VADE RETRO SOCIALISTAS

América Latina, Brasil, governo e desgoverno
CPIs mil, eleições, fatos engraçados e outros nem tanto...

Postby mends » 27 Mar 2006, 08:51

PLÍNIO FRAGA

O que quer a esquerda

RIO DE JANEIRO - Os seguidores da candidatura mais à esquerda da próxima eleição presidencial começaram a debater que propostas levar para a campanha. Apesar de atingir quase 10% das intenções de voto, a senadora Heloisa Helena (PSOL) ainda tem dúvidas se disputa a Presidência ou se prefere tentar o governo de Alagoas.
Durante seminário que reuniu membros do PSOL, do PSTU e intelectuais que antes se abrigavam no PT, a esquerda discutiu o que pretende levar para o poder.
<span style='color:red'>"Qualificar como crime hediondo os assassinatos de pais e mães de santo que vêm ocorrendo pelo país" </span>é um dos itens que a esquerda defende, segundo texto que resume os debates.
Outro trecho do documento propõe o <span style='color:red'>estudo obrigatório da história da África e da cultura do "povo afro-descendente" no ensino fundamental e a "introdução nas creches de figuras negras, brincadeiras de roda e atividades que contemplem a diversidade racial e cultural do país, visando quebrar o racismo no início da formação dos indivíduos".</span>Isso num contexto educacional sem escolas privadas. "<span style='color:red'>Fim do ensino pago, educação não é mercadoria", </span>esclarece o pré-programa.
Nos temas econômicos, o texto defende a <span style='color:red'>suspensão do pagamento da dívida externa enquanto submetida a uma auditoria, redução drástica da taxas de juros, salário mínimo de R$ 1.600, desoneração tributária do consumo e tributação progressiva do patrimônio e renda.</span>
Há ainda a defesa da "<span style='color:purple'>revogabilidade dos mandatos executivos e legislativos", da realização de mais plebiscitos e referendos, da colocação da Venezuela como um exemplo político e do fim do "subimperialismo" do Brasil na América Latina.</span>"O programa deverá apontar para o novo, um programa de ruptura radical com o velho e que seja capaz de encantar novamente as pessoas", afirma o texto dos apoiadores de Heloísa Helena.
Ou seja, lá vem o velho travestido de novo, de novo.


Começou a loucura. Isso tudo é loucura. Atentar para o uso constante das palavras "obrigatório"...
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Postby mends » 31 Mar 2006, 09:44

tem dia que é melhor ser surdo e cego...como assim vender pra Gazprom? Vai fazer gasoduto até a Rússia? Pra vender pra Gazprom, pro mais com as MAIORES reservas de gás natural do mundo, esses índios teriam que construir uma planta de liquefação de gás. Como não sabem fazer um "O" com o fundo do copo, como diz meu velho, podiam pelo menos pensar mais um pouco antes de chantagear. E o Lula molusco ainda os chama de hermanos...devíamos mesmo é ser "imperialistas" e mandar o exército proteger as instalações da petrobras...fora que Morales está chantageando também o CHile: só fornece gás se ganhar saída pro mar.

Ministro afirma que Brasil obteve "extraordinários benefícios" no passado e quer que a Petrobras pague mais impostos

Bolívia diz ter "outras opções" para vender gás
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao demonstrar irritação com declarações feitas anteontem pelo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o ministro dos Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Solíz, voltou a defender um aumento da tributação sobre o gás vendido ao Brasil e disse que seu país tem outras opções para comercializar o produto. Negou, no entanto, que as negociações entre os países estejam paralisadas.
Solíz deixou claro qual será a linha do governo boliviano com a Petrobras ao dizer que a prioridade é resolver "tudo o que está pendente" e afirmar que o Brasil obteve "extraordinários benefícios" dos governos anteriores ao do socialista Evo Morales.
"Quero começar dizendo que temos uma primeira grande coincidência: o Brasil precisa da Bolívia, em matéria energética, e a Bolívia precisa do Brasil", disse Solíz, em entrevista coletiva em La Paz, convocada apenas para responder às declarações de Gabrielli.
Em entrevista à agência de notícias EFE, Gabrielli disse que está "preocupado" com a falta de "diálogo" com a Bolívia e que "as negociações estão paralisadas".
"Não vou mencionar a importância que o Brasil tem para a Bolívia, mas a importância da Bolívia para o Brasil. Neste momento, cerca de 80% do gás consumido em São Paulo é boliviano", disse Solíz, tido como um dos ministros mais radicais de Morales.
O boliviano pediu que o Brasil "leve em conta os extraordinários benefícios que recebeu nestes últimos anos". Como exemplo, disse estar "absolutamente seguro de que, no campo de San Alberto, o maior do país, a Petrobras já terminou de recuperar seus investimentos. Tudo o que vier no futuro é lucro. Assim, é correto que a Bolívia defenda elevar os benefícios que recebe via tributação".
"Sobre o tema da suspensão das negociações, creio que essa informação não é exata. Neste momento, estão sendo organizadas reuniões entre os chamados Comitês de Gerência, que são organismos técnicos de ambos os países, nos quais se começa a discutir a agenda que temos", afirmou.
Solíz disse, no entanto, que, "antes de entrar nos novos cenários, temos de resolver tudo o que está pendente". Segundo o ministro boliviano, a principal divergência se refere ao gás não utilizado, sob o regime contratual do "take or pay". Ele diz que a estatal quer comprar esse montante acumulado desde 2001 pagando os preços anteriores, enquanto a Bolívia quer cobrar os preços atuais. De acordo com Solíz, "a diferença conceitual gera um montante de cerca de US$ 450 milhões".
Solíz ressaltou também que o Brasil não é a única opção da Bolívia e citou "várias possibilidades", como um suposto interesse da gigante russa Gazprom. "Assim como o Brasil tem opções(...), nós também temos as nossas."
Procurada pela Folha, a Petrobras disse que não se pronunciaria baseada em declarações.
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Postby tgarcia » 03 Apr 2006, 17:17

ESTADÃO - O presidente da Bolívia, Evo Morales, enfatizou, nesta segunda-feira, que o grande objetivo de seu governo será o aproveitamento dos recursos naturais como forma de resolver os problemas econômicos da população. "Temos obrigação de aproveitar ao máximo nossos recursos naturais", afirmou em entrevista coletiva em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Para isso, segundo ele,<span style='color:red'><span style='font-size:14pt;line-height:100%'> a exploração de gás natural "não pode ser um negócio privado, tem de ser um serviço público". </span></span>O presidente boliviano afirmou que a intenção do governo não é expropriar os bens das empresas que atuam no país. "Uma coisa são os recursos naturais, outra são os bens das empresas." Morales disse ainda que o governo boliviano "precisa de sócios e não de patrões".
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Postby mends » 03 Apr 2006, 18:19

A retórica é bonita: “(…) precisa de sócios, não de patrões” fica ótimo num discurso. Mas quem vai ser sócio de quem quebra contrato unilateralmente? O mercado tava até precificado pra uma renegociação de contratos.

