Clippings e notícias

Notícias do cotidiano e outros assuntos que não se encaixam nos demais.

Postby mends » 01 Apr 2004, 09:20

40 ANOS - Luís Fernando Veríssimo

Estávamos recém-casados. Eu tentava começar um negócio que só confirmaria a incompetência da família para negócios. Dependia de ajuda de casa para pagar o aluguel do nosso primeiro apartamento, em Copacabana. Um quarto e sala na Figueiredo Magalhães com janelas para a Siqueira Campos, onde passavam bondes. Até hoje nossa primeira filha, que nasceu quando ainda morávamos lá, é a que tem o sono mais tranqüilo: se acostumou a dormir com o barulho dos bondes
da Siqueira Campos.

Cito os bondes para não citar outros marcos da distância que nos separa daquele primeiro de abril de 1964. O fato incrível de que tínhamos todos 40 anos menos, por exemplo. A TV era em preto e brancoe a políticadaépoca, de certo modo, também. Havia a esquerda e havia a direita e as duas se demonizavam mutuamente. ATerraestava dividida entre o Mundo Livre e o mundo comunista num permanente limiar de guerra, e a nitidez da distinção determinava o que nos acontecia aqui no quintal. Não foi um tempo de muitas nuances. Para a AméricaLatinanãoserdosdemônios da esquerda mobilizaram-se os demônios da direita e começou a era dos generais. Estas partes do Mundo Livre ficaram com a liberdade em moratória. No Brasil, a moratória duraria 20 anos.

Minha atividade política naqueles dias era nenhuma. Me limitava a vibrar com os artigos do Cony no Correio da Manhã e a xingar as notícias da consolidação do golpe na TV empreto e branco, que mostrava, entre outras celebrações, a coleta de ouro da população para ajudar os militares a salvarem o Brasil. Nãose soube onde foi parar este ouro. Nossa maior preocupação era com a minha tia Lucinda, que trabalhava para o governo do Rio, nunca escondera suas opiniões políticas e estava sendo perseguida. Se fosse preciso, a contrabandearíamos para Porto Alegre. Não foi preciso. Eu é que, dois anos e pouco depois – uma filha nascida, a vida apertando e nenhuma perspectiva no Rio – decidi fazer a coisa sensata. Voltei pra casa do pai.

40 anos depois, é tão difícil recapturar o clima daquela época como seria, hoje, pegar um bonde na Siqueira Campos. Esquerda e direita se dissolveram em nuances, as divisões do mundo são outras, tudo mudou. Ou será que não mudou? Mais espantoso do que constatar a distância que nos separa daquele primeiro de abril seria a constatação de que tudo mudou menos o essencial, que um outro Brasil ainda luta para sair de dentro do velho como no processo interrompido em 64. O que seria certamente o parto mais longo da história.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 01 Apr 2004, 09:22

Juca Kfouri


Para que nunca mais se repita

Faz 40 anos hoje. Lembro-me de meu pai ouvindo no rádio o pronunciamento de um dos comandantes do golpe militar e dizendo: "Isso vai levar uns 20 anos." Levou 21.

Eu tinha só 14 e faço parte de uma geração que passou o fim da adolescência, o começo da maturidade e boa parte da vida adulta indignada com a falta de liberdade, com a tortura e morte dos resistentes.

Vivíamos com medo, mas não paralisados, porque resistir era preciso, era essencial.

Quem conheceu os porões da prisão política, o terror de ser posto diante de uma maquineta de choque elétrico, não pode deixar passar em branco uma data tão infame, mesmo num espaço dedicado ao futebol.

Porque como escreveu o filósofo George Santayana, "quem esquece a própria história está condenado a repeti-la".

E nós não podemos permitir que um dia o Brasil volte a viver aqueles anos de chumbo.

Votei pela primeira vez para presidente aos 39, junto com meu filho mais velho, que tinha 16.

Vi o futebol virar objeto de barganha da ditadura e de seus seguidores, sequiosos em servir aos poderosos e se aproveitar do arbítrio em benefício próprio.

Alguns, como o pai de todos, João Havelange, exagerou a tal ponto que nem mesmo o ditador Geisel o suportou e tratou de defenestrá-lo da CBD, tamanho o descalabro de sua gestão.

A emenda não foi melhor que o soneto e, exceção feita ao período em que Giulite Coutinho esteve à frente da entidade, rebatizada CBF, o que se viu e se vê é a perpetuação de um modelo que leva a crer que o futebol será das últimas instituições a mudar no país.

A tal ponto, aliás, que hoje, mesmo sob um ministério dirigido pelo Partido Comunista do Brasil, pouco esteja sendo feito para romper com o passado.

Havelange, presidente da Fifa, não satisfeito, tratou de se aliar a uma ditadura ainda mais feroz, a da Argentina, para onde levou a Copa do Mundo de 1978.

Quem perdeu em 1964, quem sofreu com o golpe dentro do golpe em 1968 (o AI-5, ato institucional que fechou o Congresso Nacional), tem a obrigação de relembrar o 1 de abril como o dia mais mentiroso da História do Brasil.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 01 Apr 2004, 09:35

Falando em 40 anos esta noite, tem gente que não sabe calar a boca...

Para Frei Betto, Lula retoma reformas de base de Jango
Cristiane Agostine De São Paulo



Durante o ato político "40 anos de luta pela democratização do Brasil: lembrar para aprender" realizado ontem em São Paulo, Frei Betto, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e coordenador de mobilização social do programa Fome Zero, disse que as reformas feitas pelo governo foram uma retomada das reformas de base iniciadas antes do golpe. "Foi um arco que se quebrou em 64 quando o Brasil caminhava para as reformas de base e que agora se emenda com as propostas de reforma do governo federal".

Amigo pessoal do presidente, Frei Betto comparou também o governo atual com o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que a queda na popularidade de Lula não o preocupa. "A popularidade de Lula está muito acima sem nenhum plano de cena como o plano Real", afirmou.

O assessor disse ser compreensível a queda porque ela está ligada à expectativa média criada pela eleição: "Lula ganhou uma eleição, não fez uma revolução. Quando a gente faz uma revolução, numa canetada a gente muda um país", explicou.

