo grupo da Band) e que, após o contrato, o canal até mudou de nome: PlayTV. O mercado publicitário — isso não está na Veja, estou afirmando eu, especula sobre uma eventual venda de gaveta do já antigo Canal 21 para estes empedernidos schumpeterianos.

O que não se sabia
O que é novidade — e é coisa da maior gravidade — é que Lulinha e seus amigos se tornaram, na prática, lobistas com trânsito no Palácio do Planalto. E com tal força, que a lei que regula as teles só não foi mudada porque a própria Veja noticiou a associação da Telemar com a Gamecorp em julho do ano passado.

Leiam um trecho da reportagem: “O caso de Lulinha tem uma complexidade maior. Sua relação com a Telemar não se esgota nos interesses de ambos na Gamecorp. O filho do presidente foi acionado para defender interesses maiores da Telemar junto ao governo que o pai chefia. Em especial, em setores em que se estudava uma mudança na legislação de telecomunicações que beneficiava a Telemar. VEJA descobriu agora que a mudança na lei foi tratada por Lulinha e seu sócio Kalil Bittar com altos funcionários do governo. O assunto levou a dupla a três encontros com Daniel Goldberg, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE). Em um desses encontros, ocorrido no início de 2005, Lulinha e Kalil, já então sócios da Telemar, sondaram o secretário sobre a posição que a SDE tomaria caso a Telemar comprasse a concorrente Brasil Telecom – fusão que a lei proíbe ainda hoje. Goldberg, ciente do obstáculo legal, disse que o negócio só seria possível mediante mudança na lei. O estouro do escândalo Lulinha abortou os esforços para mudar a legislação e favorecer o sócio do filho do presidente.”

Seria só isso?
Mas não é só isso. Lulinha e seus amigos passaram a ter uma relação íntima com APS. Tão próxima, que ganharam uma sala exclusiva na mansão em que o homem trabalha. Ops! Quem é APS? A Veja explica:

“O lobista Alexandre Paes do Santos é homem de relações perigosas e de uma vasta ficha criminal. APS, como ficou conhecido em Brasília, fez carreira – e, posteriormente, fama policial – no submundo das negociatas da Esplanada dos Ministérios, aproximando-se de raposas da política e cultivando a imagem de personagem misterioso e poderoso. As estripulias de APS nas sombras de Brasília vieram a público em 2001, quando a Polícia Federal apreendeu a agenda do lobista. Ali, escondia-se o inventário das atividades subterrâneas de APS, como pagamentos de propinas a parlamentares e funcionários do governo, histórias de chantagens e esquemas de superfaturamento em contratos com órgãos públicos. Minucioso e detalhista, o lobista anotava na agenda valores de suborno ao lado da letra "K", que os investigadores descobriram tratar-se de um código que correspondia ao acréscimo de três zeros ao valor registrado. Ao lado de nomes de deputados e servidores públicos havia, por exemplo, a inscrição "50K" (ou 50 000, reais ou dólares).”

E a Veja prossegue: “Além da sala, APS também colocou sua frota à disposição da dupla. Quando Lulinha e Kalil começaram a freqüentar o escritório do lobista, seus deslocamentos por Brasília eram feitos em Ford Fiesta. Com cerca de 1,90 metro de altura, Kalil reclamou que o Fiesta era desconfortável e disse que gostaria de um carro mais espaçoso. APS substituiu o Fiesta por um Omega. Enquanto despachavam na mansão de APS durante o dia, Kalil e Lulinha eram hospedados na Granja do Torto ou no Palácio da Alvorada, residências oficiais da Presidência da República. Quando isso não era possível, Kalil ia para o hotel Blue Tree, a menos de 1 quilômetro do Alvorada. Não se conhecem bem as razões pelas quais Lulinha e Kalil mantinham uma sala no escritório do lobista de métodos heterodoxos. O que faziam ali? Por que despachavam dali? Em busca dessas respostas, VEJA descobriu que a sala foi cedida a Lulinha e Kalil como parte de um acordo dele com a francesa Arlette Siaretta, dona do grupo Casablanca, um conglomerado de 54 empresas que, entre outras atividades, faz produção de filmes e eventos, gravação de comerciais e distribuição de DVDs.”