Mas, abrindo o kit de detector de bullshit, vamos definir o que é bem público. Os esquerdistas não vêem consenso nisso, e aquela famosa paquera do AF no sítio disse que a “busca da vida dela é por essa definição” (esquerdistas sempre têm esse apelo melodramático). Eu gosto de uma definilção que é quase matemática: bem público é aquele cujos dividendos, cujas vantagens de uso, são maiores pra sociedade como um todo que para qualquer indivíduo em especial. Educação até um certo nível é bem público: é mais importante pra manutenção da democracia que para o cidadão em si. Justiça é um bem público. Por outro lado, quando não se consegue atribuir o custo/ônus de algo, também é bem público. Controle de poluição, em determinadas circunstâncias, é bem público. Bens públicos devem ser regulamentados e até oferecidos pelo Governo. Transporte não é bem público: quem se beneficia do transporte é o cara a ser transportado – é necessário um exercício de boa vontade e de retórica muito muito grande pra ver ganho “social” no transporte.

Gás: não é bem público. Quem se beneficia da venda do gás é facilmente determinável: caso as jazidas sejam estatais, é o Estado. E ser estatal e ter como beneficiário o Estado não significa que seja o ativo ou a liability um bem público. Mesmo que haja distribuição direta das receitas (seguindo qual critério?) dá pra determinar univocamente cada cidadão que se beneficiou do gás, e o ganho social não vai ser maior que o ganho individual. Logo, gás não é bem público, e o Estado deve ficar fora.
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Postby mends » 03 Apr 2006, 18:28

Venezuela assume controle de campos de petróleo explorados por Total e ENI

CARACAS, 3 abr (AFP) - A Venezuela assumiu o controle de dois campos de petróleo explorados pelas companhias francesas Total e a italiana Eni Dacion porque se recusaram a assinar um acordo de associação com a companhia nacional PDVSA, informou nesta segunda-feira o ministro venezuelano de Energia, Rafael Ramirez.

Caracas adotou na sexta-feira passada o novo status para as companhias estrangeiras que operam no país, transformando os contratos de exploração em sociedades mistas com o gigante público venezuelano, em condições menos favoráveis em matéria de pagamentos de royalties e de um imposto sobre os lucros.

O ministro de Energia confirmou que a Total e a Eni Dacion estavam entre as empresas que não assinaram o protocolo de acordo, o que levou o governo a "assumir diretamente o controle dos campos de petróleo, sábado".

"Nós estamos estudando a resposta a isto, mas cumprimos o que tínhamos dito (...). A partir de 1º de abril, todos os campos de petróleo que estavam sob contrato de explorações foram repassados ao controle da PDVSA", declarou Ramirez durante entrevista ao canal público de televisão VTV.

A Total explora o campo de Jusepin que produz 33.000 barris por dia e a Eni o de Dación, que produz 50.000 barris por dia.

A decisão tem como objetivo colocar as empresas em conformidade com a lei de 2001 sobre os hidrocarbonetos (petróleo e gás) de 32 contratos assinados por companhias petrolíferas estrangeiras nos anos 90. As novas sociedades mistas devem pagar 30% de royalties sobre os hidrocarbonetos e 50% de impostos sobre os lucros (contra 1% dos royalties e 36% de impostos de antes).

Dezesseis companhias assinaram com a PDVSA: as americanas Chevron e Harvest, a anglo-holandesa Shell, a britânica BP, a espanhola Repsol, a chinesa CNP, a brasileira Petrobras, as japonesas Teikoku, CGC, Tecpetrol, Perenco, Suelopetrol, e as venezuelanas Vinccler Inemaka e Open.

Mas a maior companhia de petróleo do mundo, a ExxonMobil, não aceitou as condições impostas pelo governo do presidente, Hugo Chávez, e preferiu vender suas partes à empresa a qual estava associada.

Recentemente, as companhias Total e Eni Dacion foram acionadas pelo fisco venezuelano, o Seniat, por estarem com impostos atrasados, o que levou a um breve fechamento de suas sedes administrativas.

A Total pagou dia 29 de março 19,4 milhões de dólares e se comprometeu a pagar mais 40 milhões de dólares sobre uma dívida total de 108 milhões de dólares. Já a Eni se recusou a aceitar o acordo, levando a justiça venezuelana a confiscar 46 milhões de dólares de suas contas.
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Postby mends » 05 Apr 2006, 12:05

esses socialistas que adoram os confortos que só o capitalismo proporciona...

Pequenas revoluções
O PSOL lançou o ex-petista Plínio de Arruda Sampaio, 75, ao governo de São Paulo ontem com um forte discurso do candidato contra o capitalismo, o neoliberalismo e a globalização.
Quando o anúncio da candidatura terminou, Plínio perguntou aos jornalistas se eles haviam recebido cópias de sua fala.
Em seguida, ele tirou um "pen drive" do bolso (pequeno aparelho eletrônico que transporta arquivos) e comentou:
-Este aparelhinho mudou a minha vida. Meu computador inteiro está dentro dele.
Não satisfeito, o candidato PSOL passou a discorrer sobre as vantagens da tecnologia para melhorar o dia-a-dia.
-Meu discurso, por exemplo, está no "pen drive"-, disse.
No final, ao perceber o espanto dos jornalistas, ainda impressionados com o discurso antiglobalizante, sorriu e disse:
- Este mundo mudou muito!

Da FOLHA DE SÃO PAULO
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Postby mends » 10 Apr 2006, 11:51

ELIO GASPARI

Bola final
São muitas as coisas que Lula não sabe, mas "nosso guia" sabe que, se o sigilo bancário de Paulo Okamotto for aberto, sua candidatura à reeleição será um capítulo encerrado.
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Postby mends » 11 Apr 2006, 12:42

let the populism begins...