Para o coordenador do Fome Zero, a opinião pública aprova esse programa e sua morosidade é natural. "Todas as pesquisas de opinião mostram que o Fome Zero é o que há de melhor nesse governo. Ele é um programa de inserção social não uma gincana para distribuição de alimentos", disse. Frei Betto afirmou também que o governo federal vai assentar 115 mil famílias das 530 mil comprometidas e que conta com a compreensão do MST.

Sobre os 40 anos do golpe, ele lembrou as palavras do escritor gaúcho, Érico Veríssimo: "Aquilo que ninguém fala ou escreve, a memória não guarda".
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby vitormorg » 01 Apr 2004, 10:03

E para os que fazem ou vão fazer Economia (antiga PRO-108) fica a Lição que aprendi na aula, Argentino é Filha da Puta...:fodase:

Em homenagem ao Prof Woiler (acho que é assim) que durante as aulas engrandeceu a Ditadura, repetiu várias vezes como foi boa para a Economia :merda:, e por último mas não menos importante, que foi dar ouro para a Ditadura, como vários amigos, e que estava orgulhoso.... :ranting:

As vezes não sei como não dei uma porrada nele.... :chair:
User avatar
vitormorg
Saidero
Saidero
 
Posts: 220
Joined: 25 Sep 2003, 08:23

Postby mends » 01 Apr 2004, 11:30

Professor de Economia falar que a Ditadura foi boa para o Brasil é brincadeira: com aqueles juros internacionais e petrodólares voando - hoje, vinte anos depois, temos a mesma coisa, só que com narcodólares - até eu. Só que até hoje pagamos a conta de 82, que foi o dia do pagamento de 71 e 72. Um pouco de história e macro-economia não faz mal pra ninguém, nem pra professor da Poli.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 01 Apr 2004, 11:54

ELIO GASPARI

Publicidade é uma coisa, mitomania é outra
Publicitários de todo o Brasil, uni-vos. Um fantasma ronda vossa profissão. Chama-se mitomania. É mitomania filmar trabalhadores rurais numa grande propriedade a R$ 50 de cachê, fingindo que são beneficiários do programa de amparo à agricultura familiar.
O surto de egolatria publicitária transformou os dois principais marqueteiros do país em produtos tão conhecidos quanto as mercadorias que anunciam. Duda Mendonça (com o Fura-Fila de Paulo Maluf/Celso Pitta, os 10 milhões de empregos de Lula e os lavradores do Pronaf) e Nizan Guanaes (com os cinco dedos de FFHH, Roseana Sarney e os 8 milhões de empregados, com carteira na mão, de José Serra) tonaram-se grifes. A contratação de Guanaes para a campanha tucana mobilizou o então presidente Fernando Henrique Cardoso. A de Duda Mendonça para a de Lula exigiu que o Guia Genial dos Trabalhadores enquadrasse o aparelho de propaganda do partido.
No caso do filme vendido ao comissário Gushiken, diz o doutor Duda que "não houve má-fé". Nem boa-fé. Simplesmente não houve fé alguma. Algumas das mulheres grávidas mostradas no lindo filme pastoral da campanha de Lula tinham enchimento na barriga. Uma delas votara em Serra.
Como haverá eleições em outubro, os profissionais de publicidade brasileiros bem que poderiam prestar uma colaboração à honorabilidade das campanhas eleitorais.
Essa colaboração pode ser dada sem que se patrulhem idéias alheias ou se fiscalize a identidade dos figurantes. Trata-se de conferir coisa técnica, quase aritmética: os custos desses programas de televisão.
O principal foco de corrupção da política nacional está na arrecadação ilegal de dinheiro para as campanhas eleitorais. Nessa prática, Waldomiro Diniz e Charlie Waterfalls foram exemplos vulgares. Gente muito boa pega sacolas muito mais abonadas. Estima-se que para cada real declarado à Justiça Eleitoral exista outro, dado por baixo da mesa. As campanhas eleitorais brasileiras seguem costumes das cleptocracias africanas.
Entre 60% e 70% das despesas de um candidato a presidente, senador, governador ou prefeito são feitas no custeio da produção do filmes de TV para o horário gratuito. Lula informou que gastou R$ 7 milhões com os programas produzidos por Duda Mendonça. Estranha contabilidade essa. A campanha que acaba de ser suspensa, a ser paga pela Viúva, custaria R$ 8 milhões. Os lavradores do filme da Secom receberam R$ 50 de cachê. As grávidas do filme do PT receberam entre R$ 25 e R$ 40 por nove horas de filmagens.
Luiza Erundina, candidata a prefeita de São Paulo, e Raul Jungmann, no Recife, já anunciaram que colocarão todas as suas contas na internet, para serem conferidas em tempo real pelos eleitores.
Os publicitários (e também jornalistas que porventura entendam desse assunto) poderiam formar uma comissão independente. Ao fim de cada mês essa comissão poderia auditar os custos de um filme, tomado por amostra, ou de todos, se isso for possível. Não precisam encrencar com faturas assustadoramente pequenas (o grosso foi por fora) ou inacreditavelmente altas (a participação do cantor no showmício é o disfarce da remuneração pelo depoimento que a lei obriga a ser gratuito). Basta colocar um selo de confiabilidade no conjunto.
Para que essa operação fique de pé, seria necessário que os partidos, ou os candidatos, voluntariamente, abrissem suas contas. Se os candidatos são parecidos com aquilo que dizem deles mesmos, isso é fácil de fazer. Se eles são parecidos com o que dizem os seus adversários, é impossível.

botando gasolina na fogueira, como é do feitio da casa: sobre desvio de campanha, e outros desvios. Suponhamos que um presidente queira lavar o dinheiro que recebeu de propina durante x anos. Qual a melhor forma de fazer? Por que não abrir uma FUNDAÇÃO que recebe DOAÇÕES de empresários (que na verdade já teriam "doado") e cobrar por palestras (bem caro, óbvio), que já foram "pagas"? Mais fácil q lavar dinheiro assim, só comprar bilhete premiado de bingo.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 01 Apr 2004, 11:56

