Insanidades

Fale sobre qualquer coisa aqui!
(Insanidades, curiosidades, mulheres, design, e outros blábláblás...)

Postby mends » 15 Feb 2007, 09:35

O que acontece com um assassino na Inglaterra e o que aconteceria com ele no Brasil
O Brasil, como vocês sabem, é inteligente. A Inglaterra é estúpida. No Brasil, conforme eu previ aqui ontem, a OAB e a CNBB se reuniram para debater o que fazer contra o crime e chegaram ao consenso de que não há muito a fazer: o problema, segundo entendi, é nosso. Os padres e os advogados querem que fiquemos calmos. Nada de decidir sob pressão emocional. Já na Inglaterra, um país idiota, um sujeito chamado Roberto Malasi matou uma mulher quando era menor de idade. Tinha 17 anos. Num país sábio como o nosso, ficaria três anos internado e seria posto na rua aos 20 anos. Naquele país de imbecis, vejam só, ele ficou preso até a maioridade e foi julgado. Pegou prisão perpétua. A mulher assassinada estava com um bebê no colo. Os ingleses, cretinos que são, consideraram isso inaceitável. O assassino tinha três comparsas, todos menores de 18: tinham 15, 16 e 17. Ficarão internados, no mínimo, 8 anos. Vão para a rua depois? Não! Serão avaliados. A depender do que acontecer, podem pegar pena de até 30 anos. No país, como já informei aqui, uma pessoa pode ser responsabilizada por seus crimes a partir dos 10 anos. Até os 18, cumpre pena em lugar próprio para menores. Depois, é cadeia de gente grande. Mas sabem como é... Querem acabar com a ilha da rainha em três tempos? Mandem pra lá Márcio Thomaz Bastos, um bispo da CNBB e o presidente da OAB. Eles sabem o que fazer com Malasi.

http://www.reinaldoazevedo.com.br
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 15 Feb 2007, 14:12

Um adolescente de 16 anos fazia parte da quadrilha que arrastou o corpo de João Hélio, 6 anos, pelas ruas do Rio.
A cada vez que um menor comete um crime repugnante (homicídio, estupro, latrocínio), volta o debate sobre a maioridade penal.
Em geral, o essencial é dito e repetido. E não acontece nada. Aos poucos, o horror do crime é esquecido. Não é por preguiça, é por hipocrisia. Preferimos deixar para lá, até a próxima, covardemente, porque custamos a contrariar alguns lugares-comuns de nossa maneira de pensar. 1) A prisão é uma instituição hipócrita desde sua invenção moderna.
Ela protege o cidadão, evitando que os lobos circulem pelas ruas, e pune o criminoso, constrangendo seu corpo. Mas nossa alma "generosa" dorme melhor com a idéia de que a prisão é um empreendimento reeducativo, no qual a sociedade emenda suas ovelhas desgarradas.
A versão nacional dessa hipocrisia diz que a reeducação falha porque nosso sistema carcerário é brutal e inadequado. Essa caracterização é exata, mas qualquer pesquisa, pelo mundo afora, reconhece que mesmo o melhor sistema carcerário só consegue "recuperar" (eventualmente) os criminosos responsáveis por crimes não-hediondos. Quanto aos outros, a prisão serve para punir o réu e proteger a sociedade.
Essa constatação frustra as ambições do poder moderno, que (como mostrou Michel Foucault em "Vigiar e Punir") aposta na capacidade de educar e reeducar os espíritos. A idéia de apenas segregar os criminosos nos repugna porque diz que somos incapazes de convertê-los.
Detalhe: Foucault denunciou (com razão) a instituição carcerária, mas, na hora de propor alternativas (conferência de Montreal, em 1975), sua contribuição era balbuciante.
2) Em geral, para evitarmos admitir que a prisão serve para punir e proteger a sociedade (e não para educar), muda-se o foco da atenção: "Esqueça a prisão, pense nas causas". Preferimos, em suma, a má consciência pela desigualdade social à má consciência por punir e segregar os criminosos. Ora, a miséria pode ser a causa de crimes leves contra o patrimônio, mas o psicopata, que estupra e mata para roubar, não é fruto da dureza de sua vida.
Por exemplo, no último número da "Revista de Psiquiatria Clínica" (vol. 33, 2006), uma pesquisa de Schmitt, Pinto, Gomes, Quevedo e Stein mostra que "adolescentes infratores graves (autores de homicídio, estupro e latrocínio) possuem personalidade psicopática e risco aumentado de reincidência criminal, mas não apresentam maior prevalência de história de abuso na infância do que outros adolescentes infratores".
3) A má consciência por punir e segregar é especialmente ativa quando se trata de menores criminosos, pois, com crianças e adolescentes, temos uma ambição ortopédica desmedida: queremos acreditar que podemos educá-los e reeducá-los, sempre -e rapidamente, viu?
No fim de 2003, outra quadrilha, liderada por um adolescente, massacrou dois jovens, Liana e Felipe, que passavam o fim de semana numa barraca, no Embu-Guaçu. Depois desse crime, na mesma "Revista de Psiquiatria Clínica" (vol. 31, 2004), Jorge Wohney Ferreira Amaro publicou uma crítica fundamentada e radical do Estatuto da Criança e do Adolescente. Resumindo suas conclusões:
Ou o menor é consciente de seu ato, e, portanto, imputável como um adulto;
Ou seu desenvolvimento é incompleto, e, nesse caso, nada garante que ele se complete num máximo de três anos;
Ou, então, o jovem sofre de um Transtorno da Personalidade Anti-Social (psicopatia), cuja cura (quando acontece) exige raramente menos de uma década de esforços.
Em suma, a maioridade penal poderia ser reduzida para 16 ou 14 anos, mas não é isso que realmente importa. A hipocrisia está no artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente, segundo o qual, para um menor, "em nenhuma hipótese, o período máximo de internação excederá a três anos".
Ora, a decência, o bom senso e a coerência pedem que uma comissão, um juiz especializado ou mesmo um júri popular decidam, antes de mais nada, se o menor acusado deve ser julgado como adulto ou não. Caso ele seja reconhecido como menor ou como portador de um transtorno da personalidade, o jovem só deveria ser devolvido à sociedade uma vez "completado" seu desenvolvimento ou sua cura -que isso leve três anos, ou dez, ou 50.

Contardo Calligaris
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby junior » 16 Feb 2007, 09:47

Officials: Woman, 84, confesses to sex with boy, 11
POSTED: 0724 GMT (1524 HKT), February 16, 2007
Story Highlights
• Officials: Woman pleaded guilty to attempted sex abuse
• She will serve 36 months in prison after deal with prosecutors
• Sex with foster child in her care admitted in a taped confession
Adjust font size:
Decrease fontDecrease font
Enlarge fontEnlarge font

PORTLAND, Oregon (AP) -- An 84-year-old woman who confessed to having sex with an 11-year-old boy in her foster care reached a deal with prosecutors and pleaded guilty Thursday to attempted sex abuse, officials said.

Georgie Audean Buoy will serve 36 months in prison, said Leslie Wolf, chief deputy district attorney for Wasco County. She was originally charged with six counts, including attempted rape, for which she faced eight years in prison, Wolf said.

In a taped confession, Buoy admitted to having sex with the boy while he was in her care in 2004, Wolf said. Her age and lack of prior criminal convictions played a role in the plea deal.

