Presidente da CNBB: educação sexual leva à promiscuidade

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Presidente da CNBB: educação sexual leva à promiscuidade

Postby jruiz » 08 May 2007, 08:37

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal d. Geraldo Majella, diz que o programa de educação sexual do governo federal induz à promiscuidade, ao promover a distribuição de preservativos.

"Favorecer uma educação, para quê? Para estimular a precocidade da criança, do adolescente, como no caso da camisinha. Será que isso é educativo? Isso é induzir todos à promiscuidade", afirmou dom Geraldo em entrevista à BBC Brasil, poucos dias antes de encerrar seu mandato à frente da CNBB, nesta quarta-feira, e transmitir o cargo ao arcebispo de Vitoria da Conquista, d. Geraldo Lyrio Rocha, eleito na semana passada.
Mas ele diz que "é difícil" orientar um casal casado a não usar preservativo para prevenir doenças. "É difícil orientar. Mas nós não temos suficiente possibilidade de dizer faça assim ou faça de outro modo", afirmou d. Geraldo.
D. Geraldo também criticou a iniciativa do ministro da Saúde, José Ramos Temporão, de promover um debate sobre o aborto, e disse que se houver um plebiscito para legalizar a prática, a Igreja fará uma grande campanha para incentivar os fiéis a votarem contra.
O cardeal disse ainda que está decepcionado com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em quem depositou esperanças por seu passado de trabalhador e líder sindical.
"Não estou satisfeito plenamente. Já se passou um mandato inteiro. Privilegiou sempre o capital e não o trabalho", afirmou.

Fonte: Folha de São Paulo
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Postby telles » 08 May 2007, 09:34

Isso é engraçado... Um bispo, que "teoricamente" não pratica o assunto, opinando sobre ele....

Há um milhão de anos atrás, no outro século, na escola da prefeitura que eu estudava, teve aula de eduação sexual, com distribuição de camisinha inclusive, e não rolou nenhuma orgia estudantil depois :lol: :lol: .... serviu até para as meninas mais "assanhadas" para a idade aprenderem a se preservar um pouco mais... e pode ter evitado várias gravidezes (isso existe? :merda: ) precoces.

Agora máquina no banheiro eu fico com pé atrás.... Acho que não vai ajudar em nada, só contribuir pra molecada fazer guerrinha de bexiga no intervalo....
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Postby jruiz » 08 May 2007, 10:24

Algumas posições da igreja são um contrasenso.

Por outro lado, numa recente ultra big reunião da Universal, eles distribuíram camisinhas entre os milhares de participantes (talvez porque se o público tiver que gastar com fraldas e mamadeiras - ou com remédios - a receita deles vai cair - rs..rs..).

O fato é que marketing das evangélicas e pentecostais é muito melhor (desde Lutero).
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Postby telles » 08 May 2007, 11:12

http://www.asaidera.com.br/viewtopic.php?p=10068#10068

Sabia que já tinha visto isso por aqui
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Postby mends » 08 May 2007, 11:25

"marketing desde Lutero"...nossa, o nível de bobagens está ficando alto (*).

Pegunta: dado que a Igreja considera falha grave uma pessoa não ser monogâmica e praticar sexo antes do casamento, como vocês acham que ela deveria se portar frente à distribuição de camisinha????

Educação sexual é uma coisa;. Incentivar a prática é outra. E distribuir camisinha ans escolas é incentivar a prática sim, pois a mensagem é: pode fazer, com qualquer pessoa, desde que “protegido”. ALÉM DE TOMAR UM PAPEL QUE É DOS PAIS.

Com relação à AIDS, o aconselhamento da Igreja também é, de longe, o mais eficaz: sexo monogâmico apenas.Uma pessoa que “obedece a Igreja” na questão da camisinha pode “desobedecer” em relação à monogamia???? Se você não serve para ser católico por completo, não seja católico, como eu não sou – por outros motivos. E não ponha a culpa no Papa ou na CNBB.

(*) O protestantismo clássico é baseado em uma postura teológica diferente, baseado nas 99 Teses que Martin Luther afixou em sua paróquia, na Prússia. Comparar Lutero a Edir Macedo é uma ofensa.
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Postby jruiz » 08 May 2007, 12:46

:yuck:
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Postby mends » 08 May 2007, 14:11

não adianta fazer cara feia: querer que a igreja aceite camisinha, aborto, eutanásia etc é ou querer que ela contrarie a lógica, dados os princípios que defende, ou querer que ela abra mão dos princípios que defende em nome da "Modernidade".