Lula vai elevar teto de renda e benefícios do Bolsa-Família
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu elevar o limite de renda para que uma família seja incluída no Bolsa-Família. Assim, evitará que seu principal programa social tenha o alcance reduzido em relação à meta estabelecida de atingir 11,2 milhões de famílias até dezembro.
O Bolsa-Família deverá ser uma das principais bandeiras de Lula na campanha à reeleição. O presidente também decidiu aumentar o valor do benefício, mas o índice ainda depende de estudos orçamentários. A previsão é de que o impacto seja de até R$ 300 milhões anuais.
A proposta do Ministério do Desenvolvimento Social é que o aumento fique em 12,7%. Com isso, o teto para os repasses subiria de R$ 95 para R$ 107 mensais.
Com a decisão, uma família precisará ter renda mensal de até R$ 120 por pessoa para poder ser incluída. Atualmente, esse limite é de R$ 100 mensais por pessoa.
Para tentar reverter o que auxiliares presidenciais chamam de "retorno da agenda negativa" com o caso da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Lula pretende retomar a rotina de anúncios de medidas positivas, como o aumento do salário mínimo, com freqüência.
Apesar de o caso Francenildo não ter mudado os índices de intenção de voto de Lula, o governo teme que a continuidade da "agenda negativa" afete as chances de reeleição do presidente.
No domingo, o Datafolha mostrou que Lula continua a liderar com folga no primeiro turno. Marcou 40% contra 20% do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e 15% do ex-governador Anthony Garotinho (PMDB). Lula derrotaria os dois no segundo turno se a eleição fosse hoje.
A pesquisa mostra que Lula tem índices melhores no Nordeste e entre famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos. Ao reajustar o Bolsa-Família, dá uma boa notícia aos mais pobres, segmento que pretende cultivar.

Primeiro reajuste
Este será o primeiro aumento desde que o programa foi criado, em outubro de 2003. O Bolsa-Família unificou quatro projetos de transferência de renda -Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Auxílio-Gás e Cartão Alimentação. Os três primeiros foram criados no governo FHC (1995-2002).
Cálculos do Ministério do Desenvolvimento Social apontam que, caso não houvesse o ajuste, a linha de corte do Bolsa-Família ficaria defasada. Ou seja, poderia deixar de fora do benefício famílias pobres, mas que, por uma diferença de R$ 20 per capita, não estariam incluídas no programa.
Sem o ajuste também haveria dificuldade para transferir os beneficiados com os recursos do Cartão Alimentação e do Auxílio-Gás para o Bolsa-Família. Isso porque esses dois programas remanescentes (criados antes de outubro de 2003) já aceitavam famílias com renda per capita de até R$ 120 mensais.
A meta de atender a 11,2 milhões de famílias até dezembro havia sido estabelecida com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001. Com os resultados da pesquisa de 2004, que apontaram redução da pobreza, o governo chegou à conclusão de que precisaria atingir 11,1 milhões de famílias. Essa diferença dá margem para que o governo possa aumentar o benefício e ainda manter a meta inicial de chegar a 11,2 milhões. (KENNEDY ALENCAR e LUCIANA CONSTANTINO)
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Postby mends » 12 Apr 2006, 11:31

E esses socialistas imbecis da Varig? Ajudaram a ferrar com a empresa, nunca aceitaram renegociação salarial ou diminuição de estabilidade/privilégios, não foram capazes de montar um plano para assumir a companhia – é bem melhor ser empregado que acionista – são incompetentes que dói, e eu viajei de Varig nos “bons tempos” da dita cuja e era um desperdício só – e agora vêm querendo que o Governo assuma a companhia, ajude, capitalize!!!!!!!

ABSURDO!!!!!!!!!

Esses capitalistas de capital alheio são uns socialistazinhos de merda, que querem mercado até não mexer com eles.
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Postby mends » 13 Apr 2006, 11:01

The return of populism
Apr 12th 2006
From The Economist print edition

A much-touted move to the left masks something more complex: the rebirth of an influential Latin American political tradition

Hulton
LATIN AMERICA, it is widely asserted, is moving to the left. The recent election victories of Evo Morales in Bolivia, of Chile's Michelle Bachelet, and of Ollanta Humala in the first round of Peru's presidential ballot (see article) are seen as forming part of a seamless web of leftism which also envelops Hugo Chávez in Venezuela, Brazil's Luiz Inácio Lula da Silva, Argentina's Néstor Kirchner and Andrés Manuel López Obrador, the front-runner in Mexico's presidential election. But this glib formula lumps together some strange bedfellows and fails to capture what is really changing in Latin America.

Some of the region's new or newish presidents are of the moderate, social-democratic left. They include Lula, Ms Bachelet in Chile, Óscar Arias in Costa Rica and Tabaré Vázquez in Uruguay. Broadly speaking, they stand for prudent macroeconomic policies and the retention of the liberalising reforms of the 1990s, but combined with better social policies.


Mr Chávez, Mr Kirchner, Mr López Obrador and, in Peru, both Mr Humala and his likely rival in a run-off ballot, Alan García, belong in a second category. Albeit in different ways and to different degrees, all correspond to the Latin American tradition of populism. So, in some respects, does Mr Morales in Bolivia. He is often portrayed as an indigenous leader. Yet as a young man he left his Andean-Indian village for the coca-growing region of the Chapare. His politics are those of a mestizo (mixed-race) trade-union leader.

“Populism” is a slippery, elusive concept. But it is central to understanding what is happening in the region. One of its many difficulties is that it is often used as a term of abuse. In many parts of the world, “populist” is loosely used to describe a politician who seeks popularity through means disparaged as appealing to the baser instincts of voters.

But populism does have a more precise set of meanings—though these vary from place to place. In 19th-century Russia, populists were middle-class intellectuals who embraced peasant communalism as an antidote to Western liberalism. In France, politicians from Pierre Poujade in the 1950s to Jean-Marie Le Pen have championed the “little man”, especially farmers and small shopkeepers, against big corporations, unions and foreigners.

In the United States, too, populism had rural roots, in the prairies of the Midwest. In the 1890s, the People's Party campaigned against what it saw as the grip of urban cartels over the economy. This cause reached its zenith in the 1896 presidential election, when the populists backed the campaign of William Jennings Bryan, a Democratic crusader against the gold standard.

Huey Long, the governor of Louisiana in 1928-32, was another populist. He campaigned against Standard Oil and other big companies, ramped up taxes and state social spending, and was accused of dictatorial tendencies for building a ruthless political machine.

But it is in Latin America where populism has had the greatest and most enduring influence. As in Russia and the United States, it began as an attempt to ameliorate the social dislocations caused by capitalism. In Latin America it became an urban movement. Its heyday was from the 1920s to the 1960s, as industrialisation and the growth of cities got under way in the region. It was the means by which the urban masses—the middle and working classes—were brought into the political system.

In Europe, that job was done by social-democratic parties. In Latin America, where trade unions were weaker, it was accomplished by the classic populist leaders. They included Getulio Vargas, who ruled Brazil in various guises in 1930-45 and 1950-54; Juan Perón in Argentina (pictured above) and his second wife, Eva Duarte; and Victor Paz Estenssoro, the leader of Bolivia's national revolution of 1952. They differed from socialists or conservatives in forging multi-class alliances.