Buoy's attorney, Andrew Carter, did not return messages Thursday.

Buoy, of The Dalles, was a longtime member of her church and volunteered at the county jail, Wolf said.

She must register as a sex offender after serving her sentence at a women's prison, and must pay $5,000 to the victim, as well as up to $7,500 in restitution for counseling.

Copyright 2007 The Associated Press. All rights reserved.This material may not be published, broadcast, rewritten, or redistributed.
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby mends » 16 Feb 2007, 16:45

Diogo Mainardi
E ainda fazem Carnaval?

"O que é isso? Tem gente sambando na ruas
do Rio? As mesmas ruas pelas quais arrastaram
aquele menino de 6 anos? A primeira medida
a ser tomada pelo poder público deveria ter
sido cancelar o Carnaval, decretando luto oficial"

Dum. Dum-Dum. Dum Dum-Dum Dum-Dum. O que é isso? Tem gente sambando nas ruas do Rio de Janeiro? As mesmas ruas pelas quais os assassinos arrastaram aquele menino de 6 anos? A primeira medida a ser tomada pelo poder público deveria ter sido cancelar o Carnaval, decretando luto oficial.

Lula comentou o crime:

– Isso não está no racional da humanidade e do mundo animal. Está no irracional da humanidade e do mundo animal.

Lula tem o direito de achar que seu cachorro Galego é mais racional do que qualquer um de seus ministros. Acredito que seja mesmo. O que ninguém pode aceitar é que ele transforme em chanchada uma tragédia desse tamanho. Ele degrada a morte do menino carioca com suas galhofas momescas.

Depois de discorrer sobre a origem do mal no mundo animal, como uma Hannah Arendt dos quadrúpedes, Lula recomendou que os parlamentares agissem com "cautela", com "serenidade", ignorando o clamor popular e o clima "passional" que se criou em torno do episódio. Isso significa que deputados federais e senadores podem fazer um pouco de jogo de cena agora, propondo medidas contra a criminalidade, mas, assim que a morte do menino sair do noticiário, tudo voltará a ser rigorosamente como antes. Desde que Lula foi eleito, cerca de 200.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Uma a mais, uma a menos, tanto faz.

Uma das propostas que Lula rejeitou foi diminuir a maioridade penal para 16 anos. Está certo. Melhor diminuí-la para 14 anos. Ou 10. Ou 7. Mas o fato é outro. Dos cinco acusados pela morte do menino carioca, só um era menor de idade. A gente precisa prender os menores de idade. A gente precisa prender também os maiores de idade. E sobretudo: impedir que eles sejam soltos.

Os criminalistas do petismo argumentam que é bobagem aumentar o tempo de cadeia dos bandidos. O que realmente conta, segundo eles, é que um criminoso tenha a certeza de que será pego. Isso é uma afronta à memória do menino assassinado. O chefe da quadrilha que cometeu o crime foi preso seis vezes nos últimos anos, e em todas elas o sistema judicial o soltou. Antes e depois que ele atingisse a maioridade. Quando ocorreu o crime, o petismo imediatamente responsabilizou a polícia. Ela merece ser responsabilizada porque tem antecedentes de roubo, achaque e morte. Mas no caso do menino assassinado a polícia fez e refez seu trabalho direitinho, oferecendo a certeza de que o criminoso seria capturado. Aplauso para a polícia. A falha foi do Código Penal, que libertou um condenado que tinha de continuar na cadeia.

A única resposta que poderíamos dar ao menino assassinado seria prender a bandidagem por mais tempo, abolindo a liberdade condicional e torpedeando o instituto da progressividade da pena, tanto para os crimes hediondos quanto para os crimes comuns. Crime é crime: todos devem ser punidos com o mesmo rigor. Se o chefe da quadrilha que roubou o carro tivesse ficado na cadeia até o fim de sua última pena, o menino ainda estaria vivo. Mas essa é uma causa perdida. O cachorro Galego é contrário. E é ele quem manda. Dum Dum-Dum Dum-Dum.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby junior » 18 Feb 2007, 09:17

João vai à guerra

O psicanalista Renato Mezan vê falha nos superegos dos assassinos do menino de 6 anos e alerta para o risco de esgarçamento do tecido social

RENATO MEZAN
COLUNISTA DA FOLHA

U m garoto de seis anos arrastado por vários quilômetros, preso ao cinto de segurança de um carro: a crueldade inominável desse ato chocou mesmo os policiais que o encontraram, após o abandono do veículo pelos bandidos que o queriam roubar -um deles menor de idade, outros tendo completado há pouco 18 anos. A primeira reação de quem toma conhecimento de um crime assim bárbaro é exigir que ele seja castigado, até por meios cruéis. Os assassinos deveriam experimentar na própria pele a dor que causaram ao menino e à sua família... Olho por olho, dente por dente. Mas, justamente, não somos bárbaros: a sociedade não pode reagir na mesma moeda que os criminosos.

Contudo sentimos necessidade de compreender como é possível um ato dessa natureza e se se podem tomar medidas para evitar sua repetição. A violência é uma constante na história da humanidade. Sob a forma de guerras, massacres, escravização dos vencidos, tortura e outras práticas, acompanha desde as cavernas a trajetória da nossa espécie.

Freud e Durkheim

Variam seus modos de expressão: ela pode ser coletiva, como nos exemplos acima, ou individual (crimes), física ou mental, aberta ou sutil, ocasional ou constante, neste caso configurando um estado de violência que eventualmente chega a desagregar o tecido social (o sociólogo Émile Durkheim chamava a isso "anomia", ausência de lei) -mas está sempre no horizonte da vida social. Freud a explicava como conseqüência da nossa constituição psíquica, "que inclui uma boa dose de agressividade" ("O Mal-Estar na Cultura"). Cobiça, ambição, inveja, rivalidade, raiva, desejo de vingança são sentimentos que fazem parte da natureza humana, e que desde sempre induziram atos violentos, cujo objetivo é assegurar a quem os pratica riqueza, glória, sucesso, reabilitação da sua auto-estima e assim por diante.

"Homo homini lupus", o homem é o lobo do homem, dizia o filósofo Thomas Hobbes. Ocorre que a sociedade não pode tolerar tais atos, e, para os coibir, criaram-se normas e punições para quem as viola. O medo do castigo -dor física, privação de liberdade, penas pecuniárias, morte- é um dissuasor eficaz, mas precisa ser complementado pela adesão de cada indivíduo aos valores promovidos por seu grupo -o que, segundo a psicanálise, é obtido pela instalação em sua mente de uma instância denominada superego.

É a ele que, como agente interno das normas externas, incumbe o controle dos nossos impulsos, em particular dos violentos. Em certas pessoas, porém, o superego falha em sua missão. Nelas inexiste, ou é muito precário, o sentimento de compaixão; seu comportamento revela que não vêem no outro um semelhante, mas um meio para satisfazer suas pulsões e fantasias ou, se ameaçar a realização delas, um obstáculo a ser eliminado. É o caso dos assassinos e, mais geralmente, dos psicopatas, que sempre colocam seus objetivos acima de qualquer outra consideração -e, para os alcançar, não têm escrúpulo em causar dano a quem quer que seja.

