Clippings e notícias

Notícias do cotidiano e outros assuntos que não se encaixam nos demais.

Postby mends » 16 Apr 2004, 17:15

volta, benedita!

"Exílio" de Benedita completa 74 dias
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VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
Enviado Especial ao Rio

Desde que o deixou o governo na reforma ministerial promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim de janeiro deste ano, a ex-ministra da Assistência Social e ex-governadora do Rio de Janeiro (abril a dezembro de 2002) Benedita da Silva (PT) está em viagens internacionais e não retornou ao Brasil.

Benedita embarcou para os Estados Unidos em 2 de fevereiro para participar do "Café da Manhã da Oração", em Washington, que contou com a presença do presidente americano George W. Bush.

De lá, seguiu para a Europa, onde passou pela França e pela Inglaterra, e retornou para os Estados Unidos. A assessoria da ex-ministra diz desconhecer onde ela esteja hoje, e afirmou que, no último contato feito, Benedita estava em Nova York.

Citada no caso Waldomiro Diniz como uma possível beneficiária de contribuições do empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para sua campanha à reeleição em 2002, Benedita até agora não se manifestou a respeito.

Na fita em que aparece pedindo propina, Waldomiro e Cachoeira cogitam contribuições para as candidatura da petista e da atual governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB, então PSB). O PT e Rosinha negam envolvimento em crime eleitoral.

Argentina

Um dos episódios que mais a desgastou durante sua passagem pelo governo Lula foi a sua presença, nos dias 24 e 25 de setembro do ano passado, em Buenos Aires, no mesmo "Café da Manhã da Oração".

A viagem para a Argentina foi paga com dinheiro público. A Procuradoria da República apresentou denúncia contra Benedita por improbidade administrativa. A ex-ministra devolveu o dinheiro das passagens.

Mágoa

Com sua saída do governo, Benedita disse ter ficado magoada, chegando inclusive a pensar em deixar o PT. O comunicado oficial da sua exoneração ocorreu em uma reunião rápida com Lula, e foi ele quem a dissuadiu da idéia.

"[A hipótese de sair do PT] Foi uma emoção do momento, mas o próprio Lula a convenceu de que deveria ficar [no partido]. A Benedita é muito religiosa e tem um grau de tolerância que eu não tenho", afirmou à época o ator Antônio Pitanga, marido da ex-ministra.

Demonstrando irritação após a cerimônia de posse do novo ministério de Lula, Benedita se recusou a dar entrevistas. Sobre a eventual mágoa em deixar a pasta, disse aos jornalistas que "procurassem os novos ministros".

Trajetória

Foi no PT que Benedita construiu toda a sua carreira política desde 1982. Em 1998, ela renunciou a um mandato de mais quatro anos como senadora para ser vice do então candidato ao governo do Rio, Anthony Garotinho.

Em 2002, por pressão da direção nacional do partido, assumiu o governo do Rio em uma situação de extrema dificuldade financeira e foi candidata à reeleição a pedido de Lula, apesar de preferir o Senado.

Com as saídas de Benedita, Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia) e Miro Teixeira (Comunicações) do ministério de Lula, o Rio de Janeiro a única representante do Estado na esplanada é a ministra Nilcéia Freire (Política para as Mulheres).
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Postby mends » 19 Apr 2004, 18:42

ELIO GASPARI

Lula montou uma fábrica de grupos de trabalho
Apareceu uma estatística reveladora do que poderia ser a operosidade do governo Lula: em 16 meses foram criados 55 grupos de trabalho interministeriais, dos quais a Casa Civil do comissário José Dirceu participa de 37 e coordena 16.
Não se deve mais rir da piada segundo a qual o camelo é um cavalo desenhado por um grupo de trabalho. Piada mesmo é Lula ter criado 55 grupos de trabalho, o comissário coordenar 16 e alguém acreditar que haja o menor risco de uma geringonça dessas funcionar. Fazendo-se de conta que todos esses grupos de trabalho são necessários (inclusive o do Hip Hop), deve-se criar outro grupo de trabalho, para coordenar os grupos de trabalho. Piada? Ouça-se o doutor Swendenberger Barbosa, da Casa Civil, falando às repórteres Lu Aiko Otta e Vera Rosa: "Estamos fazendo o levantamento de todos os grupos de trabalho, comissões e conselhos e cruzando com as prioridades definidas pelo presidente Lula".
A estrutura do comissariado petista tem muito grupo e pouco trabalho. Destina-se a contornar o aparelho da República. Basta ouvir o companheiro José Genoino: "É preciso avançar para horizontalizar as ações, porque a máquina administrativa emperra tudo". (Podia ter dito que é preciso recuar para verticalizar, dava na mesma.) Para tranqüilidade geral o blábláblá vai dar apenas em blábláblá.
Os Grupos de Trabalho ganharam notoriedade na vida nacional nos anos 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek. Em 14 meses, Lula já criou duas vezes mais GTs que JK durante um período semelhante. Na versão original, eles eram extrapartidários, na atual, são superaparelhados.
Os GTs foram úteis, mas a musculatura do governo de JK esteve em outro lugar. Ele tocou o bonde por meio dos Grupos Executivos que, como diz o nome, executavam. O mais famoso deles foi o Geia, da indústria automobilística. Enquanto os grupos de trabalho estudavam problemas e procuravam padronizar normas, os GEs faziam as coisas acontecer. Ficando-se no caso do Geia, nele tinham assento representantes de diversos ministérios e autarquias. Quando se decidia que uma coisa devia acontecer, os representantes das repartições que tinham assento no Geia atiravam-se na execução do que até então era palavrório. O Geia mandava onde precisava, mas o chefe da Casa Civil não mandava no Geia (se mandasse, o Brasil ainda não teria produzido o primeiro Fusca). O Geia era chefiado por um tocador de planos, o almirante Lúcio Meira.
A máquina de fazer coisas de JK estava nas mãos de um companheiro leal, mineiro como ele, conhecedor da máquina administrativa, um esteta da discrição. É provável que Lucas Lopes tenha dado menos entrevistas em toda a vida que o comissário José Dirceu em um ano. A política fiscal de Kubitschek custou-lhe caro. Ela deve ter sido uma das causas do enfarte que provocou sua saída do Ministério da Fazenda.
Seria injusto supor que essas trivialidades administrativas são desconhecidas do PT e da equipe que ocupa o Planalto. A solução (ou o problema) do governo JK chamava-se Juscelino Kubitschek. O problema (ou a solução) do governo de Lula chama-se Luiz Inácio da Silva.
O presidente dividiu o governo em câmaras, conselhos e grupos. Despachar com seus ministros que é bom, nem pensar. Até o fim de março não havia despachado formalmente com a ministra Marina Silva, em cuja presença tocou bongó no Planalto. A ministra Dilma Roussef, das Minas e Energia, teve um despacho, e só. Todos os ministros já foram convidados para jantares, viagens e churrascos, mas a Presidência da República não é uma função animadora de eventos. Presidente é presidente, despacho é despacho, churrasco é churrasco.
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Postby mends » 19 Apr 2004, 18:43

Dois economistas contra os "capitalistas"

Saiu um livro inesquecível. É "Salvando o Capitalismo dos Capitalistas", dos professores Raghuran Rajan e Luigi Zingales, da Universidade de Chicago. Rajan é hoje o diretor de pesquisas do Fundo Monetário Internacional. Trata-se de um sermão econômico escrito com clareza e traduzido com elegância por Maria José Cyhlar Monteiro.
Rajan e Zingales mostram como o principal inimigo do desenvolvimento de um regime capitalista de créditos, empreendimentos e oportunidades são pessoas que se dizem capitalistas e, agarradas à saia da Viúva, pedem mais privilégios e menos concorrência.
Num país governado por uma ruinosa ekipekonômica, essa dupla de professores faz um interessante estrago intelectual. Adoram o mercado financeiro e defendem o usurário de "O Mercador de Veneza", de Shakespeare, com a coragem dos jagunços. Lidos no Brasil, parecem críticos da proteção que o Banco Central dá à banca. Ensinam que entre 1990 e 2000, nos países desenvolvidos, os chamados "benefícios privados" que os acionistas controladores tiraram de suas empresas ficaram em torno de 1% do valor de mercado das companhias. No Brasil, estima-se que a conta tenha ficado em 65%. Benefício privado é algo como vender barato uma matéria prima para outra empresa (do acionista), revendendo-a a um preço mais alto.
Rajan e Zingales têm pouca compaixão pelo andar de baixo. Acham que não há nada a fazer pelos inadimplentes do crédito imobiliário. Provam: na Inglaterra a retomada de um imóvel leva um ano e custa 4,75% do seu valor. Lá os empréstimos imobiliários equivalem a 52% do PIB. Na Itália o prazo sobe para três anos, e o custo vai a 20%. Os empréstimos caem para 5,5% do PIB. A dupla tem muito menos compaixão pelo andar de cima. Tanto pelos cartéis de bancos como pelos empresários que pedem benefícios em nome da ordem social. São esses, segundo Rajan e Zingales, os capitalistas que ameaçam o capitalismo. Os professores implicam com os políticos. Como se eles tivessem o monopólio da demagogia. (No Brasil, o dólar de R$ 1,20 de FFHH foi uma produção do Banco Central.)
O livro tem um incrível capítulo, onde louva-se a política econômica brasileira do final do século 19. (Leia-se Rui Barbosa.) Ragham e Zingales sustentam que, nos primeiros anos da República, Pindorama passou por uma saudável revolução burguesa. Menosprezam a crise conhecida como Encilhamento, quando o pessoal do papelório perdeu fortunas.
Em 1880 a indústria têxtil mexicana era o dobro da brasileira. Em 1915, a situação inverteu-se. Uma das causas da mudança foi a liberdade dada ao dinheiro. Pena que no século 21 a ekipekonômica tenha conseguido colocar o PIB brasileiro abaixo do mexicano.
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Postby mends » 19 Apr 2004, 18:47

