Em abril de 2006, o governo torrou 40 milhões de reais em uma campanha publicitária para anunciar que o Brasil tinha passado a produzir mais petróleo do que consome. Mas, apesar da festa toda, a auto-suficiência não ocorreu até agora. A produção da Petrobras emperrou, o consumo aumentou e o déficit na balança comercial de óleos e derivados voltou a crescer. O rombo em 2008 deve atingir 8 bilhões de dólares. Sobrou pirotecnia também no ano passado, com a descoberta do megacampo de Tupi. À época o governo afirmou que as reservas brasileiras, hoje em 14 bilhões de barris, poderiam subir para 22 bilhões de barris. As primeiras investidas apontam, de fato, para volumes expressivos de gás e petróleo na região. Mas é extremamente cedo para dizer se ou quando essas reservas poderão ser exploradas.
Na semana passada, dados referentes à Petrobras foram novamente usados para alimentar pirotecnias políticas. Haroldo Lima, diretor-geral da ANP declarou que a Petrobras havia descoberto uma megajazida petrolífera na Bacia de Santos. Segundo ele, prospecções iniciais indicariam que o campo, guardaria reservas de 33 bilhões de barris de petróleo. Se confirmada, seria a terceira maior reserva petrolífera do planeta. Fatos relevantes que envolvem empresas de capital aberto e milhares de acionistas, como é o caso da Petrobras, precisam ser divulgados com rigor e transparência. A declaração de Lima, ao contrário, foi feita num horário extremamente inadequado, quando o pregão da bolsa de valores estava aberto, desencadeando imediatamente especulações com as ações da Petrobras, que tiveram uma forte alta de mais de 5%.
Segundo esclareceu a Petrobras mais tarde, os estudos sobre o potencial da jazida ainda nem foram concluídos. Por enquanto, a empresa tem apenas indícios de que há reservas "expressivas" na camada de pré-sal dessa região, uma área de 800 quilômetros de extensão entre o litoral de Santa Catarina e Espírito Santo. Portanto, ainda não se sabe o real tamanho do campo nem se sua exploração é viável economicamente. O veio petrolífero está a cerca de 7 000 metros abaixo da linha d’água. Analistas estimam, é verdade, que as descobertas na camada de pré-sal, a nova fronteira exploratória do país, poderiam chegar a até 70 bilhões de barris. Com elas, o Brasil estaria entre os dez países com as maiores reservas do planeta. Mas a prospecção será um monstruoso desafio tecnológico e financeiro.
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