É claro que existem motivos sociais para o crime. Miséria, fome, desigualdade gritante podem gerar ódio e desespero, especialmente se a sociedade não oferece perspectivas de reduzir por meios dignos tais mazelas; quem as experimenta pode querer privar os mais favorecidos do que possuem, pois a situação é sentida como um acinte -por que ele e não eu? Mas é preciso cuidado para, a pretexto de "ser de esquerda", não invocar esses fatores como se fossem uma verdade absoluta, válida para qualquer caso -principalmente diante de crimes praticados com uma desumanidade que claramente satisfaz impulsos inconscientes.

Furtar uma carteira, arrancar a bolsa de uma mulher ou exigir o tênis de marca de um adolescente são coisas bem diferentes do que premeditar um assassinato ou cometê-lo nas circunstâncias da tragédia que vitimou João Hélio.

"Boneco de Judas"

O mais chocante, neste caso, é a frieza do jovem que, ao ser interrogado sobre por que não deteve o carro ao perceber o que estava acontecendo, respondeu que se tratava de um "boneco de Judas". Eis como uma tradição cultural (a malhação do Judas, em outros tempos freqüentemente acompanhada por ataques a judeus no sábado de Aleluia) pode criar uma racionalização da violência (é lícito punir os assassinos de Cristo) e um modelo de impunidade (se são culpados de deicídio, é um ato piedoso agredi-los). Nenhum motivo "social", porém, pode dar conta da crueldade dos assassinos. A vida é dura nas favelas, mas seus habitantes são via de regra pessoas decentes, incapazes de fazer o que eles fizeram: não é porque são desprovidos de muitas das coisas que desejam que saem por aí roubando automóveis ou matando crianças.

O que terá passado pela cabeça dos ladrões, ao perceber o que estava acontecendo do lado de fora do carro? Infelizmente, suspeito que nada. Nas pessoas normais, entre o impulso ou fantasia e o ato se interpõe todo um sistema de mediações: imagens, palavras, representações, expectativas, sentimentos e assim por diante. No indivíduo impulsivo, essas mediações são frágeis ou inexistentes: ele passa quase de imediato do impulso à ação e só depois se dá conta das conseqüências. O psicopata, que se caracteriza pela ausência do sentimento de culpabilidade, sequer se arrepende do que praticou, enquanto a pessoa simplesmente impulsiva pode querer reparar o dano que causou -quando este admite reparação, o que, está longe de ser o caso na tragédia do Rio de Janeiro.

Pode-se ter por inimputável alguém que faz algo desse gênero? Se for menor de idade, a lei brasileira não permite que seja condenado à mesma pena que um adulto. Aqui me parece necessário revisá-la, mesmo que menores de idade, estupradores e assassinos como Champinha (em Embu, em SP) ou como alguns dos jovens que causaram a morte do menino carioca não posssam ser colocados na mesma categoria que um "avião" de traficantes ou que um garoto que assalta por dinheiro. É óbvio que tais atos são intoleráveis; deve existir vigilância e repressão para os evitar, sem prejuízo da tentativa de recuperar, com medidas socioeducativas, o menor que os tiver praticado.

Reformulação da lei

Mas é nítida a fronteira entre delitos contra a propriedade, ou infrações leves, e crimes contra a vida e a integridade de outro ser humano. Sem cair em barbárie semelhante à dos assassinos de João Hélio, sem os querer linchar -numa manifestação de violência que nos colocaria no mesmo nível que eles-, é preciso reavaliar dispositivos legais que, ao garantir penas leves, em nada contribuem para dissuadir menores de praticar atos dos mais cruéis.

A lei deve ser reformulada, tomando-se as devidas cautelas para evitar precipitação e injustiça. Por exemplo, exames psicológicos poderiam ser realizados por dois peritos independentes, e o juiz se serviria desses laudos para tomar sua decisão. O que não pode continuar acontecendo é que crimes hediondos permaneçam, de fato, impunes -ou a banalização da violência acabará por rasgar o tecido já esgarçado da sociedade brasileira. O brado de Aline, irmã do menino assassinado, deve ser ouvido: "Justiça!".

RENATO MEZAN é psicanalista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de SP. Escreve na seção "Autores", do Mais! .
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby junior » 18 Feb 2007, 09:19

Razão e sensibilidade

O filósofo e estudioso do iluminismo Renato Janine Ribeiro repensa a pena de morte à luz da morte de João Hélio

RENATO JANINE RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Escrever sobre o horror em estado puro: assim vivi o convite para participar deste número do Mais!. É insuportável pensar no crime cometido contra o menino João Hélio. E é nisso que mais penso, nestes dias. Não me saem da cabeça duas ou três coisas. A primeira é o sofrimento da criança. Se há Deus, e acredito que haja, embora não necessariamente antropomorfo, como admite Ele esse mal extremo, gratuito, crudelíssimo?
Se a alma ou o espírito tem um destino após a morte, chame-se esse de juízo eterno ou de uma série de reencarnações, como poderá esse infeliz menino ser recompensado pela vida que lhe foi ceifada, não apenas tão cedo, mas, além disso, de modo tão bárbaro?
Essas são questões religiosas, ou melhor, de fé. E quanto aos assassinos? A outra coisa que não me sai da cabeça é como devem ser punidos. Esse assunto me faz rever posições que sempre defendi sobre (na verdade, contra) a pena de morte.
Anos atrás, me convidaram a escrever um artigo para uma revista de filosofia contra a pena de morte. Perguntei então: mas alguém escreverá a favor? E me responderam que era possível, por que não? Acabei escrevendo meu artigo (contra a pena capital), mas este caso horrível me faz repensar ou, melhor, não pensar, sentir coisas distintas, diferentes.

Torço para que, na cadeia, os assassinos recebam sua paga; torço para que a recebam de modo demorado e sofrido


Se não defendo a pena de morte contra os assassinos, é apenas porque acho que é pouco. Não paro de pensar que deveriam ter uma morte hedionda, como a que infligiram ao pobre menino. Imagino suplícios medievais, aqueles cuja arte consistia em prolongar ao máximo o sofrimento, em retardar a morte. Todo o discurso que conheço, e que em larga medida sustento, sobre o Estado não dever se igualar ao criminoso, não dever matar pessoas, não dever impor sentenças cruéis nem tortura -tudo isso entra em xeque, para mim, diante do dado bruto que é o assassinato impiedoso.
Torço para que, na cadeia, os assassinos recebam sua paga; torço para que a recebam de modo demorado e sofrido. Conheci o sr. Masataka Ota, pequeno empresário cujo filho pequeno foi assassinado. Entrevistei-o para meu programa de ética na TV Futura (episódio "Justiça e Vingança"). Masataka perdoou os assassinos, isto é, embora pudesse matá-los, não o fez.
Quis que fossem julgados e lamenta que já estejam soltos, poucos anos após o crime hediondo, mas ele é um caso raro -e admirável- em não querer se vingar, em não querer que os assassinos sofram mais do que a pena de prisão. Confesso que não seria a minha reação.