ELIO GASPARI

Gabeira viu muito mais nessa fotografia

Deve-se a Fernando Gabeira uma fina percepção da cena que está aí em cima:
"Quando descemos o morro com um corpo carregado no carrinho de mão estamos estimulando o abuso de drogas. Estamos mostrando que mandamos para os ares um fundamento da civilização brasileira, o respeito aos mortos".
A maioria dos brasileiros com idade para ler jornal convive, desde que se conhece como gente, com uma guerra no Oriente Médio. Árabes e judeus matam-se num conflito onde se misturam ódio, racismo e intolerância. Essa guerra nunca produziu a cena de um soldado carregando um inimigo morto num carrinho de pedreiro. Muito menos o clima de ordem e naturalidade que há na imagem.
É possível que só exista coisa parecida na coleção de 140 fotografias tiradas num dia de setembro de 1941 pelo sargento alemão Heinz Joest no gueto de Varsóvia.

eu não gostodo Bobeira, principalmente pq ele é viado. Mas eu concordo com ele. Achei um absurdo carregar morto com carrinho de mão, e realmente, as únicas fotos em que vi isso foram dos guetos judeus e fornos de Auschiwitz (e sua placa de entrada "arbeit machts frei" - o trabalho liberta, a ironia mais estúpida da história). Não se pode admitir que o Estado faça isso com quem quer que seja, bandido ou não.
E fora que, como é do conhecimento de quem leu Abusado, a polícia é só uma outra gangue....
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Postby mends » 20 Apr 2004, 10:05

e a guerra do Rio?

Antes de mais nada, quero dizer que sou A FAVOR da legalização das drogas, de todas, inclusive de Axé, livros do FHC e discursos do Bush, as mais pesadas.
O tráfico só é o tráfico pq é ilegal. Ponto. Mais risco, mais lucro, mais entrantes, outro ponto. Mais lucro, maiores salários - quem quer ganhar 240,00 de office boy se ganha milão de avião? Economia de mercado, pura e simples. Devia ser legalizada, como bebida e tabaco. Parêntese: vcs sabiam que a indústria que mais gasta com responsabilidade social é a de Tabaco? Porque são bonzinhos? Nãããão....porque responsabilidade social é uma estratégia para tornar uma empresa credora da sociedade. Se amanhã o Governo decidir que cigarro é ilegal, pra onde vão os pequenos agricultores do RS? Todos os municípios que sobrevivem de plantação de tabaco? Todas as crianças que estão nas escolas bancadas pela Souza Cruz? Todo o imposto que eles pagam? Agora, me responde: quando o tabaco vai ser proibido? E você ainda acredita que "responsabilidade social" é benemerência ao invés de criação de "laços de fidelidade", meio mafiosos, é verdade?
Fecha parêntese.
Devia legalizar. Mas no mundo inteiro, porque do contrário, viramos um antro de malucos.
Agora, isso não vai acontecer. Então, que se acabe com a hipocrisia com que se trata os usuários. Sou um libertário, acredito na liberdade intrínseca do ser humano. Mas liberdade não é hedonismo, não é niilismo. Se você quer ser hedonista, se é niilista, arque com as consequências. Liberdade é o direito de fazer e o dever de aguentar. Usuários pegos deviam responder não por tráfico, pq realmente não é o caso, mas por homicídio doloso. Pq , se o playboy cheira, se dá uns tapas, não é a mãe dele que morre, como ocorreu com aquela mineira que morreu pq o Lulu e seu bonde sinishtro tavam afinando a pontaria. O usuário pensa a ter a liberdade de cheirar, e se morrer de o.v. - o que vários estudos mostram que ocorre somente com os mais pobres, pq rico que toma pico pode pagar hospital - é problema dele, se quiser se internar o papai banca. Mas esse cara, como aquele médico de mais de quarenta anos comprando um paco de branco que passou no Fantástico, ou o Marcelo Anthony, que tava comprando quatrocentão do preto prensado com LIQUID PAPER - a droga conhecida como KLONE - não tem o direito de produzir órfãos!!!!!!!!!!!! :briga:
Aliás, pra nego fumar liquid paper é pq já era há anos...isso me lembra dos caras na Federal que tomavam chá de cogumelo - e aí não tavam financiando porra nenhuma - dizendo que o melhor chá era feito com os cogumelos que nasciam na bosta da vaca...e lá ia nego meter a mão na merda pra tomar chá de merda e ficar doido... :lol:
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Postby mends » 20 Apr 2004, 10:47

FBI

CC: Você e a CIA informavam a embaixadora sobre tudo o que se passava? Como é que funciona isso?
CAC: Todos os órgãos do governo federal respondem ao embaixador... Agora há embaixadores, ou embaixadoras, que querem saber de tudo e há outros que não: “Vocês fazem aí, não me digam nada a não ser que alguma coisa possa ter graves repercussões e eu tenha necessidade de saber antes”.

CC: No caso, você informava?
CAC: Eu e outros Serviços informávamos apenas o que nos interessava informar.

CC: Na verdade, os Serviços dizem o que querem dizer e pronto, acabou.
CAC: É, o que nos interessa. Essa história de dizer que nós estamos debaixo dela, no caso a embaixadora, é verdade do ponto de vista legal, mas, na realidade, cada um faz o que tem de fazer e, claro, vai contar ao embaixador...

CC: ...metade da missa.
CAC: Conforme. Às vezes nem a metade nem a missa. Há certas coisas que interessam contar, há outras coisas que nem vale a pena contar, e há outras que não se deve contar. Agora, se houver um problema, algo que possa causar um problema, nós vamos informar. Por exemplo: eu quando vou pagar um indivíduo...

CC: Avisa à embaixadora, ao embaixador.
CAC: Às vezes eu posso informar: “Olha, vai ser pago um indivíduo e tal”. Em outros casos não se informa nada. Em relação à embaixadora Hrinack, ela até fez um bom trabalho, embora na maior parte do tempo o seu trabalho fosse pôr...

CC: ...perfume?
CAC: Perfume na shit...

CC: ...que produz o governo americano.
CAC: Que a administração Bush está a produzir (risos). Essa é a realidade.

CC: Ela perfumava bem a substância que o governo Bush produz em grandes quantidades?
CAC: Produz muito daquilo... Agora, como diplomata, acho que ela é até uma pessoa muito boa nesse assunto, mas como alguém realista das coisas do mundo ainda falta-lhe muito. Por quê? Porque o mundo do Departamento do Estado... eles estão sentados em cadeiras de marfim, ou são, como dizemos também sobre outros no comando do próprio FBI, yes people, pessoas que dizem sim a tudo e a todos.

CC: Não foi o seu caso?
CAC: Não foi o meu caso. Há um ditado no FBI: grandes casos, grandes problemas, pequenos casos, pequenos problemas, se não há casos, não há problemas. Esses, que nunca tiveram um caso, nunca investigaram um caso, não fizeram uma operação, são os que entram pela área administrativa...

CC: E são os que têm o poder.
CAC: O poder. São os que estão no comando do FBI hoje, sem problemas, mas também sem casos, sem ações em suas carreiras. O diretor do FBI, Robert Muller, é uma pessoa que não tem o respeito da instituição. E é detestado, odiado. As pessoas o vêem como um cavaleiro que monta e galopa o cavalo até morrer, até o cavalo cair de tanto cavalgar, de exaustão. Muitos dos bons que existiam no FBI, muitos dos mais capacitados, saíram. Um agente hoje gasta 75% do tempo empacado em burocracia e 25%, se tanto, em investigação. E, ao investigar, se passa a maior parte do tempo atento ao lema CYA.

CC: O que é isso?
CAC: Cover Your Ass (Proteja o teu traseiro). Esse se tornou o lema principal no FBI, desde a instrução na academia. Agora, para quem está no topo do FBI, o lema é KMA, que vem a ser Kiss My Ass (Beije minha bunda). A instituição está a se desmoralizar, os agentes sabem que investigações e agentes que não atendam aos interesses da visão do diretor, da administração Bush, correm o risco da marginalização.

