Pintando o sete

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Pintando o sete

Postby telles » 12 Jul 2007, 10:50

Para variar, do Tio Rei

Público pra quê? E um pouco sobre o mecenato
Uma reportagem sobre o cinema brasileiro na Ilustrada desta quarta é uma verdadeira aula de política, economia e até do caráter nacional. Nas suas duas primeiras linhas, Silvana Arantes já diz quase tudo: “Cada vez mais filmes brasileiros chegam aos cinemas — e menos gente vai vê-los”. O texto informa que a queda de público dos longas nacionais no primeiro semestre de 2007, na comparação com igual período do ano passado, é de 14,7%. Já o número de lançamentos cresceu 39%. Assinante lê a íntegra da reportagem aqui.

Por que será que isso acontece? A resposta é óbvia. Quem paga o cinema nacional, leitor amigo? Você. Por meio dos ingressos? Não! Isso traduziria a adesão dos nossos cineastas às leis de mercado, ao capitalismo, a uma sociedade livre. Coisa muito avançada para a taba. Nós sustentamos o cinema nacional por meio da renúncia fiscal e da plata das estatais, que financiam os nossos gênios. O espectador pode não comparecer, mas a verdade eterna está lá, estampada na tela, para quem quiser ver. No caso de a Petrobras ou Banco do Brasil financiarem um embuste, o que acontece? Nada! O departamento de marketing (ou sei lá quem) ganha um selo de “amigo das artes”.

Leiam outro trecho da reportagem: “Profissionais do mercado e setores do governo têm perspectivas diferentes sobre o enigma do caso brasileiro. Apontando ‘culpa’ dos filmes, o presidente do Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro, Jorge Peregrino, provoca: ‘Já se elegeu tudo quanto é vilão -a exibição, a distribuição, a [falta de] aliança entre TV e cinema. Vamos eleger o vilão da vez, que é o produto’. Por eliminação de alternativas, Rodrigo Saturnino Braga, diretor da Columbia/Buena Vista, chega a diagnóstico semelhante ao de Peregrino. ‘Há dinheiro para fazer filmes e há distribuidores mais do que suficientes. Portanto, não é problema do modelo de produção e de lançamento. Talvez o problema seja não estar encontrando o gosto do público.’”

Bidu! Os cineastas não são os únicos artistas a atribuir a outros o seu insucesso, é claro. Aliás, essa não é uma particularidade nem mesmo dos artistas. Os políticos, por exemplo, estão certos de que a culpa é sempre da imprensa. Mas sem dúvida os diretores de cinema são os mais aquinhoados pela sorte no Brasil: sempre recebem a sua grana, independentemente do sucesso do filme. Um poeta pode se achar, sei lá, uma reencarnação de Fernando Pessoa, de Auden ou de Yeats, ainda que não tenha leitores. Se for verdade, está ferrado. Vai comer o pão que o diabo amassou — e, ainda assim, terá de pedir. Se for mentira, melhor para ele, que morrerá se achando vítima da injustiça sem jamais saber que é uma fraude. Ah, mas não um cineasta!!! A diferença de conta bancária entre o gênio e o medíocre é nenhuma.

A realidade relatada nos números prova também uma outra mentira: a de que, deixado o cinema submetido apenas aos mecanismos de mercado, só se produzirão mediocridades comerciais. Então tá. O cinema brasileiro não depende do mercado para existir, como vemos: e onde é que estão as obras de arte, aquelas que dão de ombros para o público em busca apenas do apuro estético?

Mecenas
E novos erros vão se acrescentando aos antigos. Informa a Folha: “Com o programa ‘Vá ao Cinema’, previsto para ter início em setembro, a Secretaria de Estado da Cultura de SP pretende distribuir, até o final do ano, 500 mil vales a serem trocados gratuitamente por ingressos para filmes brasileiros. Participarão dessa fase do programa 50 cidades do interior do Estado -cada uma receberá 10 mil vales. Em 2008, a iniciativa deve abranger também a capital. Está prevista a distribuição de 2,4 milhões de vales. O acordo da secretaria é com os exibidores -ela adquire previamente os ingressos, e eles programam filmes nacionais nos municípios acertados.” O que o secretário de Cultura, João Sayad, está fazendo? Aplicando ao cinema uma variante da política de substituição de importações?

A iniciativa é, pra dizer o mínimo, discutível. Se o que se quer é incentivar o brasileiro a ir ao cinema ou oferecer ao pobre uma alternativa de lazer, por que ele tem de ficar condenado a ver filme nacional? Quer dizer que Sayad acha justo e humano que o paulista tenha o “direito” de ver, sei lá, Lua Cambará, que teve 59 espectadores, mas não o último Harry Potter? Pobre é agora piloto de prova dos gênios de si mesmos? Parece, no entanto, que o intuito é mesmo outro: é jogar um pouquinho mais de dinheiro público no cinema nacional. Se os filmes brasileiros não conseguem atrair o espectador, o estado paga para o espectador assistir ao cinema nacional.