Quem é humano?
Penso -porque ainda consigo pensar, em meio a esse turbilhão de sentimentos- também que há diferentes modos de impor a pena máxima. A punição com a morte se justifica ora pela gravidade do crime cometido, ora pela descrença de que o criminoso se possa recuperar. No caso, as duas razões comparecem. Parecem irrecuperáveis, e seu crime é hediondo. Não vejo diferença entre eles e os nazistas.
Creio que só um insensato condenaria as execuções decretadas em Nuremberg. Há, hoje, quem debata se Luís 16 deveria ou não ter sido guilhotinado: dizem alguns que o melhor seria reduzir o último rei absoluto da França a um cidadão privado, um pouco como a China (curiosamente, campeã em execuções) fez com Pu Yi, seu derradeiro imperador. Mas Luís era culpado apenas de ser rei. Pessoalmente, era um homem bom. Os nazistas foram culpados do que fizeram. Optaram pelo mal. Como esses assassinos.
Em países como os Estados Unidos, a demora na execução é ela própria uma parte -talvez involuntária- da pena. Alguém passa 20 anos no corredor da morte, e é executado quando já pouco tem a ver com quem foi. Na Inglaterra, antes de abolir a pena de morte, era diferente: dois ou três meses após o crime, o assassino era enforcado. Nos dois países, a garantia de todos os direitos de defesa ao réu faz parte, por curioso que pareça, da engrenagem que diz ao acusado: você terá todos os direitos, mas não escapará.
No Brasil é diferente. Não temos pena de morte, na lei. A Constituição a proíbe. Mas provavelmente executamos mais gente que o Texas, o Irã ou a China. É que o fazemos às escondidas. Quando penso que, desses infanticidas, os próprios colegas de prisão se livrarão, confesso sentir um consolo. Mas há algo hipócrita nisso.
Se as pessoas merecem morrer, e se é péssimo o Estado se igualar a quem tira a vida de outro, por outro lado é uma tremenda hipocrisia deixar à livre iniciativa dos presos ou aos justiceiros de esquina a tarefa de matar quem não merece viver. Abrimos mão da responsabilidade, que pode ter uma sociedade, de decidir -no caso, quem deve viver e quem merece morrer. Tudo isso traz questões adicionais. É-se humano somente por se nascer com certas características? Ou a humanidade se constrói, se conquista -e também se perde? Alguém tem direito, só por ser bípede implume, de fazer o que quiser sem perder direitos? A todos assiste o direito da mais ampla defesa.
Mas, garantida esta, posso fazer o que quiser sem correr o risco da pena última? Isto, que relato, põe em questão meu próprio papel como intelectual. Intelectual não é apenas quem tem uma certa cultura a mais do que alguns outros. É quem assina idéias, quem responde por elas. Tive, na graduação, uma amiga que teve bloqueio de escrita. Mas, na verdade, ela até fazia trabalhos -de graça- para outros colegas. Seu bloqueio não era de escrita, mas de assinatura. Talvez possa dizer: o cientista escreve, o intelectual assina.
O intelectual é público. Só que, para ele cumprir seu papel público, é preciso acreditar no que diz. Ora, quantas vezes o intelectual afirma aquilo em que não acredita? Quantos não foram os marxistas que se calaram sobre os campos de concentração, que eles sabiam existir? Por isso, o mínimo que devo fazer, se sou instado a opinar, é dizer o que realmente penso (ou, então, calar-me).
Sei que a falta de perspectiva ou de futuro é o que mais leva pessoas a agirem como os infanticidas. Sei que devemos reformar a sociedade para que todos possam ter um futuro. Creio que isso reduzirá a violência. Mas também sei que os pobres são honestos, mais até do que os ricos. A pobreza não é causa da falta de humanidade. Quer isso dizer que defenderei a pena de morte, a prisão perpétua, a redução da maioridade penal? Não sei. Não consigo, do horror que sinto, deduzir políticas públicas, embora isso fosse desejável.
Mas há algo que é muito importante no exercício do pensamento: é que atribuamos aos sentimentos que se apoderam de nós o seu devido peso e papel. Não posso pensar em dissonância completa com o que sinto. A razão, sem dúvida, segura muitas vezes as paixões desenfreadas. Quantas vezes não nos salvamos do desespero, do desamparo, do ódio e da agressividade, apenas porque a razão nos acalma, nos contém, nos projeta o futuro?
Que crimes o amor desprezado não causaria, não fosse ele contido pela razão? Mas isso vale quando a dissonância, insisto, não é completa. Se o que sinto e o que digo discordam em demasia, será preciso aproximá-los. Será preciso criticar os sentimentos pela razão -e a razão pelos sentimentos, que no fundo são o que sustenta os valores. Valores não são provados racionalmente, são gerados de outra forma. Afinal de contas, o que vivemos no assassínio bárbaro de João Hélio, como meses atrás quando queimaram viva uma criança num carro, não é diferente do nazismo.
Dizem uns que o Brasil está como o Iraque. Parece, pior que isso, que temos algumas mini-auschwitzes espalhadas pelo território nacional.
RENATO JANINE RIBEIRO é professor de Ética e Filosofia Política na USP e autor de, entre outros, "A Ética na Política" (ed. Lazuli).
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby junior » 18 Feb 2007, 09:23

Psicanalista comenta cartas de leitores da Folha sobre o caso

DA REDAÇÃO

A convite do Mais!, o psicanalista e colunista da Folha Renato Mezan comenta observações e perguntas dos leitores, publicadas no Painel do Leitor da Folha e no da Folha Online entre os dias 9 e 12/2, relacionadas à morte de João Hélio Fernandes e à criminalidade no Brasil.

"O descaso com a educação resulta nisso"
Diante de um crime como esse, é imperativo encontrar razões, motivos, diretos ou indiretos, e acabamos pegando o primeiro que aparece... A educação no Brasil é realmente uma calamidade, mas é difícil ver como algo desta amplitude pode ter determinado as ações dos assassinos. E não é porque freqüenta uma escola ruim que um jovem se torna criminoso! Essa razão é, assim, demasiado geral para dar conta do fato.

"Por que temas como a pena de morte ou a prisão perpétua são tabus neste país?"
Porque o brasileiro gosta de se imaginar como solidário e compassivo, e facilmente nos identificamos com os "sofredores". Pessoalmente, sou contrário à pena de morte, mas não à de prisão perpétua, para determinados crimes. Essa é uma discussão que envolve problemas éticos complexos, que não podem ser tratados em três linhas.

"São humanos ou ignóbeis e desprezíveis os que agiram dessa forma, sem o menor pudor e respeito pelo ser humano?"
Desprezíveis, não: nenhum ser humano é desprezível. Ignóbeis, sim: mas ser ignóbil, cruel, malvado, indecente ou desonesto faz parte dos possíveis abertos a qualquer um de nós. Há muita sabedoria nas famosas palavras de Jesus diante da prostituta que queriam apedrejar: "Atire a primeira pedra quem não tiver pecado".

"A culpa pela situação que vivemos é em parte dos políticos e do Supremo Tribunal Federal. Aqueles, pelo mau exemplo e pela volúpia em dilapidar o patrimônio público"
Este é um bom exemplo de como é difícil manter o foco de uma discussão. As "otoridades" de fato dão péssimos exemplos, mas o que isso tem a ver com o fato de um garoto ser arrastado até a morte por quatro psicopatas?

"Se o problema não foi falta de policiamento, então qual foi a origem de tudo?"
Se houvesse policiamento eficiente, talvez esse crime não tivesse ocorrido, mas onde ele existe também acontecem assassinatos e outros crimes brutais. Afinal, o romance policial apareceu na Inglaterra, cuja polícia já era boa no tempo de Conan Doyle e de Agatha Christie. A verdade é que nenhuma polícia pode impedir um crime bem planejado. Pode apenas investigar direito e encontrar os culpados, o que acontece em apenas 3% dos casos no Brasil varonil.