A tarefa de proclamar a nudez do rei
CARLOS HEITOR CONY
DO CONSELHO EDITORIAL

Final da noite de 31 de março, minutos iniciais de 1º de abril. Apesar de ter recebido um ofício do ex-chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, comunicando ao Congresso que o presidente da República se achava em território nacional, a caminho do Rio Grande do Sul, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, que fora previamente derrubado por Goulart da chefia de um governo no regime parlamentarista, tomou a iniciativa de declarar vaga a Presidência da República.
Na forma da lei, convocou o presidente da Câmara de Deputados, Ranieri Mazzilli, para assumir o governo. Acompanhado de alguns deputados, Mazzilli dirigiu-se ao Palácio do Planalto, sede do governo, que estava fechado e às escuras. A caravana teve de entrar pela garagem.
Conta Luís Viana Filho, que seria chefe da Casa Civil do primeiro governo militar, em seu livro sobre o governo Castelo Branco, que nenhum funcionário do palácio foi encontrado para acender as luzes, nem havia ninguém que soubesse onde ficavam os registros elétricos. A turma ia acendendo fósforos e isqueiros, à medida que avançava até o gabinete presidencial.
Um historiador parcial dos acontecimentos poderia classificar aquela forma de tomar o poder como um assalto, mas tudo era legal, ali estava o presidente da Câmara que fora convocado pelo presidente do Congresso para assumir a Presidência declarada oficialmente vaga da nação. Conta ainda Luís Viana Filho que, ao acender um dos fósforos, no meio dos deputados brasileiros que acompanhavam Mazzilli, descobriu "um jovem secretário da Embaixada americana -Robert Bentley" (Luís Viana Filho, "O Governo Castelo Branco", José Olympio, 1975, pág. 46).
Só não houve mais confusão porque era impossível haver situação mais confusa. O governo caíra sem resistência, os revoltosos tinham esboçado estratégias e táticas para combates que não se verificaram, os mais otimistas esperavam que os movimentos de tropas durassem até 48 horas.
Enquanto isso, haveria tempo para o tabuleiro melhor se arrumar. Mas, apanhados de surpresa, militares e civis que vinham conspirando há tanto tempo não tiveram tempo para esboçar uma logística. A decisão de Moura Andrade, declarando vaga a Presidência, dera aparente continuidade legal ao país. E todos sabiam que a posse de Mazzilli não era para valer e muito menos para durar.

Legiões vencedoras
Se fosse obedecida a tradição dos fastos guerreiros, ao vencedor seriam dadas as batatas, vale dizer, o poder. Mas, em certo sentido, agora eram vencedores e não havia batata suficiente que desse para tantos.
Pela ordem, o principal guerreiro era Mourão, que chegou ao Rio à frente de suas tropas e, não encontrando nada para tomar, tomou o estádio do Maracanã, onde mandou que seus soldados acampassem e fruíssem a vitória. Nos tempos do Império Romano, um general que chegasse a Roma à frente de suas legiões vencedoras, teria direito a um triunfo, um desfile monumental com o respectivo arco de mármore.
Mourão não teve nada disso. Foi mesmo de jipe, enlameado pela estrada União-Indústria, ao Ministério da Guerra, que julgava acéfalo, ou com um ministro qualquer nomeado nas vascas do governo deposto. Encontrou um novo e já definitivo ministro da Guerra, que àquela hora da madrugada estava dormindo numa das salas do sexto andar.
Mourão invocou sua autoridade de chefe, que chegava vitorioso ao fronte, e ordenou a um coronel que fosse acordar o ministro posto em sossego. Cinco minutos depois, desgrenhado pelo sono interrompido, abotoando a túnica, apareceu Costa e Silva, muito amável, agradecendo tudo o que Mourão havia feito pelo bem da pátria. Mourão esperava proferir alguma frase solene que se tornasse histórica, mas não havia clima. Segundo narra em suas memórias, "o ambiente era péssimo. Camas de campanha encostadas umas nas outras. Um cheiro ruim de homens em fim de jornada, misturado com o de cigarros apagados" (...) "um ambiente malcheiroso, militares estremunhados, de barba por fazer, sem escovas de dentes" -enfim, a platéia não merecia presenciar um grande lance que se incorporasse à história.
Para piorar o seu humor, Costa e Silva deu-lhe a fatia do bolo em hora imprópria e em tamanho de migalha. Para se livrar de Mourão o mais rapidamente possível, o recém-ministro declarou que continuava a precisar dos valiosos serviços de tão bravo guerreiro "na presidência da Petrobrás".
Foi dose. Esbodegado pelas emoções que vivera, Mourão engoliu em seco, ainda se lembrou de argumentar, não entendia nada de petróleo, nem botara suas tropas na rua para pleitear cargos. Contudo, seu desconfiômetro de mineiro o alertou: nada queriam com ele. Já haviam subido ao poder novos homens e nova classe.
No Posto 6, em Copacabana, desci à rua para encontrar Carlos Drummond de Andrade, que me esperava na esquina da Raul Pompéia com a Rainha Elisabeth. Fomos ver o que estava acontecendo ali perto, no Forte de Copacabana, tomado por militares que se levantaram contra o governo de João Goulart. Vimos um oficial da Marinha chutando um operário de obra vizinha que havia dado um grito a favor de Brizola ou Jango, não tenho certeza. Voltando para casa, escrevi minha crônica para o "Correio da Manhã", iniciando uma série de textos que provocaram invasão e depredação de meu apartamento, tentativa de seqüestro de minhas filhas menores, processos, prisões, uma temporada no exterior como apátrida.
Alguns amigos pensavam que eu afinal abraçara um lado na luta ideológica do meu tempo. No ano seguinte, Tancredo Neves ofereceu-me um lugar na chapa de deputados federais do então MDB, que eu recusei. Quarenta anos depois, continuo me negando a qualquer participação pessoal na vida política do país. Como jornalista, mas sobretudo como ser humano, sempre que posso -e mesmo quando não posso nem devo-, sinto-me obrigado a proclamar a nudez do rei, de qualquer rei. Certo ou errado, cumpri uma obrigação para comigo mesmo.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 01 Apr 2004, 17:01

Isso sim é preocupante!!!!

Dubladores de "Os Simpsons" entram em greve nos EUA :fear:


LOS ANGELES (Reuters) - Os dubladores norte-americanos das personagens da série animada "Os Simpsons" pararam de trabalhar em uma tentativa de forçar uma solução nas longas negociações de renovação de contrato, informou o jornal Daily Variety em sua edição de quinta-feira.

