Crise

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O resumo da encrenca

Postby Danilo » 11 Oct 2008, 17:53

O resumo da encrenca
Por Michael Rozeff

Depois que o obsceno pacote de $850 bilhões foi aprovado, as bolsas em todo o mundo só despencaram. O resgate, ao que tudo indica, não logrou fazer aquilo que todos (exceto os economistas austríacos) falaram que ele iria fazer: a crise financeira já chegou à Europa e o crédito segue contraído. Os estados podem lutar contra outros estados e contra oponentes políticos e vencer, mas há um inimigo invencível que os estados nunca serão capazes de superar: o sistema de preços.

Nenhum governo é capaz de impedir a deflação nos preços dos ativos e as conseqüentes quebras de empresas e bancos que não estão bem preparados. As quantias em jogo são muito altas e nenhum estado tem como tomar medidas financeiras que acabem com as falências e insolvências. Se tentar fazê-lo, como está fazendo agora, o resultado será hiperinflação e um conseguinte controle de preços e de capitais.

Duas forças opostas estão em funcionamento: a implacável deflação nos preços dos ativos e as tíbias tentativas do governo americano de reinflá-los novamente. Os esforços do governo não conseguirão fazer com que todos os agentes econômicos parem de querer se proteger das conseqüências de futuras quebras. Se o governo continuar inflacionando, ele vai apenas incentivar os agentes a se proteger ainda mais das conseqüências dessa política. Logo, o governo vai recorrer a medidas cada vez mais fortes. Por isso, o caminho que o governo resolveu seguir - que é o de dar sustento a instituições insolventes e dar sustento aos credores dessas instituições - é o caminho certo para uma depressão prolongada recheada de elementos inflacionários.

No final, a continuar nesse caminho, os governos se verão forçados a controlar toda a economia. E isso em escala mundial. A deflação dos preços dos ativos irá vencer. Uma grande depressão será inevitável. As ações ainda podem cair muito mais em tal cenário. E isso tudo pode ser acompanhado por uma inflação de preços em várias outras áreas. A um grande grau de estagflação é para onde o governo está conduzindo a economia. Ou já podemos cunhar um novo termo: depflação - mistura de depressão com inflação.

Uma enorme criação de dinheiro não é a solução para um ciclo de expansão e contração que foi gerado justamente por uma enorme criação de dinheiro em escala global. Uma hiperinflação pode destruir uma civilização. Mas esse é o caminho que os aterrorizados bancos centrais escolheram. Mas dessa vez, não se preocupe, você não precisará levar um carrinho de mão lotado de papel-moeda ao supermercado. Você poderá usar seu cartão de débito.

Mas será que os mercados de crédito não vão entrar em colapso?

Alguns observadores admitiriam a legitimidade da análise acima. "Entretanto", eles podem contestar, "o plano Paulson [o secretário do Tesouro americano], ou o que quer que seja, de utilizar $850 bilhões é necessário para prevenir um total colapso do sistema financeiro. Não se está tentando estimular o investimento agregado; apenas se está tentando desobstruir um encanamento entupido, isto é, fazer o crédito voltar a circular".

Esse papo de colapso no sistema financeiro é um espantalho. Steve Landsburg, da revista The Atlantic, demoliu esse mito de maneira tão peculiar que eu simplesmente vou transcrevê-lo:

"E então, o que há de tão especial com os bancos [para merecerem esse socorro]? De acordo com o que ando lendo, a resposta-padrão é que, sem bancos, ninguém pode conseguir empréstimos, e assim a economia paralisa.

"Bem, vamos conversar sobre isso. Bancos não emprestam seu próprio dinheiro; eles emprestam o dinheiro dos outros (tanto de seus depositantes quanto de seus acionistas). Se os bancos desaparecerem, isso não significa que os emprestadores também irão. Pessoas que querem tomar empréstimos ainda continuarão atrás de empréstimos e emprestadores ainda continuarão querendo emprestar. A única questão é se esses dois pólos serão capazes de se encontrar.