"O que está faltando é educação religiosa (não importa qual)"
Discordo. Educação religiosa, por si mesma, não é garantia de bom comportamento e pode ser a porta para atitudes fanáticas que eventualmente culminam em crimes -vide Bagdá, as fogueiras da Inquisição, o assassinato de Itzhak Rabin [1922-95, premiê israelense] por um estudante judeu ortodoxo. Sem falar nos dois pilantras da Igreja Renascer, a quem certamente não falta "educação religiosa".

"Seria bom que os nossos promotores, juízes e advogados olhassem para essa terrível situação que é a superlotação de nossos presídios"
Outro exemplo de como é difícil manter o foco de um debate. A situação nos presídios é deplorável, mas de modo nenhum pode ser considerada como causa, ainda que remota, da morte de João Hélio Fernandes.

"Os rapazes que participaram desse crime bárbaro [...] são simplesmente pessoas ruins, marginais sem consciência e coração"
Concordo com o essencial do que diz o leitor, e meu texto [na página ao lado] explora justamente essa idéia. Apenas procuro ir além dos adjetivos e tento compreender como e por que um rapaz pode se tornar "sem consciência e sem coração".

"Esse conjunto de violências -assaltos, mortes, fome, machismo, discriminação- é filho direto da exploração, da miséria e da exaltação ao lucro, suportes do capitalismo"
Também estamos diante de uma "causa" geral, que, por explicar tudo, não explica nada. É evidente que tudo o que acontece no sistema de produção capitalista é conseqüência direta ou indireta do funcionamento desse sistema -do que mais poderia resultar? Das fases da lua?
Por outro lado, também existiram violência e crimes sob o socialismo (ouviu falar do Gulag, companheiro?), sob o feudalismo e sob outros modos de produção. Ideologia não explica coisa nenhuma, mas economiza o trabalho de pensar. Daí a sua popularidade.
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby junior » 18 Feb 2007, 09:27

Falta de enxada... :merda: :merda:

A ascensão do spanglish

Professor dos EUA prepara tradução do "Quixote" para idioma que funde inglês e espanhol

MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA

I lan Stavans é um homem ainda jovem, mas o seu currículo impressiona pelo tamanho e pela qualidade. Ex-professor da Universidade Columbia e atual professor de cultura latino-americana no prestigioso Amherst College, em Massachusetts, Stavans é autor de várias obras, entre elas o best-seller "The Hispanic Condition" (A Condição Hispânica, 1995, Harper) e "On Borrowed Words" (Sobre Palavras Emprestadas, 2001, Penguin).
Editou "The Oxford Book of Jewish Stories" (O Livro Oxford de Histórias Judaicas, 1998, Oxford University Press), "The Poetry of Pablo Neruda" (A Poesia de Pablo Neruda, 2003, Farrar, Straus and Giroux), "Isaac Bashevis Singer -Collected Stories" (Contos Recolhidos, 2004, Library of America), "The Schocken Book of Modern Sephardic Literature" (O Livro Schocken de Literatura Sefardita Moderna, 2005, Schocken) e a "Encyclopedia Latina" (2005, Grolier), em quatro volumes, a primeira obra de referência sobre a vida hispânica nos EUA.
Sua ficção inclui "The Disappearance - A Novella and Stories" (O Desaparecimento -Uma Novela e Contos, 2006; desses contos, um foi adaptado para o cinema ["Morirse Está en Hebreo", produção mexicana]). A editora Routledge publicou uma antologia de sua obra, intitulada "The Essential Ilan Stavans" (2000).
Seu último livro, "On Love", está sendo lançado neste ano pela Yale University Press.

Novo Octavio Paz
O "New York Times" o classifica como o mais influente representante da cultura hispânica nos EUA e o "San Francisco Chronicle" o vê como "o Octavio Paz contemporâneo" -o que se explica pela própria trajetória de Stavans.
Descendente de imigrantes judeus da Europa Oriental que se fixaram no México, mudou-se para os EUA e se tornou o elo vivo entre as duas culturas.
Interessou-se particularmente pelo spanglish, o idioma híbrido que está se tornando uma espécie de segunda língua nos EUA, falado por milhões de imigrantes mexicanos e de outros países da América Central e América do Sul e do qual já coletou mais de 6.000 termos.
"O spanglish não é somente um fenômeno lingüístico, é uma revolução cultural que afeta profundamente as Américas", diz Stavans.
O spanglish permeia todos os ramos da cultura, a literatura, a música, a educação, a política, e isso há várias gerações: a imigração mexicana para os EUA data de pelo menos 1848, quando foi firmado um tratado permitindo a entrada de pessoas vindas do México (coisa que agora está sendo rejeitada).
Resulta daí uma intensa polêmica entre os partidários da assimilação cultural, que vêem no spanglish um caminho para tal, e os puristas de ambos os idiomas, o inglês e o espanhol, que falam na "verborréia dos ignorantes".
De outra parte, existe no público americano um grande interesse pela obra de escritores de origem latina nascidos nos EUA, como Julia Alvarez [de "Antes da Liberdade", Cia. das Letras], Rudolfo Anaya [de "Albuquerque", University of New Mexico] e Cristina García [de "Dreaming in Cuban", Sonhar em Cubano, ed. Ballantine].
Esse interesse contrasta com o relativo abandono em que se encontra a literatura latino-americana depois do boom dos anos 1960 e 1970.
A propósito, Ilan Stavans está traduzindo para o spanglish o "Dom Quixote", de Cervantes. A primeira frase, que em espanhol é "En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor" e, em português (trad. de Carlos Nougué e José Luis Sánchez, ed. Record), "num vilarejo da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, não há muito tempo vivia um fidalgo dos de lança em lanceiro, adarga antiga, rocim magro e cão corredor".

"Esos gentlemen"
Em spanglish, fica: "En un placete de La Mancha of which nombre no quiero remembrearme, vivía, not so long ago, uno de esos gentlemen who always tienen una lanza in the rack, una buckler antigua, a skinny caballo y un grayhound para el chase".
Não é impossível, diz Ilan Stavans, que algo semelhante ocorra com a crescente diáspora brasileira nos EUA, com o surgimento de um "portinglês" semelhante ao "portunhol".
Ou seja, a globalização está de fato mudando a vida das pessoas, e isso se traduz no surgimento de novos idiomas -e de novas culturas.
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby junior » 20 Feb 2007, 10:51

'Young Earth' creationist stirs a scholarly storm
UNUSUAL SUSPECT. Doctorate awarded to a 'scientist' who has no interest in bridging the worlds of his contradictory views

Peter McKnight
Vancouver Sun

Saturday, February 17, 2007

The 198th birthday of Charles Darwin last Monday brought out all the usual suspects -- those who celebrated the advances of science made possible by Darwin's theory of evolution, those who promoted anti-evolution theories such as creationism, and those who attempted to bridge the gap between science and religion.

But there were also a few unusual suspects -- those who ostensibly accept both evolution and creationism, yet have no interest in building a bridge between science and religion. And it is these people who present the greatest challenge to both scientific and religious institutions.

According to an article in last weekend's New York Times, Marcus Ross is one member of this rare species. Ross, a "young Earth" creationist who believes the Earth is no more than 10,000 years old, recently received his doctorate in geosciences at the University of Rhode Island after writing a dissertation on mosasaurs, marine reptiles that disappeared 65 million years ago.