Bem, queridos leitores, vejam o resto na revista. Vocês gostarão de saber como foi que Siaretta foi introduzida nas altas esferas do círculo petista, como isso passou a lhe render dinheiro e o quanto isso beneficiou Kalil Bittar, o grande amigo de Lulinha. Volto à questão que muitos me fizeram: isso vira a eleição? Virar a eleição não é tarefa de revista nenhuma, mas dos eleitores e da maior ou menor importância que a moralidade pública possa ter nas suas escolhas. Uma coisa eu sei: a reportagem noticia com desassombro o que apurou. Com muito mais coragem do que as oposições tiveram até agora. E olhem que a revista não disputa o poder.
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Postby mends » 23 Oct 2006, 09:23

Existe empresa estatal eficiente?

*Mailson da Nóbrega

Por definição, uma empresa estatal não tem a mesma eficiência que exibiria se fosse privada. Sua governança corporativa pode até aproximá-la do padrão de gestão privada, como se vê no mundo desenvolvido, mas isso é muito difícil de acontecer em países como o Brasil.

No sistema capitalista, a lógica da empresa privada é a da maximização dos lucros, cabendo ao Estado a defesa da concorrência. Como a missão básica dos administradores é gerar valor para o acionista, há incentivos para que busquem a eficiência e a satisfação do consumidor.

Ainda que adotem estratégia semelhante, os gestores da estatal não dispõem dos mesmos incentivos. Sua lógica é a das políticas públicas, o que pode levá-la a operar sob margens de contribuição negativas, situação inaceitável em uma empresa privada.

A estatal brasileira incorre em custos de transação inexistentes no setor privado. Sua diretoria é substituída a cada troca de governo, o que pode gerar onerosas mudanças administrativas. Submete-se à fiscalização do Tribunal de Contas. Tem de prestar informações adicionais às previstas na lei societária. Seus investimentos dependem de aprovação do Congresso, o que gera incertezas ausentes na empresa privada.

A estatal está sujeita à lei de licitações públicas. Concorrências para compra de bens essenciais como máquinas e computadores costumam ser impugnadas no Judiciário pelos perdedores. São comuns longas demoras para completar o respectivo processo. Gastos de publicidade que interessam mais ao governo são costumeiros na estatal, que também despende recursos em programas sociais com fins políticos.

A eficiência menor da estatal pode acontecer até na Europa, onde há boa governança corporativa. Veja-se o caso da Airbus, que tem participação minoritária da França, da Alemanha e da Espanha. Por pressões políticas, possui fábricas em 16 lugares para gerar emprego em diferentes países.

Uma parte da fuselagem do novo avião A380 foi feita na Alemanha e outra na França, mas as fiações nelas contidas não se encaixaram.

Haverá demora de pelo menos dois anos na entrega das encomendas, acarretando prejuízos de US$ 6 bilhões. A Airbus anunciou que fará demissões para vencer a crise.

A estatal brasileira está sujeita a erros semelhantes, mas raramente tem condições políticas para fazer demissões, o que a impede de agir preventivamente como a Airbus.

Também há empresa privada ineficiente, mas ela quebra se não se ajustar e a conta vai para o acionista privado. A estatal não quebra e as perdas vão para o Tesouro. O ônus da sua salvação recai proporcionalmente mais sobre os pobres. De fato, 48% da renda de quem ganha até dois salários mínimos é gasta em tributos. Quem ganha mais de 30 salários paga apenas 23%.

Duas provas inequívocas da menor eficiência da estatal são a Embraer e a Vale do Rio Doce. Há outros bons exemplos, como o da telefonia, mas esses dois estão no imaginário como “transferência do patrimônio da Nação” em condições tidas como tenebrosas.

Ambas eram vistas como eficientes quando estavam sob controle do Estado. Depois de privatizadas, multiplicaram várias vezes os investimentos, o recolhimento de tributos, as exportações, o emprego e a geração de renda, embora seus empregados fossem os mesmos da época em que elas eram estatais.

O sucesso das duas empresas derivou em grande parte da eliminação de custos inerentes à sua condição anterior. Seus presidentes são os mesmos desde a privatização.

Estatais são necessárias em certos casos, mas devem ser privatizadas sempre que o setor privado puder substituí-las com vantagens. Mesmo que se justifiquem, valeria estabelecer mecanismos de prestação de contas que permitissem conhecer os custos, para a sociedade, de operá-las segundo os objetivos definidos na lei ou pelo governo da hora.