O jornal de Hollywood divulgou que os seis dubladores não apareceram em duas leituras de roteiro nas últimas semanas, atrasando a produção da 16ª temporada da série.

De acordo com a publicação, fontes próximas ao caso disseram que cada dublador está pedindo cerca de US$ 360 mil por episódio, ou US$ 8 milhões pela temporada de 22 episódios. Cada um deles recebe atualmente US$ 125 mil por programa.

O astro mais bem pago na TV é Ray Romano, que ganha entre US$ 1,7 e 2 milhões por episódio de "Everybody Loves Raymond".

Os contratos de três anos para Dan Castellaneta (Homer), Hank Azaria (Moe, Apu), Harry Shearer (Mr. Burns e outros), Yeardley Smith (Lisa), Julie Kavner (Marge) e Nancy Cartwright (Bart) expiraram há vários meses. Seus representantes estão negociando novos acordos, segundo a Daily Variety.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 02 Apr 2004, 14:21

depois reclamam....aliás, Ensino Superior é uma das formas fáceis de se lavar dinheiro...

GIBA UM

Novos tempos
João Carlos Di Gênio, o rei das faculdades , resolveu promover uma espécie de liquidação nas faculdades de Direito da Unip - Universidade Paulista: quem quiser estudar de manhã paga apenas R$ 300 de mensalidade. Tem turmas-extras e gente escapando pelo ladrão. Já a Uniban, que também luta com grande volume de inadimplência, quer implantar um novo método para pagamento de professores: cada um receberia por volume de alunos. Ou seja: seriam associados. As entidades de classe do magistério já preparam a devida reação.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 02 Apr 2004, 17:37

GUSHIKEN FOI SÓCIO DE WALDOMIRO - ISTO É DINHEIRO

O pivô do escândalo que paralisa o governo e o ministro Luiz
Gushiken já foram donos de uma fazenda em Goiás, dez anos
atrás. Era um tempo em que eles se tratavam como “irmãos”


Desde que eclodiu o escândalo Waldomiro Diniz, o governo Lula tem se esforçado para demonstrar que o ex-assessor do Palácio do Planalto, flagrado em vídeo pedindo propina a um bicheiro, é uma espécie de estranho no ninho do PT, que teria chegado ao poder de forma acidental. No entanto, documentos obtidos com exclusividade pela DINHEIRO revelam que, dez anos atrás, Waldomiro já mantinha relações societárias com um dos homens fortes do partido. Em 1994, ele foi sócio do ministro Luiz Gushiken, titular da Secretaria de Comunicação Estratégica (Secom), numa fazenda avaliada em R$ 650 mil. Naquela época, Waldomiro e Gushiken faziam parte da Associação Fraterna Mundo Novo, cujo objetivo era criar uma sociedade alternativa, próxima à natureza e aos valores espirituais. Seus membros se tratavam como “irmãos”. Em 1986, a Associação comprou terras na cidade de Cavalcante, em Goiás, onde foi criada a Comunidade Mundo Novo, numa fazenda de 605 alqueirões, que equivalem a quase três
milhões de metros quadrados. Em 1994, a associação contava
com 19 sócios. Entre eles, Gushiken e Waldomiro. Hoje, restam apenas oito e as atas das reuniões da sociedade estão registradas
no livro B-3 de Registros do Cartório de Títulos e Documentos
de Cavalcante. A escritura pública da compra da fazenda é a de número 1.3421, de 13 de fevereiro de 1986.
Luiz Gushiken é o terceiro membro do chamado “núcleo duro” do poder a ter seu nome associado ao caso Waldomiro Diniz. O primeiro foi o ministro da Casa Civil, José Dirceu, responsável pela nomeação do assessor. Depois, foi a vez de Antônio Palocci, da Fazenda, quando se revelou que Waldomiro havia pedido a representantes da multinacional Gtech a contratação de um ex-secretário do ministro por US$ 20 milhões. Gushiken, ao saber dos documentos obtidos pela DINHEIRO, sorriu. Disse a um de seus assessores que isso faz parte de um passado distante, em que ele ainda tinha os cabelos compridos. “Era minha fase de loucura”, disse o ministro. No entanto, ele não quis comentar a presença de Waldomiro na sociedade e pediu a Emerson Menin, atual presidente da Associação Mundo Novo, que explicasse o caso. “O Waldomiro foi nosso sócio durante um curto período”, disse Menin à DINHEIRO.
Ele explicou que Waldomiro comprou uma cota por US$ 3 mil, mas pagou apenas um terço do total. Como não honrou os compromissos, acabou excluído da sociedade. “Ele era muito querido entre nós e,
se tivesse pago sua cota integralmente, seria nosso associado até hoje”, disse Menin. “Mas o Gushiken nunca soube que o Waldomiro
era sócio porque não fazia parte da diretoria.” Menin afirma que a fazenda não é um negócio, mas sim um clube, e disse que os sócios não têm qualquer responsabilidade se um dos membros “rouba ou mata”. O ministro Gushiken, por sua vez, associou-se à comunidade em 1990, quando era presidente nacional do PT. Desde então,
nunca deixou de honrar uma única mensalidade, hoje em R$ 400,00.
O que mais atrai Gushiken à fazenda de Cavalcante, localizada
na Chapada dos Veadeiros, são as monumentais cachoeiras da
região, que formam o Vale da Lua. Em 2004, o ministro já foi
ao local para se banhar três vezes.