Ross's advisers described his work as "impeccable" and they therefore had no reason to deny him his doctorate. But many other scientists, including physical anthropologist and U.S. National Center for Science Education executive director Eugenie Scott, have expressed concern that Ross would use his doctorate from a secular school "to miseducate the public."

Scott claims that refusing to admit a doctoral candidate like Ross, whose views "are so at variance with what we consider standard science," would be acceptable because it would amount to discrimination "on the basis of science" rather than because of his personal beliefs.

While Scott's concerns are understandable given that Ross has already appeared in a video promoting the anti-evolution theory of intelligent design, there's no evidence that there is anything wrong with his science.

It's apparent, then, that Ross's personal beliefs really are the issue here. And, let's be honest, the personal beliefs of many important scientists throughout history can charitably be described as wacko. They include Pythagoras, who is arguably the most influential figure in the history of western thought and who was also a member of a cult that subscribed to bizarre beliefs; Nobel Laureate transistor inventor William Shockley, who abandoned physics for psychology and then promoted eugenics and the sterilization of the mentally handicapped, and Nobel Laureate, LSD enthusiast and AIDS denier Kary Mullis.

Indeed, that groundbreaking scientists harbour some odd beliefs seems more the rule than the exception. Yet the world would be immeasurably impoverished if such scientists were prevented from doing their work because of those personal beliefs. So I'm sorry to say I must here part company with my friends at the National Center for Science Education, who have been enormously supportive of my writing, because I can find no legitimate reason for denying Ross his doctorate.

That said, Ross's views present an even greater challenge to religion than to academic institutions. After all, there are only two ways to explain how Ross can simultaneously subscribe to two incompatible belief systems, and neither way is particularly palatable: Either Ross is dishonest, with little interest in witnessing what he believes to be the truth, or he is a relativist, with no belief in truth at all.

As for being dishonest: If, as he claims, Ross really believes in the Biblical account of creation, then he must also believe that many of the statements in his dissertation are patently false. If the world really is less than 10,000 years old, then mosasaurs couldn't have disappeared 65 million years ago, which means Ross doesn't believe what he wrote.

Ross is cagey on this issue, as he essentially dodged the issue by telling the Times, "I did not imply or deny any endorsement of the dates." This suggests a kind of agnosticism, and leads to the second way of explaining his incompatible beliefs.

Throughout the Times article, Ross speaks of paradigms, saying that the Bible presents one paradigm, while paleontology presents another. Now, the word "paradigm" has become exceptionally familiar in philosophy of science, and immediately brings to mind Thomas Kuhn, the physicist and historian of science who popularized the term in his seminal work, The Structure of Scientific Revolutions.

According to Kuhn, science proceeds in a cyclical fashion: First, there is "normal science," where scientists work together to solve problems within an agreed-upon background set of beliefs (a paradigm) which dictates how they see their subject and assess their theories. But eventually, experimental results that don't fit within the paradigm add up, reaching a crisis point, and the paradigm is ultimately overthrown and replaced wholesale by a new one in what Kuhn calls "revolutionary science."

Kuhn's theory met with much hostility because it suggested scientific theory change was less a piecemeal, rational process, and more a non-rational gestalt switch, like political revolutions or religious conversions. But there are many examples of these revolutionary "paradigm shifts" in the history of science, including the shift from Ptolemaic to Copernican astronomy, from Newtonian to Einsteinian physics, and indeed, from creationism to evolution.

More troubling, though, is Kuhn's insistence that different paradigms are "incommensurable" -- since paradigms are conceptual frameworks, since they define the way in which scientists view their subject and assess their theories, they also define how scientists determine the truth of a given theory. Truth therefore becomes relative to paradigms, which means there is no objective way to determine which of two competing paradigms has a stronger claim to truth.

This opened Kuhn to charges of relativism, and while he defended himself against the charges (unsuccessfully, in my opinion), he maintained until his death that science wasn't necessarily about getting closer to the truth. This provided a tremendous boost to postmodernists, who have used Kuhn's theory to deny the existence of objective truth.

And now it seems that young Earth creationists want a piece of the action. Ross's insistence that there is no conflict between his paleontological and Scriptural beliefs, because he is capable of "separating the different paradigms," reveals that he is a true believer in the Kuhnian revolution.

But he must then necessarily cease to be a true believer in another very important sense. In accepting that Scripture merely presents one paradigm among many, and that the claims in the Bible are therefore no more or less true than the claims made in any other paradigm, Ross must abandon the belief that the Bible speaks the Truth -- not just the truth relative to a specific conceptual framework, but the truth that exists always and everywhere.

Consequently, while Ross might use his credentials to attack evolutionary theory, much to the consternation of science faculties, his philosophy represents a much greater threat to his own religion. Creationists might consider Ross a gift from God, but he's a gift that's probably best left unopened.

pmcknight@png.canwest.com
© The Vancouver Sun 2007
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby mends » 20 Feb 2007, 11:05

The Vancouver Sun. Taí uma coisa que eu nunca havia lido... :lol:
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby junior » 20 Feb 2007, 11:07

Nem eu, foi um link que me jogou lá... :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :cool: :cool: :cool: :cool: :cool:
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby junior » 20 Feb 2007, 11:11

Para os que preferem uma fonte mais digna ;) ;) ;) :lol: :lol: :lol: :lol:

http://www.nytimes.com/2007/02/12/science/12geologist.html?em&ex=1172120400&en=405431c6aa9fe7b5&ei=5087%0A

February 12, 2007
Believing Scripture but Playing by Science’s Rules
By CORNELIA DEAN

KINGSTON, R.I. — There is nothing much unusual about the 197-page dissertation Marcus R. Ross submitted in December to complete his doctoral degree in geosciences here at the University of Rhode Island.

His subject was the abundance and spread of mosasaurs, marine reptiles that, as he wrote, vanished at the end of the Cretaceous era about 65 million years ago. The work is “impeccable,” said David E. Fastovsky, a paleontologist and professor of geosciences at the university who was Dr. Ross’s dissertation adviser. “He was working within a strictly scientific framework, a conventional scientific framework.”

But Dr. Ross is hardly a conventional paleontologist. He is a “young earth creationist” — he believes that the Bible is a literally true account of the creation of the universe, and that the earth is at most 10,000 years old.

For him, Dr. Ross said, the methods and theories of paleontology are one “paradigm” for studying the past, and Scripture is another. In the paleontological paradigm, he said, the dates in his dissertation are entirely appropriate. The fact that as a young earth creationist he has a different view just means, he said, “that I am separating the different paradigms.”

He likened his situation to that of a socialist studying economics in a department with a supply-side bent. “People hold all sorts of opinions different from the department in which they graduate,” he said. “What’s that to anybody else?”

But not everyone is happy with that approach. “People go somewhat bananas when they hear about this,” said Jon C. Boothroyd, a professor of geosciences at Rhode Island.

In theory, scientists look to nature for answers to questions about nature, and test those answers with experiment and observation. For Biblical literalists, Scripture is the final authority. As a creationist raised in an evangelical household and a paleontologist who said he was “just captivated” as a child by dinosaurs and fossils, Dr. Ross embodies conflicts between these two approaches. The conflicts arise often these days, particularly as people debate the teaching of evolution.

And, for some, his case raises thorny philosophical and practical questions. May a secular university deny otherwise qualified students a degree because of their religion? Can a student produce intellectually honest work that contradicts deeply held beliefs? Should it be obligatory (or forbidden) for universities to consider how students will use the degrees they earn?