Nada do que foi dito aqui convence os que defendem as empresas estatais por razões ideológicas. Neste caso, prevalecem mais a visão anticapitalista, a utopia socialista e a correspondente aversão ao lucro. O argumento racional é inútil. Não é a eficiência que importa, mas o ideal estatizante. Avaliar custos e benefícios não preocupa esses grupos.

Em suma, estatais podem ser bem administradas em certos períodos, mas dizer que elas são eficientes como uma empresa privada é um disparate.

*Mailson da Nóbrega é ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada (e-mail: mnobrega@tendencias.com.br
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Postby mends » 26 Oct 2006, 14:07

Azevedo

PT não gosta de privatização, mas de doação. Desde que seja a petista

O PT, como ficou claro nesta campanha presidencial, é contra privatizações, não é mesmo? O partido parece preferir outro método, conforme se lê na Folha desta quinta: “O Ministério Público Estadual entrou com ação civil pública contra o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, para anular contrato pelo qual a família dele recebeu do governo estadual, em 2003, a concessão de um terminal portuário. O promotor de Justiça Marcos Antônio Sottoriva acusa dois irmãos, um sobrinho e uma cunhada do governador de enriquecimento ilícito pela "obtenção do monopólio portuário de Porto Murtinho".A família do governador controla o porto em regime de concessão desde agosto de 2003. Até setembro de 2001, o terminal portuário pertencia ao Estado. Após parecer de uma comissão da qual fazia parte Heitor Miranda dos Santos, irmão de Zeca, o governador decidiu entregar o controle à iniciativa privada. Em 2003, o terminal passou a ser controlado pela Riopar, que pertence a parentes de Zeca. Ele nega ter beneficiado sua família.”
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Postby mends » 27 Oct 2006, 15:15

Stocks Populi
By ARTHUR LEVITT JR.
October 27, 2006; Page A14

Ever since the recount of 2000, partisans of both parties have paid particular attention to everything from who votes to how they vote and how their preferences are recorded. Counting every vote is not only integral to our political life; it is central to our economic life as well. Shareholder capitalism enables our markets to thrive, our companies to grow and our economy to remain strong. And central to this system is the principle that shareholders can have a voice in the running of the companies that they own, that their votes will count.

This fall, the issue has been the focus of a series of court cases, decisions and now potential Securities and Exchange Commission action. How the SEC handles this can have a profound effect on the future of shareholder democracy, corporate governance and the future of our markets. It's a matter of interest to all investors.

For years, shareholder advocates have been working to gain better access to companies' proxies so that they can put forward resolutions and, most importantly, their own candidates for director slots. Even though boards of directors have improved considerably since the passage of new independence standards and disclosure requirements in Sarbanes-Oxley, the ability of shareholders to remove directors is critical when seeking to revive a moribund corporation. Yet currently, board elections are one-party affairs, with the incumbent board's choices winning in virtually every case. Shareholders can only put forward candidates after costly proxy campaigns. A director has a better chance of being struck by lightning than losing an election.

After failing to convince the SEC to pass a proxy access proposal in 2003, shareholder advocates tried to make changes in the bylaws of companies that govern the elections of directors in order to make them fairer. They argued that this was a matter of process under applicable law (that is, did not directly relate to the election of directors, a basis of exclusion), and thus management had to put such a proposal on its proxy card to shareholders. In September, in a case concerning AFSCME, the large public employee union that wanted to put forward these changes at AIG, an appeals court ruled that such a bylaw change was proper and that management would have to open its proxy to proposals regarding how directors were elected. (Full disclosure: I was retained by AIG's board to help restructure its corporate governance; I had no involvement in this matter.)

In response, the SEC rightly decided to re-examine this issue and clarify the law. An open hearing on the topic was scheduled in October but was delayed until Dec. 13. The outcome of this session is critical to the future of shareholder capitalism. The signal the commission sends is an important one. Support of the AIG decision will make it clear that the reforms of the past few years were not ephemeral, and that even though the markets are once again delivering high returns, the commitment to good governance will not falter.

The upcoming meeting is the right time and place for the commission to set expectations for our public corporations. Indeed, an understandable desire for consensus on such a difficult matter is less important than the clarity of the SEC's message. While passing an entirely developed proxy access plan may be too much to ask, the SEC can set a direction by making it clear that it will not ignore the issue of fairness that precipitated this latest litigation and put forward a series of steps that will strengthen shareholder democracy.