Mecenas, vocês sabem, era uma espécie de ministro da Cultura de Otavio Augusto, o primeiro imperador romano Rico, como Sayad, era um incentivador das artes. Protegeu gente como Virgílio, Propércio, Horácio... Acho que fez muito bem. O mecenato, ainda hoje, no mundo inteiro, garante muita coisa boa em arte. A diferença é que os nossos cineastas não são Virgílio. Ah, claro: Mecenas fazia aquilo com o seu próprio dinheiro, não com o da plebe rude de Roma.
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Postby Danilo » 19 Jul 2008, 13:22

Arte disfarçada de lixo ou lixo disfarçado de arte?

Image
O doido do Marcel Duchamp, em 1913, instalou uma roda de bicicleta sobre um banco, e começou a chacoalhar as artes plásticas. Pois é quando começa a ser posto em dúvida o que é arte. O ready-made Roda de Bicicleta e muitas outras peças do artista, estão expostas no MAM, que comemora 60 anos com a abertura da mostra "Marcel Duchamp: Uma Obra de Arte que Não É uma Obra de Arte".
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Postby mends » 19 Jul 2008, 13:44

é o contrário: é um exemplo de livro texto de lixo disfarçado de arte.
"I used to be on an endless run.
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Postby Danilo » 19 Jul 2008, 14:08

Exemplo de livro-texto?
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Postby mends » 19 Jul 2008, 17:49

exemplo típico...
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vanguardas

Postby Danilo » 19 Jul 2008, 21:17

Hum... então o que é arte e o que não é? Assinale se "SIM, É" ou se "NÃO É":

Image
1) Noite Estrelada do Van Gogh

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2) Casas do Estaque do George Braque

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3) Árvore Cinza do Piet Mondrian

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4) Composição, também do Mondrian
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Re: vanguardas

Postby mends » 20 Jul 2008, 20:57

Só 1 é arte. Sabe por que?

Porque Van Gogh pode ser Mondrian quando quiser, mas o oposto não é verdadeiro. Picasso poderia pintar como Michelângelo, mas subverteu a perspectiva e criou outra forma de ver as coisas.

Jackson Pollock simplesmente achou que respingos fossem legais.
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vanguardas

Postby Danilo » 20 Jul 2008, 21:38

Uai, mas a 2 é quase um Picasso. De 1908 a 1914, Picasso e Braque trabalham de forma colaborativa, o que resulta em obras bem semelhantes... o mesmo jeitão de misturar imagem com fundo, de decompor dos objetos e espaço, e sobreposição e justaposição de pontos de vista.

E estendendo a pergunta pra esculturas. Qual é e qual não é arte?

Image
1) Burgueses de Calais (com uns 2m, em bronze) do Auguste Rodin

Image
2) Construção linear no. 4 (bronze, aço e corda de piano) do Naum Gabo.

Image
3) Mais ou menos 1,3m de peças de Lego do Nathan Sawaya
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Re: vanguardas

Postby mends » 21 Jul 2008, 00:53

Do começo: o que é Arte? Ou melhor: qual o ofício do Artista?

O que o artista faz é produzir, da sua experiência interna ou externa, algo análogo a essa experiência, pelo cruzamento de uma dupla exigência: a máxima comunicabilidade no vocabulário geral, e a máxima fidelidade — ou, o que dá na mesma, infidelidade genial e enriquecedora — às convenções e tradições de ofício.

Máxima comunicabilidade no vocabuário geral = arte não é para "iniciados". Se "precisa" de PhD pra "entender", não é arte. Não quer dizer que É o tchan seja arte, mas significa necessariamente que a Arte não é um conjunto de símbolos esotéricos e especializados.

Máxima fidelidade às convenções de OFÍCIO: pode existir vanguarda? deve. Mas dá pra ser vanguarda estando totalmente descolado de algo que veio antes, sem "conversar"com o anterior? não.

Ou vai me dizer que 'O Urinol', do Deschamps (vai procurar, não vou colocar foto) é arte?
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antiarte

Postby Danilo » 21 Jul 2008, 01:25

O que é Arte?
Boa pergunta. A princípio, daria pra dizer que é o conjunto de criações com o máximo valor nas áreas da música, dança, pintura, escultura, literatura, teatro e cinema. Não? Sendo que o máximo valor pode ser o que você disse sobre comunicabilidade e (in)fidelidade. Quase dá pra acrescentar também o mínimo de reprodução... mas literatura e cinema acabam quebrando a regra. Se bem que, em termos gerais, música e dança também são um pouco difíceis de enquadrar.

O que o Duchamp, e os dadaístas e o surrealistas fazem é melhor classificado como antiarte. Pois dispensavam totalmente suportes e convenções tradicionais da expressão artística. Particularmente não gosto. Só que depois vieram tantos movimentos doidos (pop art, op art, land art, body art, arte conceitual, arte povera...) que não só os dadaístas e o surrealistas parecem mais razoáveis, como fica complicado saber o que deve ser considerado "convenção do ofício".
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Re: antiarte

Postby mends » 21 Jul 2008, 13:41

Há surrealistas e surrealistas...