Give me a balcony
Typically, their leadership was charismatic. They were great orators or, if you prefer, demagogues (“Give me a balcony and I will become president,” said José Maria Velasco, Ecuador's most prominent populist, who was five times elected president and four times overthrown by the army). Like Huey Long, Vargas and Perón used the new instrument of radio to reach the masses. Mr Chávez's “Bolivarian revolution” relies heavily on his skills as a communicator, exercised every Sunday in his four-hour television programme.

AP

Chávez treads in Perón's footstepsSome of the populists, such as Victor Raúl Haya de la Torre, the founder of Peru's APRA party, and William Jennings Bryan, relied on religious imagery or techniques. (“You shall not crucify mankind on a cross of gold,” Bryan preached.) A recent biography of Mr Chávez remarks on his similarity to a televangelist.

The populist leaders sought a direct bond with their mass following. They led personal movements rather than well-organised parties. Argentina's dominant political organisation bears Perón's name. Take Mr Chávez out of the “Bolivarian revolution” and there would be nothing left. Contrast that with Ms Bachelet, who presides over a stable four-party coalition, or Lula, whose Workers' Party has up to 800,000 dues-paying members.

The populists saw elections as the route to power, and pushed successfully to expand the franchise. But they also relied on mass mobilisation—on getting their followers out into the streets. They were often less than democratic in their exercise of power: they blurred the distinction between leader, party, government and state. Perón, for example, packed the judiciary, put his own people in charge of trade unions, and rigged his re-election in 1950. Mr Chávez used a constituent assembly to gain control of all the institutions of state. Both Mr Morales and Mr Humala have promised similar assemblies.

Not coincidentally, many of the populists have been military officers. That goes for Vargas, Perón and Lázaro Cardenas, Mexico's president from 1934 to 1940, who nationalised foreign oil companies and handed land to peasants. Mr Chávez and Mr Humala are retired lieutenant-colonels. Part of their appeal is that of the military caudillo, or strongman, who promises to deliver justice for the “people” by firm measures against the “exploiters”. Some scholars distinguish between military populists and civilians such as Haya de la Torre and Paz Estenssoro, whom they see as “national revolutionaries” closer to social democracy.

But there are many common threads. One is nationalism. The populists championed national culture against foreign influences. They harked back to forgotten figures from their country's past. In many respects, they were nation-builders.

While their preaching was often anti-capitalist, they made deals with some capitalists. They rallied their followers against two rhetorical enemies: the “oligarchy” of rural landlords and foreign “imperialists”. They supported industry and a bigger role for the state in the economy, and they granted social benefits to workers. They often paid for this by printing money.

Though populists were not alone in favouring inflationary finance, they were particularly identified with it. Some commentary on populism has emphasised this aspect. In their book “The Macroeconomics of Populism”, Rudiger Dornbusch and Sebastian Edwards characterise “economic populism” as involving a dash for growth and income redistribution while ignoring inflation, deficit finance and other risks.

Such policies were pursued not just by populists of the past, but by Mr García, Peru's president in 1985-90. In a milder form, they are being followed by Mr Kirchner, Argentina's Peronist president. Mr Chávez has been rescued from deficit financing only by Venezuela's oil windfall.

Populist economics was adopted, too, by Salvador Allende, Chile's Socialist president of 1970-73, and Nicaragua's Sandinistas. That has led many observers to use “populist” and “leftist” interchangeably—a mistake that led foreign investors to lose money when they panicked unduly when Lula won Brazil's election in 2002.

More Mussolini than Marx
In fact, there is nothing inherently left-wing about populism. Some populist leaders were closer to fascism: Perón lived as an exile in Franco's Spain for 18 years. Many favoured corporatism—the organisation of society by functional groups, rather than the individual rights and pluralism of liberal democracy.

Other writers have seen populism as a technique of political leadership more than an ideology. They have applied the term to such free-market conservatives as Peru's Alberto Fujimori and Argentina's Carlos Menem who, in different ways, sidestepped interest-groups and made direct appeals to the masses. It is not clear whether Mr Humala, if elected in a run-off, would fall into this category—or try to mimic Mr Chávez.

AP

...and Humala hopes to followPopulism is full of contradictions. It is above all anti-elitist, but creates new elites. It claims to favour ordinary people against oligarchs. But as Messrs Dornbusch and Edwards pointed out, “at the end of every populist experiment real wages are lower than they were at the beginning.” Populism brought mass politics to Latin America, but its relationship to democracy is ambivalent. Populists crusade against corruption, but often engender more.

In the 1960s, populism seemed to fade away in Latin America, squeezed by Marxism, Christian democracy and military dictatorship. Its current revival shows that it is deeply rooted in the region's political culture. But it also involves some new elements. The new crop of populist leaders rely partly on the politics of ethnic identity: Mr Chávez and Mr Humala are both mestizos. Their coalitions are based on the poor, both urban and rural, and those labouring in the informal economy. They champion those discomfited by globalisation rather than industrialisation.

One big reason for populism's persistence is the extreme inequality in the region. That reduces the appeal of incremental reform and increases that of messianic leaders who promise a new world. Yet populism has done little to reduce income inequality.

A second driver of populism has been Latin America's wealth of natural resources. Many Latin Americans believe that their countries are rich, whereas in truth they are not. Populists blame poverty on corruption, on a grasping oligarchy or, nowadays, on multinational oil or mining companies. That often plays well at the ballot box. But it is a misdiagnosis. Countries develop through a mixture of the right policies and the right institutions. Whatever their past achievements, the populists are leading Latin America down a blind alley.

Sources:

“Hugo Chávez Sin Uniforme: Una Historia Personal”, by Cristina Marcano and Alberto Barrera. Random House Mondadori, Caracas, 2005.

“Latin American Populism in Comparative Perspective”, edited by Michael L. Conniff. University of New Mexico Press, Albuquerque, 1982.

“Populism in Latin America”, edited by Michael L. Conniff, University of Alabama Press, Tuscaloosa and London, 1999.

“The Macroeconomics of Populism”, edited by Rudiger Dornbusch and Sebastian Edwards. University of Chicago Press, Chicago, 1991.
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Postby mends » 13 Apr 2006, 11:53

do Blog do Fernando Rodrigues:

As asas de Zé Dirceu


Zé Dirceu visitou Itamar Franco em Minas Gerais. Foi de avião. Está mandando bem o ex-ministro.

Usou um jatinho Citation I, prefixo PT-WBY. O aviãzinho saiu de Sorocaba, pegou o ex-ministro petista em São Paulo e chegou a Juiz de Fora por volta das 11h40. Zé Dirceu passou uma hora e meia com Itamar, voltou para o aeroporto local e o jatinho o levou de volta para São Paulo.

Pois é, quem pode, pode.

Agora, quem paga esse tipo de viagem...?

Jatinho


O Cessna C500 PT-WBY foi comprado originalmente nos EUA pela Clipper Agência de Viagens Ltda, de São Paulo.