Gushiken não é o único petista a fazer parte da comunidade esotérica que, dez anos atrás, teve Waldomiro como sócio. O próprio Emerson Menin foi assessor de Gushiken durante a Assembléia Constituinte de 1988. Hoje, ocupa o cargo de coordenador de Gás e Energia na Petrobras, mas está lotado em Brasília e despacha na Secom. Outro membro da Associação Mundo Novo, José Vicentine, é também assessor de Gushiken. E o “irmão” Luiz Antônio de Mello Rebello, por sua vez, assessora o senador Aloizio Mercadante (PT/SP). Para os líderes da oposição, que há dois meses tentam em vão instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso para apurar o caso, a revelação
da sociedade entre Waldomiro e alguns membros do PT deu-lhes um novo ânimo.
“Isso prova que o Waldomiro é um operador e uma peça central no esquema de poder do governo Lula”, acusa o deputado Jutahy Magalhães (PSDB/BA).
A Associação Mundo Novo começou a ser concebida na cidade de Porto Ferreira, no interior de São Paulo, onde Emerson Menin e José Vicentine residiram no passado. O mentor do grupo era o médium espírita Antônio Marcelino, que, em 1984, fundou uma sociedade chamada Associação Fraterna Filhos da Mesma Luz. Marcelino chegou a morar em Cavalcante, mas depois se desapontou com o “materialismo” que havia tomado conta do grupo. Hoje, ele administra uma loja de brinquedos e cuida de um asilo, o Solar dos Jovens de Ontem, em Porto Ferreira. Outro empresário da cidade paulista, o fazendeiro de laranjas Osmar Giacon, também foi um dos precursores da Associação Novo Mundo. “Saí de lá quando percebi que os valores já não eram os mesmos”, disse Giacon à DINHEIRO. Em vez de um aprimoramento espiritual, os sócios estariam, segundo Giacon, mais interessados em criar gado e ganhar dinheiro. “Nem quis receber de volta o que eu tinha investido na fazenda.”
Quando os conflitos entre os sócios tornaram-se mais freqüentes, já em 1994, ano em que Waldomiro Diniz fazia parte do grupo, a Associação Mundo Novo aprovou uma curiosa mudança em seu estatuto social. Aprovou artigos coerentes com a linha de um partido de comando centralizado. Deliberou-se que “nenhum sócio pode falar mal de outro em sua ausência”. Além disso, “qualquer sócio que tiver posse de informação comprometedora contra outro sócio ou dependente, deverá procurar a outra parte interessada para esclarecer e dirimir as dificuldades”. Por último, definiu-se que, não havendo entendimento entre as partes, “o sócio deverá encaminhar o problema ao conselho”. O descumprimento das regras sujeitaria o associado à expulsão da comunidade.
Ocorrência policial. Situada a 320 quilômetros do centro de Brasília, a fazenda Mundo Novo é uma rota obrigatória para todos os turistas que vão à Chapada dos Veadeiros. Por lá, passam dois grandes rios e há dezenas de nascentes. Como algumas das principais cachoeiras ficam dentro da propriedade, muitos turistas pagam uma taxa simbólica para entrar na fazenda. Na virada do ano, alguns deles recusaram-se a pagar o valor e alegaram que teriam sido ameaçados por Menin. Prestaram queixa na delegacia local. Menin também registrou um boletim de ocorrência. “Estou esperando que as vítimas voltem a Cavalcante para dar andamento às investigações”, disse à DINHEIRO o delegado de Cavalcante, Victor Marin. “Não sofri nenhuma pressão política para abafar o caso.”
Luiz Gushiken, embora não se envolva diretamente com o dia-a-
dia da fazenda, ainda mantém os ideais religiosos do passado. O ministro é adepto de uma prática de fé iraniana, derivada do zoroastrismo persa. Além disso, durante o Carnaval, o ministro viajou com a família a Israel para uma peregrinação mística. Os antigos sócios da Associação Mundo Novo de Porto Ferreira que o conheceram recordam-se de um homem calmo, quase zen, disposto a criar uma sociedade igualitária. Quanto ao “irmão” Waldomiro Diniz, ficou apenas a lembrança de um calote.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 06 Apr 2004, 09:17

FBI

CC: O senhor tinha acesso a documentos reservados sobre o Iraque? Existiam informes secretos que confirmassem a existência de arsenais de destruição em massa?
CAC: Eu era, até deixar o FBI, em outubro, um dos únicos 45 chefes do FBI a trabalhar no mundo, fora da fronteira dos Estados Unidos. Na minha posição tinha acesso, no mais elevado nível, Secret, Top Secret, a todo e qualquer documento secreto produzido, o que inclui os da CIA. Afirmo que jamais li um documento secreto que indicasse a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Ao contrário, o que li em todos os meus quatro anos no Brasil, e em Washington, foram informes que asseguravam o contrário. Muitas vezes discuti com meus colegas do FBI e da CIA, de qualquer parte do mundo, e concordamos que a administração Bush, e Blair, apenas buscava uma justificativa para invadir o Iraque. Fabricava para a imprensa o contrário do que todos nós afirmávamos, e isso desmoraliza a nossa comunidade de inteligência. Agora é claro que também no topo dos Serviços de Inteligência há sempre quem esteja mais interessado nas suas carreiras do que nos fatos, e são estes os que rearrumam os fatos como quer a administração Bush.

CC: Dê um exemplo pessoal?
CAC: Muitas vezes tive altas discórdias com os meus informes de Inteligência porque Washington queria que eu adaptasse fatos às suas necessidades paranóicas... O problema é que o senhor Bush não tem a menor compreensão do que seja o mundo, aliás, nem mesmo o seu próprio país. E essa arrogância está a isolar os Estados Unidos...

CC: ...do resto do mundo.
CAC: E o mundo está a constatar que a tal fé e credibilidade no governo dos Estados Unidos é simplesmente a crença num governo vacilante, arrogante e paranóico. Sem contar que, noutros tempos, fomos nós, os Estados Unidos, todos nós dos Serviços, que em algum momento ou circunstância armamos o Noriega no Panamá, demos suporte aos Contras na Nicarágua, estivemos no Chile de Allende, em toda a América Latina, Central, Ásia...

CC: Sempre como política de governo...
CAC: Uma política de governo. Assim como fomos nós, todos os nossos Serviços, que treinamos e demos suporte ao Bin Laden. Ora, isso é algo que já sabemos alguma coisa, você pode me dizer. O.k., mas aqui quem está a falar é alguém com a autoridade de quem trabalhou 22 anos no FBI e chefiou uma secção de contra-inteligência e espionagem industrial internacional em Washington.

CC: Vocês treinaram e armaram Bin Laden quando ele...
CAC: ...enquanto ele combatia os soviéticos no Afeganistão. Nós que demos suporte ao Saddam Hussein para ele conter os aiatolás do Irã, nós é que lhe demos armas químicas...