Part of this should include safeguards such as a minimum requirement of shares held in order to put forward director nominees. Other changes that can be made are: an increase in the number of exempt solicitations from 10 persons to 20 as long as those solicited are institutions or "accredited investors" so that investors can easily communicate with each other; the electronic transmission of proxy materials to those who desire them in that form, a move that can boost shareholder participation and reduce cost; and an endorsement of the principle of majority rule and schemes that bring this to publicly traded companies. A growing number of corporations have taken this last step, and it's important for the SEC not only to allow but also to affirmatively promote it as a best practice -- even urging the exchanges to include majority-voting among their listing standards.

By setting this tone, the SEC will make a strong statement about corporate governance. It will demonstrate that accountability is a principle that will not be compromised. It will bolster its admirable efforts on executive compensation; after all, disclosure provisions are toothless if shareholders are unable to act upon them. And an endorsement of shareholder democracy will show investors world-wide that in our markets, their voices matter and their votes count.

Mr. Levitt was chairman of the SEC.
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Postby mends » 30 Oct 2006, 08:33

O perigo dos bancos estatais

Carlos Alberto Sardenberg

A tese pode ser impopular, mas isso não a torna automaticamente errada. Por isso convém repetir: é um perigo governos serem donos de bancos. Aqui e em qualquer lugar do mundo.

O argumento - também universal - a favor de um banco estatal se sustenta em três pontos:

Bancos privados não se instalam em locais distantes, de pouca movimentação financeira, o que, ao final, deixaria boa parte da população sem os serviços bancários;

bancos privados não emprestam para determinados setores da economia, como pequenos agricultores e pequenos empresários urbanos, nem aceitam como clientes pessoas abaixo de determinado nível de renda;

bancos privados não se interessam por determinados setores econômicos ainda não desenvolvidos, mas com grande potencial e, sobretudo, de interesse estratégico para o País.

Por que os bancos privados não fazem isso? Simples: porque são operações custosas, de muito risco, pouca ou nenhuma rentabilidade e, na maior parte dos casos, de prejuízo inevitável.

De onde se conclui que o papel do banco estatal é perder dinheiro. Isso está claro. Para atender àquelas regiões, àquelas pessoas e àqueles setores de modo razoável o banco terá de oferecer tarifas e juros subsidiados.

Ora, o serviço e os empréstimos podem sair de graça para o cliente final, mas têm custos para o banco. É preciso pagar a operação - funcionários, instalações, redes de comunicação - e o custo do dinheiro. O banco paga juros para levantar os recursos que vai emprestar.

Ora, quem paga isso?

O governo, que é o dono do banco. Mas quem financia o governo são os contribuintes. Ou seja, trata-se “do meu, do seu, do dinheiro de todo mundo” - mais uma transferência de renda.

Até aqui, portanto, o banco estatal é uma instituição pequena, de atividades limitadas, certamente com prejuízo e financiada pelo Tesouro. Mais ou menos como uma agência de desenvolvimento ou o que se chamaria um “banco social”.

Neste ponto surge a idéia genial. Operando nos centros desenvolvidos, atendendo à classe média, o banco dá dinheiro. Ora, um banco estatal comercial, atuando na “zona do filé mignon”, poderia fazer o lucro necessário para financiar as atividades do “banco social”. Pronto, estão formadas as grandes instituições financeiras públicas.

E aqui começam os riscos. O banco estatal tem dupla personalidade.

De um lado, é comercial, obrigado a atuar conforme padrões que levem à maximização dos lucros de modo a remunerar o governo e os demais acionistas. Isso porque para se financiar o banco estatal vende ações ao público privado.

De outro, a instituição pública é agência social e de desenvolvimento. Isso significa que não precisa se preocupar com lucros quando, por exemplo, empresta a pequenos e médios agricultores ou quando financia grandes empreendimentos - estradas, portos - ou determinados setores, como microeletrônica, considerados estratégicos para o desenvolvimento de uma região ou de todo o País.

Uma operação, portanto, pode ser enquadrada no lado comercial - exigindo-se garantias, etc. - ou no lado fomento/social - mais flexível. Aí começa. Vem lá o empresário de um Estado pobre e pede dinheiro para iniciar um projeto de criação de um tipo de sapo-martelo cuja pele parece ser ideal para fazer bolsas e sapatos. Até com possibilidade de exportação para a China.

O gerente do banco estatal analisa pelo lado comercial e nem sequer localiza os sapos. “Mas o que é isso?”, reclama o interessado. “Se fosse meramente comercial, não precisaria do banco do governo. Este é um projeto para gerar empregos ali, na várzea dos Quintos dos Infernos.”