Aliás, quem for pesquisar pelo conceito da modernidade em filosofia vai se deparar com coisas estranhíssimas, pra dizer o mínimo.
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Postby mends » 09 May 2007, 19:53

Não. A Igreja Católica não vai abrir mão de nenhum dos seus postulados morais porque eles não são valores instrumentais. Muito pelo contrário: a crítica leiga não se cansa de apontar que os católicos não fazem o que o papa recomenda, e esta seria uma das razões da fuga de fiéis, o que é bobagem, mas não vou tratar disso agora. Então por que ele não muda? Porque se trata de aspectos de uma doutrina, que não se vão vendendo, aos poucos, aos pedaços, na pia da modernidade. A Igreja sabe como sobreviver, não se preocupem.

Li, hoje, um tantinho espantado, um texto do colunista Marcelo Coelho, da Folha. É uma tentativa de tratar o papa com ironia, embora leve, como é de seu estilo. Conclui que é até positivo que a hierarquia católica seja tão supostamente obtusa nas suas proibições porque isso descola a massa de fiéis de seu líder, o que não deixa, segundo Coelho, de ser positivo. Isso, parece, nos livraria de fundamentalismos de massa. Trata-se de um juízo, claro, de quem acha que a Igreja, em si, não é lá grande coisa. Mas o que me intrigou no seu artigo foi outra coisa. E só trato do assunto porque ele não é o único a expressar tal inconformismo.

Escreve ele: “Sou dos muitos que não se conformam com o conservadorismo do Vaticano em questões de sexo, saúde e vida familiar. Condenar o divórcio e o uso de preservativos, para citar casos mais extremos de intransigência, parece-me não só uma agressão ao bom senso, mas quase uma futilidade hoje em dia. É como se os padres insistissem em andar de batina pelas ruas, ou fizessem questão de que ninguém coma carne na Semana Santa. Pontos como esses foram abandonados da pauta eclesiástica. Por que não flexibilizar um pouco o resto também? Nestes últimos dias, contudo, fui mudando de opinião. Pode ser que a rigidez do papa nessas questões termine até trazendo algum efeito positivo. Pelo menos, a julgar pelo que acontece no Brasil.”

Por que será que Coelho, que não é católico, e outros tantos, aqui e alhures, não se incomodam com as restrições impostas pelo islamismo, judaísmo, budismo, hinduísmo ou outro orientalismo qualquer? Ao contrário até: por que será que as imposições das outras crenças devem ser acatadas como variantes culturais, a desafiar a nossa inteligência e tolerância? Por que será que a Igreja Católica é alvo de tanto interesse, e todos acham que têm algo a dizer sobre suas interdições? A resposta é óbvia: porque ela, de muitas maneiras, é a criadora do Ocidente e, com efeito, foi também poder temporal durante muito tempo. Assim, todos se sentem mais ou menos no direito de dizer o que a Igreja “deve” fazer. O curioso é que costumam dizer o que ela “deve” fazer para justamente deixar de ser Igreja. Trata-se de um paradoxo formidável.

Coelho tem a humildade intelectual daqueles que acham que podem ser benevolentes com o papa, assim como um gerente de restaurante, com o olhar entre piedoso e entediado, tolera um cão vadio à espera dos restos. Acaba reconhecendo que o papa desempenha também um “papel positivo”. Bento 16 ficará muito grato por este pedaço de pelanca que Coelho lhe joga do balcão. Segundo o articulista, a “clamorosa inatualidade” do conservadorismo de Bento 16 “serve para atrair, como um ímã, todas as pequenas aparas de ferro que ainda nos prendiam a um mundo de obscurantismo e repressão.” Coelho se deixou fascinar pela idéia de que o papa é uma espécie, assim, de Cristo redivivo, pós-moderno, um cordeiro que, em vez de tirar os pecados do mundo, os chama todos para si. É uma besteira monumental. Mas isso é o de menos. Eu só não sabia que a Igreja Católica ou o cristianismo eram as fontes contemporâneas do obscurantismo e da repressão.

