A USP, a direita burra, a bomba de mate...
Se houvesse conservadores — ou “direita”, como queiram — organizados no Brasil ou, vá lá, em São Paulo, a pantomima dos Remelentos & Mafaldinhas seria o começo de uma campanha contra as mamatas da USP. Talvez não rendesse frutos agora, mas renderia um dia. Poderia ser o começo da exposição da rotina de privilégios que caracteriza as universidades paulistas. Um boa questão: que elas continuem públicas, vá lá... Mas por que precisam ser gratuitas mesmo para quem pode pagar? Taí uma luta na qual a população pode, sim, ser engajada. É um erro tolo supor que o discurso conservador seja só do interesse das chamadas classes médias.
Ocorre que a expressão pública do conservadorismo brasileiro é primária. Vi ontem só o começo da entrevista do deputado Ônix Lorenzoni (RS), líder do DEM na Câmara, a Jô Soares. Fiquei constrangido e decidi ver um documentário sobe bichos exóticos num canal a cabo. O homem levou uma bolsa de couro, com água quente, cuia, bomba e mate. Enquanto Jô fazia as perguntas, ele sugava a bomba e virava os olhos de um jeito estranho. Já perguntei aos gaúchos que gostam daquela estrovenga por que eles viram os olhos quando sugam a bomba. Ninguém conseguiu me dar uma explicação razoável. Eu acho que é para abstrair aquele gosto horroroso.
Levar uma bomba de mate a um programa de entrevista porque se é gaúcho corresponde, sei lá, a um nordestino comer uma buchada de bode enquanto conversa. Ou a um mineiro mandar ver num queijinho branco com geléia. Ou a um paulista num, num, num... Esqueci. O que é mesmo ser paulista? Será que a gente deve picar fumo de corda em público e dançar catira?
É melancólico. O conservadorismo brasileiro consegue, no máximo, ser folclórico. Observem que isso nada tem a ver com um julgamento da atuação de Lorenzoni na Câmara, que me parece até correta. Mas, ao se expressar publicamente, para todo o país, numa faixa de horário em que os espectadores são um pouco mais exigentes, percebe-se que falta tudo: de clareza ideológica a uma estratégia de inserção no debate público.
Uma das razões da onipresença da esquerda na mídia é a burrice da direita brasileira.
Por Reinaldo Azevedo