O empresário é correligionário ou, pior, sócio do cacique político do Estado, que nomeou o diretor regional do banco. Pronto, sai o empréstimo - e mais um prejuízo social para o bancão da viúva. E assim segue o uso do dinheiro público para financiar os ricos de um Estado pobre - reconheceram algo?

Há mais. Uma universidade pública, pessimamente administrada, não paga a conta de luz. A concessionária - uma vil empresa capitalista - corta o fornecimento. Vai o reitor conversar com o governador ou com o presidente para pedir mais verbas. Não há folga no orçamento. Sim, argumenta o reitor, mas o “nosso” banco está indo tão bem, lucrou tanto, será que não pode emprestar um pouco para a “nossa” universidade?

O presidente e o governador, que nomearam o presidente do banco, ligam para o correligionário e pronto, mais um prejuízo social. Acrescentem aí estatais, fundações, hospitais e se vê o tamanho do risco.

Há mais. Não são apenas entidades públicas que vão atrás do bancão do governo. Não é justo que o bancão financie um espetáculo que leva a capoeira brasileira para o exterior?

Há mais ainda. Prefeitos por este Brasil afora exigem que os bancos estatais financiem suas cidades. Senão, dizem com razão, para que o governo tem bancos?

E nem falamos de corrupção. Tudo isso é prejuízo feito com a maior das boas intenções.

Não é fábula. Tudo o que foi dito acima se baseia em fatos ocorridos no Brasil. Tanto é verdade que praticamente todos os bancos estatais, federais e estaduais, quebraram. Alguns quebraram mais de uma vez.

Sim, caro leitor, cara leitora, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal também quebraram. Só no Banco do Brasil o governo Fernando Henrique Cardoso colocou R$ 8 bilhões, de uma só tacada, para tapar os buracos abertos pelo “lado fomento social”. O Banespa, o bancão paulista, e outros bancos estaduais que foram privatizados deixaram pelo caminho prejuízo superior a R$ 40 bilhões. É assim. Contaminado pela política partidária, pela fisiologia, pelos caciques, o suposto “lado bom” come todo o lucro do “lado capitalista”.

Não estaria na hora de se pensar em alguma outra solução?

Voltaremos ao assunto.

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Postby mends » 02 Nov 2006, 11:25

Azevedo

O apagão aéreo que assassinou 154 pessoas

Acabou a farsa. Sabem aquela saída: “culpem os americanos?” Não funcionou. Alguns cretinos acusaram um verdadeiro complô na Rede Globo, que teria subestimado o acidente com o Boeing da Gol para dar destaque às fotos do dossiê. Agora, o que há para dizer? A sorte de Lula é que a eleição não é daqui a duas semanas... O “apagão da energia elétrica do governo FHC” — escrevo assim, entre aspas, que é como o PT chamava e chama a crise de energia de 2001 — não matou ninguém. O “apagão da aviação do governo Lula” fez 154 vítimas fatais. Os familiares já têm a quem acionar: a União. Reportagem de Eliane Cantanhêde, na Folha de hoje, informa: a caixa-preta do Legacy revela que a torre de São José dos Campos errou e autorizou os pilotos Joe Lopore e Jean Paladino a voar a 37 mil pés, na contramão do avião da Gol. O resto já se sabe.

Quando o acidente aconteceu, no dia 29 de setembro, a operação-padrão dos controladores de vôo ainda não estava em curso, é verdade. Mas já estavam em vigência as péssimas condições em que eles trabalham “nestepaiz”, o que é atestado por organismos internacionais. Quando isso foi noticiado no The New York Times, o governo reagiu com sua honra verde-amarela ferida. Os passaportes dos pilotos foram apreendidos. Eles só fizeram o que lhes mandaram fazer, contrariando o plano de vôo que tinham.

A reportagem de Canhanhêde lista, sim, outros problemas, incluindo a falha no transponder. Mas leiam o texto. Nada explica que não se tenha alertado o avião da Gol para o que era, quando menos, um alto risco de colisão. Acidentes acontecem? Acontecem. Em qualquer parte do mundo. O que cobre o nosso de ridículo é a patetice das autoridades e a versão de que “os gringos” foram acusados sem haver qualquer prova material. Waldir Pires, ministro da Defesa, com uma longa folha de desserviços prestados ao Ministério da Previdência e ao governo da Bahia, afirmou anteontem que o problema dos controladores “é mais de fundo emocional”. Não é. Eles decidiram operar segundo as normas internacionais de segurança. Deu no caos que estamos vendo.