CC: Quando e como vocês deram as armas químicas?
CAC: Fornecemos, por exemplo, o antraz, assim como outras armas químicas que agora nós, hipocritamente, anunciamos ir lá procurar.

CC: Foram mesmo vocês, diretamente, que deram maneiras para produzir o antraz?
CAC: Demos as técnicas e demos toda a assistência.

CC: Quem fez isso? Em que época?
CAC: Donald Rumsfeld, atual secretário de Defesa dos Estados Unidos, à época era um representante emissário especial do presidente Ronald Reagan; início dos anos 80, guerra entre o Iraque e o Irã, com mais de um milhão de mortos em ambos os lados. Nós não tínhamos relações diplomáticas com o Iraque, considerado um país que dava suporte ao terrorismo internacional e que estava na lista de excluídos do Departamento de Estado. No entanto, em 1982, os EUA removeram o Iraque dessa lista e, em 20 de dezembro de 1983, o mesmo Rumsfeld de hoje encontrou-se com Saddam Hussein em Bagdá. Confraternizou-se com Saddam e deu a ele todo o suporte político e militar dos Estados Unidos...

CC: O que significa “todo” o suporte?
CAC: Como já disse, entregamos a ele a tecnologia de algumas das armas que agora iríamos procurar com uma guerra, mas não apenas isso. A Casa Branca e o Departamento de Estado ordenaram ao Banco Export-Import que financiasse o Iraque na guerra. Isso muito antes de os Estados Unidos restaurarem relações diplomáticas com o Iraque, o que só aconteceria em novembro de 1984. E, oficialmente, a nossa posição era de neutralidade.

CC: A propósito de neutralidade, qual foi a posição real dos Estados Unidos, dos seus serviços secretos, na Guerra das Malvinas, da Argentina contra a Inglaterra, em 1982?
CAC: Demos completo suporte de Inteligência, especialmente de satélites, para os ingleses. Fotografávamos, tínhamos a posição dos militares argentinos e passávamos para os ingleses. E, ao mesmo tempo, jogamos também um pouco com os argentinos. Havia uma dúvida: se os ingleses, depois, devolvessem aos argentinos as ilhas, que teriam petróleo embaixo, nós íamos querer que os argentinos nos facilitassem o acesso. Vendemos armas para os argentinos, e mais: navios ingleses, se não me engano dois destróieres que eles destruíram, o fizeram com base em nossas informações, de satélites, sobre a posição dos ingleses. Os ingleses ficaram pasmos: “Como é que os argentinos nos localizaram?” Localizaram porque fomos nós que fornecemos suas posições. À época, Margaret Thatcher esteve em Washington e pressionou o presidente Reagan. Só então paramos de fornecer informações aos argentinos. Passamos a enrolá-los.

CC: Sabe-se que as coisas foram e são assim no mundo real, em especial o das grandes potências, mas essa história...
CAC: Essa é a política externa dos Estados Unidos. São as razões pelas quais hoje não temos paz. É um país que sempre foi isolado pelo Atlântico e pelo Pacífico, mas agora isso chegou ao auge. Ninguém duvida que o Saddam Hussein é um criminoso, mas a hipocrisia do nosso governo é insuperável. Quando, com as nossas armas químicas e nosso dinheiro, as mesmas atrocidades foram cometidas por Saddam contra os curdos do norte e as minorias do sul, ignoramos e viramos a cara, até demos suporte. Hoje, usamos isso como argumento para justificar a guerra. Mas não é possível fazer o mundo todo de imbecil todo o tempo...

CC: O que isso quer dizer hoje ?
CAC: A credibilidade, a fé nos Estados Unidos, já não são as mesmas, por exemplo, na comunidade da União Européia. O euro supera o dólar, os europeus procuram investir na sua própria casa. O valor do dólar é baseado na fé e credibilidade no governo dos Estados Unidos. Qual é o cenário hoje nos EUA?

CC: Diga-nos.
CAC: Clinton havia conseguido um superávit de US$ 127,3 bilhões. Bush, em três anos, cortou impostos, aumentou os gastos, especialmente na área da Defesa, cortou o orçamento de programas sociais e, nesse tempo, produziu um déficit de US$ 541 bilhões de dólares. Esse déficit gera riscos para o mundo. Há muita verdade no velho ditado que diz: “Quando os Estados Unidos espirram, o mundo apanha uma gripe”. A desvalorização do dólar terá, em algum momento, como conseqüência, a elevação dos juros.

CC: Qual será, na economia, o futuro, o legado de Bush?
CAC: Para equilibrar suas contas externas, os Estados Unidos precisam de um fluxo de capitais externos de volume equivalente ao déficit, coisa de US$ 1 bilhão/dia de capital estrangeiro. Hoje o país já não consegue viver simplesmente da sua produção. Simultaneamente, a comunidade internacional compreende que pode dispensar os Estados Unidos; mas os Estados Unidos não podem dispensar o mundo. Os Estados Unidos predatoriamente sacam da economia mundial o máximo que podem. Muito em breve, para manter sua hegemonia e padrão de vida, os Estados Unidos terão que lutar militarmente e diplomaticamente. Somos 4,5% da população do mundo e consumimos entre 45% e 50% da matéria-prima do planeta. Maiores consumidores de petróleo, emitimos por pessoa, a cada ano, 19,7 toneladas de dióxido de carbono, que é poluição. O Brasil emite 1,8 tonelada por pessoa. Não se iludam quanto aos Estados Unidos. O que importa são os seus interesses.

CC: Vocês, agentes secretos, têm plena consciência disso?
CAC: Obviamente. Mas nenhum país vai lutar pelos interesses dos outros. Os governantes americanos fazem o que lhes interessa, e viemos aqui para cuidar dos nossos interesses. Ponto final. O resto é retórica.

CC: Mais claro, impossível.
CAC: Posso te falar uma coisa sobre o juiz Sebastião da Silva?