Para o papa e — na sua associação de idéias — o Cristo não são os cordeiros de Deus que tiram os pecados do mundo, mas os bodes expiatórios que pagam pelas culpas coletivas. Bem, ele lide lá com as suas ignorâncias, assim como deploro as minhas. Mas qual é o “obsurantismo e repressão” da moderna Igreja Católica? Falar aos seus? Apelar à consciência de cada homem? Censurar o pecado, mas acolher o pecador? Pregar a dignidade humana, seja a de homens, mulheres, crianças, enfermos? Fazer a defesa intransigente do princípio da vida? Defender radicalmente esses postulados tendo claro, sempre, que fala aos católicos?

No fim das contas, sei bem o que não suportam na Igreja Católica: é o primado da liberdade. É a afirmação tácita de que você é livre para escolher o seu destino, o seu caminho. E que toda escolha acarreta conseqüências. Isso a que chamam constantemente “culpa”, que vem associado à Igreja, eu costuma chamar de consciência. Não é fácil ser católico. O culto à religião propriamente talvez seja hoje, como sempre foi, obra de uma minoria abnegada. Para a maioria, a religião permanece como um norte ético. Eu mesmo não me digo católico sem uma ponta de constrangimento. Porque não me acho bom o bastante pra isso.

Mas sei que o mundo é bem melhor com a Igreja Católica. E saúdo a palavra de seu primeiro pastor. Onde quer que a instituição esteja hoje presente, se não foi tomada pela heresia — outra constante de sua história —, está levando um mensagem de paz, de esperança, de aposta na vida. De fato, isso parece ser uma coisa insuportável. Sob certo ponto de vista, ninguém deveria ter a ousadia de querer ser tão bom.

Se há coisa que jamais faltou ao demônio — eu o tomo aqui como uma metáfora — é o culto à desconfiança. Se um dia tiverem tempo e oportunidade, leiam Les Cahiers de Monsieur Ouine — ou simplesmente Monsieur Ouine, do escritor católico francês, que morou no Brasil, Georges Bernanos. “Ouine” é uma soma de “Oui” (sim) e “Non – que tem em francês a variante gramatical “ne” (não). O demônio é justamente a indistinção entre o Mal e o Bem, ou é o Mal que é Bem, ou op Bem que é Mal. É, em suma, a empulhação disso que chamam por aí de “dialética” — quando querem convencê-lo a abrir mão de seus princípios para o seu próprio bem.

É a tentação do deserto.

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Postby Rafael » 09 May 2007, 20:38

Quanto aos dogmas/leis/postulados morais, ou o que quer que seja, também acho que eles não vão abrir mão disso tão fácil...
A igreja católica existe há 2000 anos, baseada em uma outra (Judaísmo, velho testamento, etc) que existe há uns 5000 (eu acho)... para o catolicismo as mudanças comportamentais dos ultimos 30 ou 40 anos, é bobagem, é muito pouco tempo, podendo inclusive considerar uma "oscilação" no comportamento das pessoas.
Acredito que podem paulatinamente ir se adaptando de acordo que estes comportamentos forem se cristalizando. Exemplo: até não muito tempo atrás as missas eram em latim. Tiveram de assumir outras linguas quando o mundo já tinha até esquecido do latim...

Lembro-me da piadinha do velhinho inglês que queria sair da Inglaterra... quando o questionaram porque ele disse que quando era criança, era crime ser viado... hoje em dia é normal ser viado, e ele estava de saida antes que fosse obrigatório ser viado...
Se você não quer aquilo, pode ir embora, ou ignora... O dia que a igreja católica me disser que eu "tenho" de ser assim, ou eu "tenho" de ser assado pra poder entrar numa igreja, ou pra poder acreditar em Jasus Cristo, eu vou-me embora... Pelo que vejo hoje eles orientam que seja desta forma...

Dizer que o papa condena a camisinha, e com isso incentiva a disseminação da AIDS é tirar as coisas de contexto... ele incentiva a monogoamia, sexo só depois do casamento, etc... Aí sim, a camissinha torna-se mais desnecessária, podendo acontecer até boas surpresas (o Mends que o diga)...

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Agora falando de religião em geral...
Entendo as religiões quase como um "produto" ("o ópio do povo"), onde cada um "consome" aquela fé que mais lhe agrada, que mais se adapta ao seu estilo de vida, ou até porque é a mesma que seus pais consumiam... considero isso de certa forma, uma necessidade inata da pessoas, ter algo em qu acreditar... A religião diz uma refencia, lhe dá preceitos, mas seguir as coisas ao pé da letra é doentia... tão doente quanto os malucos muçulmanos que se matam porque o Aiotolá não sei o que disse que quando matam infiéis vão pro paraíso com não sei quantas virgens...