Uma coisa é Salvador Dali. Outra coisa é Deschamps/Duchamps colocar um urinol e chamar de arte. Deschamps/Duchamps não conseguiria pintar como Dali, mas qualquer um faria "O Urinol".

E "arte povera", por exemplo? É a simples transposição do esquerdismo barato pra arte. Assim como essa discussão de que "o que é arte pra um é lixo pra outros" é a simples transposição do relativismo filosófico pras discussões de Estética. Sendo estética um ramo da filosofia, não dá pra fugir dos movimentos filosóficos. Por isso a fixação do etéreo, típica da pós modernidade...ou seja, Andy Warhol é o Michel Foulcalt da arte...

Ortega y Gasset já disse uma boa sobre esses caras, em seu ensaio "A Desumanização da Arte": "Em vez de pintar coisas puseram-se a pintar ideias ". Aliás, nesse mesmo genial ensaio, Gasset diz, sobre arte e artistas:

a) "O prazer estético deve ser um prazer inteligente ". Para ser inteligente, deve ser...inteligível! A arte como dialeto para iniciados fica como a pontuação do tênis, sem lógica com o propósito de se manter um jogo elitista. Então, a pretensa "democratização da arte" é sim, como todo esquerdismo, uma aristocracia às avessas, a glorificação da mediocridade.

b) "O que distingue um grande poeta é o fato dele nos dizer algo que ninguém ainda disse, mas que não é novo para nós". De novo, o criar sobre ombros de gigantes, e não o criar espontâneo.
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60 anos do MASP

Postby Danilo » 22 Jul 2008, 15:57

Se for usar a definição do Gasset, a maior parte do que foi produzido pelos movimentos/estilos do século XX pra cá é "arte para artistas".

Image

De qualquer forma, pra quem gosta o mínimo de arte de qualquer tipo, o que está exposto no MASP atualmente está imperdível. Na exposição A Arte do Mito tem até uma estátua de mármore feita por um escultor grego do século IV a.C, passando por bastante coisa do século XIV até o XIX. Na exposição A Natureza das Coisas tem uma variedade de obras de gente como Picasso, Van Gogh, Matisse (de quem é o quadro acima), Monet, Cézanne, Gaugin, Constable, e Turner. Ainda no segundo andar, tem uns quadros famosos do Portinari. No primeiro andar tem mais de 80 desenhos de pintores espanhois: Dalí, Picabia, Miró...

Improvável alguém sair de lá sem gostar de nada. Recomendo ir antes que roubem as obras! :P
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fotografia

Postby Danilo » 23 Aug 2008, 13:06

E a fotografia... é arte?

Traz, normalmente, máxima comunicabilidade no vocabulário geral, e também a máxima fidelidade. Ou seria a fotografia uma técnica para codificar em imagem o mundo pessoal daquele que fotografa? Ou meramente uma técnica?

Ah, já que não tratamos de música aqui, desmembrei o tópico do original (viewtopic.php?f=23&t=219).
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Sujando a Bienal

Postby Danilo » 27 Oct 2008, 23:02

Fundação Bienal condena invasão e repinta locais pichados

No dia de abertura da 28.ª Bienal de São Paulo para o público um grupo formado por cerca de 40 pichadores entrou no pavilhão e por volta das 19h35 começou a pichar grande área do segundo andar do prédio. Seguranças entraram em choque corpo-a-corpo com os pichadores e o resultado foi grande tumulto no prédio. Um vidro no primeiro andar foi quebrado durante a fuga dos pichadores, que conseguiram escapar, exceto uma jovem identificada como Carol, de 23 anos. Detida pelos seguranças do evento foi presa pela Polícia Militar.

As pichações começaram a ser apagadas na noite desta segunda. Em reunião ocorrida hoje, a instituição, em acordo com os curadores da 28.ª Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen, decidiu tirar as pichações que tomaram paredes e colunas do pavimento totalmente vazio de obras, como parte do projeto curatorial desta edição do evento. Até que termine o trabalho de perícias, as pichações ainda poderão ser vistas pelo público. Em nota oficial, a Fundação Bienal de São Paulo e a curadoria do evento lamentaram e condenaram "a invasão e o vandalismo ocorridos no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera. Trata-se de um ato criminoso, previsto em lei, contra um patrimônio público, o edifício da Bienal, o meio ambiente, a área preservada do Parque Ibirapuera".

(texto completo em http://www.estadao.com.br/arteelazer/no ... 7741,0.htm e enquete em http://www.estadao.com.br/pages/enquete ... nquete=324)
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Animação!

Postby Danilo » 03 Mar 2009, 00:16

Esse stop-motion é pra quem jogou Atari:

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