Registros do DAC indicam que o novo proprietário comprou o avião muito recentemente, em 5 de abril deste ano.
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Postby mends » 17 Apr 2006, 12:39

Mãos ao alto: quem pagou?
Por Rui Nogueira
O governo Lula é um marco. É o criador de uma balbúrdia que implodiu todas as fronteiras conceituais, das mais sofisticadas às que são puro bom senso. Não deixou pedra sobre pedra, mas se comporta como se ainda fosse o tutor de alguma coisa paradigmática e do bem. Até bota banca, como a do ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu.

Eles não conseguem enxergar a onda que criaram. Há os que a sentem, mas se recusam a reconhecê-la. Graças a petistas como José Dirceu e ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o que era uma exigência legal da República virou um clamor quase moralista das ruas. Ninguém mais dará um passo em público sem ter de responder à pergunta óbvia: quem pagou?

“Não devo explicações”
Não poderia ser de outro jeito, mas José Dirceu não só não gostou que o repórter Germano Oliveira, d’O Globo, lhe perguntasse quem pagou o jatinho Citation 500, prefixo PT-WBY, que o levou a Juiz de Fora para uma conversa com Itamar Franco, como se saiu com este conceito arreganhado: “Estou indignado com essa invasão de minha privacidade”. Poderia ter ficado por aí, mas foi adiante, tentando se mostrar convincente: “Não sou ministro e nem deputado. Não devo explicações da minha vida privada. Sou advogado, consultor de empresas. Tenho dinheiro para pagar o fretamento de um avião”.

Tem?! Bom, no dia seguinte ao da cassação do seu mandato, José Dirceu deu uma entrevista coletiva em uma das salas das comissões da Câmara. Os repórteres queriam saber o que ele iria fazer da vida, e Dirceu começou a resposta com uma frase de efeito: “Nunca olho para trás e nunca volto ao passado. Eu sempre olho para frente”. E explicou o “para frente”: “Não sou mais um homem público, sou um cidadão brasileiro, coisa que eu fui mesmo proibido pela ditadura. Vou continuar fazendo o que sempre fiz, com muita paixão, muita fé. Não tenho mais nada. Não tenho poder nenhum, nem bens materiais. Só tenho convicções, meus sonhos, aquilo em que eu acredito.”

A internet é a maravilha das maravilhas. Um clique no Google, e Dirceu entra por inteiro no nosso computador. O deputado cassado anunciou, nessa mesma entrevista, no início de dezembro passado, que iria dividir um escritório com a advogada Lílian Ribeiro. Com ar resignado, mas sempre bem-humorado, completou: “Agora eu tenho que trabalhar, preciso me sustentar”. Os repórteres quiseram saber se não ia recorrer ao Supremo (STF), e ele reforçou a situação de penúria, levando em conta que nem a aposentadoria de parlamentar iria requisitar. “Não tenho ânimo de ir ao Supremo. Meu ânimo é para trabalhar. Eu não tenho salário, tenho que trabalhar.” Dali em diante, arrematou, a existência seria regida pela canção de Zeca Pagodinho, “deixa a vida me levar”.

Vida privada, contatos públicos
Pois o homem, brasileiro conhecido, que é ninguém menos que ex-presidente do PT, ex-coordenador das campanhas eleitorais de Lula, ex-ministro, ex-deputado e, segundo o Procurador-Geral da República, Antonio Fernando de Souza, cabeça de um criminoso esquema de corrupção sistêmica dentro do Estado brasileiro, salta de um jatinho em Juiz de Fora para uma conversa política com Itamar Franco e diz que não tem de dar satisfação sobre a “vida privada” dele? Que “vida privada” é essa se Dirceu, segundo relato da revista Veja, telefonou de lá para Lula, colocando em seguida o presidente da República para falar, no celular, com Itamar?

Dirceu continua sendo, isso sim, um dos grandes articuladores dos passos políticos de Lula, aquele que se diz traído - ninguém sabe por quem. E como é que o consultor de empresas e advogado José Dirceu conseguiu no tempo de algumas viagens político-nababescas menos de um trimestre de trabalho passar de um pobre cidadão brasileiro sem bens, precisando se sustentar, para um consultor com dinheiro para fretar um jatinho? Longe de mim levantar alguma suspeita sobre a vida econômica de Dirceu, apenas gostaria que ele, até para fazer algo relevante pelo país, fornecesse aos brasileiros a receita de tamanho e rápido sucesso.

Como é que alguém pode levar a sério o que essa gente diz e faz? Formariam a trupe ideal para encenar uma paródia, não fosse tudo para lá de politicamente dramático.

Dirceu acha que não tem de responder sobre quem pagou o jatinho, e Luiz Inácio Lula da Silva diz que tudo na crise, da denúncia da quadrilha ao Supremo à incapacidade de o governo organizar a base política para votar o Orçamento Geral da União (OGU), não passa de um “debate acalorado”, tal qual a disputa entre torcidas de futebol. A oposição não apóia as propostas do governo, e a base política do governo não consegue sustentar o Planalto porque um torcedor do Corinthians jamais torceria pelo Palmeiras e um palmeirense jamais apoiaria um corintiano.

Ao fundo, o país ouve o barulho do retrocesso gritado pelos peões bate-paus de Lula contra um grupo de estudantes: “Um, dois, três é tudo filho de burguês”. Os meninos, que tiveram os apitos arrancados das mãos, respondem: “Abaixo a repressão, queremos nosso apito na mão”. E eis a tréplica: “Agora, burguesada, aqui quem manda é a peãozada”. Parecia que o Muro de Berlim havia ressuscitado e se mudado para Sorocaba (SP).

A que Brasil regredimos? Até onde regrediremos?

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Postby mends » 17 Apr 2006, 12:40

Fragmentos de um debate
Por Reinaldo Azevedo
Participei de um debate de que não darei grandes detalhes porque só bato em quem pode se defender. Não é o caso da moça. Ela estava nervosa. O tema em pauta era a independência e isenção dos jornalistas. Como não acredito nessas besteiras e não sou independente das minhas idéias e do meu sistema de valores, menos ainda isento em relação às minhas convicções, sempre me coloco como um cara absolutamente comprometido. E faço pouco dos isentos profissionais. Ninguém pode sê-lo sob o peso da demissão ou recebendo um salário. A isenção, nesse caso, ou é escrava ou é a soldo de alguém. O honesto é admitir um gosto e ter um lado. Eu tenho.