CC: Já falamos do FBI, da CIA, até onde você quis ir. Como é a atuação, especificamente, da DEA no Brasil? Como é que é essa história, a relação deles no Brasil?
CAC: A DEA doa milhões de dólares para a Polícia Federal, e não só em equipamentos, também em dinheiro. A DEA faz o que quer, onde quer, e, ao contrário do protocolo, não tem monitoramento algum nas suas ações. Contrata informantes, montou uma rede, paga por informações a cidadãos brasileiros, infiltra-se e vale-se das informações e dos homens da Policia Federal. E tudo isso porque “doa”.

CC: Cash?
CAC: Cash.

CC: Através do dinheiro, também a DEA monitora ou executa as operações da Polícia Federal, em nome da Polícia Federal ou em parceria com a Policia Federal, como CartaCapital descrevia desde 1999?
CAC: Como a Carta havia descrito, mas ainda mais. E isso é uma coisa absolutamente impensável nos Estados Unidos. Nunca ia acontecer com a DEA, o FBI, ou alguma das nossas instituições. Ninguém dessas instituições pode receber dinheiro como se faz aqui. É corrupção. E, se a coisa é tão aberta, por que o dinheiro vai para a conta de uma pessoa privada?

CC: Porque, se está na conta da polícia, do Ministério da Justiça, quando o governo contingencia gastos, segura o uso desse dinheiro, prende também esse dinheiro.
CAC: Ora, se o fizer, esse dinheiro vai para o Tesouro. Agora, em nome disso, entregam a polícia para os estrangeiros? Não entendo essa lógica.

CC: Nem eu. Mas o que a própria DEA diz é que não dá o dinheiro direto para a Polícia Federal, porque quando o governo contingencia não repassa mais esse dinheiro.
CAC: Mas é a DEA quem toma decisões aqui ou é o Congresso brasileiro, o governo do País?

CC: Essa é uma boa pergunta. E CartaCapital a tem feito nesses últimos anos, há cinco anos para ser exato.
CAC: Isso é uma vergonha e é uma quantia completamente irrisória para nós e para um país continental como o Brasil.

CC: À venda por alguns milhões de dólares?
CAC: Pronto. Como é que um país vende a sua Polícia Federal por alguns milhões de dólares? Outra coisa: será que esse delegado paga impostos sobre esse dinheiro que entra na sua conta? Isso é, ainda, uma violação da lei brasileira feita por delegados federais e com a conivência do Estado. E também, provavelmente, é uma violação das leis americanas, pois não se deve dar dinheiro a indivíduos e, sim, para instituições. Como é que vocês esperam ser levados a sério?

CC: Ou seja: um chefe de seção da Polícia Federal que recebe US$ 4 milhões, US$ 5 milhões em sua conta pessoal está violando a lei se não declara ao Imposto de Renda. E, se declara, como paga?
CAC: Cinco milhões, mas não só. Não apenas a DEA, a NAS, todas as nossas instituições estão doando...

CC: O americano é tão bonzinho!
CAC: Nada disso é proibido nos Estados Unidos. Agora, se o Brasil autoriza, então...

CC: Estejamos “influenciados”.
CAC: Então não reclamem. “Dinheiro nosso, ordens nossas”.

CC: A informação que tenho é que, em mais de uma dessas reuniões dos serviços secretos na embaixada, às segundas-feiras, discutiu-se seriamente a questão de como “influenciar a imprensa brasileira”. É correto?
CAC: Bom, eu não posso confirmar uma coisa dessas. Eu não posso afirmar o que é que se passa...

CC: Numa reunião secreta. O.k., compreendo perfeitamente...
CAC: Nós estamos aqui a falar em assuntos abertamente, mas...

CC: ...Há aspectos de assuntos secretos sobre os quais você tem que manter...
CAC: ...Que eu tenho que manter, porque eu tenho responsabilidades para com o meu país e a instituição à qual servi por 22 anos. Agora, se o Brasil é um pouco ingênuo nas suas maneiras de dirigir politicamente... Então, também eu, como um cidadão americano, tenho direito de expressar certas coisas que eu acho erradas, desde que não influenciem ou afetem o meu país e ajudem o seu. Compreende?

CC: Compreendo, claro, e isso não significa que você não seja leal ao seu país e não respeite o Brasil...
CAC: Claro que não. Veja uma coisa: eu sou um cidadão americano, eu amo o meu país, mas acho que a política externa do país já há muito está...

CC: Está errada?
CAC: Está errada e agora eu tenho o direito e até o dever de me pronunciar sobre isso. Faço essa entrevista, essas revelações, porque eu gosto do Brasil, respeito o Brasil, tenho mulher e filho brasileiros...

CC: Você está criticando a política, as decisões, não os países. Isso para mim está claro.
CAC: Estou criticando a política, não estou a criticar outra coisa.
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Postby Danilo » 22 Apr 2004, 13:53

<span style='color:blue'>Estava com vontade e resolvi mudar o nome desse tópico de 'Tô Preu' pra 'Clippings e notícias'. Mais porque a expressão 'tô preu' aparecia em dois níveis.</span>

E também vou dar uma rápida explicada na organização atual do fórum<span style='font-size:8pt;line-height:100%'> (apesar de esse não ser o lugar mais certo pra isso)</span>:
PRIMEIRO NÍVEL:
- Geral
- Textos
- Links

O Geral é o principal e se divide, num SEGUNDO NÍVEL em:
- Baladas
- Liberdade de Expressão
- Estória de 3 palavras
- Notícias

Liberdade de Expressão é o item mais usado, se dividindo em um TERCEIRO NÍVEL:
- núcleos saideros
- bebidas e comida
- novas tecnologias
- livros e filmes
- música
- tô preu?
e outros posts soltos nele.

<span style='font-size:8pt;line-height:100%'>Entendeu ou precisa de um guia turístico?</span>
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Postby mends » 22 Apr 2004, 17:26

GIBA UM


Correndo atrás
O administrador por Harvard, consultor e articulista de Veja , Stephen Kanitz, que criou o prêmio Maiores e Melhores, há muitos anos, quando Paulo Henrique Amorim dirigia a revista Exame , está quase desistindo de promover o VIII Prêmio Bem Eficiente, voltados para associações e entidades que cuidam de deficientes. É o único prêmio voltado para esse universo (o Brasil tem 24,5 milhões de deficientes), mas Kanitz está encontrando dificuldades em conseguir patrocinadores. Ele acha que as empresa não querem associar seus nomes com deficientes: "Não é tão bom para a imagem como escolinha de futebol, coral, concurso de pintura, ecologia, essas coisas".

Essa é a "responsabilidade social"da empresa...fazer coisa séria ninguém quer, dá trabalho, é melhor doar uns lápis e pôr neguinho pra dançar capoeria e batucar, que está tendo "responsabilidade social". Esse prêmio é de meros 200 contos, que vão pra uma entidade assistencial, que apóia órfãos ou o que for faça chuva ou faça sol. E essas entidades vivem da mão pra boca. O dnheiro do prêmio cria um "colchão de tranquilidadë", permite que se pensem em projetos de melhoria de vida dos assistidos. Stephen Kanitz escreveu certa feita que uma das agraciadas veio prestar contas a ele, espontaneamente. Mostraram que construiram enfermarias e um prédio novo. Kanitz se espantou como 200 contos viraram, sei lá, 800 em dois anos. E o cara disse que aquele era o dinheiro da tranquilidade. Sabendo que tinham aquele dinheiro pra qualquer emergência, passaram a trabalhar com prazo mais longo e deixar de arrecadar pra pagar contas atrasadas - que ninguém quer contribuir, porque somos cristãos, mas queremos nossos nomes em prédios - e passaram a arrecadar pra projetos. Só que nossas empresas só fazem projetos "responsáveis" ou por modismo, ou pra ter crédito na sociedade. Isso me faz lembrar três postulados judaicos:
1 - Se o seu próximo não está bem, você não está bem;
2 - Recolha-se contribuições da comunidade não pra erguer templos luxuosos, mas para prover escolas, assistência aos pobres e hospitais. Não pro padre tomar vinho francês, comer camarão e bacalhau e gastar em noitadas em boates - não é invenção, vá ver um balanço de igreja e ficará enojado.
3 - A comunidade deve saber quem tem recursos, para que se saiba a quem recorrer em caso de necessidade.
Vida em comunidade e em sociedade, a meu ver, dependem da aplicação de postulados como esses. E não de neguinho procurando adiantar só o seu, pq, no fundo, acaba atrasando.
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Postby mends » 27 Apr 2004, 08:32

capítulo final da entrevista do Diretor do FBI:

CC: Você vai ficar no Brasil?
CAC: A minha decisão é de viver nos Estados Unidos e viver no Brasil. Eu não tenho, é proibido ter uma coisa dessas, mas eu sei, por exemplo, que há agentes que têm cidadania dupla e, tenho quase certeza, o FBI não quer saber desse problema.

CC: É verdade que há entre os agentes secretos um certo receio de retornar aos Estados Unidos nos dias de hoje?
CAC: Já ouvi dentro do próprio FBI, da CIA, adidos militares, principalmente de colegas meus que trabalham no exterior, que há um certo receio...