Não sei como anda o transporte marítimo. O terrestre, com exceção das estradas paulistas até onde sei, é o caos na forma de buracos. O dos céus vive uma situação de calamidade. Não obstante, o governo “como nunca houve nestepaiz”, no horário eleitoral gratuito, satanizou as privatizações, aquelas mesmas que fazem das estradas de São Paulo as mais seguras do país. Com pedágio, é verdade. Quem as quer como são sem pagar acredita em almoço grátis; está querendo um Bolsa Automóvel.

Mas ninguém gosta de privatização por aqui, como se viu pelo resultado das urnas. A gente prefere mesmo é o Estado assassino. Espero que a indenização às famílias seja paga em “conys”. “Cony” é a moeda que uso para reparação àqueles que são vítimas do Estado. Se quem perdeu um cargo de jornalista merece 1,5 milhão de conys mais 20 mil conys por mês, quanto deve receber a família de quem perdeu a vida porque a infra-estrutura do Brasil é um lixo?

Que este seja o país do Aerolula é só a ironia que definitivamente nos cobre de ridículo. Alguns leitores observam que escrevo, às vezes, textos furiosos. Pois é. Eu acho mesmo que nos falta um pouco de fúria. Aquela que todo indivíduo deve ter contra o Estado e o governo se não quer ser um escravo moral.
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Postby telles » 02 Nov 2006, 11:51

Tá na cara que fizeram merda

Se negam a depor ao delegado, coletivamente.... Só nestepaidemerda pra acontecer isso. Tinha que estar todo mundo preso e os responsáveis sendo apontados.... foda-se que tinha 20 aviões pra cuidar, quando a norma é 15... Quando prestou o concurso pra ser controlador, sabia disso de antemão....

Isso vai ficar na pizza, os familiares vão processar meio mundo e só os que tem os melhores advogados vão receber alguma coisa....
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Postby mends » 06 Nov 2006, 08:16

Mais um caso de privatização

Carlos Alberto Sardenberg

O apagão da aviação civil é um exemplo perfeito de como está errada a gestão dos serviços públicos no Brasil.

Começando pelo dinheiro: afirma-se que o sistema de tráfego aéreo foi vítima da política de controle dos gastos públicos, em especial do superávit primário - a economia que o governo faz nas despesas para pagar a conta de juros. Estão vendo?, diz-se, resolvem pagar juros para os banqueiros e aí não sobra para o controle de tráfego.

Falso. Seria correto se todo o setor público estivesse submetido a um forte arrocho. Entretanto, diz o relatório da Secretaria do Tesouro, o aumento dos gastos do governo federal em 2005 foi de 16,5%; nos primeiros nove meses deste ano, foram mais 16% de alta, sobre o mesmo período de 2005. Como a economia brasileira cresceu apenas 2,6% na média nos dois últimos anos, verificou-se um aumento real, e forte, dos gastos públicos. Portanto, não faltou dinheiro para todo o governo nem para todo o seu pessoal. Aliás, as despesas com salários do funcionalismo estão subindo 12% neste ano, em cima de uma alta de 10,3% em 2005.

Obviamente, faltou dinheiro para os controladores do tráfego aéreo, mas não para outras categorias, algumas, aliás, com os maiores salários do governo. Eis algumas comparações.

Segundo informa a Aeronáutica, há 2.683 controladores em atividade, com salários variando de R$ 1.800 a R$ 4 mil. Suponhamos que se concedesse um aumento linear de R$ 10 mil mensais para todos, uma farra. Isso custaria pouco menos de R$ 350 milhões/ano. É algum dinheiro, mas o governo federal vai gastar neste ano mais de R$ 100 bilhões na rubrica de pessoal. E gastou R$ 5 bilhões com o reajuste de várias categorias. Como dizer que não havia verba para os controladores?

Outra comparação: se o governo economizasse R$ 1,65 no reajuste do salário mínimo, já sobrariam os recursos para dar R$ 10 mil de aumento a cada controlador. É isso mesmo: um real e 65 centavos a menos no mínimo faria a festa dos controladores. Só que, naquele momento, com as eleições começando a esquentar, os R$ 350 para o mínimo faziam efeito maior, não é mesmo?