A moça me perguntava, algo indignada, ali, a um passinho da apoplexia, que a ignorância sempre torna mais corada e propositiva, se era possível admitir que um governante, como Geraldo Alckmin, pertencesse ao Opus Dei (ela, de fato, falava “a” Opus Dei). Tentei ser regulamentar: “Mas ele não pertence ao Opus Dei”. Ela deu um risinho incrédulo, tentando ganhar a simpatia da torcida, e me devolvia, na forma de novas indagações indignadas: “Se não é, por que participou de um grupo de oração e reflexão com um membro ‘da’ Opus Dei?” Eu ponderei que tenho amigos budistas, com os quais converso sobre a vida. E nem por isso sou budista. Ela disse que eu estava sofismando, é claro. E insistia no absurdo que era alguém pertencer “à” Opus Dei.

Aí eu perdi a paciência e quis saber dela, afinal de contas, o que havia de tão absurdo em alguém pertencer ao Opus Dei. Seguiu-se, então, uma explosão formidável de ignorância, generalidades, preconceitos, bobagens. “Mas é medieval”, ela me afirmava. “O que é medieval?”
— “A” Opus Dei.
— Não é. Foi fundada no século 20. Hoje é uma prelazia papal. O que há de mal em pertencer a um grupo religioso que é uma prelazia papal? Você sabe o que é uma prelazia papal?
— Não tente me enrolar.

É preciso ser tolerante com crianças, idiotas e animais de estimação. Mas nunca é tarde para tentar tirar alguém das trevas. “Alckmin não é do Opus Dei. Mas há, sim, parlamentares ligados ao MST, que ensina Mao Tse-Tung e Che Guevara em suas escolas. Você considera legítimo ensinar revolução comunista em assentamentos que são financiados com dinheiro público?”
— O MST é um movimento legítimo. A direita é que tenta demonizá-lo.
— Digamos que eu seja da direita, embora quem pague os juros reais mais altos do mundo seja Lula, não eu. Ainda assim, refaço a minha pergunta: você acha correto ensinar Mao Tse-Tung e Che Guevara como exemplos de luta a serem seguidos?
— Eu não sei se o MST faz isso que você está falando.
— Não só faz, como admite fazê-lo e ainda se orgulha disso. Basta fazer uma pesquisa.
— Mao e Che são personagens da história. Podem ser ensinados. É ilegal?
— Promover a subversão é ilegal. Dar uma aula a respeito, claro, não é. É ilegal pertencer ao Opus Dei?

Aí a moça se pegou no buraco sem fundo da própria argumentação. Se lhe faltava habilidade, rigor, informação, também não lhe sobrava caráter. Achando-se, então, muito esperta, deu um tapinha na mesa, vitoriosa:
— Então você admite que ele é “da” Opus dei.
— Ele, quem?, criatura?
— O Alckmin!
— Por quê? O que foi que eu disse que a levou a tal conclusão?
— Você é que está dizendo que não é crime.
— Comer jujuba também não é crime. Será que devemos concluir que o Alckmin come jujuba só porque não é crime?
— Eu não entendi.
— Não entendeu nada, definitivamente.
— Imagine um presidente “da” Opus Dei. Ele vai ter de decidir sobre o aborto, as políticas anti-aids, a questão dos homossexuais...
— As políticas anti-aids estão subordinadas ao Ministério da Saúde, que tem um corpo técnico para tratar do assunto. Qualquer mudança no que respeita ao aborto ou à união civil de pessoas do mesmo sexo será decidida pelo Congresso. Eventualmente, o STF interfere se considera que o espírito da Constituição não foi respeitado, como no caso do aborto dos anencéfalos. A interferência do presidente seria muito pequena. Mas Alckmin não pertence ao Opus Dei.
— Mas tem as mesmas crenças.
— Quais crenças?
— Esse catolicismo atrasado.
— O que seria um catolicismo adiantado?

Aí foi ela que perdeu a paciência comigo. Não tinha mais o que dizer. Olhou para a platéia, de que chegou a ter uma maioria em determinado momento, e disse: “Tá vendo, gente? Não dá para debater!”. Os presentes, mesmo os de sua turma, olharam algo espantados. “Ué, não dá por quê?”, devem ter-se perguntado. Cometi a maldade de indagar se ela, ao menos, sabia os Dez Mandamentos para poder especular sobre avanços e atrasos da Igreja Católica. Não sabia, obviamente. Como ignorava qualquer assunto que dissesse respeito ao cristianismo, católico ou não. O grave é que se trata de uma dessas formadoras de opinião, que saem por aí ditando regrinhas e contando aos pobres leitores-eleitores como é que o mundo supostamente funciona.

Restou-me encerrar a minha participação afirmando que, para mim, tanto faz se o político é católico, protestante, ateu, budista, kardecista ou pratique alguns ritual animista africano. O que não quero é que tente me impor a sua crença. Assim como rejeito que um partido tente encabrestar a sociedade para impor o seu modelo. Posso até achar o catolicismo, e acho, uma religião mais elaborada e intelectualmente superior a qualquer outra. Mas isso é uma opinião, digamos, intelectual e pessoal. Posso até mesmo considerar, e considero, que sua ética é mais abrangente e tolerante, o que não quer dizer que tal condição, por si só, qualifique alguém para a política.

Mas uma certeza absoluta eu tenho: não desqualifica. Seja esse católico do Opus Dei ou não. E Alckmin, de resto, não é.

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Postby mends » 17 Apr 2006, 19:09

mais sobre esse debate...

A carta de um professor
Por Reinaldo Azevedo
Escrevi na sexta-feira um artigo em que reproduzia trechos de um debate de que participei (o texto está disponível). Num dado momento, a minha oponente insistia na tese de que o tucano Geraldo Alckmin pertenceria aos quadros do Opus Dei, um grupo católico que é uma prelazia papal. É mentira. Não pertence. E, se pertencesse, escrevi, não seria crime nenhum. Recebi um e-mail de um sujeito chamado Daniel Ferreira Gonçalves, que se diz professor. Como ele não me pediu sigilo, divulgo seu endereço para mensagens de solidariedade (dan.fg@uol.com.br). Ele vai precisar. Leiam o que escreve o distinto:



“Ao ‘jornalista’ Reinaldo Azevedo,
Tive o desprazer de receber seu artigo de 14/04 sobre o tema ‘Opus Dei e Alckmin’.
Sua descrição de como “venceu” o debate com a jornalista não-identificada é uma das coisas mais engraçadas que li nos últimos dias. Engraçada não por sua suposta (suposta por você mesmo) picardia, acidez ironia. Engraçada sim pois você se utiliza de uma argumentação sofista (procure em algum dicionário de filosofia o significado dessa palavra, pois você não deve saber). Manipulando os fatos, você dava a entender que um presidente vinculado à Opus Dei não poderia influir, seguindo os preceitos da prelazia, nos mais diversos assuntos. Não sei se rio da sua ingenuidade infantil ou da sua argumentação simplista.
Então por que George Bush, um protestante fundamentalista, influiu em diversos assuntos seguindo sua orientação religiosa? Isso não poderia se repetir no Brasil? Veja só, se a jornalista utilizasse o exemplo de seu próprio ídolo máximo você ficaria sem ter o que dizer né?
Quanto à sua opinião sobre o MST sequer me darei ao trabalho e comentar. É melhor não extender muito o papo com loucos.