CC: Por que o receio de retornar?
CAC: Por que nós, que somos a primeira linha de frente, que obtemos informações, sabemos o quanto é possível que amanhã uma ou duas bombas nucleares sejam detonadas dentro de uma cidade norte-americana. Eu espero que isso nunca aconteça, mas que há esse grande receio, há. Agora mesmo vimos esse terrível, mas previsível, atentado em Madri. Como é previsível que tentarão na Inglaterra, em Londres.

CC: Quando você diz “ter informações”, é porque já houve ou vocês interceptaram algum episódio do gênero?
CAC: Sim, já houve um episódio desses...

CC: Que episódio?
CAC: Uma ...uma bomba suja que podia ser detonada em Washington... uma bomba radioativa foi impedida de ser detonada.

CC: Em que ano isso?
CAC: Há quase dois anos. Depois do 11 de setembro, muitas coisas aconteceram.

CC: Isso seria em Washington, próximo à sede do FBI?
CAC: Em Washington, ali próximo, sim, mas obviamente não se fez alarde, isso, se revelado em toda sua extensão, provocaria pânico na população americana...

CC: Peraí. Essa história tem a ver com um certo Padilha, ou algo assim, que foi preso em Chicago, creio, e que está incomunicável até hoje?
CAC: Eu não posso falar em nomes, mas já que você está a dizer, é exatamente esse o homem.

CC: Qual era o alvo?
CAC: Washington. Oito quarteirões na área do Mall, aquela região seria o epicentro, atingiria o Congresso Nacional, a Casa Branca, o Supremo, mesmo sendo uma bomba suja, rudimentar...

CC: Quando o senhor fala em “bomba suja”, quer dizer exatamente o quê?
CAC: Quero dizer uma bomba atômica, embora de menor potência, nesse caso.

CC: Vocês conseguiram impedir uma, mas podem não conseguir impedir a segunda?
CAC: Depois da queda da União Soviética, muitos daqueles países que faziam parte das repúblicas ficaram com armas, artefatos, ogivas nucleares. Nós suspeitamos, por exemplo, de que o Cazaquistão pode ter vendido uma ou duas ogivas nucleares ao Irã. Lembre-se do caso mais recente, do pai do programa nuclear do Paquistão que estava a vender segredos a outras nações.

CC: Na verdade, não se sabe onde está todo o antigo arsenal soviético?
CAC: Não é muito animador falar isso, ainda mais em público, mas, na verdade não, não se sabe. Não houve um inventário muito sério logo depois, principalmente da parte da Rússia. E outra coisa: muitos dos generais russos tiveram que vender armas para conseguir manter os seus exércitos.

CC: Para manter exércitos particulares?
CAC: Não, exércitos do Estado, mas eles, em meio àquela balbúrdia do pós- União Soviética, eram os comandantes-em-chefe, os gestores de uma enorme máquina de guerra. Então, para sobreviver, manter o mínimo daquilo tudo, era necessário fazer dinheiro...

CC: Vendendo armas?
CAC: Vendendo armas, nada mais lógico. Então há um receio muito grande de que amanhã algo catastrófico possa acontecer dentro dos Estados Unidos, ou num dos países aliados. Espero que não aconteça, mas esse receio existe entre os Serviços.

CC: Por que o senhor está a revelar isso?
CAC: Entre outros motivos para que o mundo saiba que o cidadão norte-americano comum não é arrogante, prepotente e antidemocrático, como é a atual administração.

CC: O senhor pretenderia mostrar que nem todas as forças secretas americanas agem da mesma forma?
CAC: Nem todas. Os meus próprios colegas dos Serviços de Inteligência, muitos deles, discordam da maneira como as coisas estão sendo feitas no governo do Bush. Grande parte dos meus colegas do FBI, dos serviços secretos, pensa igual a mim e esse é outro motivo pelo qual estou a falar, é preciso que as pessoas saibam disso, inclusive nos Estados Unidos. Se quiserem, vou ao Congresso depor.

CC: Ao Congresso dos Estados Unidos ou ao do Brasil?
CAC: Com garantias, vou ao Congresso dos Estados Unidos e vou ao do Brasil! O que eu penso é que até chefes, alguns chefes, mesmo colegas da CIA, membros do Departamento de Estado – e eu estou a falar de altos funcionários do Departamento de Estado e outros órgãos do governo – pensam e sentem. Exatamente da maneira que eu estou aqui a me expressar, mas não vão falar, têm receio de falar. Também eles acham que a administração de Bush é, basicamente, uma cambada de loucos...

CC: De fundamentalistas, fanáticos...
CAC: Não tem nada a ver com religião e sim com interesses políticos e interesses privados de quem não tem o mínimo conhecimento do que seja o mundo. O governo de vocês, esse de agora, do Lula, está agindo com cautela, com alguma distância necessária, inclusive nos negócios.

CC: Me dê um exemplo.
CAC: O GPS, o sistema de navegação global. O mundo depende dos Estados Unidos, embora existam dois sistemas: o GPS nos Estados Unidos e o sistema russo...

CC: E o Brasil adotou qual?
CAC: O Brasil está a adotar o sistema europeu, o Galileu.

CC: E daí, qual é a diferença? Não captei nada.
CAC: É uma boa medida, porque o Brasil não fica sujeito, primeiro, a alterações de localização. Quer dizer, o GPS é um sistema militar que serve também para o mundo civil; um barco, um avião, um carro podem ter o GPS. Durante várias ocasiões, por exemplo, nas guerras da Bósnia e do Iraque, o Departamento de Defesa simplesmente fechou acesso a civis. Pôs em perigo aeronaves civis, barcos, que tiveram que voltar aos mapas e bússolas.

CC: Fechou o acesso por quê?
CAC: Num caso de conflito, guerra, esses são os olhos na escuridão. Se só você tem acesso, a sua vantagem estratégica é enorme. Você tem olhos num mundo de cegos.

CC: Exemplo: se o Brasil tivesse, hipoteticamente, um desentendimento com os Estados Unidos e o sistema GPS brasileiro fosse o dos Estados Unidos?
CAC: Se o sistema fosse o americano, bastaria fechar o acesso e as suas Forças Armadas ficariam cegas.

CC: Você conheceu o Coaf, o sistema brasileiro de rastrear lavagem de dinheiro, chefiado no governo Fernando Henrique por Adriane Sena?
CAC: Eu mantive boas relações com ela e com alguns dos seus altos subordinados, inclusive prestei treinamento especializado em lavagem de dinheiro a vários membros do Coaf. Agora, ela gostava muito de falar que as leis de lavagem de dinheiro do Brasil, embora copiadas dos Estados Unidos, as superaram.

CC: Isso é verdadeiro?
CAC: É verdade? É. Que vocês têm lei, têm; vocês têm umas leis fantásticas e maravilhosas para combater esse tipo de crime.

CC: E quanto aos resultados?
CAC: Where is the beef, onde está o bife? Essa era sempre a pergunta que eu fazia a Adriane quando ela vinha com essa história da ótima legislação. Que eu saiba, o Brasil nunca recuperou dinheiro ilícito valendo-se do Coaf e suas leis. Só o fez quando eu, do FBI, recuperei o dinheiro do juiz Lalau, e através da nossa legislação, certamente inferior à da Adriane. Várias vezes eu tive de dizer: “Bom, vocês esqueceram do dinheiro”. “Ah, é verdade, vamos buscá-lo”, me respondiam. E levou não sei quanto tempo para o dinheiro ser entregue, e só foi porque eu tive de lembrar, além de fazer todo o trabalho para eles. Imagine que o Lalau quase conseguiu vender o apartamento de US$ 1 milhão em Miami. Não o fez porque eu consegui uma ordem judicial, por minha iniciativa. O caso Banestado foi outro em que eu prestei assistência. Quem instituiu o conceito de força-tarefa, de ação conjunta entre as instituições, foi o FBI, fui eu. Treinei, dei cursos em todo o País a policiais civis, militares, federais, juízes, procuradores, promotores, e muitos deles foram aos Estados Unidos, a treino, com meu orçamento. O órgão que realmente funciona, pelo menos funcionava, é a parte investigativa do INSS.

CC: E por que não conseguem recuperar o dinheiro ilegal fora?
CAC: O Coaf, tecnicamente, é para rastrear os ativos ilícitos, para depois encaminhá-los ao Ministério Público para o processo e a recuperação. Há pouco, o Ministério da Justiça criou o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Pelo que vimos e conhecemos, nesses órgãos não se tem, para dizer o mínimo, idéia do que e como fazer esses processos. Até agora não justificaram suas existências. Nos Estados Unidos, quando há escassez de pessoal, o governo costuma contratar empresas privadas para fazer esse tipo de investigação, e dá uma porcentagem, de 10% a 25% do que é rastreado. Vocês, aqui, têm algumas empresas capacitadas a fazer esse trabalho. Por quê não as usam?

CC: Como é com os políticos brasileiros? Vocês os acompanham?
CAC: Sim, sim.

CC: Têm um dossiê de cada um?
CAC: Bom, todas as coisas sobre quem interessa ter, sobre quem tem poder e influência. Isso faz parte dos deveres no estrangeiro, saber quem são as pessoas. Isso é fundamental. Agora, se o Brasil o faz ou não faz, não sei. Deveria fazer por intermédio da suas Agências de Inteligência.