Desta forma cada um consome a religião que mais lhe agrada, ou até segue as regras que mais lhe agradam ou que lhe é possível, ou acredita serem necessárias. Considero Católico Apostólico Romano, mas nem por isso não vou deixar de usar camisinha, ou melhor, vou deixar de fazer sexo até me casar, ou sei lá o que... vou "consumir" da minha religião a parte que me atende...

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Por fim, o que é sexo monogâmico? depende da referência...

Comer uma mina por dia é monogamia? naquele dia é...
Duas na cama, vc só consegue penetrar uma por vez, então é monogamia?

Aí vou ouvir é ter uma parceira fixa... Uma única parceira? pra vida toda? se ela morrer posso pegar outra?

tudo depende, e cada um interpreta da forma que lhe convém...
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Postby mends » 10 May 2007, 08:53

Agora falando de religião em geral...
Entendo as religiões quase como um "produto" ("o ópio do povo"), onde cada um "consome" aquela fé que mais lhe agrada, que mais se adapta ao seu estilo de vida, ou até porque é a mesma que seus pais consumiam... considero isso de certa forma, uma necessidade inata da pessoas, ter algo em qu acreditar... A religião diz uma refencia, lhe dá preceitos, mas seguir as coisas ao pé da letra é doentia... tão doente quanto os malucos muçulmanos que se matam porque o Aiotolá não sei o que disse que quando matam infiéis vão pro paraíso com não sei quantas virgens...

Desta forma cada um consome a religião que mais lhe agrada, ou até segue as regras que mais lhe agradam ou que lhe é possível, ou acredita serem necessárias. Considero Católico Apostólico Romano, mas nem por isso não vou deixar de usar camisinha, ou melhor, vou deixar de fazer sexo até me casar, ou sei lá o que... vou "consumir" da minha religião a parte que me atende...


Aí que está: isso não é reilgião. isso é religião do "self", é um fenômeno "pós moderno", filosoficamente falando. Religião n~~ao é pra confortar, é pra instigar. É pra te melhorar, não pra justificar o teu comportamento. Não é uma prateleira de supermercado onde vc vai e escolhe as partes que lhe apetecem. Não tem sentido que seja, e a "necessidade" humana (entre aspas porque antes de 1960 essa necessidade não existia) fez que com que surgisse oisas como esse orientalismo que permeia nossa vida. Religião é religare, melhorar-te para que sejas digno da presença de Deus.

Por isso eu não sou católico: tenho problemas em aceitar as partes gnósticas, místicas da Igreja, apesar de admirar os preceitos morais.

cada um interpreta da forma que lhe convém...


Isso justificaria qualquer coisa, correto?
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Postby mends » 10 May 2007, 18:19

"Pregar a morte de Deus no Ocidente é covardia. Corajoso seria pregar a morte de Alá em Teerã. "

Reinaldo Azevedo
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Postby mends » 11 May 2007, 10:33

Reçiprossidádi: “Çi o papa num çi ajoêlia pra mim, eu num çi ajoêlio pra ele”
Temas tratados neste texto:
- O que fazia Marisa Letícia no encontro de dois chefes de Estado?
- A República laica de uma certa Vera Machado
- Reçiprossidádi: “Çi o papa num çi ajoêlia pra mim, eu num çi ajoêlio pra êle”
- Quem vai à TV defender o aborto num plebiscito?
- Temporão acha que pode dar bronca no papa
- O médico Temporão praticaria um aborto?
- De onde vêm os números de Temporão?
- A intolerância dos tolerantes
- Quem tem medo da excomunhão?

A palavra “detestável” não define a contento o comportamento do governo Lula, até agora, durante a permanência do papa Bento 16 no Brasil. A ela, outras devem ser agregadas. Tem sido um espetáculo de vulgaridade, de grosseria, de burrice. No que respeita às relações internacionais, destaque-se a insólita presença de cidadã Marisa Letícia da Silva no encontro privado do chefe de estado Luiz Inácio Lula da Silva com o chefe de estado Bento 16. O que ela fazia lá? Tinha a dizer o quê? Qual a justificativa? O núncio apostólico, gentil, observou que era uma ocorrência inédita no mundo. O representante do Vaticano afirmou que o papa, claro, aprovou o fato, o que estaria a indicar o apreço do presidente Lula pela família. Mas se trata, é óbvio, de uma resposta bem-educada. Dona Marisa foi eleita por Lula, mas não pelos brasileiros. Participar das cerimônias oficiais, fora da reunião de trabalho, é até uma obrigação. Mas isso foi o de menos.

