by mends » 10 Feb 2004, 13:18
bom, então vc vai ler qualquer coisa, mas não sheakspeare.
voltando à auto-ajuda, a Sun Tzu, aí eu discordo do Wagner, aliás, discordo em termos e concordo em termos: estratégia é mais arte que ciência, e o estudo e a abstração do conteúdo do livro do Sun Tzu, assim como o do Clausewitz ("Da Guerra", no meu pipeline de leitura), até o livro vermelho do Mao, é muito mais proveitoso que toda a obra do Michael (Harry) Potter. Estratégia não tem nada a ver com numeros, aliás, como defende o Mintzberg, estratégia não tem nada a ver com planejamento. É outra disciplina. Aliás, quando você abstrai o conteúdo do contexto pra estudar, até sítio é interessante - perguntem pro meu pai sobre as organizações do tipo rede de tiririca...
Quem lê Sun Tzu como um handbook, procurando os paralelos óbvios de inimigo/concorrente e relevo/mercado, quebra a cara porque cai no mesmo erro de quem lê auto-ajuda: super-simplificação. Eu acredito que conhecer coisas elaboradas, coletar as mais diversas informações, aprender a tomar vinho até, a apreciar sabores complexos, ler filosofia, sociologia, boa literatura, bons filmes, constrói o seu filtro cultural, não a sua bagagem. Não é uma mala que você tira uma ferramenta ("ferramentas de gestão são aquelas coisinhas que os gestores utilizam para não ter que utilizar o cérebro" - Henry Mintzberg), mas uma lente que faz você ver melhor o mundo. E o mundo tem nuances. O meu chefe foi sócio da Mckinsey e é PhD em Energia Atômica pelo MIT, e vive dizendo que ter estudado física foi muito mais proveitoso que ter estudado Finanças, mas tem hora que um filtro puramente de Finanças é necessário, sem paralelos com a física. Essa transposição de um universo a outro que acreditamos ser possível de fazer sempre e com qualquer assunto sem as devidas correções é que faz com que achemos que vamos resolver tudo sempre com a curva normal, ou com uma teoria simples, ou com um modelo de negócios importado sem critérios...aí, quando não dá certo, adapta-se o mundo à teoria, e nunca a Teoria ao mundo. No fim, somos platônicos de carteirinha, e isso nem seria ruim se as idéias dos nossos mundos das idéias não fossem as merdas que são, por simplórias demais.
"I used to be on an endless run.
Believe in miracles 'cause I'm one.
I have been blessed with the power to survive.
After all these years I'm still alive."
Joey Ramone, em uma das minhas músicas favoritas ("I Believe in Miracles")