Atenciosamente,
Daniel Ferreira Gonçalves
Professor - São Paulo/SP”

Adorei o seu burocrático “atenciosamente”. Ele poderia ser atencioso não comigo, mas com a inculta e bela. Alguém que se diz professor e escreve “extender” se autodefine. Está tão preocupado em ter idéias, mesmo as que vão acima, que não se ocupa nem da ortografia. Se ele fosse torneiro mecânico, isso não teria a menor importância. Como é professor, a coisa é grave “neçti paíz” (lê-se “neste país”).

A educação no Brasil é uma miséria por várias razões — e a maior delas, à diferença do que pensa a esquerda, não é falta de verba. O principal problema é o analfabetismo dos professores. Que só vai aumentar com a implementação do sistema de cotas e do ProUni. Num caso, vamos nos conformar com o rebaixamento inevitável da qualidade; no outro, algumas faculdades privadas que não se distinguem de um açougue vão vomitar semiletrados com diploma, usando, para tanto, dinheiro público.

É a revolução na educação prometida por Lula. Conseguiram destruir o Provão (que havia sido instituído pelo ministro Paulo Renato), que funcionava, e encher os cofres das mantenedoras de verdadeiras cabeças-de-porco. As vagas que elas não preencheriam nem que saíssem laçando candidatos serão, agora, regiamente pagas com dinheiro dos desdentados. O tal Daniel deve gostar desse governo. Eles se merecem.

O sujeito se sente todo insultadinho ao ler um artigo e, malcriado, sentindo-se superior, comportando-se como um tio que pudesse dar pito, me manda essa batatada, tomando o cuidado de se dizer “professor”, como se isso lhe conferisse alguma condição especialmente interessante. Como se isso pudesse despertar em mim alguma coisa parecida com reverência ou sei lá o quê. Saia da minha aba! Professor é Roberto Romano, se é que você me entende. Professor é Bolívar Lamounier. Professor é José Arthur Giannotti. Professor é Marcos Lisboa. Cada um deles sabe como foi ou é tratado neste site e nesta revista. E o curioso é que nenhum deles jamais se identificou em e-mail como “professor” — mas também não escreveu “extender”.

Afirmei no artigo que ele contesta que sou tolerante com idiotas, crianças e animais domésticos. Por que não seria com um “professor”? Ele escreve que teve o “desprazer” de receber o meu texto. Não fui eu que mandei, garanto. Escolha melhor os seus amigos, cara. Quem manda ter entre eles gente que me lê? Poderia ser a sua salvação. Mas você não quer ser salvo, como se lê.

Há uma coisa no pobre que é pior do que a ortografia: a pontuação. Mas isso é o de menos. Pernóstico — afinal, ele é “professor” —, usa termos como “picardia” e “sofista” — deve ter avisado a sua patota de que iria me mandar um e-mail. No mínimo, ele fez com cópia para alguns de seus aluninhos, provando quanto é combativo. Posso vê-lo daqui, com os olhos de minha “picardia”, dando soquinhos com a mão direita na palma da esquerda: “Falei mesmo! Aquele direitista nojento teve o que merecia!”. Ah, a valentia escrava! E ainda pede que eu vá consultar num dicionário de filosofia o significado da palavra “sofista”, com o que parece expressar, então, o seu rigor intelectual. Justo ele, incapaz de consultar um dicionário de ortografia...

Não há rigorosamente um miserável sofisma no trecho que reproduzi do debate. Ademais, o “professor” ignora o fato concreto: Alckmin não é do (e não “da”) Opus Dei. Se fosse, argumentei, não haveria nisso nenhuma ilegalidade. Ou haveria? Quanto à referência a Bush, nada mais faz do que reproduzir a bobajada politicamente correta sobre a influência que a direita religiosa teria nos atos do presidente americano. Acreditar que a política externa de Bush pode ser creditada à sua religião também é analfabetismo: este político. Em tempo, “fessô”: em Bush, só lamento a moderação...

Aposto o mindinho que o indigitado é professor de filosofia ou coisa parecida. É uma tragédia. Temo pelo estrago que possa fazer na cabeça dos alunos. E como ele prova que, se Alckmin pertencesse ao Opus Dei, isso seria relevantíssimo em seu eventual governo? Ora, com o exemplo de Bush. É mais um daqueles casos já clássicos em esquerdistas, crianças e idiotas (animais de estimação, creio, ainda não) de “paralaxe cognitiva” (segundo definição de Olavão, meu amigo, o professor, de fato!, Olavo de Carvalho): impedido de provar determinada tese segundo a sua natureza e seus próprios termos, apela-se a um desvio, a um exemplo, a algo absolutamente fora do contexto, para justificar não a tese, mas a opinião de seu autor. E o esforço, ademais, é inútil: Alckmin não é do Opus Dei.

Sobre os sem-terra, releiam o que escreve: “Quanto à sua opinião sobre o MST sequer me darei ao trabalho e comentar. É melhor não extender muito o papo com loucos”. Em primeiro lugar, “professor”, reveja o uso do “sequer”. Falta um “nem” aí. E, rá, rá, rá, acho formidável quando alguém julga ter tanta razão que, a exemplo de Saddam Hussein, Adolf Hitler ou Josef Stálin (para citar facínoras de peso e que não tinham a língua presa), nem se dão “ao trabalho de comentar”. Problema seu. Já disse que dou atenção a idiotas, crianças e animais de estimação. E, em certos casos, a “professores”.

Aprenda uma coisa, Daniel: ninguém é tão imbecil que não possa nem ser contestado.

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Postby mends » 18 Apr 2006, 11:19

Sobre democracias, ditaduras e totalitarismo
Por Reinaldo Azevedo
Ditaduras podem ser impopulares e se impor contra a vontade do povo, mas não as tiranias. Estas contam com o amplo apoio popular. O totalitarismo sempre foi de massas, a exemplo do fascismo (com a variante nazista) e do comunismo (por um largo período ao menos). Embora o tal “povo” seja o real detentor do título democrático, nem sempre é seu melhor procurador. O regime democrático é aquele feito pelas maiorias para proteger as minorias. Trata-se de um besouro que voa. E, numa variação do conhecido adágio, ainda não se inventou nada melhor.