CC: Como eram as suas relações, de chefe do FBI, com políticos, com governadores...
CAC: Conheci vários. Amazonino Mendes (AM), um bom amigo, Esperidião Amin (SC), conheci o Jaime Lerner (PR), entre vários outros. Acho que eles, em relações internacionais, são um pouco ingênuos, à exceção do Amazonino, um homem perspicaz. O Garotinho...

CC: Você conheceu o Garotinho?
CAC: Ele é um bom amigo, um político talentoso. Ele foi o único político brasileiro convidado para a posse do presidente Bush, em janeiro de 2000. Convidado por mim através do então prefeito de Miami, Joe Carollo, ele foi apresentado ao governador Jeb Bush, irmão do presidente, numa noite de nevasca. Estávamos de smoking. Ele esteve comigo no Departamento de Estado, na OEA, e fomos à sede do FBI em Washington...

CC: O Garotinho ficou à vontade?
CAC: Muito à vontade. Recordo-me de que, na sede do FBI, entregou um cartão dele à minha secretária e disse: “Te dou esse cartão para que um dia você possa dizer que conheceu, aqui na sede do FBI, alguém que no futuro seria presidente do Brasil”. Ele é talentoso, mas acho que se precipitou, ainda é muito jovem, não deveria ter disputado a eleição presidencial.

CC: Esse é um mundo de espiões e tem suas regras próprias. O senhor certamente sabe que o “Serviço” não irá gostar do que revelou ao longo desta entrevista...
CAC: É óbvio, é uma organização muito sigilosa. Mas eu não vou revelar informações que não devo, nem técnicas de investigação, equipamentos ou o que está a se fazer numa investigação contra uma ou outra pessoa, outra instituição ou outro país. Isso seria uma coisa que afetaria não só o FBI, mas afetaria a nação americana. Mas o que eu posso falar e devo falar é que a organização está a ir por água abaixo, que estão a fazer coisas erradas, e não a servir a sociedade americana ou ao mundo. Está tudo mal direcionado e eu vou falar...

CC: E se tentarem desacreditá-lo?
CAC: É o que eu espero, pois conheço o Animal há 22 anos, sei como ele é. Vamos aguardar. Essa é uma história que ainda pode ter muitos capítulos, cada vez mais picantes, espetaculares, se assim o desejarem. Fatos que interessem não apenas ao Brasil, mas a toda a comunidade internacional, inclusive ao Congresso americano. Estamos só no início...

CC: E se o senhor for acometido por uma gripe terminal?
CAC: (risos). Se uma gripe terminal me atingir...

CC: Uma gripe súbita, digamos assim.
CAC: Uma gripe súbita, como você diz. Bem, eu também aprendi, com os próprios que me criaram, a me proteger e a enfrentar. Muita coisa que poderia ser exposta já está gravada, escrita, e nas devidas mãos, se alguma coisa me acontecer...

CC: Em caso de uma gripe terminal se saberá por que você teve essa gripe?
CAC: Isso. E muito, muito mais do que nós falamos ou deixamos de falar aqui.

CC: Você tem a intenção de escrever algum material específico sobre os seus 22 anos como agente e chefe do FBI?
CAC: Já produzi uma parte das minhas memórias e isso inclusive está...

CC: Em local não revelado e...
CAC: (risos) Tem que ser assim...

CC: Para o caso da gripe súbita...
CAC: E entregue a pessoas de confiança que saberão o que fazer se acontecer algo fora do normal. Asseguro a você que são fatos que levariam a uma enorme repercussão internacional. Quanto à primeira parte das minhas memórias, já tenho até a idéia de um nome para o livro...

CC: Qual é o nome do livro?
CAC: FBI: o Mito e a Realidade. Vou dar, em detalhes, casos concretos, histórias, etc. O que é, o que não é, como devia ser, o tamanho do desperdício humano e financeiro e como o povo americano também não está a ser bem informado, inclusive, sobre o que verdadeiramente é o FBI.

CC: Os ingleses são os grandes aliados do governo Bush. Em Londres vocês espionam os ingleses, o governo Blair?
CAC: (risos) Bom, eu também não vou comentar isso... no mundo da espionagem tudo é válido, vamos assim dizer, mas não quero falar sobre a espionagem aos ingleses. São informações que não podem ser reveladas.

CC: E esse recente episódio do governo Tony Blair grampeando o secretário-geral da ONU, Kofi Annan?
CAC: O que me surpreende é que nessa operação os flagrados, os expostos, tenham sido os ingleses...

CC: (risos) ...mas, Carlos, isso é humor tipicamente inglês.
CAC: (Risos. Apenas risos).

CC: Esse assunto sobre espionagem às Nações Unidas estará no livro, em detalhes?
CAC: Bem, você vai ter que aguardar e comprar o livro.

CC: A propósito dessa coisa de grampos e espionagem, qual é o clima hoje em Washington, como estão os direitos civis?
CAC: Há um encolhimento dos direitos civis. Nossa sociedade é cada vez menos democrática. A polícia pode entrar numa casa e fazer buscas sem ter uma autorização judicial ou, melhor, sem ter tanto que explicar os seus motivos a um juiz. Basta a desculpa da Segurança Nacional. Hoje em dia, por exemplo, existem tribunais secretos.

CC: Tribunais secretos?
CAC: Tribunais nos quais agentes-chefes, como eu, em Washington, dentro de uma sala à prova de escutas, grampeamentos, totalmente isolada, uma câmara fechada, totalmente secreta para que nada vaze, para que nada seja aberto ao público, depõe perante um juiz especial num caso qualquer. Com isso, sob a alcunha de Segurança Nacional, terrorismo, consegue-se rapidamente autorização para escutas telefônicas, grampeamentos vários. Chegou-se a um ponto que hoje há mais autorizações secretas nos Estados Unidos do que as normais. Imagine aí o espaço para arbitrariedades, abusos. Os agentes do FBI são grandes literatos, a maioria dos juízes não entende nada e engole qualquer coisa com poucas perguntas, não há um controle disso. Os tais checks and balances, fundamento do nosso sistema democrático, nesse caso foram postos de lado. São poderes de exceção para uma polícia. E afirmo aqui que sob falso motivo eu nunca depus durante a minha carreira no FBI.

CC: Por último, uma questão, digamos assim, pessoal. Qual o significado do verbo sancionar?
CAC: (risos). Sancionar é uma ordem, uma autorização dada pelo governo para exterminar alguém. Para matar...

CC: Terminar subitamente com a vida biológica de outrem.
CAC: O FBI não sanciona! Essa autoridade é dada à CIA. Isso existia desde...

CC: Desde a Segunda Guerra...
CAC: Desde a Segunda Guerra, e existiu até quando o presidente Gerald Ford, pós-Nixon, por Ordem Executiva, proibiu o sancionamento.

CC: Sancionamento, um belo eufemismo. É politicamente correto, não?
CAC: O grande e brilhante presidente Bush autorizou novamente os assassinatos. Na minha opinião, e sei que também na de muitos colegas tanto do FBI como da CIA, é algo bárbaro, contra os princípios mais elementares da humanidade e de uma sociedade democrática, a que se considera a mais moralista e civilizada do mundo. A que se autodenomina a Polícia do Mundo.

CC: Até porque tem sempre alguém que vai ter de determinar o que é ou não um assassinato político, vai decidir sobre a vida ou a morte de um alvo.
CAC: E aí é que é o problema, porque os que para alguns podem ser os inimigos, os terroristas, para outros podem ser os libertadores. Por exemplo: quando os peregrinos ingleses já nos Estados Unidos se revoltaram contra a Coroa inglesa para impor a sua independência, tornar-se um país independente, foram considerados terroristas, ou algo assim, pelos britânicos.
"I used to be on an endless run.
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Postby mends » 27 Apr 2004, 08:41

GIBA UM

De volta
Depois de mais de 12 anos exilada entre Portugal e Espanha (nos últimos tempos, morando em Barcelona), quem está arrumando as malas para retornar ao Brasil é a jornalista Miriam Dutra, ainda correspondente da Rede Globo de Televisão. Virá acompanhada do filho Thomaz e ainda não decidiu se irá morar em Brasília, Rio ou São Paulo.