Portanto, havia dinheiro.

Segue a seqüência de equívocos. Se quisesse conceder os R$ 10 mil de aumento, o governo não conseguiria. Primeiro, porque a maior parte dos controladores (2.112) é formada por militares da Aeronáutica, muitos deles sargentos. Ganhando R$ 11,8 mil, o sargento-controlador estaria recebendo mais que um brigadeiro. Não pode. Aí teria de aumentar proporcionalmente todos os soldos da Aeronáutica e, para equiparar, os do Exército e da Marinha - e a conta já estourou.

Por outro lado, não é possível aumentar só os civis, e não os colegas militares que estão ali ao lado exercendo a mesma função.

Portanto, as promessas do governo de aumentar o salário dos controladores não poderão ser cumpridas sem uma alteração na estrutura do serviço, basicamente para desmilitarizá-lo. O que também é simples, pois os atuais controladores militares teriam de ser desmobilizados da Aeronáutica e depois recontratados (sem concurso?) como civis.

Pode-se dizer que não é assim tão difícil desembaraçar essa burocracia. Talvez, mas o ministro da Defesa, Waldir Pires, só se reuniu com os controladores no sétimo dia do apagão e se declarou surpreendido com o que encontrou. Reclamou que não lhe haviam contado nada.

De onde fica evidente o equívoco essencial: o sistema de controle do tráfego aéreo não tem nada que ser militar, muitíssimo menos estar sob o controle do Ministério da Defesa, especialmente da atual administração.

Parece simples a solução. Trata-se apenas de criar um órgão civil, talvez mais uma estatal, ou ainda transferir para a Infraero, que já administra os aeroportos, o controle do tráfego.

Simples? No governo? O sistema de radares, por exemplo, pertence à Aeronáutica, encarregada de vigiar o espaço aéreo nacional. O que fazer? Partilhar os radares ou construir um novo - e caro - sistema? Como partilhar?

Não se trata, aqui, de criar caso, mas de mostrar como equívocos de origem na construção do sistema criam obstáculos monumentais à sua própria reforma - um dos temas constantes neste espaço.

E, por falar nisso, os leitores podem até pensar que é provocação ou idéia fixa deste espaço, mas resulta evidente que todo o sistema funcionaria melhor se fosse privado, dos aeroportos ao controle do tráfego. Começa que o sistema seria autofinanciado.

Hoje, passageiros e companhias aéreas pagam taxas salgadas, como a tarifa de embarque, que deveriam ser integralmente destinadas ao financiamento de todos os serviços, da manutenção e construção de aeroportos até ao sistema de controle do tráfego.

Se tudo isso estivesse por conta de uma entidade civil autônoma, uma concessionária privada ou, digamos, uma associação formada pelas empresas aéreas e representantes dos passageiros, o dinheiro iria direto para o caixa dessa administradora. Hoje, nessa confusão de administração civil e militar, o dinheiro circula pelo caixa do governo e aí cai nas prioridades dos governantes do plantão.

É verdade que a estatal Infraero está tocando obras pelo Brasil afora, o que faz muito bem. Mas é evidente que o serviço está atrasado e é insuficiente. Aeroportos recém-reformados, como o de Congonhas, continuam congestionados. Mas, como estatal, a Infraero não tem recursos para mais. A prioridade do gasto público há muito tempo não está nos investimentos em infra-estrutura.

Por que não privatizar aeroportos e/ou passar a construção de novos a empreiteiras? O presidente Lula não gosta da palavra privatização. Diz que isso é vender patrimônio, algo muito diferente, acrescenta, de conceder serviços públicos a empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, inclusive pelo sistema das Parcerias Público Privadas. Isso ele topa.

Já serve. Eis um projeto para o segundo mandato: conceder todo o serviço aéreo, do aeroporto ao controle, a empresas privadas. Nem precisaria vender a Infraero, ela ficaria, competindo com as empresas privadas, perdão, com as parceiras. Já pensaram poder escolher entre embarcar num aeroporto da Infraero ou em outro administrado por uma concessionária privada?

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Postby Danilo » 06 Nov 2006, 09:07

Pregunta: se o Banco do Brasil e a Petrobrás foram bem, será que não teriam sido melhor sem o controle do Governo?