"...Como qualquer usuário do match.com ou do Kiva.org pode lhe atestar, a tecnologia para se encontrar parceiros melhorou bastante desde 1930. Se uma empresa quiser levantar capital, por que ela não pode simplesmente vender títulos pela internet? Ou emitir novas ações? Ou consultar alguns hedge funds que estão nadando em dinheiro? Ou pegar emprestado no exterior?

"... Não estou muito convencido de que esses grandes bancos de Wall Street são realmente necessários, e também não estou convencido de que sentiríamos muito sua falta se eles se fossem. Talvez eu não esteja a par de alguma coisa; se for isso, acho que é o dever dos senhores Bernanke, Paulson e, principalmente, Bush explicarem o que realmente se passa."

Como Murray Rothbard certa vez disse:

"Empresários e produtores podem tanto ser genuinamente pró-livre mercado como podem ser estatistas; eles podem prosperar através do livre-mercado ou através de privilégios e favores especiais concedidos pelo governo. Eles escolhem de acordo com suas preferências e valores individuais. Mas os banqueiros.... esses têm uma inerente predileção pelo estatismo."

(original em http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=170)
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Re: Crise

Postby mends » 13 Oct 2008, 17:27

eu concordo em tese, mas teria cuidado com algumas coisas:

a) esses caras ainda pensam em um mundo "M1", onde a inflação é ESTRITAMENTE monetária. Inflação é sempre monetária, no longo prazo. Mas no curto/médio é mais sensível a M4, crédito. Algumas coisas mudam - dá pra imprimir dinheiro sem pressionar a inflacao, pelo menos mais do que antes. A minha crítica ao plano é um pouco na direcao do texto, mas nao acredito em apocalipse.

b) eu discordo da visão libertária do quão amplo é o Kiva etc; ele funcionaria pra um mundo de vendinhas e prestamistas de vilarejo. Operações complexas exigem abordagens complexas, e pra isso os bancos ainda sao necessários.
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Re: Crise

Postby Danilo » 01 Nov 2008, 17:14

O fim dos homens alfa
Por Stephen Kanitz

A crise mundial que estamos presenciando é um fenômeno conhecido por zoólogos como o estouro da manada. Ela ocorre quando os machos alfa se assustam por alguma razão, seja um vulto de leão, um relâmpago ou um trovão. Sem analisar a situação por um segundo, fogem em pânico, na esperança de que comido será o bezerro retardatário. As fêmeas, surpresas, fogem atrás, seguindo "o nobre exemplo" do macho alfa em disparada. Os primeiros a sair gritando "fogo", numa casa de espetáculos, e dizendo que "200 bancos americanos vão quebrar e o mundo vai derreter" foram os machos alfa. O alfa dos alfas, o diretor-geral do FMI, saiu a público afirmando que as bolsas iriam derreter 20% em dois dias, algo que uma pessoa na sua posição jamais poderia dizer. Boa parte daqueles que saíram resgatando fundos de investimento foram pessoas inocentes, que confiavam nos profissionais do Fed e do FMI. Mas, se eles mesmos estão em pânico, o pânico se espalha.

O macho alfa sobrevive usando a força bruta, e não a inteligência. Ele quer e detém o poder. É sedutor, aprende a falar bem, acha que sexo se consegue ou com poesia ou mentindo descaradamente. Numa crise, são os homens alfa os mais interessados em aparecer, no rádio ou na televisão, que, devido à concorrência, baixam seu padrão de seleção. Eles tratam primeiro de salvar a própria pele. Raramente pensam nos mais fracos, como gostam de afirmar, muito menos procuram acalmá-los. Nenhum alfa brasileiro saiu acalmando os investidores brasileiros ou estrangeiros, mostrando-lhes que o Brasil não tinha esse tal de "subprime", nem "alavancagem financeira", nem bancos com prejuízo, prestes a quebrar. Só disseram que a crise iria piorar e atingiria o Brasil, profecia que se cumpriu. Nenhum alfa brasileiro saiu apresentando fatos concretos, informando que nossos bancos financiam governo, e não imóveis, que nosso crédito ao consumidor não passa dos 36% do PIB, contra os 160% do americano, que metade dos bancos já era estatal, que o momento era para comprar ações dos alfas apavorados, e não para sair vendendo junto. "Será pior do que 1929", berrava o professor Nouriel Roubini, encantado com sua súbita notoriedade, correndo de entrevista em entrevista. "Será igual a 1929", afirmava o antigo alfa aposentado Alan Greenspan, quando o correto teria sido o silêncio.