CC: Aquele juiz que tomou a decisão de fichar os americanos que entram no Brasil?
CAC: Sim. Acho que o juiz mostrou uma fortitude testicular, como se diz no vernáculo americano. Isso é manter a dignidade do povo brasileiro. Se estão a tratar mal os brasileiros nos Estados Unidos, então o mesmo tratamento deve ser dado para com os americanos aqui. Eu o considero um bom brasileiro. Não existe razão nenhuma para que se imponha fichação aos cidadãos brasileiros. Nunca tive conhecimento de um ato terrorista cometido por um brasileiro, exceto no seqüestro do embaixador Charles Elbrick, mas mesmo isso foi em um outro contexto, em 1969. Então, por que fichar brasileiros que não só têm sido aliados dos Estados Unidos, mas são um povo pacífico, até demais? É comum na embaixada ouvir relatos de brasileiros maltratados e humilhados quando entram nos Estados Unidos. E isso aumentou muito depois do 11 de setembro.

CC: Há muitas queixas de maus-tratos a brasileiros dentro dos Estados Unidos?
CAC: Constantemente. Mas se a nossa própria embaixadora queria ser tratada como se fosse um ser superior a todos...

CC: A Donna Hrinak?
CAC: Ela mesma. Um dia tentou furar uma fila na entrada do seu país, mas foi posta na sua posição. Disseram a ela: “Não, você tem de esperar como todas as outras pessoas”. A Polícia Federal agiu certo. Veja o caso do seu ex-chanceler Celso Lafer... foi humilhado, forçado a tirar os sapatos quando embarcava nos Estados Unidos.

CC: O fato é que aqui parece ser a casa-da-mãe-joana.
CAC: Já sei o que é a mãe-joana, e é isso mesmo. Mas, em relação aos Serviços Secretos nossos, ao FBI, até no Congresso dos Estados Unidos já existe uma controvérsia. Alguns congressistas com mais perspicácia questionam a presença operacional do FBI, uma polícia federal, no estrangeiro. Mas os próprios agentes do FBI nos Estados Unidos requerem operações de lá; operações como se o Brasil fosse uma extensão do território norte-americano. Eu recebia instruções assim: “Localize, conduza a investigação apropriada e prenda fulano de tal...”.

CC: Recebia documentos secretos que diziam “localize e prenda tal cidadão”, como se você estivesse em Chicago, Miami?
CAC: Isso. Diziam: “Esse fugitivo está no Brasil”. Eu respondia: “Nós não temos autoridade para fazer uma coisa dessas, temos de trabalhar em conjunto com a Polícia Federal”.

CC: E qual era a contra-argumentação de Washington?
CAC: Muitos respondiam, indignados: “Porra, isso aí é o Brasil! Just do it! (Apenas faça!)”.

CC: Imagino como vocês operam, por exemplo, no Paraguai?
CAC: O Paraguai é uma marionete dos Estados Unidos. Isso ninguém contesta. Muitos altíssimos membros do governo têm contato direto com os agentes, é uma ligação direta com a embaixada.

CC: Inclusive o presidente da República?!
CAC: (Risos. Apenas risos.)

CC: E o Congresso americano...
CAC: O Congresso americano, que financia os escritórios do FBI e os outros Serviços no estrangeiro, questiona muitas vezes, mas eles são enrolados pelo bom marketing comunicativo, especialmente o do FBI: o ego da instituição FBI é movido a poder e dinheiro. É comum ouvir os agentes e o comando a dizerem: nós somos os melhores e mais poderosos, temos influência no Congresso para obter orçamento e temos poder. Temos uma unidade na sede em Washington que é só para lidar, influenciar o Congresso quanto a verbas e outros assuntos. O FBI luta tenazmente para manter o seu poder e expandi-lo diante dos outros Serviços. E na verdade o FBI tornou-se uma gorda burocracia que não faz justiça à lenda e ao contribuinte.

CC: O Congresso brasileiro deveria estar mais preocupado com o que o FBI e os outros serviços estão fazendo aqui do que o Congresso do EUA...
CAC: O FBI até não é dos piores. A DEA, por exemplo, “contribui” com milhões de dólares na conta privada de delegados da Polícia Federal... Se quer fazer uma doação, que a faça aberta. Agora, pôr numa conta privada? Isso é indicativo de que alguma coisa está errada.

CC: Que estão a “influenciar”...
CAC: Isso é indicativo de que você compra a polícia e, quando pede alguma coisa, tem de ser dado. Veja a preocupação número 1, por exemplo, do representante do Departamento de Estado na Seção de Narcóticos, a NAS. A primeira preocupação dele, a número 1, é que a Polícia Federal aceite o dinheiro que ele está a doar, entre aspas. Geralmente, uma quantia que varia, a cada ano, de US$ 1 milhão a US$ 3 milhões.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 06 Apr 2004, 09:25

ROBERT RUBIN

(...) Eles atacam Franco, mas é a Dutra que querem acertar. FHC fez o possível para punir os gaúchos por sua eleição. Dutra não suspendeu os pagamanetos da dívida gaúcha, mas pagou-a nos tribunais. FHC reagiu com crueldade, retendo 40 milhões de dólares em impostos coletados para o estado de Dutra(...).
(...) Rubin foi eleito para um cargo mais alto: é presidente do Citigroup, a corporação dona do Citibank, que é dono do Brasil.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 06 Apr 2004, 11:13

CARLOS HEITOR CONY

Samba do crioulo doido
RIO DE JANEIRO - Ainda bem que está acabando a onda de testemunhos e confissões sobre o movimento militar de 64. Um dos problemas da mídia, em geral, é não saber (ou não poder) dosar o tamanho e o grau desses aniversários redondos de fatos ou pessoas históricas.
De minha parte, e apesar de ter caído em tentação, atendendo a pedidos de depoimentos sobre o assunto, já não suportava o excesso de críticas e denúncias contra aquele movimento, a começar pela minha própria contribuição.
Apesar de tudo, até certo ponto, foi divertido ver a confusão de datas, pessoas e fatos na ótica de testemunhas que se prestaram a engrossar a avalanche contrária ao golpe de 64.
Acho que já contei: um repórter me perguntou como eu reagi quando fui preso pelo Filinto Müller. O escriba que vos escreve tinha míseros dois anos quando o famoso policial do Estado Novo fez das suas. Sim, escapei das garras do Filinto Müller, do mesmo modo como escapei da matança dos inocentes promovida por Herodes -talvez pelo fato de nunca ter sido inocente.
Em prova de vestibular, Tiradentes foi arrolado entre as vítimas do DOI-Codi. E a resistência da mídia, em geral, que só existiu depois do AI-5, em dezembro de 1968, foi antecipada em quatro anos. Nenhum jornal publicou versos de Camões e receitas de bolo em 1964. Pelo contrário: a maioria dos veículos da mídia fartou-se em elogiar o movimento militar daquele ano. E alguns órgãos chegaram a colaborar com a repressão, lembrando pessoas e entidades que deveriam ser punidas e expulsas do seio da sociedade. Para ficarmos num exemplo maior, a cabeça de JK foi pedida por jornais desde o início do golpe. E colocada na bandeja meses mais tarde.
Prevaleceu um samba do crioulo doido, dando a impressão de que meia dúzia de militares renegados e boçais conseguiram prender e calar 65 milhões de heróicos resistentes ao totalitarismo. Não foi bem assim.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 07 Apr 2004, 09:43