Arresposta dum orkutiano que não escreve em miguxês: elas são exemplos vivos de que não é necessário privatização para se terem ótimos resultados. A Petrobrás é o maior exemplo de eficiência administrativa ao atingir esses números, sendo a maior empresa latino-americana. Nem a Venezuela que é exportadora de petróleo e membra da OPEP com sua PDVSA conseguiu um resultado desses. Ou o BB que conseguiu lucros maiores do que muitos bancos privados? Existem inúmeros concorrentes que são empresas privadas. Porque não conseguem tais números, por exemplo. Não podemos dizer que simplesmente privatizar é a solução, pois já se mostrou que não é necessário. Sendo estatais com eficiência administrativa elas pagam impostos e ainda lucram (e seu lucro se transforma em dinheiro corrente para investimentos). Sendo privatizadas os seus impostos não chegariam nem aos pés de seus lucros.

Será?
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Postby mends » 06 Nov 2006, 09:18

membra da OPEP


menas erudição, cumpanhêro, menas...

Ou o BB que conseguiu lucros maiores do que muitos bancos privados?


O BB tem contas cativas de funcionários públicos, só pra dar um exemplo. E, como vc pode ver no Estadao de ontem, eles mantêm contabilidades paralelas, cujos números são menos "legais", digamos assim.

elas pagam impostos


Tenho minhas dúvidas se estatal RECOLHE imposto. No balanço elas lançam, mas não sei se chegam a recolher.

Sendo privatizadas os seus impostos não chegariam nem aos pés de seus lucros.


Analfabetismo lógico. Impostos nunca chegam aos "pés" dos lucros porque são uma percentagem deles.

Agora, o analfabetismo econômico-administrativo:

1-Empresas estatais nunca serão tão eficientes como empresas privadas simplesmente porque respondem a incentivos que não a maximização de seu valor para o acionistas; empresas estatais aceitam projetos por razões outras que não a racionalidade econômico financeira, e o caso da Bolívia é exemplar: sem controle operacional e societário, como ficou o acordo, nenhuma empresa aceitaria investir em país com risco político do nível da Bolívia. Além disso, a arbitragem do contrato foi RETIRADA da Holanda e repassada pra Bolívia (se der merda, quem julga são os bolivianos).

2-Empresas estatais, no mínimo, trocam de comando a cada quatro anos, e colocam pessoas no comando que NUNCA estariam lá (Antônio Palocci conselheiro da Petrobrás só neztpaís).

3-Não vi o lucro da PDVSA, mas vi o balanço da PETR4, como sempre, e tenho a dizer o seguinte: LUCRO É OPINIÃO, CAIXA É FATO. A PDVSA pode ter menos lucro que a PETR4 ao bancar todas as loucuras chaviztas. Se quiser comparar a operação das duas, compara pelo EBITDA, o que vai ser conceitualmente "sujo" (EBITDA não é proxy confiável de geração de caixa), mas é mais aceitável que a comparação pelo lucro. Ou pega o EBIT, acho melhor.
E a comparação, pra tirar o "efeito governo" deve ser entre a PETR4 e uma do seu tamanho, mas privada. Pega o EV/EBITDA da de uma empresa que tenha EBIT semelhante em dólar e compara com o EV/EBITDA das ADR's (american deposit repositary) da PETR negociadas na NYSE. Vê quanto o mercado paga a menos pela PETR.
Isso só pra começar...
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Postby mends » 07 Nov 2006, 07:37

Telemar, BNDES e a mulher de César

Sei que o BNDES já fez a outras grandes empresas empréstimos semelhantes ao que fez à Telemar. Posso estar errado, mas acredito que R$ 2,4 bilhões numa bolada só, com o banco oficial assumindo todo o risco, sem instituições privadas como garantidoras do crédito, é coisa inédita ou quase. Em termos os mais objetivos, não haveria nada de errado. A Telemar tem capital, infra-estrutura, receita e uma carteira de clientes que justificam a empreitada. Só que há um probleminha.

É o chamado complexo de Mulher de César. A associação da gigante com uma empresa obscura como a Gamecorp, de que o filho de Lula é sócio, é algo que, até hoje, está para ser explicado. Não estamos falando de dinheiro de cachaça, mas de R$ 15 milhões. No país em que o governante escolhe um short decoroso em vez de uma sunga moral, ou o empréstimo não é concedido, ou a Telemar sai da Gamecorp. As duas coisas juntas, lamento, não são, para dizer pouco, decorosas. Especialmente quando há a suspeita de que o filho do presidente e seus sócios atuaram em Brasília como lobistas da... Telemar.

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