O desemprego nos Estados Unidos não chegará aos 24% de 1929 nem 4.000 bancos quebrarão. E, mesmo que 4.000 bancos quebrassem, o dinheiro hoje está em fundos DI, e não em contas remuneradas. Os fundos DI e de investimento estão no nome dos cotistas, e não dos bancos. Eles conseguiram, com suas previsões, provocar uma corrida aos fundos de investimento, e não aos bancos, como em 1929. As fotos do professor Roubini rodeado de mulheres são sintomáticas de alguém que quer ser associado aos alfas, ao contrário das fotos de Hank Paulson e Sheila Bair, do FDIC (a agência federal de seguro de depósitos), tentando conter o estouro da manada. Como nessas horas nossos instintos são parecidos com os dos animais, machos alfa contaminam gente inocente. O homem ômega e a maioria das mulheres têm coisas mais importantes a fazer no meio de uma crise, como cuidar das crianças e das finanças em perigo, do que dar entrevistas. Não se culpe por ter-se deixado levar por homens que você achou que eram mais inteligentes do que você. A crise caminhará para o fim quando os alfas cansarem de correr.

Na próxima crise, tenha mais cuidado com o poder de persuasão e sedução dos homens que querem aparecer. Aplique seu dinheiro com homens ômega mais velhos, preferencialmente avós experientes, gente que não se abala com crises, pois já as viu acontecer muitas vezes. Ignore solenemente os homens alfa, daqui por diante. Eles são um atraso evolutivo e estão em extinção. Vire a página, mude de canal. Ouça mais aquele homem ômega que você tem em casa, aquele que não se desesperou, correndo e berrando "fogo" numa casa de espetáculos. Confie naquele que lhe deu apoio e proteção, naquele que se preocupa com os retardatários e que ficou ao seu lado. Eles são os verdadeiros "machos" da história da humanidade, o resto é balela e encenação.

(http://veja.abril.com.br/051108/p_024.shtml)
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Re: Crise

Postby Danilo » 12 Jan 2009, 19:27

Real é moeda com maior oscilação na AL

Mesmo decorridos mais de três meses do acirramento da crise, em setembro passado, o real continua a ser de longe a moeda mais volátil dentre as principais da América Latina. A consultoria Economática comparou a volatilidade do dólar americano em relação às moedas de sete países, além da do Brasil: o peso do México, o peso chileno, o peso da Colômbia, o sol novo, do Peru, o peso argentino, o bolívar da Venezuela, além do próprio dólar com relação ao euro, desde 1º de outubro de 2008 até a quinta-feira passada.

O real oscilou 48% no período. O peso mexicano ficou em segundo lugar, com 33,5% de volatilidade, seguido pelo peso chileno, com 23,4%.
A volatilidade é o desvio-padrão das oscilações diárias. Pode ser uma medida da oscilação do câmbio nesses países, como no estudo da Economática, ou de ações ou de um índice do mercado.

Volatilidade é incerteza. O risco-Brasil, medido pelo índice Embi+, do banco JPMorgan, tem oscilado muito e reflete a menor confiança dos investidores globais no país. Fechou na sexta-feira passada em 422 pontos, porém tem variado recentemente entre 380 pontos e 500 pontos.
As perspectivas são ruins para os preços de commodities num ano que começa com as economias desenvolvidas em recessão, o que também afeta a moeda brasileira.

(original em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinhei ... 200916.htm)
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Re: Crise

Postby mends » 14 Jan 2009, 16:06

Explicação superficial.

O que acontece é o seguinte: os papéis brasileiros são os que apresentam maior liquidez entre os emergentes no mercado. Em tempos de incerteza, a volatilidade realmente aumenta, o que aumenta a liquidez, o que pode aumentar a volatilidade e por aí vai...