PS: Pra quem não sabe, o moleque é filho do FHC, e a mulher foi "colocada" na Europa pra não haver escândalo por aqui. Não é nada não é nada, não é nada mesmo.
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Postby mends » 28 Apr 2004, 14:19

CARLOS HEITOR CONY

Aqui e agora
RIO DE JANEIRO - Não dá para entender. Poucas vezes na história universal, um homem realmente do povo chega ao poder de forma limpa, insofismável, com o apoio explícito da maioria dos cidadãos e com o respeito obsequioso dos que não votaram nele.
No caso brasileiro, nossos dirigentes sempre saíram de camadas sociais privilegiadas e, nos pouquíssimos casos em que tivemos um presidente nascido na pobreza, como JK e Sarney, ao serem eleitos, já pertenciam de uma forma ou de outra à elite dominante.
Dificilmente teríamos na oferta eleitoral um candidato com a biografia de Lula, pau-de-arara, operário de carteirinha, homem dotado de fabulosa intuição e com um conhecimento dos problemas nacionais adquirido de baixo para cima, cumprindo um aprendizado político na própria carne, sem a necessidade de títulos e diplomas.
Houve poucos casos assim ao longo do tempo, e a citação de Lincoln talvez seja a mais obrigatória. O lenhador Abraham Lincoln tornou-se um estadista. Um dos pais da pátria, com lugar garantido no panteão da história.
Por que Lula não está dando certo? Na semana passada, comentei que Lula não é incompetente, não é corrupto e tem a melhor das intenções de fazer o melhor governo possível. Quem cruzou o Brasil tantas vezes, de alto a baixo, sentindo o cheiro e o aperto de mão de homens marginalizados ao longo de 500 e tantos anos?
Quem conhece a língua do povo melhor do que ele? Quem chegou ao poder cercado de tanta e tamanha esperança? Não precisou apelar para a liturgia de uma revolução, de um golpe de Estado. É evidente que teria de assumir compromissos discutíveis para compor um cenário de governabilidade -e, de certa forma, conseguiu isso, sem perda considerável de substância humana e política.
Um homem do povo chegou lá. E o lá nunca esteve tão longe do aqui e agora.
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Postby mends » 28 Apr 2004, 14:22

ELIO GASPARI

Atolou o Primeiro Emprego de Lula
Num dos melhores momentos de seu governo, Lula reconheceu que foi à breca o programa Primeiro Emprego. Destinava-se a empregar 400 mil, 300 mil ou 100 mil jovens (dependendo da época em que foi feita a promessa). Acabou empregando 700. Talvez seja um número menor do que o dos burocratas e marqueteiros mobilizados para virtualizá-lo. Foi promessa, tornou-se lorota, terminou em vexame. O reconhecimento do fracasso serve como uma prova de compaixão para com os jovens. Enganar um senador do PMDB (ou ser enganado por ele) é o jogo jogado. Enganar um garoto que acaba de sair do colégio é covardia.
Lula está chegando ao final da terça parte de seu mandarinato. Se tiver a clarividência de reconhecer onde atolou, terá boa estrada pela frente. Acompanhar o que aconteceu com o Primeiro Emprego é um verdadeiro passeio pela capacidade do governo de empulhar a choldra misturando ignorância com prepotência. Governo, no caso, quer dizer governo. Em 1998, FFHH prometeu 600 mil postos de trabalho para jovens. Entregou vento. Nessa mesma campanha Lula prometia empregar 1 milhão de adolescentes por ano. Tudo enganação.
Lula tomou posse dizendo o seguinte: "Vamos dar ênfase especial ao projeto Primeiro Emprego, voltado para criar oportunidades para os jovens que hoje encontram tremenda dificuldade para se inserir no mercado de trabalho".
O Primeiro Emprego foi mostrado ao país em julho, para começar a funcionar em outubro. De acordo com a propaganda oficial, empregaria 260 mil jovens em um ano. Feito o lançamento publicitário, a mitomania marqueteira tomou conta do assunto. Em dezembro, quando a meta de 137 mil vagas mostrou-se absurda, o Planalto informou que criara 22 mil. Empulhação bem-sucedida. Numa pesquisa, notou-se que 49% dos entrevistados achavam o programa muito bom. Pena que não existisse. Em março passado, a repórter Marta Salomon informou ao país que o programa da estima de Lula credenciara apenas uma empresa (um restaurante) e gerara um só emprego: o do copeiro Renison Santos Freire, de 21 anos, em Salvador. O ministro Ricardo Berzoini quis corrigir: foram 500 os jovens empregados. É mais ou menos a mesma quantidade de mão-de-obra direta e indireta gerada por Lula na Europa por seis meses para a fabricação do seu Airbus.
Humildade para discutir o universo dos jovens que deveriam ser beneficiados, competência para tratar das isenções oferecidas aos empresários, nada. O senador Eduardo Suplicy advertia: esse negócio não funciona. Mesmo sentindo o cheiro de queimado, tocou-se em frente, como se a vontade de fazer bastasse. Quando a nação petista era oposição, bastava dizer que uma medida estava errada, anunciar genericamente um substitutivo e ir em frente. Essa sopa acabou.
Além disso, Lula cultiva uma espécie de bonapartismo da miséria, como se a sua ascensão do pau-de-arara ao Airbus fosse prova da infalibilidade de um estilo. Não é. Seu vice foi balconista, Mano Brown foi faz-tudo de farmácia e Milton Friedman trabalhava num restaurante em troca da comida. Franklin Roosevelt nasceu rico e muito fez pelos pobres. Richard Nixon nasceu pobre e muito fez pelos ricos. O bonapartismo profético de Lula pode ser percebido no que ele disse em março de 2003:
"Nós vamos lançar o programa do Primeiro Emprego. Eu fico imaginando um país que tem a gente que nós temos, com a disposição que nós temos: só não dá certo se os governantes atrapalharem. É por isso que eu tenho surpreendido muita gente".
Lula ainda não percebeu que agora o governante é ele, no exercício do seu primeiro emprego público no Poder Executivo. O companheiro precisa fazer uma oração pra Xangô, pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou.
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Postby mends » 28 Apr 2004, 15:54

"South Park" traz mensagem profunda com palavreado chulo

Desenho incute a idéia de que não há dogmas sacros ou tabus impronunciáveis

Virginia Heffernan

"South Park" atingiu seu clímax nesta temporada? O desenho pode ser visto na MTV às 23h das terças, com reprises na quarta à 1h30, sexta às 22h30 e domingo à 1h. O Multishow o apresenta à 0h de sábado para domingo e em horários alternativos.

Em um episódio de março, um filme chamado "The Passion" (A Paixão)conquista Eric Cartman, o gordo, ele próprio crucificado em 1999, na encenação da paixão de South Park. Depois de ver o filme, Cartman não pára de falar sobre a glória de seu herói de longa data, Mel Gibson, diretor do filme, até que seu amigo Kyle Broflovski consente em ir assistir ao filme. Abalado com a tortura apresentada no filme, Kyle concorda com a implicação de que os judeus tiveram responsabilidade na morte de Jesus.

Kyle, então, agita sua sinagoga: ele quer um pedido de desculpas. Os congregantes se rebelam. Enquanto isso, Cartman organiza um comício e tenta iniciar um genocídio. A guerra santa chega a South Park. Em um sub-tema relacionado, Mel Gibson armado e enlouquecido esbraveja de cueca, como fez em "Máquina Mortífera".

Andrew Sullivan, o sábio conservador online, chamou a cena de "uma das mais sublimes do ano". Cada pessoa disse que o episódio "A Paixão do Judeu" provou algo diferente: Que o programa ainda está por dentro ou que voltou com força ou que está melhor do que nunca. De qualquer forma, foi bom.

A série, que sai do ar até outubro, depois do episódio de quarta-feira (28/04) à noite (nos EUA), sobre alienígenas que tomam os empregos dos americanos, também se orgulha de malhar as religiões. Ambientada em serras nevadas do Colorado, tem sido séria iconoclasta desde sua estréia em 1997.

Certamente o programa é criativo e tem um visual descolado. As vozes, na maior parte dos criadores de "South Park", Trey Parker e Matt Stone, também são hilariantes. (A pronúncia de "autoridade" de Cartman é indescritivelmente perfeita). Mas a verdadeira força de "South Park" está em flertar com quem pensa livremente, ridicularizando cristãos e judeus, inclusive o próprio Jesus, e figuras sagradas como Buddha, Muhammad, Krishna e Laotzu. (Eles formam um grupo chamado Super Bons Amigos).

Mas esse liberalismo estilizado, é claro, também tem seu dogma próprio. Verdade, os meninos de "South Park" -Carman e Kyle, Stan Marsh e outros freqüentadores habituais- não são afetados por nenhum dos problemas espirituais que deprimiam a turma de "Peanuts".

Eles têm um problema mais científico: a hipocrisia americana, a combinação de ambição e falsidade que permitem que a religião e a falsa espiritualidade sejam uma cobertura para a voracidade. Onde as crianças de "Peanuts" eram tristes, os meninos de "South Park" são furiosos e vingativos.

Não é de espantar. Eles estão cercados por fraudes. Cartman tem uma mãe solteira orgulhosa, cristã e hermafrodita, que dorme com diferentes pessoas em troca de favores. Ela é indulgente e ineficaz. ("Eric ainda deveria estar preso em casa por tentar exterminar os judeus, há duas semanas"). A mãe de Kyle é crítica, ansiosa, fatalmente intrometida; ela defende uma causa sobre gêmeos siameses, que parece ter a intenção de mortificar a pessoa a quem deveria ajudar, a enfermeira de uma escola que tem um feto morto preso a sua cabeça. Bland Stan tem um avô que é apresentado como retrato da feliz longevidade, mas implora a Stan que o mate.

"South Park" consolida a ira e o humor de pré-adolescentes, com brincadeiras sobre flatulência, gordura e vômitos. (E piadas sobre piadas de peidos, como em "Terrance and Phillip", o antigo programa dentro do programa.)

