ELIO GASPARI
A luz da MaracuLight
A MaracuLight , obra de engenharia política e malfeitoria financeira iniciada no governo de FFHH, chegou a seu esplendor no governo de Lula. A Agência Nacional de Energia Elétrica (uma armação tucana) baixou um confisco contra 3,4 milhões de cidadãos. Impõe um aumento de 6,13% nas contas de luz porque a Light está em dificuldades financeiras. Quando a choldra está em dificuldade e não paga a conta de luz, a Light vai em cima e corta a energia. Quando é a Light que vai mal, a choldra é chamada a pagar.
Arma-se uma situação na qual a patuléia terá de ficar entre o financiamento de um mau negócio ou a reestatização da empresa. A Light foi privatizada em 1996 depois de uma tenebrosa transação na qual mudou-se o edital da concorrência, aceitaram-se moedas podres e mexeu-se no sistema de cálculo das tarifas. Tudo isso e mais um telefonema de FFHH para Jacques Chirac, convencendo-o a botar a estatal francesa EDF no lance. Dias antes do leilão, o governo brasileiro pagou ao francês US$ 200 milhões de contas antigas. A empresa foi vendida para saciar a sede política da privataria.
Em apenas dois anos a EDF desempregou 5.000 pessoas (mantendo 6.000) e devolveu a seus acionistas 25% do que pagou pela Light. Como reconheceu o supertucano Sérgio Motta, o negócio fazia parte de um bolo de transações elétricas que "envergonha o processo de privatização".
Se a Light passa por dificuldades, isso se deve ao fato de ter acreditado na existência do dólar de R$ 1,20, de ter comprado outras distribuidoras com expectativa de lucros futuros. Se isso fosse pouco, depois de ter sentido o gostinho do dinheiro nos dois primeiros anos, a matriz francesa desinteressou-se de um negócio que rende pouco ou dá prejuízo. Em português claro, a compra da concessão da distribuidora de energia para a cidade do Rio foi um mau negócio para a EDF. Assim como foi mau negócio para os calvinistas de Genebra a expedição do almirante Villegagnon, no século 16.
Como diria Alan Greenspan, às vezes os negócios vão mal por falta de sorte. Fez-se o possível para socorrer a Light. O governo deu-lhe empréstimos que produziram lucros artificiais de R$ 407 milhões em 2002. Deram-se também aumentos extraordinários de tarifas, mas o mercado foi perverso.
Desde a encrenca do calote da Eletropaulo, no início do governo de Lula, as concessionárias de energia elétrica chantageiam o governo. Ameaçam degradar os serviços e soltar em cima da nação petista o fantasma da quebra de contratos. Quem está quebrando contratos são as empresas. Se o governo não disser com todas as letras que a retomada da concessão é uma alternativa séria e decente, ele (e os consumidores) serão tungados por mais uns dez anos, até que a Viúva seja convidada a ficar com a conta. Foi assim nos anos 70, quando a ditadura viu-se obrigada a engolir a empresa que nos anos 20 pertencera a Percival Farquhar (Tony Ramos) e será assim amanhã. O governo não deve ter medo da palavra reestatização. As concessionárias é que precisam temê-la.
É falsa a idéia de que a saída da EDF do Rio (ou de qualquer outra elétrica de qualquer outro lugar) é ruim para o país. Foi o raciocínio de que era bom para o país trazer a EDF para o leilão da Light que contaminou a concessão. A encrenca de hoje nasceu em 1996.