Em tempo: o índice do Morgan Stanley mede o risco SOBERANO do País. Nada a ver com o risco da economia: trata-se do risco do governo dar calote, e é muito mais uma função dos gastos do governo que da economia do País...

Mas como jornalista não quer saber de estudar...
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Re: Crise

Postby Danilo » 30 Jan 2009, 19:46

Se o Mends passou essa sexta perto de uma banca deve ter dado risada da capa da Carta Capital:
Image

Do site deles: Nenhuma das edições mais recentes do Fórum Econômico Mundial (WEF, segundo a sigla em inglês) permitia prever o tema de Davos 2009 e seu caráter imperativo e intervencionista (...) Os encontros precedentes haviam sido abertos por alguns dos líderes ocidentais mais confiantes na livre empresa, como Angela Merkel (2006 e 2007) e Condoleezza Rice (2008). Desta vez, o discurso de abertura foi proferido em 28 de janeiro pelo primeiro-ministro russo, Vladimir Putin.
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Re: Crise

Postby mends » 31 Jan 2009, 08:52

nao vi. mas nao teria dado risada. estou é cada vez com mais medo: de que a crise dure demais, por exemplo...
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Re: Crise

Postby Danilo » 31 Jan 2009, 13:17

Achei que você ia falar de excesso de regulamentação e afins. Bom, como estava vendo que só em viewtopic.php?p=13524#p1352 aparecem os termos Fannie May (FNMA) nem Freddie Mac (FHLMC), e em um texto em inglês, segue a fusão de dois artigos na nossa flor do lácio:

O pior da crise

Em setembro de 1999 os jornais informam que o governo Bill Clinton estava pressionando as agências hipotecárias a flexibilizar as regras de concessão de empréstimos. O objetivo era estender os financiamentos para aqueles clientes do "chamado subprime". Começava aí a crise do setor imobiliário que iria aparecer apenas em 2007. Fannie Mae e Freddie Mac não davam financiamentos diretos ao mutuário, mas compravam as hipotecas e financiavam os bancos que emprestavam ao comprador da casa. Eram agências privadas, mas cujos títulos tinham garantia do governo. Eram paraestatais.

As intervenções governamentais, visando estimular o consumo e a aquisição da casa própria, criaram distorções como taxas de juros irrisórias e a expectativa de que, no final, o governo, através de suas Freddie Mac e Fannie Mae, assumiria os prejuízos decorrentes de empréstimos mal concedidos. De 2004 a 2006, estas agências compraram US$ 434 bilhões em títulos garantidos por financiamento subprime. Esta distorção abalou a principal regra moral do sistema, a da responsabilização individual, fazendo com que os agentes econômicos perdessem o senso de responsabilidade, gerando e distribuindo riquezas totalmente artificiais. Ao contrário do que supõem alguns, em um ambiente assim, nem mesmo severas regulações seriam capazes de deter a conduta dos bancos e corretoras. O modo de corrigir a crise, infelizmente, incorre nos mesmos equívocos morais que a geraram.

O governo americano, sob o pretexto de proteger a economia, logo se vergou à pressão de grandes grupos empresariais, passando a socorrer empresas cronicamente inviáveis. Ora, para a saúde do sistema, melhor seria deixá-las à própria sorte, perdendo empregos, mas sinalizando que o governo não está aí para ajudar, com dinheiro público, empresas em dificuldades. A crença infantil – por alguns anos guardada no armário, de que o Estado gastador é capaz de resolver os problemas econômicos, inclusive socializando prejuízos privados, infelizmente está de volta. O fundamento do capitalismo é o incentivo ao trabalho, à poupança e a inovação, em um jogo com regras justas, previamente definidas e sem favoritismos. O pior desta crise, neste contexto, certamente não será a falta de crédito, que mais cedo ou mais tarde passará, mas a deterioração da ética capitalista, cujos efeitos serão muito mais nocivos e duradouros.

(Original em http://www.imil.org.br/artigos/o-pior-da-crise/ e http://clippingmp.planejamento.gov.br/c ... o-comecou/)
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