Então, armados com um pouco mais do que furos de censura judiciosamente aplicados, palavras permissíveis como esfíncter e ânus e uma vontade de falar da digestão, o programa consegue um ar de anarquia. Perfeito para quem tem alma jovem: anarquia em um desenho alegre e em canal básico da televisão paga.

Talvez os maiores fãs de "South Park" sejam adultos que foram rebeldes. O programa se baseia na esperança de sempre ofender alguém, em algum lugar. Para melhor saboreá-lo, deve-se imaginar os pobres de alma -pais repressores ou anunciantes chatos, embrutecidos com o que é politicamente correto ou com o moralismo cristão- balançando a cabeça na sala ao lado, em sinal de desaprovação. Os anunciantes continuam patrocinando o programa, mesmo quando esbarra nos limites da decência, e os pais nunca fizeram uma campanha séria contra ele.

Além de criar novas piadas, "South Park" é uma oportunidade para desafiar aquelas broncas mais uma vez. Mas apesar dessa pose, "South Park" não adota o princípio da televisão irreverente de "nada de mensagens ou abraços", que Larry David estabeleceu para "Seinfeld".

"South Park" pode ser até abertamente crente. A teologia pode parecer um mito dentro do programa, e a intolerância e o farisaísmo, terríveis, mas a religião também parece adoçar e civilizar.

Além disso, ao final de muitos episódios, há uma mensagem elevada. Os criadores, Parker e Stone, são freqüentemente chamados de libertários e se consideram extraordinariamente conectados com a perversidade dos meninos. Mas sejamos francos: Há mensagens de aprendizado e até abraços em "South Park".

É surpreendente, de fato, que em seis anos o público não tenha censurado o pedantismo do programa. Em um episódio desta temporada, cruzados em South Park não perceberam o verdadeiro perigo quando se concentraram em uma crise trivial, ao estilo do seio exposto de Janet Jackson.

O programa explicou: as pessoas ficam ligadas em escândalos sexuais falsos e ignoram o verdadeiro problema de violência. Em um episódio há duas semanas, uma celebridade pedófila chamada Michael Jefferson, que tem um filho chamado Blanket, passou a levar a paternidade a sério.

"Tenho sido tão obcecado com minha infância que esqueci disso", diz ele. "Pensei que ter um monte de brinquedos era suficiente, mas Blanket não precisa de um amigo. Ele precisa de um pai, de uma vida normal". Isso parece agradavelmente são. Se "South Park" é uma das melhores comédias da televisão, não é boa por ser inconseqüente; é boa por ser uma série de parábolas engraçadas.

Tomemos como exemplo, o final de "A Paixão do Judeu". Depois que a guerra santa se acalma, Stan diz aos fãs do filme de Gibson: "Se vocês querem ser cristãos, ótimo, mas devem seguir os ensinamentos de Jesus, em vez de se concentrar em sua morte. Isso era o que as pessoas faziam na Idade Média e os resultados são realmente ruins".

Que bom. Mas e vocês, Trey and Matt? Essa mensagem não é muito diferente do refrão de "Free to Be... You and Me" (livre para ser eu ... e você), álbum feminista de inspiração para crianças, lançado em 1972. Por mim, tudo bem, mas, telespectadores, não contem para seus filhos.
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Postby mends » 28 Apr 2004, 17:20

História Sensacional!!! Principalmente o calaboca do juiz americano no advogado do consórcio Calais das fixas!!!
E vem neguinho com esse argumento do "Brasil perde, o México ganha..."; é que a Telefonica é do Brás, o GP põe todo o seu $$$ na Rocinha e por aí vai...

é longa, mas vale a pena:

Telefonia
Depois de nove horas, tribunal põe fim a uma disputa de quatro meses com as teles brasileiras

Juiz decide que a Embratel é da mexicana Telmex
Tatiana Bautzer De Nova York



O juiz Arthur González, do tribunal de falências do Distrito Sul de Manhattan, decidiu ontem que a Telmex será a nova dona da Embratel. "Nem sempre o maior preço é o melhor para o vendedor", disse o juiz ao anunciar a decisão, depois de nove horas de depoimento no prédio do tribunal. O juiz considerou que a americana MCI tomou uma "decisão de negócio sensata" ao escolher a proposta da Telmex, já que vender a Embratel para o consórcio brasileiro Calais - formado pelas operadoras Telefônica, Brasil Telecom e Telemar e a empresa Geodex - significava um "risco regulatório significativamente maior".

O juiz González disse que o consórcio Calais fracassou na tentativa de provar que o processo de venda beneficiou injustamente a Telmex por ser acionista da MCI.

A audiência durou nove horas com apenas três das previstas cinco testemunhas arroladas para depor. O presidente da Telemar, Otávio Azevedo, pretendia dar um depoimento à corte, mas seus advogados acabaram desistindo porque os depoimentos duraram muito mais do que o esperado e o juiz demonstrou impaciência com a lentidão. A previsão inicial era de que a audiência durasse quatro horas.

A MCI decidiu pela proposta da Telmex, rejeitando a oferta mais alta do consórcio Calais não apenas por questões regulatórias, mas para evitar envolver-se no que teme que sejam "atividades criminosas" de formação de cartel das empresas de telefonia fixa, afirmou o vice-presidente de desenvolvimento de projetos da MCI, Douglas Webster, em depoimento à corte. Segundo Webster, a MCI temia ter responsabilidades criminais se concluísse a venda e prejuízo econômico se concordasse em vender a Embratel para um grupo acusado de formação de cartel ou que recriasse um monopólio.

Grupos de até dez advogados de cada parte, executivos da MCI e do banco Lazard Frères e até o ex-presidente do Cade, Gésner de Oliveira, debateram o processo de venda da Embratel para a Telmex e relataram detalhes das negociações. O presidente da Telemar, Otávio Azevedo, acompanhou a audiência na platéia junto com executivos da Telefônica.

Azevedo queria falar sobre a venda da Embratel, mas perguntado sobre os documentos encontrados pela polícia na sede da Telefônica, em São Paulo, disse que sobre isso não falaria. Os documentos apreendidos pela polícia e as reportagens publicadas pelos jornais brasileiros foram citados durante toda a audiência pelos advogados da MCI como suposto indício de conduta criminosa das empresas que formam o consórcio Calais.

Azevedo só quis fazer um comentário ontem, após a decisão do juiz: "Efetivamente a decisão fez o Brasil perder mas o México ganhou muito". Em nota oficial, à noite, o consórcio declarou: "A Calais está naturalmente decepcionada com a decisão da corte americana e com o resultado de todo este processo. Lamenta também o prejuízo que está sendo provocado aos acionistas da Embratel e a perda desta oportunidade de negócio".

"Uma empresa como a MCI,que está emergindo de um escândalo da WorldCom tem que seguir os mais altos padrões éticos", disse Webster, afirmando que a venda da Embratel foi discutida em cinco diferentes reuniões de diretoria da MCI. A última foi no domingo à noite, na qual já se discutiu o conteúdo dos documentos apreendidos na sede da Telefônica nos quais há indícios que as as empresas de telefonia fixa alinhariam as tarifas pelo teto depois da compra da Embratel. A diretoria levou em consideração a possibilidade de responsabilidade criminal e possíveis perdas econômicas com a demora na aprovação regulatória.

Além disso, contou o risco para a imagem da MCI, considerando os artigos negativos na imprensa. Mas antes mesmo do último episódio e da abertura de investigação pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), a MCI já considerava o risco alto. A empresa citou durante a audiência um pedido de investigação criminal remetido em 13 março por um dos conselheiros do Cade à Procuradoria Geral da República, a partir de acusações de formação de cartel feitas pela Associação das Empresas Prestadoras de Serviços de Telecomunicações contra as empresas de telefonia fixa. A americana MCI acreditava que a chance de a Anatel e o Cade aprovarem a venda da Embratel para a Telmex era de 70%, ante 20% para o consórcio brasileiro, com base no parecer do advogado brasileiro especialista em telecomunicações Ricardo Barreto.

O diretor do banco Lazard Fréres, Larry Grabstein, responsável pelo processo de venda, admitiu que a MCI escolheu a Telmex como vencedora antes de receber a proposta completa do consórcio brasileiro, no dia 14 de março, mas que a votação do acordo final só ocorreu depois da formalização de todas as propostas. Grabstein admitiu que o banco forneceu à Telmex um formulário para concretização da proposta, o que não foi feito com o Calais. Disse que o consórcio brasileiro demorou a resolver a questão regulatória criando a estrutura "blindada" da oferta, na qual os clientes de longa distância de uma área seriam atendidos pelas concessionárias de telefonia fixa da outra área e admitiu que o banco se baseou nas estimativas feitas pela MCI do risco regulatório de aprovação do negócio. Negou ter beneficiado a Telmex por ser acionista da MCI.

Grabstein disse que já se esperava que o Calais fizesse uma oferta superior à da Telmex justamente pelo risco regulatório. Outro argumento do banco foi a proibição pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de abertura do data room com informações confidenciais para empresas concorrentes da Embratel.

