Sempre fui fã do Francis: do jeito de escrever, do ar blasé, da busca empedernida pela nudez do rei, por sempre duvidar da primeira explicação. Já disseram que o cara era plagiário, o que não era, as provas - melhor indícios - de Fernando Jorge em seu livro "Vida e Obra do Plagário Paulo Francis" forçam a mão. De mais a mais, se não incomodam o maior plagiário do Brasil - melhor maior boçal - aquela besta do Arnaldo Jabor, que escreve "recortando" opiniões da Nation, da Athlantic Monthly, dependendo de seu humor...
Francis, inclusive, me ensinou a ler: "leio cerca de 100 livros por ano. Termino poucos, os que interessam. A maioria nada vale. Mas é sempre bom saber a quantas anda o mundo." (diário da corte, livro de 1993).
Trinta anos...é uma reedição dum livro de 1994, que narra as memórias do Francis durante o golpe e a ditadura. Pra quem só conheceu o cara por aquela dicção nervosa e, até certo ponto, ridículas e fakes, assumidamente forçada, lê-lo terá o prazer de descobrir um cara inteligente como poucos. Francis esperou trinta anos pra falar sobre o regime, mas foi dos que atiraram as primeiras pedras, foi pra NY exilado, só teve uma graninha depois de entrar pra Globo, foi um dos colaboradores mais agressivos do Pasquim, era macho, o cara.
Mas ler Francis é compicado: ele cita personagens históricos e filósofos no meio da conversa como quem fala do jogo de ontem, o que te faz, no mínimo, estudar mais. Parece que tá sempre falando: "vai ler alguma coisa, moleque, depois vem me encher o saco...".
Francis faz falta: hoje, poucos existem pra nos mostrar os bastidores, e como e porquê o rei está nú.