Em qualquer país do mundo em que vigora o regime das liberdades públicas, quem vela e zela por ele é uma minoria. Minoria esta que vai se ocupar das questões institucionais e que forma a chamada “elite”. Essa “elite” está em todos os lugares e grupos sociais. Obviamente, é esta uma aproximação weberiana da questão, e não uma derivação da vulgata (“vulgaridade” ficaria ainda melhor) marxista que está, por exemplo, na origem no PT. Para os petistas, até outro dia, “as elite” impediam o Brasil e o mundo de encontrar o seu verdadeiro destino. Por que ele seria “verdadeiro” e em que pedra tal verdade está inscrita, isso só o Deus da História deve saber.

Abro a Folha nesta quinta e encontro lá um artigo de Leandro Konder cujo título é Esquerda e Direita no Brasil hoje (clique aqui). Se o marxismo fornecesse um documento com pedigree, Konder seria assim um puro-sangue. Se tiverem paciência, leiam o texto. Ele está com 70 anos. Esperava que a experiência lhe desse mais clareza. Não deu. O equívoco também fica maduro. Começa o artigo falando das conquistas técnicas e científicas do capitalismo como quem concedesse, vá lá, uma licença: “Olha, gente, o modelo tem lá suas coisas boas”.

E ele o faz para poder chegar à advertência: “Mas não nos deixemos enganar”. Segundo o autor, a direita “sustenta que as liberdades precisam se enraizar nas elites para, depois, lentamente chegar ao povão”. Ainda segundo o nosso marxista de carteirinha, “empunhando a chave, com a costumeira cara-de-pau, a direita pede paciência aos trabalhadores e promete que, com o tempo, eles vão se beneficiar de melhores condições materiais de cidadania, tal como aconteceu com as conquistas da medicina, os aviões e os computadores, que demoraram, mas vieram”.

É claro que Konder não tem importância nenhuma hoje em dia. Aliás, não existe um só pensador de esquerda importante no país. Entendo por “importante” aquele que, enfim, propõe questões novas ainda que para problemas velhos e aponta o que há de velho em falsas novidades: gente, enfim, que nos tira do comodismo, da afasia, do conformismo. A esquerda morreu de estupidez teórica. Mas deixou seus cadáveres adiados — e o PT é o maior deles.

Reparem como Konder emprega o termo “elite” justamente naquele sentido nefasto, maligno, como quem aponta a existência de usurpadores cuja única razão de ser é impedir que o “povão” chegue à terra prometida. Mesmo ele não tendo importância nenhuma hoje em dia (embora escreva ainda em jornal), cito seu artigo porque essa ficção perniciosa em que ele se sustenta — um dia o “povão” chegará ao poder — é a raiz da crise brasileira.

E a razão é simples. Não existe “povão” senão na cartilha e na linguagem dos que pretendem manipular interesses coletivos para impor a ditadura de um grupo — e essa é a essência do bolchevismo. A suposta existência de um “povão” absolve os tiranos criminosos porque, enfim, eles estariam agindo em defesa desse ente abstrato. O mesmo vale para o fascismo. Não é por acaso que Konder, enquanto durou aquele império, foi um filo-soviético.

E agora volto ao núcleo do meu texto, deixado lá nos primeiros parágrafos, antes de fazer a minha digressão “konderiana”.

Embora a democracia — e, pois, o capitalismo e o regime de liberdades — seja o único modelo capaz de fazer chegar medicina, avião e direitos ao “povão”, o zelo por ela requer um pouco mais do que a instantaneidade do “sim” e do “não”; pede mais apuro do que o senso comum de justiça; mobiliza mais variáveis do que simplesmente a imposição da vontade da maioria.

Peguemos um exemplo óbvio: é perfeitamente compreensível que a massa queira linchar um assassino em série de crianças. E é muito provável que, do ponto de vista o mais utilitarista, ninguém perca nada com isso — ao contrário: tira-se de circulação uma pessoa perigosa. Mas será esse o melhor caminho? A quem cabe impedir que o “povão” de Konder linche e aplique a pena de morte? Ele vai detestar a resposta, mas darei: a fatias da elite às quais está reservado cuidar do ordenamento jurídico, de sorte que se evitem tais procedimentos porque, certamente, degenerariam em mais violência, ainda que a pena contivesse um núcleo de justiça.

O totalitarismo comunista também é um regime conduzido por uma elite. E o que o distingue, nesse particular, das elites dirigentes de uma democracia liberal? O fato de que a liberdade individual — e, pois, a democracia — é vista como inimiga do interesse coletivo. A diversidade da sociedade deixa de ser representada por meio dos canais organizados da sociedade civil, incluindo o Parlamento, para que um ente de razão fale em nome de uma totalidade. Neste estrito ponto, fascismo e comunismo são manifestações diversas de um mesmo mal: o culto antiliberal.

E agora o governo Lula
Parece evidente que o governo Lula vai se descolando, paulatinamente, das elites que velam e zelam pela democracia e aposta, cada vez mais, no apoio da massa difusa. À parte todas as restrições que faço à turma que chegou ao poder, que organizou, segundo o procurador-geral da República, uma “quadrilha”, preocupa-me o óbvio: quem sustentaria um segundo mandato de Lula? Ele iria governar com que meios? Com quais instrumentos?

O petismo enxovalhou de tal sorte as instituições e as corrompeu — emprego aqui a palavra como sinônimo de “apodrecer”, de “perverter” — com tanta determinação, que Lula não teria a quem apelar a não ser a uma mímica estúpida de luta de classes, aquela mesma que ainda constitui o núcleo, o fulcro, dos equívocos de um intelectual como Leandro Konder.

O resultado que temos é o desdobramento óbvio de um governo que jamais apostou na institucionalização de procedimentos. Ao contrário: sempre viu na democracia representativa um limite a ser superado pela “legitimidade” de uma causa. O petismo, uma derivação teratológica daquele mesmo marxismo de que Konder se quer caudatário, acredita que a sua adesão a um conjunto de valores fundou uma nova ética e instaurou uma nova verdade. É por isso que um deputado como Jorge Bittar (PT-RJ), aos berros, acusou o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral, de não agir como “um verdadeiro petista”.

O “verdadeiro petista” manda às favas a verdade e faz o que lhe cobra o ente de razão: o partido. Já narrei aqui, mas repito, um trecho do livro Stálin, A Corte do Czar Vermelho, de Simon Sebag Montefiore. O ditador, que achava que “gratidão é doença de cachorro”, pergunta a um seu general se Moscou poderia ou não cair presa dos nazistas. Ele queria saber, mas deixou claro: o outro teria de responder como um “verdadeiro bolchevique”. Entenderam? Moscou cair ou não cair dependia menos da capacidade nazista de atacar e da soviética de se defender do que da convicção do militante.

Sempre apostei que Lula e o PT poderiam fazer um grande mal ao Brasil. Vejo agora que o dano pode ser ainda maior do que o perigo.

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