A estratégia de defesa do Calais foi agressiva. O advogado do grupo, Edward Meehan, do escritório Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom LLP, chegou a insinuar que funcionários da Embratel estariam por trás da apreensão dos documentos pela polícia na sede da Telefônica. E disse que a direção da empresa no Brasil é favorável à Telmex.

O argumento principal do Calais foi de que o processo de venda foi injusto e beneficiou a Telmex por ser uma acionista da MCI, sem dar chance aos outros competidores. Os advogados da MCI tentavam comprovar que o processo foi justo, mas que a empresa tomou a decisão de negócio "mais sensata" ao tentar proteger-se de envolvimento com acusações de formação de cartel e recriação de monopólio.

"Num mercado volátil como o Brasil, a participação na Embratel já valeu apenas US$ 30 milhões e conseguimos por ela US$ 360 milhões com a Telmex. O risco de o negócio ficar parado à espera de aprovação e a Embratel se desvalorizar era grande", disse o executivo do banco.

Em alguns momentos, a estratégia do Calais irritou o juiz Arthur González, como quando o advogado tentou argumentar que o grupo brasileiro não estava na corte apenas defendendo seus interesses como um candidato derrotado na compra da Embratel, mas que também queria o melhor para a MCI como acionista minoritário e detentor de bônus- uma estratégia comum em tribunais brasileiros.

Durante o processo judicial, o consórcio Calais comprou 100 ações da MCI e 1700 bônus. O advogado preparava-se para usar o argumento de prejuízo ao valor das ações com a venda da Embratel por US$ 400 milhões à Telmex ao invés dos US$ 470 milhões imediatos (US$ 550 milhões no total) oferecidos pelo Calais. "Houve uma quebra de dever da diretoria da MCI como agente fiduciário responsável pelo valor das ações, o que resulta em prejuízo", disse o advogado.

"O senhor tem um cálculo de quanto está perdendo nestas suas 100 ações? perguntou o juiz.

"No momento não tenho o cálculo, o impacto econômico, reconheço, não é significativo..."

O juiz respondeu: "Na verdade, é inexistente. Seriam décimos de um centavo ou um centavo por dólar? Seu cliente considera estas 100 ações como um investimento? O senhor está aqui na condição de comprador e não de acionista, já que o impacto econômico dessa decisão é praticamente imensurável", disse Arthur González.

Depois dessa ácida discussão, o advogado de defesa apresentou sua testemunha, o ex-presidente do Cade, Gesner de Oliveira. O depoimento resultou num questionamento constrangedor de Oliveira pelos advogados da MCI.

Respondendo às perguntas dos advogados do Calais, Oliveira afirmou que não haveria nenhuma responsabilidade criminal para os vendedores se uma compra pelo consórcio brasileiro fosse rejeitada pelo órgão, que segundo ele não lida com questões criminais. Disse conhecer a estrutura da última oferta do Calais, com a "blindagem" que, segundo os executivos das empresas de telefonia fixa, impediria a criação de um monopólio. O Calais pretendia dividir o mercado de transmissão de dados e o da concessão (serviços de longa distância) entre a Geodex e as empresas fixas. Gesner depôs dizendo que essa blindagem poderia beneficiar a análise concorrencial e que a venda pela Telmex também seria sujeita a análise regulatória. Oliveira chegou a citar uma declaração do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que havia afirmado que não havia temor de formação de monopólio na compra da Embratel pelas empresas de telefonia fixa. A declaração de Dirceu foi apresentada à corte como uma posição da Presidência da República do Brasil em relação ao negócio. Mais tarde, Gesner disse que apenas soube da declaração pela imprensa e não conversou diretamente com o ministro.

Gesner lembrou ainda, em defesa do Calais, que o Cade considera apenas questões de fusão e que pode eventualmente rejeitar uma venda ou determinar mudanças - citou como exemplo a suspensão da marca Kolynos no caso Colgate -, mas que uma rejeição no Cade não implicaria em envolvimento criminal. A defesa argumentou que não havia investigação criminal em andamento sobre o Calais, embora houvesse sobre algumas das empresas.

O questionamento dos advogados da MCI foi duro. A primeira pergunta do advogado Adam Cohen, do escritório Weil, Gotshal & Manges, foi se Gesner estava sendo pago para dar o depoimento. Relutante, o ex-presidente do Cade respondeu que sim. Perguntado sobre o valor, desconversou. Pressionado a dar um valor aproximado, disse que era contratado pelas empresas por meio da consultoria Tendências, da qual é sócio, e estava recebendo US$ 133 por hora de trabalho.

Cohen pressionou Oliveira sobre seu conhecimento sobre investigações criminais contra as empresas de telefonia fixa, e citou o parecer do conselheiro Thompson Andrade, do Cade, de 13 de março, no qual a partir de uma denúncia de formação de cartel recomenda investigações criminais contra as telefônicas fixas. E também pressionou o ex-presidente do Cade a dizer se havia alguma investigação contra a Telmex. Gesner acabou dizendo que não tinha conhecimento do assunto. O advogado da MCI citou a Gesner de Oliveira pareceres de Afonso Arinos, Paulo de Tarso Ribeiro, Luiz Roberto Barroso e outros consultores apontando risco à concorrência no caso de venda da Embratel ao Calais
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Postby mends » 03 May 2004, 09:34

DELFIM NETO - Carta Capital desta semana

EUA: POLÍTICA DE JUROS
A mediocridade da economia brasileira é insólita. A continuar como vamos, em breve
seremos o país mais ocidental da África...

A tendência pessimista que ameaça apropriar-se do Brasil tem alguma justificativa. A idéia de que a elevação dos juros nos EUA fechará a janela de liquidez de que nos aproveitamos parece, entretanto, um pouco exagerada. Por outro lado, algumas avaliações de agências de risco e de brokers internacionais têm sido interpretadas internamente com muito pouco cuidado.

A situação econômica do mundo tem melhorado. Não se pode confiar muito nas estimativas de crescimento feitas quer pelo FMI quer pelo Banco Mundial, porque a história mostra que elas estão sujeitas a erros lamentáveis (maiores na estimativa da inflação do que na do crescimento). De qualquer forma, elas são as disponíveis. Entrando no segundo quadrimestre ao ano, as estimativas de crescimento de 2004 são as seguintes (revisadas no mês de abril):

As duas instituições coincidem na afirmação de que, com os indicadores atuais, o PIB real do mundo em 2004 será entre 40% e 50% superior ao que foi em 2003. Isso significa, também, que as condições para a expansão do mercado mundial (exportações e importações) serão consideravelmente melhores do que foram em 2003, o que deverá ajudar no crescimento do nosso comércio exterior. Há aqui dois aspectos:
1. Se o Brasil crescer 3,5%, terá crescido menos que o mundo, ou seja, continuamos a nos afastar dos países em via de desenvolvimento, que crescerão em torno de 6%.
O grave é que dos países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China selecionados pela Goldman Sachs para ser desenvolvidos em 2050), somos a grande decepção, como se vê abaixo:
2. A mediocridade do comportamento da economia brasileira é tão insólita que deveria nos levar a meditar mais fortemente sobre o que está, de fato, ocorrendo. A continuar como vamos, em breve seremos o país mais ocidental da África...
Voltemos aos juros. Todos conhecem Alan Greenspan. Ele vai ajustar a taxa de juros com cuidado e com aviso prévio, porque a sua elevação produzirá uma queda do valor dos papéis que constituem os portfólios dos americanos. O que buscará o Fed no ajuste dos juros e como explicar que ele deseja apenas “controlar a inflação” sem produzir o crescimento?

Pace tanti viri o doutor Meirelles, ele não vai elevar a taxa de juro real para impedir a inflação: vai tentar ajustar a taxa de juro real à nova taxa de retorno físico da economia (beneficiada com o aumento da produtividade que está ocorrendo), de forma a produzir um equilíbrio macroeconômico no nível da demanda efetiva que elimine o desemprego. É essa taxa real de juros que mantém o equilíbrio dinâmico entre a oferta total e a demanda total. Ele não vai combater o crescimento; vai dar estabilidade monetária à nova taxa de crescimento do PIB.

É por isso que os juros reais tendem a subir quando a economia está em expansão (taxa de retorno crescente pelo aumento da produtividade) e tendem a baixar quando a economia entra em estado recessivo. Não se baixa o juro real para estimular a economia, como não se eleva o juro real para conter a inflação.

O papel do Banco Central é encontrar (por tentativa e erro) a igualdade entre a taxa de juro e a taxa de retorno físico da economia, de forma a sustentar uma taxa de inflação constante em um nível de atividade próxima ao pleno emprego.

Greenspan faz a política monetária para os EUA e não tem razão para se preocupar com suas conseqüências em outros países. Como vimos, ele não precisa esperar um “aumento da inflação” para agir: equalizando a taxa real à taxa de retorno, ele mantém o crescimento com o nível atual de inflação. É possível que haja um redirecionamento internacional de capitais, que será compensado positivamente pelo aumento do volume exportado e negativamente pela queda de preços das commodities.
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