Those are “darned near imponderable issues,” said John W. Geissman, who has considered them as a professor of earth and planetary sciences at the University of New Mexico. For example, Dr. Geissman said, Los Alamos National Laboratory has a geophysicist on staff, John R. Baumgardner, who is an authority on the earth’s mantle — and also a young earth creationist.

If researchers like Dr. Baumgardner do their work “without any form of interjection of personal dogma,” Dr. Geissman said, “I would have to keep as objective a hat on as possible and say, ‘O.K., you earned what you earned.’ ”

Others say the crucial issue is not whether Dr. Ross deserved his degree but how he intends to use it.

In a telephone interview, Dr. Ross said his goal in studying at secular institutions “was to acquire the training that would make me a good paleontologist, regardless of which paradigm I was using.”

Today he teaches earth science at Liberty University, the conservative Christian institution founded by the Rev. Jerry Falwell where, Dr. Ross said, he uses a conventional scientific text.

“We also discuss the intersection of those sorts of ideas with Christianity,” he said. “I don’t require my students to say or write their assent to one idea or another any more than I was required.”

But he has also written and spoken on scientific subjects, and with a creationist bent. While still a graduate student, he appeared on a DVD arguing that intelligent design, an ideological cousin of creationism, is a better explanation than evolution for the Cambrian explosion, a rapid diversification of animal life that occurred about 500 million years ago.

Online information about the DVD identifies Dr. Ross as “pursuing a Ph.D. in geosciences” at the University of Rhode Island. It is this use of a secular credential to support creationist views that worries many scientists.

Eugenie C. Scott, executive director of the National Center for Science Education, a private group on the front line of the battle for the teaching of evolution, said fundamentalists who capitalized on secular credentials “to miseducate the public” were doing a disservice.

Michael L. Dini, a professor of biology education at Texas Tech University, goes even further. In 2003, he was threatened with a federal investigation when students complained that he would not write letters of recommendation for graduate study for anyone who would not offer “a scientific answer” to questions about how the human species originated.

Nothing came of it, Dr. Dini said in an interview, adding, “Scientists do not base their acceptance or rejection of theories on religion, and someone who does should not be able to become a scientist.”

A somewhat more complicated issue arose last year at Ohio State University, where Bryan Leonard, a high school science teacher working toward a doctorate in education, was preparing to defend his dissertation on the pedagogical usefulness of teaching alternatives to the theory of evolution.

Earle M. Holland, a spokesman for the university, said Mr. Leonard and his adviser canceled the defense when questions arose about the composition of the faculty committee that would hear it.

Meanwhile three faculty members had written the university administration, arguing that Mr. Leonard’s project violated the university’s research standards in that the students involved were being subjected to something harmful (the idea that there were scientific alternatives to the theory of evolution) without receiving any benefit.

Citing privacy rules, Mr. Holland would not discuss the case in detail, beyond saying that Mr. Leonard was still enrolled in the graduate program. But Mr. Leonard has become a hero to people who believe that creationists are unfairly treated by secular institutions.

Perhaps the most famous creationist wearing the secular mantle of science is Kurt P. Wise, who earned his doctorate at Harvard in 1989 under the guidance of the paleontologist Stephen Jay Gould, a leading theorist of evolution who died in 2002.

Dr. Wise, who teaches at the Southern Baptist Theological Seminary in Louisville, Ky., wrote his dissertation on gaps in the fossil record. But rather than suggest, as many creationists do, that the gaps challenge the wisdom of Darwin’s theory, Dr. Wise described a statistical approach that would allow paleontologists to infer when a given species was present on earth, millions of years ago, even if the fossil evidence was incomplete.

Dr. Wise, who declined to comment for this article, is a major figure in creationist circles today, and his Gould connection appears prominently on his book jackets and elsewhere.

“He is lionized,” Dr. Scott said. “He is the young earth creationist with a degree from Harvard.”

As for Dr. Ross, “he does good science, great science,” said Dr. Boothroyd, who taught him in a class in glacial geology. But in talks and other appearances, Dr. Boothroyd went on, Dr. Ross is already using “the fact that he has a Ph.D. from a legitimate science department as a springboard.”

Dr. Ross, 30, grew up in Rhode Island in an evangelical Christian family. He attended Pennsylvania State University and then the South Dakota School of Mines and Technology, where he wrote his master’s thesis on marine fossils found in the state.

His creationism aroused “some concern by faculty members there, and disagreements,” he recalled, and there were those who argued that his religious beliefs should bar him from earning an advanced degree in paleontology.

“But in the end I had a decent thesis project and some people who, like the people at U.R.I., were kind to me, and I ended up going through,” Dr. Ross said.

Dr. Fastovsky and other members of the Rhode Island faculty said they knew about these disagreements, but admitted him anyway. Dr. Boothroyd, who was among those who considered the application, said they judged Dr. Ross on his academic record, his test scores and his master’s thesis, “and we said, ‘O.K., we can do this.’ ”

He added, “We did not know nearly as much about creationism and young earth and intelligent design as we do now.”

For his part, Dr. Ross says, “Dr. Fastovsky was liberal in the most generous and important sense of the term.”

He would not say whether he shared the view of some young earth creationists that flaws in paleontological dating techniques erroneously suggest that the fossils are far older than they really are.

Asked whether it was intellectually honest to write a dissertation so at odds with his religious views, he said: “I was working within a particular paradigm of earth history. I accepted that philosophy of science for the purpose of working with the people” at Rhode Island.

And though his dissertation repeatedly described events as occurring tens of millions of years ago, Dr. Ross added, “I did not imply or deny any endorsement of the dates.”

Dr. Fastovsky said he had talked to Dr. Ross “lots of times” about his religious beliefs, but that depriving him of his doctorate because of them would be nothing more than religious discrimination. “We are not here to certify his religious beliefs,” he said. “All I can tell you is he came here and did science that was completely defensible.”

Steven B. Case, a research professor at the Center for Research Learning at the University of Kansas, said it would be wrong to “censor someone for a belief system as long as it does not affect their work. Science is an open enterprise to anyone who practices it.”

Dr. Case, who champions the teaching of evolution, heads the committee writing state science standards in Kansas, a state particularly racked by challenges to Darwin. Even so, he said it would be frightening if universities began “enforcing some sort of belief system on their graduate students.”

But Dr. Scott, a former professor of physical anthropology at the University of Colorado, said in an interview that graduate admissions committees were entitled to consider the difficulties that would arise from admitting a doctoral candidate with views “so at variance with what we consider standard science.” She said such students “would require so much remedial instruction it would not be worth my time.”

That is not religious discrimination, she added, it is discrimination “on the basis of science.”