Se o papa leu os jornais ou recebeu um clipping preparado por sua assessoria, teve a chance de saber que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, considerou “descabido” o apoio dado por Sua Santidade aos bispos mexicanos que querem excomungar os políticos que apóiam o aborto naquele país. Notem bem: Temporão, ministro da Saúde do Brasil, acha que pode opinar sobre o que Igreja de Roma tem a dizer aos bispos do México. O governo Lula perdeu completamente o limite, o juízo, a razão, o simancol, o senso de ridículo. A pergunta tem de ser feita: quem ele pensa que é? Se estivesse se referindo apenas ao Brasil, com o papa em solo pátrio, já seria uma grosseria inaceitável. Temporão foi mais longe: “Você não pode apenas prescrever dogmas e preceitos de determinada religião para um conjunto da sociedade. Me parece descabido". Quem está prescrevendo o quê para quem, meu senhor?

O chefe da Igreja Católica fala aos católicos. O estado faça o que acha que deve se tiver condições política para tanto. Mas já volto a este ponto. Quero me referir antes à terceira bobagem em tão pouco tempo. Ao falar à imprensa sobre o encontro privado de Lula-Marisa com o papa — pô, a porta-voz deveria ter sido a primeira-companheira —, Vera Machado, embaixadora do Brasil no Vaticano, disse que Lula reafirmou que o estado é laico no Brasil. Deus do Céu! Lula é agora o usurpador dos proclamadores da República. Voltamos a 1889. Não sabia que o Brasil está prestes a se tornar uma teocracia, o que justificaria a afirmação da condição laica do estado. Nem a Turquia, sob permanente ameaça de se transformar numa ditadura islâmica, precisa chegar a tanto.

Ah, é que Lulinha, vocês sabem, acredita na "reçiprossidade". Lembram-se quando passamos a dar aos americanos o tratamento que os americanos davam a qualquer estrangeiro quando entrava em seu país por causa das leis antiterror? Como o papa, na quarta, reafirmou que a Igreja é contrária ao aborto logo na chegada — o que ele fala em qualquer país do mundo —, o Apedeuta se sentiu agravado. “Çi o papa mi provoca, intão eu provoco o papa”. É isso aí, sabichão. Lula também não fez a genuflexão que muitos chefes de Estado fazem mundo afora diante do Sumo Pontífice — FHC fez diante de João Paulo 2º, por exemplo. Ah, não: ou o papa se ajoelha aos pés de Lula, ou ele não se ajoelha aos pés do papa. Numa cerimônia de lava-pés, o Babalorixá enfiaria o pezão na cara do primeiro que lhe aparecesse à frente. Imaginem esse homem lavando os pés dos humildes...

É claro que tudo isso é vergonhoso, vexaminoso para nós, e expõe o grau de primitivismo político em que estamos nos atolando. O setor da imprensa que faz o papel de porta-voz do governo nem mesmo se ocupa de indagar de onde vêm os números que o governo põe na praça sobre os abortos clandestinos. Seriam mais de 1 milhão por ano. Como são coletados esses dados? O serviço público de saúde teria 220 mil intervenções por ano decorrentes de abortos feitos em condições precárias. De onde vêm essas notificações? Há distinção entre espontâneos e provocados? O sistema público de saúde tem condições de absorver essa demanda de 1 milhão? Quanto custaria? Mais: uma vez legalizada a prática, não é razoável pensar que cresceria o número de solicitações? Todos os médicos que trabalham na rede oficial de saúde aceitariam fazer a intervenção? Eles poderiam alegar a exceção ética, religiosa ou de consciência?

Temporão diz ainda que o aborto só não é legalizado porque não é o homem que engravida. Notável juízo! É ele nada menos do que o maior defensor de que se faça um plebiscito no país para decidir a questão. Os homens vão votar, ou a sua participação nessa escolha já estaria marcada pela ilegitimidade? Temporão lê este blog. Se quiser, pode me enviar as respostas. Eu as publicarei aqui. Reitero o que já disse: que se faça o plebiscito, ora essa. Se o governo acha isso tão necessário, que tenha a coragem de assumir a proposta. Uma vez definido — só não vale manipular a pergunta —, a campanha terá início. Se a causa é tão justa e popular, estou ansioso para ver a cara dos seus defensores na televisão. Temporão vai falar? Lula vai falar? Até agora, eles não disseram o que pensam. No programa Roda Viva, perguntei se Temporão era contra ou a favor. Ele não me disse. Eu iria lhe fazer outra pergunta, mas não houve tempo: já que ele é médico, faria um aborto ou deixa a tarefa para seus colegas? Essa resposta ele também pode me enviar se quiser.