ELIO GASPARI

1964 + 40 = 2004 e 1954 + 50= 2004
Deve ter sido coisa do marechal Humberto Castello Branco, o primeiro ditador (encabulado) da canastra de generais. Ele tinha um raro senso de humor. Gostava de se livrar dos interlocutores, encerrando a audiência com a seguinte frase: "Agora o senhor vai me dar o prazer da sua ausência".
Deve ter sido coisa do Castello obrigar o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e um pedaço da nação petista a saírem de seus gabinetes no dia 31 de março de 2004 para denunciar: "Havia, de fato, [...] uma espécie de conspiração. Para quê? Para apurar o caso Waldomiro? Para descobrir delitos cometidos por essa pessoa, que é o que a fita indicava? Não. Muito mais que isso [...]. Pretendia-se "ferrar" o ministro Zé Dirceu e derrubar o governo Lula".
Na mosca. A conversa dos procuradores José Roberto Santoro e Marcelo Serra Azul com o bicheiro Carlos Cachoeira foi aquilo que antigamente se chamava de "coisa de subversivo".
Espécie de conspiração, e da boa. Quando um subprocurador diz a um bicheiro que ele não deve recorrer à Polícia Federal para anexar uma prova a um processo, subverte-se a investigação. Apurando o caso de um larápio (de vídeo passado) com domicílio comercial no Gabinete Civil da Presidência, desviou-se a atividade dos funcionários do Estado para uma operação que teria como resultado danificar o governo da República.
Muito mal comparando, tanto pela dimensão dos personagens, como pela extensão das conexões, os coronéis do IPM, instalado na Base Aérea do Galeão em 1954, não estavam interessados em apurar o atentado ao jornalista Carlos Lacerda, no qual morrera um major. Estavam interessados em derrubar o presidente Getúlio Vargas. Em agosto, essa crise completará 50 anos. Não se conhece um só depoimento que associe Vargas ao crime e à decisão de Gregório Fortunato, chefe de sua guarda pessoal e mandante do atentado.
As obras e pompas de Waldomiro Diniz, bem como sua relação com o comissário José Dirceu, são uma coisa. Ir atrás de Waldomiro para "ferrar" Dirceu, é outra. Embora seja politicamente legitimo desejar que Dirceu se ferre, essa atribuição é estranha aos poderes dos procuradores da República.
Diante da proposta de Charlie Waterfalls para que a polícia apreendesse em sua casa o vídeo em que Waldomiro o achaca, o doutor Santoro ensinou:
Ä Eles iam pegar o documento na tua casa, carteira de identidade da tua mulher, e essa fita nunca ia aparecer, tá?
Noutro trecho da conversa, quando Charlie sugere que a fita seja apreendida em outro lugar, o subprocurador elabora:
Ä Você sabe o que vai acontecer com essa fita? A busca e apreensão vai ser feita pela Polícia Federal, a Polícia Federal vai lá bater... é isso?... A primeira coisa que vai ser, vai ser periciada, e a primeira pessoa que vai ter acesso a essa fita é o Lacerda (diretor da PF), o segundo é o ministro da Justiça, e o terceiro é o Zé Dirceu. E o quarto, o presidente.
A reunião dos procuradores Santoro e Serra Azul com o contraventor Cachoeira foi uma "espécie de conspiração". Se foi grande ou pequena, séria ou ridícula, a questão fica para mais tarde. Se o PT já fez coisa pior, pouco importa. Grave é saber que um cidadão, depois de ouvir Santoro, pode ficar com medo que o ferrem.
Ao contrário do que disse o PSDB, Thomaz Bastos não tentou intimidar ninguém. Quem intimida são procuradores agindo como Santoro e Serra Azul.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

Postby mends » 07 Apr 2004, 09:44

ELIO GASPARI

O espetáculo da incompetência

Há um livraço na praça. Chama-se "O espetáculo do crescimento", de William Easterly, um veterano economista do Banco Mundial. É um pesticida que ajuda a proteger as economias dos países subdesenvolvidos da praga das ekipekonômicas.
Easterly demonstra que nos últimos 50 anos os sábios europeus e americanos inventaram cinco teorias econômicas sucessivas para produzir progresso. Produziram atraso e ruína. Lista as seguintes teorias:
1) O aumento dos investimentos traz progresso. Dentre 138 países estudados entre 1965 e 1995, isso aconteceu em três (Israel, Libéria, Tunísia).
2) O aumento da escolaridade traz progresso. Easterly sustenta que o progresso melhora a educação, mas a recíproca não é verdadeira. Sem crescimento, engenheiros viram taxistas.
3) Com menos capitas haveria mais renda, portanto o negócio era controlar a natalidade. A Argentina está no ralo com taxas de fertilidade baixas, e o Botsuana vai bem com taxas altas.
4) A nova mágica foi o "ajuste com crescimento", lançada depois da crise de 1982. Salvo na Ásia e em exceções, como Gana, crescimento não houve.
5) Tentou-se o perdão da dívida dos miseráveis e produziu-se a seguinte gracinha: entre 1989 e 1997, perdoaram-se US$ 33 bilhões de 41 países. Em 2001, eles deviam US$ 44 bilhões. Easterly é um daqueles intelectuais que melhoram a cabeça de quem não pensa como ele.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."

Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")
User avatar
mends
Saidero MegaGoldMember
Saidero	MegaGoldMember
 
Posts: 5183
Joined: 15 Sep 2003, 18:45
Location: por aí

PreviousNext

Return to Notícias

cron