Dr. Dini, of Texas Tech, agreed. Scientists “ought to make certain the people they are conferring advanced degrees on understand the philosophy of science and are indeed philosophers of science,” he said. “That’s what Ph.D. stands for.”
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby mends » 21 Feb 2007, 15:41

Um intelectual sensível
Tá bom. Eu confesso. Não li nem jornal no Carnaval. Só hoje fiquei sabendo que Renato Janine Ribeiro, a versão sensível de Marilena Chaui, escreveu um texto no caderno Mais!, na Folha deste domingo, em que flerta com a pena de morte, revendo, ele nos adverte, opinião que expressara antes, contrário à tese, o que também deixou registrado em texto. Janine é o produto mais bem acabado da burritsia petista (“burritsia” é a intelligentsia depois de devidamente reeducada pelo partido). Nunca foi idiota a ponto de se filiar ao PT.
Propagandista de sempre das teses de esquerda, gozando da aura de ser entre nós “especialista em iluminismo”, é advogado incansável de todas as teses politicamente corretas postas no mercado. Mas vocês sabem: quando a violência é oferecida no varejo, pega bem açoitar a classe média de sempre. O caso do menino João Hélio desafiou todos os códigos do decoro dos bem pensantes. Aí Janine ficou sem tese.
E faz o quê? Na prática, no melhor estilo Lula, diz que o que pensara antes era bravata. Não está bem certo, é verdade. Racionalmente, ele ainda tem dúvidas sobre a pena de morte. Mas, emocionalmente, está convulsionado. Já citei Ivan Lessa hoje. Lembro de novo. No idos de 70, fez uma frase mais ou menos assim: “Angústia existencial no interior da Paraíba, eles comem”. A tragédia brasileira parece existir para provocar crise de consciência nos nossos intelectuais. Só que a realidade já comeu as hesitações de Janine.
O país é um manicômio. Também intelectual. Se eu ou qualquer outro dos brasileiros tachados de representantes da “nova direita” defendêssemos num artigo a pena de morte, seríamos chamados de “fascistas” e “genocidas”. Mas não Janine. Afinal, é um intelectual da esquerda, com autoridade moral que precede, pois, qualquer conteúdo para defender não importa qual tese. Eu não duvido de que, no passado, tenha empregado todo o seu estoque de humanismo para atacar a pena de morte. O mesmo estoque que ele põe, agora, em favor da aplicação da pena. Faz sentido. Um pensador de esquerda tem autoridade para tratar da pena capital.
Em Dois Córregos, diz-se que o lobo troca de pêlo, mas não de vício. O mesmo digo de Janine. Ele, com efeito, começa a achar que a pena de morte pode ser justa — em tempo: vocês sabem que sou contrário à dita-cuja, mesmo para os facínoras. Seu artigo na Folha — e poderia ser diferente? — vem ancorado numa fraude intelectual. Para justificar a sua perplexidade, para encarecer a sua “sensibilidade” tão chocada com assassinato do menino João — tanto, que sua “razão” está prestes a mudar de idéia —, ele compara o episódio ao holocausto. Como pensador, precisa apelar a um fato sobre o qual a controvérsia é mínima, pondo-se, assim, acima das dissensões.
Janine integrou o triunvirato — junto com Chaui e Wanderley Guilherme dos Santos —que denunciou um suposto complô da mídia contra o PT durante o mensalão. Não sei se um dia fará autocrítica. Sei que pode pensar banalidades e ficar perplexo a custo zero. Já atacar a máfia do mensalão como pensador desassombrado talvez não pegasse tão bem para quem era e é diretor de avaliação da Fundação Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior). Um cargo de confiança. Da confiança de Lula.

http://www.reinaldoazevedo.com.br
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby junior » 26 Feb 2007, 12:51

Para arrombar ou roubar


Image

Por preços que vão de R$ 16 a R$ 25, é possível comprar equipamentos e manuais para arrombar carros e casas

ALEXSSANDER SOARES, alex.soares@grupoestado.com.br

A ocasião faz o ladrão. Ainda mais se a oportunidade custar apenas R$ 25 e vier acompanhada de um manual de instruções sobre como abrir carros nacionais ou importados. A compra do produto não encontra restrição em nenhum artigo do código penal, podendo ser feita em distribuidores de peças para chaveiros.

Os equipamentos, nas mãos de falsos chaveiros, podem se transformar em kits para arrombamentos de veículos ou para furtos de residências. Sem nenhuma restrição legal foi possível comprar, por exemplo, um pente micha para abrir veículos por R$ 16, um outro modelo para abrir fechaduras tetra (utilizada em portas de residências) por R$ 19 e um kit de abertura de autos, que acompanhado de um CD-ROM com 18 minutos de duração, ensina passo-a-passo como destravar pinos das portas com um arame, por R$ 25.

A aquisição do produto começa com uma listagem com telefones e endereços de distribuidores de peças para chaveiros.

Uma revista com os produtos para a categoria, acompanhada dos respectivos códigos de venda, ajuda na encomenda bastando apenas se identificar como chaveiro para fazer o pedido.

Do outro lado da linha, o vendedor de uma distribuidora localizada no Tatuapé (zona leste) não se preocupa em anotar o nome da empresa ou algum documento de identificação do interessado na compra das ferramentas.

O pedido e a reserva das ferramentas podem ser feitos por telefone e a entrega é imediata quando o produto está disponível em estoque. Os jogos de mixas são facilmente encontrados nos distribuidores consultados. O kit de abertura de autos não costuma ser um produto em estoque. De acordo com representantes de vendas consultados pela reportagem, ele é considerado um produto com pouca saída e a entrega demora, em média, três dias. As mixas revendidas nos distribuidores são peças artesanais. Elas não possuem nenhuma identificação de fabricação.

O kit de abertura de autos pode ser encontrado para todos os modelos de veículos nacionais e importados, com ferramentas para portas com ou sem pinos. O CD-ROM equivale a um curso rápido, com 18 minutos de uma gravação ensinando passo-a-passo como abrir o veículo utilizando um arame especialmente retorcido para cada modelo. A mensagem inicial, dita por voz feminina, ressalta a eficácia do kit na abertura dos veículos. As imagens na seqüência simulam a abertura dos veículos utilizando o arame do kit de ferramentas. O manual ensina como destravar as portas de veículos nacionais, como Gol, Fiesta e Corsa. A abertura das travas na simulação não demora mais do que 10 segundos.

A segunda parte do CD-ROM ensina como abrir veículos importados, demonstrando a abertura de portas de veículos de marcas como Honda, Toyota, Nissan, Ford ou Mazda. A abertura das portas dos veículos importados também não ultrapassa 10 segundos.

Cursos

O interessado em aperfeiçoar sua técnica de abertura de veículos ou em aprender novidades para abrir fechaduras tetras ou até cofres pode recorrer a cursos de formação. O curso começa pelo módulo I, ensinando como abrir fechaduras de chave cilindro monobloco (as mais simples do mercado). Os dois módulos seguintes tratam da abertura de cadeados tetra - muito utilizado em portas de residências - ou chaves mestras.

Os cursos são anunciados por R$ 40 cada módulo, com duração de dois meses. A abertura de cofres sem furar também faz parte de um dos módulos do curso.

As técnicas de abertura de veículos nacionais e importados são ministradas em outros módulos, por R$ 60. O curso ensina como destravar portas de carros com arame ou a leitura de segredos sem desmontar.
"Cosmologists are often in error, but never in doubt." - Lev Landau
User avatar
junior
Grão-Mestre Saidero
Grão-Mestre Saidero
 
Posts: 887
Joined: 13 Feb 2004, 11:55
Location: Sei lá... Em algum lugar com conexão a internet! :-)

Postby Danilo » 26 Feb 2007, 22:03

Mas não ligue ainda! Pois você leva também o kit com ácido para corroer vidro, spray de pimenta, e de gás de efeito-moral.
User avatar
Danilo
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 3230
Joined: 10 Sep 2003, 22:20
Location: São Paulo

PreviousNext

Return to Liberdade de Expressão

cron