A quem fala o papa
O argumento mais vulgar a favor da mudança da lei sustenta que ela facultará o que chamam de “direito”, mas não obrigará ninguém a nada. É verdade. Ora, adiante com a luta, rapazes. A Igreja Católica é contra. Por que vocês precisam do aval do Vaticano para uma prática contrária a um fundamento da instituição? Não terão. Uma campanha poderá mudar a opinião de mais de dois terços dos brasileiros? Tentem a sorte. Se esse é o argumento central no que concerne à liberdade de escolha, permitam que a Igreja também faça a sua. Afinal, como disse aquela embaixadora, Igreja e estado, no Brasil, são independentes.

Notei também o escândalo de certos setores com a aprovação de Bento 16 à excomunhão no México. O deputado José Genoino (PT-SP) — aquele que já tentou fazer guerrilha no Brasil e que presidia o PT no tempo dos “recursos não-contabilizados” de Delúbio (irmão do outro cujo assessor usa a cueca como casa de câmbio) — é autor de um projeto que dá à mulher o direito de decidir se aborta ou não. Olhem que coisa: Genoino não é católico, mas considera essa posição de Bento 16 “intolerante”. E reflete, com a mesma fineza teórica de sempre: “Defendo o estado laico. A Igreja tem de ser tolerante com os que têm opinião divergente de seus preceitos". Perfeitamente, deputado. Porque o estado é laico, independente da Igreja, ela aceita nos seus quadros apenas os que estão de acordo com seus princípios.

Excomunhão
Ninguém é obrigado a ser católico, é? Se estivéssemos, por exemplo, na Arábia Saudita, seria chato não querer ser islâmico. Mais do que chato: seria perigoso. Se alguém tivesse tal intenção, teria de ficar bem quietinho. Ou, no mínimo, iria levar umas varadas da polícia religiosa, que pode atacar qualquer mulher desacompanhada ou cujos trajes não sejam considerados adequados — ainda que na companhia do seu “dono”.

Ninguém nasce católico também. A pessoa se torna católica pelo batismo. Tem, ao longo da vida, a chance de reafirmar ou não a sua fé. Pode deixar o rebanho da Igreja. Para permanecer nele, há alguns preceitos fundamentais a seguir. Ora, se o catolicismo está, como querem, em declínio; se seus fundamentos morais são considerados incompatíveis com a vida moderna; se alguém pretende fazer proselitismo do que, para a Igreja, é abominável, que a deixe então — ou que seja deixado por ela. Quando o papa acena com a excomunhão para os que fazem a defesa do aborto, lembra que o católico tem um conjunto de princípios.

Trata-se por acaso, deputado Genoino, de tolher a cidadania ou os direitos de alguém? Qual é o prejuízo objetivo do “cidadão”? Fiquem tranqüilos: a excomunhão não é pior do que a perda da vergonha na cara ou a exposição da moralidade no estágio da cueca — especialmente para quem demonstra sinais explícitos de inconformidade com os “preceitos”.

Onde estão os intolerantes?
A presença suave, mas muito firme, de Bento 16 no Brasil está evidenciando onde estão, de fato, os intolerantes. O papa reafirmou todos os princípios da Igreja, inclusive no seu encontro com jovens no Pacaembu — sim, disse quais são as interdições que constituem a moralidade católica —, sem deixar de lado (veja mensagem nesta página) o aspecto acolhedor da Igreja Católica, que também abraça os pecadores. Para um católico, o arrependimento não é uma pena, mas uma forma de liberdade. Porque há a chance do perdão — e convém, claro, que o cristão não se transforme num pecador contumaz, que faz do perdão uma graça viciosa.

Intolerantes são aqueles que querem proibir o chefe da Igreja Católica de dirigir a sua palavra de fé aos... católicos! Intolerantes são aqueles que pretendem que o líder de uma religião troque seus princípios pelo tubo de ensaio de um cientista ou pela moral da conveniência de certa política. O governo que tenha a coragem de fazer o que achar melhor. Os católicos dirão o que pensam. Acho que isso, ao menos, eles podem, não? Nem que seja por enquanto.

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